Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 26
Castigo (editar)




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As duas horas passadas na sala de Kakashi não foram tão torturantes quanto Naruto imaginou. Mas foram entediantes. Mais do que podiam supor.

— Vocês não podem conversar entre si. Não podem levantar, sair ou ir ao banheiro, que implica nas duas coisas.Se trouxeram alguma coisa para comer, fiquem à vontade. Se tiverem lição para fazer, podem pegar o caderno. Caso tenham alguma dúvida sobre minha matéria, podem perguntar e essa é a única licença que terão para falar. Entendido?

Ninguém respondeu, mas várias cabeças concordaram desanimadas. Naruto e Kiba não eram os únicos no castigo daquele dia. Havia mais cinco garotos espalhados pela sala. Duas carteiras à direita de Naruto, estava a única menina, Tayuya, com o cabelo vermelho-vinho sem brilho.

Naruto percebera o olhar demorado que Kiba lançara sobre ela, antes do grupo entrar, e se perguntava agora que a observava o que o outro vira nela uma vez?

Tayuya não era feia, mas sua beleza não era óbvia, sequer bem explorada. Mas era com certeza mais bonita de boca fechada que de boca aberta, embora Naruto duvidasse que Kiba concordasse com ele nesse ponto. Pelo jeitão de Kiba, Naruto tinha a impressão de que era justamente daquele tipo de garota "boca suja", cheia de atitude e independente que ele gostava. Tayuya estava sempre cercada de garotos, que eram seus amigos mais do que namorados. Por isso seus modos eram pouco femininos e seu vocabulário só era mais extenso que o de Tenten, quando esta fica nervosa demais para falar como uma "garota inocente".

O que o tinha feito mudar de opinião e se interessar por Hinata, Naruto não sabia. E o que tinha feito Tayuya trocar Kiba por Sai, era um mistério que talvez jamais tivesse uma explicação plausível!

Quando Tayuya se virou para Naruto, provavelmente consciente de que era observada, Naruto desviou o olhar.

Olhou em volta e viu vários rostos que não lhe inspiravam a mínima simpatia, nem lhe despertavam qualquer lembrança, agradável, desagradável, particular ou social. Eram pessoas que Naruto nunca vira naquele colégio antes, não que não estivessem lá, mas Naruto realmente não fazia idéia de quem eram.

Era estranho estar todos os dias no mesmo lugar, convivendo com as mesmas pessoas e não conhecer todos que estavam ao redor. Muitos rostos, que deviam ter histórias muito diferentes ou muito parecidas com a sua. Quantos deles eram órfãos? Quantos tinham pessoas queridas em hospitais? Quantos tinham se separado de amigos? E quantos se lembravam com saudade de alguma coisa que não tinham mais?

Naruto continuou olhando para os colegas. Nenhum deles tinha pegado o caderno, como Kakashi disse que podiam fazer. Nenhum deles parecia o tipo de pessoa que faziam lição em qualquer circunstância, tendo ou não coisa melhor para fazer! Mas Naruto não pode deixar de sorrir, quando finalmente colocou os olhos na figura de Kiba. O garoto estava debruçado na carteira, com a cabeça sobre os braços cruzados e sua respiração estava lenta e pesada.

 

Um garoto alto, de cabelo escuro, cheio de pintas estranhas na cara e de nariz e boca pequenos, foi o primeiro a sair, depois de uma hora de castigo. Seus companheiros, à exceção de Kiba, acompanharam seus passos até a sua saída, como um desejo coletivo, uma esperança que se tornava mais apagada à medida que o ponteiro dos segundos tornava-se mais devagar.

Naruto recorreu ao caderno, para passar o tempo. Lá estava sua lição de física, enigmática e indecifrável, como sempre. E lá na frente da sala estava seu professor de física, enigmático e indecifrável, como sempre. Mas não importava o quanto Naruto se esforçasse, aquela matéria era um desafio à parte para sua cabeça. Era impossível lidar com aqueles exercícios, aqueles cálculos absurdos. Mas Naruto tentou.

Kakashi, sentado na sua carteira de gente importante, percebia todas as vezes que a borracha borrou o papel e a lapiseira arriscava contas grandes, sem nenhum resultado que satisfizesse o aluno.

Quando o relógio marcava uma e hora e meia de castigo, Kakashi liberou mais dois alunos. Kiba continuava dormindo. Tayuya olhava para a janela ao lado, com interesse fotográfico.

Naruto batia na própria cabeça, como se isso o fizesse pensar melhor. Kakashi cansou de observá-lo e se levantou, chamando a atenção do restante.

— O que está acontecendo com a sua lição, Naruto? - Kakashi perguntou, ao se aproximar da carteira em que o garoto estava sentado. - O que o está deixando louco?

Naruto apenas se mexeu, para dar caminho ao braço de Kakashi que se estendeu para pegar o caderno dele.

— Há quanto tempo está tentando fazer esse exercício?

— Não sei. - O garoto falou baixo, consciente dos olhares sobre ele.

— Passe para outro exercício.

— Não adianta. Eu não entendo a matéria.

— Isso não aconteceria se prestasse mais atenção.

— Eu presto atenção! - Naruto levantou a voz para se defender. - Mas não faz sentido para mim!

— Então talvez deva frequentar as aulas de reforço, no verão.

— Falta muito para o verão. - Respondeu Naruto. - Eu não pretendo precisar do curso de verão para passar de ano.

— Mas como pretende passar de ano, se não consegue entender a matéria?

— Eu dou um jeito.

Naruto olhou para o professor, com olhar de desafio. Como nos outros anos, por mais dificuldade que tivesse, ele sempre conseguia passar de ano com muito esforço e aquela não seria a primeira vez que um professor demonstrava descrença nele. Ainda tinha tempo para estudar e muitas provas para fazer, antes de começar a se preocupar com cursos de verão, como Kakashi sugeria.

— Vai começar um grupo de estudos no colégio, na semana que vem. Se tiver mesmo interessado em passar nessa matéria, apareça para os encontros, às três. Sei que graças ao jornal seu horário pode ser negociado.

— Tudo bem. - Naruto sentiu uma pontada de alívio ao ouvir aquilo. Por mais que passar as tardes estudando não fosse o que ele escolheria para si, a necessidade estava batendo à sua porta. E sabia que se tratava de um desafio. Tinha que mostrar à Kakashi que ainda tinha esperanças para ele na física.

 

O castigo finalmente foi dado como finalizado e os alunos restantes levantaram e pegaram suas mochilas. Naruto guardava seu caderno com alguns exercícios enfim resolvidos com a ajuda aparentemente indisposta do professor, quando a voz de Kakashi ecoou pela sala já vazia.

— Acorde seu amigo. - Disse ele, recolhendo suas coisas e colocando sobre o braço um livro que lera durante a maior parte do tempo.

Naruto olhou para a carteira de Kiba e ele continuava dormindo. Terminou de arrumar suas coisas e foi até ele.

— Acorda! - Chamou. - Kiba, já acabou!

O garoto reagiu lentamente ao chamado, levantando a cabeça e olhando ao redor com sonolência. Quando finalmente deu por si, Kakashi já havia saído e não havia sinal de outros alunos. Os dois saíram da sala, sentindo-se mais leves do que quando entraram.

Foram até a sala d'Os Outros, onde os companheiros prometeram esperá-los para acertar os últimos detalhes daquela edição do jornal.

— Nossa! - Tenten olhou fixamente para Kiba, assim que entraram. - Você está com a cara amassada!

— Sério? - Kiba perguntou com ironia, mas de bom humor.

— Ele dormiu.

— No castigo? - Lee, que estava ao lado de Tenten, abriu um enorme sorriso por causa daquilo. - E o Kakashi não falou nada?

— Não. - Naruto respondeu por Kiba, já que o outro não saberia dizer a resposta correta. – Por falar no Kakashi, eu não sei se foi um convite ou uma intimação, mas vou participar do grupo de estudos de física que começam na semana que vem.

— Ah... - Um fio de seriedade rasgou o rosto de Tenten por um momento. - Você sabe quem vai estar nele?

— Não.

— Sakura. - Tenten sorriu de um jeito estranho, desdenhoso.

— Ah... - Naruto não conseguiu esconder a surpresa. E nem a falta de jeito para tocar naquele assunto. Para a sua sorte, Lee tinha menos jeito que ele para disfarçar sua "paixão secreta" por Sakura e Tenten logo virou-se para ele, a fim de consolá-lo.

— Que sorte, heim? - Comentou Kiba, que embora não soubesse dos sentimentos de Naruto por Sakura, sabia o que ela significava para seu passado.

— É. Mas não tem problema. - Naruto deu de ombros. - Eu preciso fazer alguma coisa com a física ou eu vou me ferrar e é isso que importa.

— Se você está dizendo...

Kiba parou de falar, quando Hinata voltou-se para eles.

— E então, como foi lá?

— Foi tudo bem. - Kiba sorriu e, pelas costas, recebeu sem perceber um olhar contrariado de Naruto

— Foi tudo bem, mesmo para quem ficou acordado o tempo todo. - Naruto respondeu em seguida, piscando para Hinata, que ficou ligeiramente rosada, mas baixou os olhos antes que os colegas percebessem. - Então... - Naruto olhou para Shino. - O que precisamos decidir?

— Precisamos? - Shino olhou por cima dos óculos escuros, terminando de juntar algumas folhas. - Nós já decidimos. Tivemos duas horas para isso.

— Mas vocês disseram que esperariam a gente para isso! - Naruto não estava entendendo, mas com o próximo olhar que Shino lhe lançou, percebeu que aquele com quem falava agora, era o Shino Chefe, o Shino que não delegava, que não discutia. E não o Shino amigo, que conversa sobre textos e dá conselhos nas horas vagas.

— Dissemos. Mas o Kiba não participa das escolhas do jornal e você só fez uma matéria nesse tempo. E caso queira saber, ela entrou no jornal,   então não se preocupe.

— Que matéria?

— A matéria sobre o campeonato estadual do ano passado e a expectativa para o campeonato desse ano.

— Essa matéria nem tinha um final, direito.

— Eu sei. Eu terminei ela para você. Falei com o professor Gai e ele disse que continua sem time definido, como quando você falou com ele.

Naruto estava pronto para continuar, mas preferiu se calar. Se aquilo fora o máximo de intrometimento na sua matéria, Naruto podia se considerar com sorte, pois era sinal de que Shino apenas quis averiguar a última informação que ele conseguira. Mas Naruto nem pensou em perguntar, como sempre fazia perto das edições finais, sobre a ortografia. Era de outra coisa que queria falar. Aproximou-se da mesa de Shino, a fim de não tornar o próximo assunto algo de interesse público.

— E o artigo?

— Estendi o prazo para você. - Shino explicou, tomando cuidado para que Naruto não tivesse um de seus ataques de "eu quero isso agora". - Você tem até a próxima edição para decidir. E, pelo que conversei com Gaara hoje... - Shino fez uma pausa, ao perceber a expressão de Naruto. Ignorando-a com algum esforço, ele continuou. - Acho que a próxima edição pode ser muito boa. Eu estou preparando algumas  coisas para ela. E, para ser sincero com você, gostaria de ter seu artigo nela. A não ser que desista. E não precisa ser uma série.

— O que o Gaara te disse?

— Isso é assunto meu. - Shino encerrou o assunto, de sua forma costumeira e se levantou. Mas continuou com os olhos em Naruto. - Mas confie em mim, a próxima edição tem tudo para ser a melhor!

A atenção de Naruto foi desviada para Chouji e Shikamaru que acabavam de chegar e, ao ver Kiba e Naruto, abriram sorrisos satisfeitos.

— Ora, ora, se não são nossos pequenos encrenqueiros! - Chouji começou, com a voz divertida e certamente a única que os alunos reconheciam com facilidade e gostavam. - Os caras que fazem a fama d'Os Outros lá na diretoria!

— A gente faz o que pode. - Kiba respondeu.

— A gente sabe. - Shikamaru riu. - Fiquei sabendo que o Naruto é o novo encrenqueiro que tem tirado o sono da Tsunade!

— Como é? - Tenten se interessou e até Hinata esticou o pescoço para Shikamaru.

— É isso mesmo. As brigas dele com o Sasuke e hoje com o Gaara no intervalo chegaram aos ouvidos de todo mundo. Pelo que anda se dizendo por aí, você, Naruto, está decidido a acabar com os Donos da Escola!

— E eu que pensava que todo boato era totalmente mentiroso. - Naruto retrucou com frieza, mas dentro dele, gritava de excitação.

— Só toma cuidado. - Chouji advertiu, com a voz ainda divertida. - Esse boato pode agradar à meia dúzia que não liga para os DdE, mas não agrada à outra meia dúzia que não só apoiam os DdE, como fazem parte dos grupos deles.

— DdE? - Lee interrompeu.

— Um jeito resumido de dizer Os Donos da Escola. - Explicou Shikamaru. - É como a Temari os chama.

— Ah. - Kiba riu. - Tinha que ter dedo dela nisso.

Enquanto Shikamaru e os outros discutiam as implicações daquele boato, Shino se aproximou de Naruto e disse com um sorriso:

— A melhor edição de todas!

 

— Então! - Lee voltou a falar, logo que o silêncio caiu sobre o grupo. - Vamos ou não?

— Vamos onde? - Kiba tirou as palavras da boca de Naruto.

— Ao cinema. - Foi Hinata quem respondeu, fazendo Naruto e Kiba olhá-la.

— Eu não tenho grana. - Naruto foi rápido em justificar. Não gostava muito  de cinema. A última vez que tinha ido a um, devia ser há dois anos e ele não sentia falta.

— Ninguém perguntou se tinha. - Hinata retrucou. - Nós vamos para comemorar minha primeira matéria no jornal. - Ela explicou. - Você e você - Apontou para Kiba. - Não tem a opção de dizer não.

— E se eu também não tiver dinheiro?

— Eu já disse, Kiba. Ninguém perguntou!

— Nenhum dos três vai pagar! - Shino anunciou em seguida.

Nem Naruto, nem Kiba, disseram algo depois disso. Eles foram arrastados com os demais para o cinema e, quando se deram conta, já estavam na fila para comprar ingressos.

— O que vamos assistir? - Kiba olhava ansioso para o começo da fila.

— "A Recompensa". - Respondeu Tenten. - Suspense, ação e uma boa dose de terror.

— Ah...

— Não reclama, Kiba. Não estamos pagando.

Naruto estava tentando disfarçar a cara fechada, a sensação de impotência e seu mau humor que estava se tornando costumeiro, sem que se desse conta ou pudesse controlar seu avanço. Até aquele momento, pensava estar indo bem, mas houve um momento em que nem suas melhores caras poderiam enganar a perspicácia recém descoberta de Hinata.

— O que você tem? - Ela perguntou, virando-se pra ele, quando a conversa na frente deles tornou-se mais animada.

— Eu?

— E para quem mais eu perguntaria?

— Eu não tenho nada!

— Não? Então porque essa cara? Pensei que quisesse se divertir um pouco.

— Eu quero.

— Não com a gente?

— Com vocês, claro! Com quem mais? A gente vai comemorar seu primeiro jornal! Eu não queria estar em outro lugar!

Se Hinata percebeu que ele estava mentindo, não demonstrou. Mas também não mudou a expressão séria, quando se virou para frente.

Entraram na sala do cinema e conseguiram preencher uma fileira inteira. Tenten puxou Shino para o canto, ficando entre ele e Lee. Chouji estava sentado ao lado de Lee e, ao seu lado direito, sentou-se Shikamaru. Hinata sentou entre Naruto e Kiba, que ficou com a outra ponta da fileira.

De um lado, Kiba fazia comentários o tempo todo, que faziam Hinata rir. Do outro, Naruto fazia comentários com o intuito de irritá-la. E sempre que um recebia um sorriso e o outro recebia um olhar mau, cada um ficava feliz à sua maneira.

Até que a atenção de Hinata foi totalmente desviada do filme. Sua mente vagou para longe, para onde deveria estar Neji e ela estremeceu. Ele não era mais o primo que ela conhecia, que realmente cuidava dela e da irmã com certa responsabilidade e atenção. Agora que o via em seu "habitat natural", como Hanabi disse uma vez, Hinata percebia que ele era diferente da imagem que fazia dele. Neji era só um idiota do colégio... Mais um idiota, entre os muitos que havia ali.

A menina olhou rapidamente para Kiba, que estava com os olhos presos na tela e não percebeu que fora observado. Ele era legal com ela, cuidadoso e atrapalhado. Tinha um ótimo cheiro e olhos astutos, que lhe davam arrepios, dos quais gostava.

Ela baixou os olhos e, sobre o braço da cadeira ao seu lado esquerdo, fitou o braço de Naruto. As mãos de pele clara, as unhas curtas. Não havia força naqueles braços, mas não havia franqueza também. E Hinata sabia, da sua maneira, que tudo em Naruto era igual.

Ele estava enfrentando sozinho algo que ela própria já havia enfrentado, e demonstrava uma força que ela invejava e ao mesmo tempo, uma fraqueza que a tocava.

Levantou lentamente os olhos, para o rosto de Naruto. Parecia sério, desinteressado. Sempre que o olhava, via apenas uma tristeza crescente, que o envolvia completamente, sem que ela conseguisse entender completamente. Mas entendia em parte. Naruto se sentia sozinho e, às vezes, procurava essa solidão, para justificar seu mau humor, sua rebeldia, seu jeito próprio de lidar com os outros e com suas coisas.

Porém, por mais que Hinata se senti-se acuada diante daquela tristeza, ela se lembrava vivamente de todas as vezes que acreditou no seu sorriso. E o sorriso de Naruto era algo que a fascinava de um modo que nunca acontecera. A impressão que tinha era que a velha desculpa que as pessoas usavam, sobre alguém usar uma máscara ou uma armadura, no caso de Naruto era uma meia verdade. Ele tentava usar uma máscara, mas sempre falhava quando um daqueles sorrisos conseguiam escapar-lhe dos lábios. E aquela boca. Hinata pegou-se subitamente pensando nela. Nada definido…

Naquele momento, enquanto ela pensava nessas coisas, Naruto cansou de fingir que não sabia do olhar dela. Baixou os olhos e então a cabeça e, quando novamente a levantou, encontrou os olhos de Hinata ainda sobre ele. Brilhante com a luz da tela, e com um brilho natural, que ele vira outras vezes.

Hinata estava tão perto e tudo começava a se distanciar, deixando-os ali, por longos segundos, conflitando consigo mesmos as sensações causadas pelo encontro do olhar, pela proximidade, pela falta de palavras. Que gritavam dentro deles coisas que em outro momento, não ousariam admitir.

E então ele sentiu... Sobre eles encontrava-se um outro olhar, duro e nada à vontade.

Kiba não manteve os olhos vigilantes sobre eles por muito tempo. Bastou um olhar e logo viu-se fitando, olho-a-olho, o "melhor" amigo. Naruto apressou-se para quebrar a ligação que havia construído com Hinata e não voltou a olhar para ela durante o resto do filme.

Kiba fez o mesmo, mas foi menos eficiente. Não prestou mais atenção ao filme, pois seguidas vezes pegava-se olhando para Hinata, ao seu lado, cabisbaixa e confusa. Queria saber o que se passava na mente dela e tinha medo de admitir o que sabia sobre o que se passava no coração de Hinata. Mas ela também tinha medo de admitir o que se passava em seu coração. Tinha medo de olhar fundo demais e encontrar a resposta à pergunta que vinha se fazendo há um tempo: O que era aquilo que sentia quando estava perto de Naruto e o olhava daquele jeito?

Olhar. Era outra coisa que encantava Hinata em Naruto. Os olhos. Infantis, como a natureza lhe garantira. Triste, como o acaso lhe impusera. E de uma profundidade que não havia explicação, nem comparação, nem escapatória. Para ele ou para ela.

 

No final do filme, saíram os três em silêncio, contradizendo o falatório dos outros, que atingia até o Chefe. Lee, Shikamaru e Chouji passaram pelos três e se afastaram comentando empolgados sobre o filme. Em seguida, passaram Shino e Tenten, ela falando muito. Ele, ouvindo com paciência e um sorriso que, Hinata reparou, talvez se devesse às mãos dadas com que andavam até a saída da sala, naquele escurinho intimista.

Kiba acelerou o passo e saiu primeiro que eles. Segurou a porta para Hinata passar e fechou assim que Naruto pôs os pés para fora. O olhar dos dois se encontrou mais uma vez e Naruto desejou que durante a noite, Kiba esquecesse aquilo.

Sabia que era impossível, que deveria se achar um idiota por pensar naquilo, mas não estava conseguindo pensar direito. A todo momento, o olhar de Hinata voltava à sua mente. Desde a primeira vez que o cruzara, até a última. Sentia-se cheio de culpa. E sentia-se cheio de algo novo, que lhe dava impulso, que lhe dava ânimo. Algo que só se parecia com o que sentia quando estava perto de Sakura, anos atrás.

Kiba afastou-se deles, deixando-os para trás com dificuldade. Mas impotente demais para continuar ali. O clima que sentira há pouco, entre os dois, o estava sufocando. E confundindo.

Naruto olhava para baixo, enquanto os demais o conduziam para as mesas, onde pretendiam comer alguma coisa. Ao lado dele, não muito melhor, vinha Hinata. Naruto fitou-a e manteve o olhar quando ela fez o mesmo.

 

Sentaram-se em duas mesas. Hinata procurou ficar próxima à Tenten. Naruto sentou perto de Shikamaru, e Kiba sentou do outro lado com Lee. Os três tentaram fazer parte da conversa, mas tinham perdido parte do filme e só faziam comentários que não lhes comprometiam.

Hinata teve mais facilidade para se envolver pela conversa, embora tenha prestado menos atenção que os outros. Ela estava acostumada com a necessidade de esconder sentimentos, pois ao seu redor estavam pessoas que sempre pareciam querer controlá-la. Ela sabia que se sobrevivera às invasões dessas pessoas, poderia resistir a qualquer coisa. Bastava fazer a mesma coisa que sempre fizera.

 


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Notas finais do capítulo

*****
Oi gente. Desculpe pela demora. Desculpem mesmo!!! Mas eu precisava fazer as coisas como elas deviam ser feitas.

Ah, e como é de praxe, vocês sabem que eu tenho outras fics e não seria nada mal se vocês dessem uma passadinha lá. Estão no meu perfil.

De qualquer forma, beijos a todos. Ah e, se quiserem, puderem, terem um tempinho, podem deixar um comentáriozinho, pequenininho, ainda que seja um "Continuaaa"... Só para eu saber se houve alguma debandada de leitores dessa fic. XD



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