Faz de conta que eu sou um garoto normal, com uma vida comum, amigos nem tão engraçados, nem tão sérios... Faz de conta que eu não tenho motivos para reclamar de nada, nem nada o que esperar... Faz de conta que eu sou como qualquer outro garoto da minha idade, que gosta de McDonald, acha que sabe tudo de música, carro e garotas...

Agora tente entender porque eu me sinto tão diferente de todo mundo.

Não, não vou ter outra crise e sair falando mal de todo mundo. Nem acho justo falar qualquer coisa dos meus amigos, nem para o lado bom, nem para o lado mau. Eles são melhores que eu e eu deveria reconhecer isso. Meu humor não está bom, mas eu aprendi que nem todo mundo precisa saber ou sofrer com isso. Prefiro deixar isso pra mim. Não é uma boa idéia deixar à mostra minhas fraquezas, nem correr o risco de colocar à prova minhas opiniões.

Hoje foi um daqueles dias em que a gente torce para que acabe logo e, quando isso está prestes a acontecer, pede um pouco mais de tempo. Acho que a vida é assim.

Passei as últimas horas, desde que cheguei à República, tentando encontrar uma palavra que descrevesse o meu dia e o dia d'Os Outros. Não achei nada. Interessante talvez fosse uma, mas isso dependeria de para quem foi interessante.

Na escola, os alunos estão procurando algo novo com o que se preocupar, ja que os dois grupos que "fazem as coisas acontecerem" não estão muito presentes ultimamente. Agora, qualquer coisa que fuja do normal é motivo para comentários e risinhos ou caras espantadas ou... Enfim... Algo nesse sentido. A primeira coisa que aconteceu foi a briga de um, até então anônimo, casal de namorados. Ele ganhou vários nomes e ninguém sabe como ele realmente se chama. Ela ganhou chifres e uma gravidez de gêmeos. Circulou um boato de que a mãe da menina a expulsou de casa e que ele não assumiria os bebês. Um jeito horrível de sair do anonimato.

O pior é que os alunos achavam que nós do grupo de jornalismo tínhamos obrigação de saber de tudo sobre eles. Quem foi que inventou essa regra? E por que ninguém me contou sobre ela? Confesso que fomos nós que demos cinco dos nomes que o garoto ganhou e a Tenten "deixou escapar" algo sobre os gêmeos... Mais tarde, o Shikamaru cansou de ficarem perguntando para ele o tempo todo e decidiu achar a verdade por conta própria. Durante o intervalo, foi direto à fonte, coisa que todo mundo deveria fazer, e perguntou na cara dura.

— Perguntei qual o nome deles, se era verdade que ela foi expulsa de casa por estar grávida de gêmeos, se ele não assumiria e se tinha sido traída. - Shikamaru falou, com pouco caso. - Ele se chama Ichigo, ela Rukia. Não tem bebê nenhum. Pra começar, eles sequer brigaram. Ela só ficou brava porque toda vez que eles estão juntos, ele puxa o cabelo dela, sem querer.

Não contamos isso a ninguém, só de raiva.

Mas devíamos ter percebido que isso era só um sinal de que o dia não seria bom. O fato mais relevante para Os Outros aconteceu durante a aula de educação física. O professor Gai como sempre separou os meninos das meninas. Elas começaram jogando. Tenten e Tayuya foram as capitãs. A Tenten sem sombras de dúvidas é a melhor em campo (ou a única)! Sakura no gol é horrível, deixou a bola passar pelo menos três vezes por debaixo da perna, Tayuya não tem mira, Karin só faz e cava falta e Hinata se esconde da bola. As outras meninas são iguais. Portanto, o jogo não teve nenhum atrativo.

Depois, foi a nossa vez. O Shino foi dispensado das aulas de educação física por causa do coração, mas decidiu assistir. O professor Gai pegou coletes verde e azul e os colocou em dois montes no chão. Tradicionalmente, é nessa hora que ele chama o Gaara e o Sasuke para serem os capitães e escolherem os times. Mas Gai não os chamou, ao invés disso, olhou para cara de cada um e...

— Kiba e Naruto. Vocês escolhem.

Até nós levamos um susto e precisamos que Lee e Shikamaru nos empurrassem para que fôssemos até o professor. Eu fiquei com os coletes verdes e o Kiba com os azuis. Ele começou:

— Chouji. - Kiba chamou e o Chouji sorriu animado.

Geralmente, ele era o último a ser chamado, isso quando não ficava de fora do jogo. Às vezes o professor jogava com a gente para que o Chouji pudesse completar um time.

— Shikamaru.

— Lee.

Chamamos os outros seis garotos, deixando os “popstars” por último. Como o Jiroubou faltou, os Populares tinham um a menos. Kiba chamou o último garoto que não pertencia a nenhum dos grupos. Minhas opções eram muitas, mas ao mesmo tempo mínimas. Olhei para o Kiba e, mesmo sem ele dizer nada, nós tomamos a mesma decisão. Era melhor separá-los. O primeiro nome que me veio a mente, chamei.

— Zaku.

— Dosu.

— Sakon. - Chamei, sabendo que o Kiba adoraria fazer uma falta nele.

— Kidoumaru.

— Sai. - Mais um que Kiba adoraria jogar na grama.

Não estávamos preocupados com o jogo. Mas na forma mais legítima de vingança.

— Neji.

— Suigetsu.

— Juugo.

— Kimimaru.

Depois desse último, restou apenas Gaara e Sasuke. Eu não ficaria com nenhum dos dois, mas sabia que Kiba jamais chamaria o Gaara. Ele também estava entre aqueles que Kiba queria ver no chão. Mesmo assim, eu não podia escolher nenhum deles. Chamei o Kiba e fiz uma proposta.

— Par ou ímpar. Quem perder fica com o Gaara. - Falei, em alto e bom som e o Kiba riu.

— Par.

— Ímpar.

Kiba ganhou com um seis e chamou o Sasuke para o time azul. Gaara se juntou ao meu time com a cara fechada e fiz questão de encará-lo enquanto entregava o colete verde.

— Bem vindo ao time. - Eu disse, me sentindo ligeiramente "filho da p*", mas feliz com isso.

Fomos para o jogo. No time azul, Chouji foi para o gol, Lee em algum lugar no meio de campo com o Neji e Juugo. Kidoumaru e Dosu ficaram nas laterais. Ichigo (ele era da nossa sala?), Ishida e Chad ficaram na zaga, enquanto Kiba e Sasuke foram para o ataque.

No meu time, o verde, coloquei o Shikamaru no gol, porque sei que ele não gosta de correr. Deixei o Gaara e o Sai no ataque, o Sakon e o Zaku nas laterais. Keigo, Mizuíro e Renji foram para a zaga sem sequer eu mandar. E fiquei no meio de campo com Kimimaru e Suigetsu.

Basicamente, o mesmo esquema tático (3-5-2), pois ninguém ali estava interessado em futebol. De fato, houve muita correria para os dois lados. Os Populares e os Impopulres visivelmente perdidos sobre quem era "amigo" e quem era "inimigo". As faltas ocuparam a maior parte do primeiro tempo de jogo. Era atacante fazendo falta em atacante, meio-campista levando rasteira de outro meio-campista... Goleiro tendo que defender falta (parece que Shikamaru e Chouji acharam uma vocação)... Só não podíamos reclamar dos zagueiros, que se matavam de rir. Eu e o Kiba, apesar de estarmos em times opostos, nos divertimos com a confusão que aquele pessoal estava causando.

— Se o Dosu acertar o Zaku de novo, os Impopulares vão ter problemas... - Kiba passou por mim, quando o professor encerrou o primeiro tempo (de 15 minutos), para deixar as meninas fazerem o segunto tempo do jogo delas.

Fomos nos sentar com o Shino, enquanto o Chouji e os outros se juntavam a nós.

— Par ou ímpar? - Shino perguntou rindo, olhando para mim.

O segundo tempo das meninas foi a mesma coisa sem graça. A parte mais legal foi quando a Karin deu um carrinho (ou algo que se parecia com um, mas não era) na Hinata e a Tenten chutou a bola com força total na cara da Karin. Pareceu que ela ia chorar, mas a Tenten ameaçou:

— Se chorar por causa disso, quando a gente chegar em casa, eu te dou um motivo de verdade para chorar!

Medo.

Logo depois disso, Hinata fez um gol. Sem querer, mas fez. Foi assim: As meninas estavam amontoadas em torno da bola, como sempre fazem. Elas não sabiam se eram da zaga ou do ataque (a maioria só sabe se está ou não no gol). Hinata estava perto do gol da Sakura, fugindo da confusão. Tenten fez uma cara estranha e enjoada e partiu para cima das meninas, pegou a bola e passou para a Hinata, que levou um susto... Por sorte, a Sakura levou outro susto e a bola entrou, rodando bem devagar.

A gente não sabia se ria ou se chorava. O Kiba fez os dois.

A Karin tentou reclamar com o professor sobre uma falta da Tenten que não tinha acontecido. A Tayuya (que devia estar querendo brigar com alguém e escolheu uma menina do próprio time), reclamou com ela que o gol tinha sido legal e as duas quase sairam no tapa. Com o time amarelo desestabilizado, Tenten fez mais três gols, além dos dois que já tinha feito no primeiro tempo.

Depois dos quinze minutos delas, foi a vez dos garotos fazerem o nosso segundo tempo.

Embora eu não pudesse reclamar da minha zaga, que realmente sabia o que estava fazendo, eu tinha que reconhecer que o Sasuke e o Kiba eram uma boa dupla de ataque. Shikamaru não estava mal, mas pegava principalmente as bolas que os meio-campistas e laterais lançavam. Com aquele ataque do time azul, no entanto, o Nara não tinha chance. Se eles conseguiam passar pela nossa zaga, o gol era certo.

Do outro lado, tinha a zaga do time azul. O Ichigo marcava forte, o Ishida arrancava em velocidade e o Chad cabeceava como ninguém. Eu confesso que fui idiota em deixar o Kiba montar o time dele. Era óbvio que ele já conhecia o jogo daqueles caras! Jogou com eles por dois anos no campeonato!

Estávamos, portanto, perdidos e perdendo. Gaara é tão bom quanto Sasuke e Kiba, mas o Sai só sabe correr e conta com a sorte de vez em quando. Quando, por um milagre, eu achei um espaço na zaga azul (Ichigo e Ishida se estranharam porque Sakon quase conseguiu passar por Ichigo), peguei a bola dos pés do Suigetsu (que estava fazendo firula pra cima do Neji) e parti para o ataque. Deixei o Sai para trás com o Chad, corri com o Gaara do meu lado, pedindo a bola. Quando vi o Ichigo vindo para cima de mim, não tive escolha. Passei a bola para o Gaara que chutou com tudo no canto superior do Chouji, que não conseguiu pegar.

Quando o Gaara olhou para mim, feliz de verdade por ter feito o gol, eu tive um vislumbre dos velhos tempos, quando eu, ele e Sasuke jogávamos sempre no mesmo time. Os dois no ataque e eu fazendo as jogadas no meio-de-campo. Não sei se fazíamos um bom trio ou se os outros meninos que eram muito ruins, mas quase sempre era uma boa sociedade entre nós. Ganhando ou perdendo.

Voltei ao jogo, quando o Ishida passou a bola para o Neji, que passou para o Sasuke em seguida. Sasuke foi em direção ao nosso gol. Quando vi, eu estava correndo atrás dele. Renji, da minha zaga, atrasou o Sasuke para a minha chegada. Antes que eu pudesse parar, estava paralisando as pernas do Sasuke com um carrinho e ele saiu rolando pro outro lado do campo. Levantamos ao mesmo tempo e ele veio pra cima de mim com a cara vermelha de raiva.

Esquecemos o futebol.

Levei um tapa na orelha e foi a minha vez de deixar o sangue ferver. Empurrei o Sasuke e avancei pra cima dele com um chute no joelho. Ele ia revidar, mas o Renji e o Keigo seguraram ele por trás, enquanto o Kiba e o Mizuíro me arrastaram para longe. Quando eu me soltei deles e ia sair do campo, o Gai estava logo atrás de mim com o rosto sério e muito bravo.

— Os dois, fora! - Mostrou o cartão vermelho pra mim e pro Sasuke.

— Foi ele que me derrubou primeiro! - Sasuke tentou se defender.

— E foi você que partiu para cima dele. Saiam do campo logo.

— Ótimo. - Ouvi Sasuke dizer, enquanto passava por mim.

Não tive escolha além de obedecer ao professor e sair. Na lateral do campo, porém, encontrei com o Gaara, que parecia meio decepcionado.

— A gente ainda faz uma boa dupla...

Não sei se aquilo foi irônico ou o que for. Na hora, nem lembrei de que do outro lado do campo tinha três amigos meus.

— Então pelo menos vença esse jogo. - Me ouvi dizer e fui sentar com o Shino, que estava muito bem acompanhado, com Hinata e Tenten, cada uma de um lado.

— Naruto! - O professor Gai me chamou quando sentei, e eu olhei para ele. - Quem é o novo capitão?

Olhei para os jogadores do meu time. Eu sabia que quem assumiria as rédeas naquele momento seria o Gaara, mas me ouvirem dizer isso, seria muito estranho.

— Shikamaru.

Nenhum deles concordou com o que eu disse, nem mesmo o Shikamaru, que não gosta de estar no comando. Mas Gaara ficou olhando pra mim. O encarei de volta e realmente estava torcendo para que ele vencesse aquele jogo. Há muito tempo eu não ganhava nada e, inevitavelmente, para vencer o time de Sasuke, eu tinha que jogar ao lado de Gaara...

Kiba era meu amigo, mas saberia vencer sem precisar do Sasuke. Chouji estava defendendo como nunca, feliz por ter sido o primeiro a ser chamado para um time. Os erros de Lee não ficavam tão escancarados com as boas jogadas de Neji e Juugo dando cobertura. E com aquela zaga... Eles tinham mais chances de vencer do que o meu time.

Nossa melhor chance era o Gaara. E eu queria, inexplicavelmente vencer daquela vez.

Mas meu egoísmo, como das outras vezes, teve um castigo. Quando o jogo e a aula estavam acabando, Kiba conseguiu uma jogada verdadeiramente linda. Pegou a bola com Chad na zaga, passou pelo meio de campo e estava na grande área do gol do Shikamaru.

Gaara estava fazendo não sei o quê na zaga. Kiba parou na frente dele e o encarou. Kiba sabia que faria aquele gol, eu sabia e Gaara também. Mas Kiba queria mostrar para o Gaara, depois da briga no último campeonato, que os Impopulares tinham perdido um ótimo jogador, dentro e fora do campo. E eu queria que ele mostrasse isso, tanto quanto queria vencer.

Kiba partiu para cima do Gaara e deu um toque na bola, fazendo com que ela subisse, mais alto que Gaara, que só pode assistir. Depois do chapéu, Kiba se viu cara a cara com Shikamaru e pedalou uma vez, antes de chutar para o gol e completar a jogada.

Gai apitou logo depois disso. O time azul ganhou. Eu levantei com as meninas e o Shino, cumprimentamos os vencedores d'Os Outros, e mantive o sorriso na cara quando o Shikamaru chegou bem humorado, sem se importar com o gol que tinha acabado de levar.

Mas... Eu detesto assumir essas coisas, esses sentimentos, mas sendo sincero comigo mesmo, eu não estava feliz. E estava sendo falso com meus amigos, só porque não tinha vencido. Fiquei o resto do dia me sentindo um lixo por isso, mas a verdade, nua, é que foi exatamente como eu me senti depois da aula de educação física. Uma mistura de decepção e culpa.

Eu sempre tive desejo de vitória e sempre soube como vencer. Eu não gostava de depender dos outros para isso, mas tinha aceitado "depender" do Gaara, para derrotar o Sasuke. Mas o Sasuke não era meu inimigo naquele campo, era o Kiba. E o Kiba não era meu inimigo fora do campo, era meu amigo.

Eu não podia deixar de pensar que tinha feito uma escolha errada ali. Mas... A parte estranha é que eu não sabia que escolha foi...

Depois da aula, voltamos para a República. O Neji ficou com os Impopulares. Sakura deixou Karin com os Populares e voltou com a gente, conversando com Hinata, toda contente. Tenten também estava com elas, um pouco mal-humorada por não confiar na Sakura, mas conversando decentemente. Elas dormiam no mesmo quarto afinal e, aparentemente, Tenten tinha deixado de lado a implicância com a Hyuuga tímida. Eu não vi isso acontecer, mas tinha certeza de que aconteceria.

Quando chegamos, tinha um aviso do Iruka, com a lista de quem lavaria a louça e quem faria a comida durante a semana. A lista mudava toda semana, de modo que as duplas nunca se repetiam. Quem não ficava com alguma tarefa na cozinha, tinha de arrumar a casa, os quartos. O que ninguém queria era limpar o banheiro, o que ficava a cargo do Iruka, que não se importava com nada disso.

Na lista dessa semana, Hinata foi para o fogão e eu pra a louça.

Engraçado como todo mundo some nessa hora. Só querem saber de comer. Tudo bem. Eles que façam como sempre e deixem para limpar a casa apenas no fim de semana. Ficarão em casa, enquanto eu e a Hinata vamos sair, para onde não sei, mas para bem longe.

— Tenho mesmo que cozinhar hoje? - Hinata fez uma voz de manha, olhando para o fogão. - Estou morta, depois daquele jogo.

— Eu gostei muito do seu gol. - Comentei, sendo sincero. - Foi bem original.

— Coisa de profissional, não? - Ela mesma riu com a ironia. - A sua jogada para o gol do Gaara foi ótima... De verdade.

— É. - Fiquei um pouco sem jeito, sem saber se merecia algum elogio depois das coisas que tinha pensado. - Eu sabia que ele faria o gol de qualquer jeito. Sei que ele é "o que é", mas ele foi um dos responsáveis por fazer o colégio chegar ao campeonato no ano passado. E eu soube que no ano anterior, ele e o Sasuke fizeram a maior parte dos gols.

— Engraçado como eles conseguem fazer uma boa dupla no futebol, apesar de tudo, né? - Hinata encostou na pia e olhou para mim.

— Você ficaria surpresa. - Falei, fazendo o mesmo que ela, com preguiça de começar a enxugar a louça que já estava no escoador.

— Eu estava torcendo por vocês. - Hinata disse e ficou um pouco vermelha. Eu apenas sorri. - Fiquei triste que tenham perdido.

— Tudo bem. Eu não estava no time mais.

— Mas ainda era o seu time. É legal vencer. Foi a primeira vez que eu venci. Não fiz nada mas venci, graças à Tenten.

— É, mas se o meu time vencesse, seria graças ao Gaara...

— Vocês eram os melhores em campo. - Ela deu de ombros, tímida. - Pelo menos foi o que eu achei. A Tenten também. Disse que você e o Gaara estavam introsados.

Aquela última frase em incomodou. Eu e o Gaara, introsados? Quando? Como? Onde? Hinata não podia saber do que estava falando.

— Estávamos querendo vencer. Se ninguém podia ajudar a gente... - Falei, tentando explicar algo em que nem eu mesmo acreditava. Estava na hora de mudar de assunto. - Melhor a gente começar...

— Senão, o pessoal vai reclamar.

— Que reclamem. Só quero terminar logo isso.

— Não quer trocar comigo não? - Tenho certeza que ela pediu isso de brincadeira, mas fez uma cara que eu não pude resistir.

— Se você quiser. Eu faço a comida hoje.

— Não... Eu...

— É sério, eu faço.

— Ah... Então... Fico te devendo essa...

— É só enxugar essa louça e lavar depois, que está tudo certo.

Hinata sorriu, de um jeito que me fez ficar feliz por ter trocado de função com ela. Todo o desânimo de antes, foi substituído por animação e contentamento. Eu pensei em aproveitar e puxar o assunto "Kiba Inuzuka", mas decidi deixar para mais tarde. Era capaz daquele sorriso sumir e eu não queria ser o culpado por aquilo.

O almoço foi como costumava ser, quando éramos apenas eu, Shino, Tenten e Lee. Hinata recebia elogios pelo almoço que não tinha feito e eu deixei que ela ficasse com os créditos. Sempre comemos bem na República. Quase todo mundo tem apitidão para a cozinha. Acho que é porque todo mundo tem que viver longe dos pais e tinha que se virar de alguma forma. O Shino não curte muito ir para o fogão e a gente prefere mesmo que não vá. O negócio dele era com as letras, o que não incluía sopa de letrinha...

Os Outros, porém, tinham uma intrusa na mesa. Sakura estava lá. Parecia estar se divertindo com Lee. Mas a presença dela me deixou nervoso. Não bravo, só incomodado. Desde que ela me disse que gostava de verdade de Sasuke, eu simplesmente não consigo pensar nela, sem me sentir mal.

Eu gosto dela, não posso simplesmente negar isso. Quanto mais o tempo passa, mais eu me pergunto porque não consigo tirá-la da cabeça. Mas vou ter que dar um jeito, eu sei. Achar alguém de quem eu possa gostar. Não tenho ainda muitas opções. Tenten além de não fazer meu tipo, está cheia de atenções para o Shino. E a Hinata... Ela não dá atenção ao Kiba, mas... Ele dá muita atenção a ela. Karin, nem pensar. Tayuya, não faria sentido algum.

Deve haver alguma garota perdida nessa escola! Não é possível!

Quando o Neji chegou, estávamos todos no sofá, terminando de falar as besteiras que começaram na mesa. A conversa já estava me deixando meio tonto e eu resolvi deixar o pessoal lá embaixo e subir para o quarto. Tentei me concentrar na lição que é para amanhã, mas até agora eu não fiz nada.

O que estava e ainda está me tirando do sério é o sonho que tive nessa noite. Estou tentando entender o que ele significa, mas... Eu decidi hoje de manhã que descobriria os dez motivos. Não para salvar meu pai, pois uma coisa dessas não faria diferença na situação dele. Mas para que eu saiba pelo menos dez coisas sobre meu pai, que me façam acreditar que ele foi, quem eu sempre pensei que fosse.

O problema é dar o primeiro passo. Eu não sei por onde começar e de certa forma, tenho medo de descobrir que fantasiei um pai que nunca existiu. Medo de que mesmo a lembrança que tenho dele, seja falsa.

Devo ter deixado isso transparecer na minha cara, pois quando Hinata foi ao quarto, pegar um caderno que o Shino emprestou para ela, perguntou se eu estava bem.

— Estou.

— Tem certeza? - Hinata me encarou com aqueles olhos, que eu não me lembrava mais como poderiam fazer alguém se perder neles. Deveria ter lembrado, porque eles quase me fizeram dizer a verdade. - Por que não fica com a gente lá embaixo?

— Não. - Falei rápido, mas sem convicção. Ficar na sala com o pessoal e a Hinata parecia mais interessante que ficar no quarto, pensando naquelas coisas. Mas Sakura estava lá. - Eu estou bem, sério.

— Vai ficar aí, mesmo?

— Vou.

Ela não me perguntou mais nada e foi saindo do quarto, com um sorrisinho meio triste. Parecia que ela estava preocupada comigo e eu não queria deixar que ela pensasse que fosse pior do que era.

— Só preciso de uma ajuda numa coisa. - Falei e ela voltou para dentro do quarto na mesma hora.

— O que foi?

— Eu... - Hinata tinha a expressão tão calma e compreensiva, que eu confiei que ela pudesse de verdade me ajudar. - Eu preciso saber umas coisas sobre o meu pai. Eu pensei em ligar para o Jiraya, mas algumas das coisas que quero saber, talvez ele não saiba me dizer. O problema é que não sei direito quem procurar. Meu pai tinha alguns amigos, mas todos sumiram desde o acidente... E eu não sei onde achá-los.

— Você pelo menos sabe por onde começar. Talvez ele possa dizer algo sobre essas pessoas, as mais próximas do seu pai, pelo menos. Seu pai tinha um melhor amigo, por exemplo?

Foi difícil, mas tive que reconhecer que a resposta era sim.

— Então. Talvez você possa encontrá-lo. Talvez o Jiraya...

— É. Eu vou falar com ele primeiro. - Falei, antes que Hinata me convencesse a ir atrás daqueles caras.

Até agora, no entanto, não consigo deixar de pensar que a Hinata está certa. Procurar o Jiraya pode ser o primeiro passo, mas ir atrás dos melhores amigos do meu pai, é excencial. Pena que seja a parte mais difícil.