Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 20
Impopular... (editar)


Notas iniciais do capítulo

Depois de muita demora... Depois do cap. 437 do manga... Depois do cap. 439... Taí o novo cap. Sem ação... Mas com coisas novas... Espero que tenha ficado bom. Não compensa a demora, mas... Ah... Não odiei, pelo menos... Beijos a todos e não me matem pela demora.



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Gaara acordou num sobressalto, na manhã de sábado. A casa ainda estava silenciosa, embora a claridade já pudesse ser vista pelos corredores. Sabia que não adiantaria tentar deitar e dormir de novo. Afastou as cobertas e levantou, espreguiçando-se. Abriu a janela e viu mais uma vez o carro do pai parado na calçada, mas dessa vez, Kankuro estava embaixo dele.

Era incrível o modo como Kankuro se parecia com Kenn, assim como Temari se parecia com sua mãe, Karura. Gaara sabia que na aparência não lembrava nenhum dos dois, mas ao menos no temperamento, era inegável que fosse filho daquelas pessoas e irmão de Temari e Kankuro. A personalidade difícil de todos os membros da família Sabaku tornava o relacionamento entre eles algo que exigia uma dose extra de paciência e compreensão. Coisas que muitas vezes faltavam a eles.

O garoto não conseguia esquecer o dia em que o irmão mais velho simplesmente arrumou suas coisas e saiu de casa, sem mais nem menos. Não conseguia perdoá-lo por fugir, logo no momento em que eles mais precisavam. E Kenn, na cadeia, sentira tanto a falta do primogênito, que isso contribuira de forma definitiva para o seu estado permanente de desanimo. E ver que Kankuro se parecia tanto com o homem que ele rejeitara como pai, produzia em Gaara uma raiva que ele mesmo não entendia.

Gaara trocou de roupa, colocando uma camiseta bege velha e desceu, saindo de casa e indo de encontro a Kankuro. Assim que o viu, o mais velho suspirou, receoso do início de mais uma discussão, que provavelmente terminaria em troca de “elogios” e, no pior caso, em pancadaria novamente. Aquilo já estava se tornando rotina entre eles. Kankuro não esperou Gaara se aproximar. Voltou a fitar o carro, tentando se concentrar em consertar o barulho que ele fazia sempre que estava em movimento.

— O que está fazendo? - Gaara perguntou, aproximando-se.

— Tentando descobrir qual o problema dele. - Kankuro respondeu, apontando para o carro.

— Esquece isso. Não adianta. Esse carro passou os últimos cinco anos indo e vindo de oficinas. Temos até uma dívida na oficina mais perto. Então decidimos deixá-lo parado. Ficou sem gasolina e completamente empoeirado desde que o esquecemos na garagem. Não tinha ninguém para dirigi-lo.

 

Kankuro olhou para o irmão, depois levantou a cabeça para o céu da manhã.

— De quanto é essa dívida?

— Não precisa se preocupar. Conversamos com o Mizuki. Pagaremos assim que pudermos.

— Agora podem. - Kankuro falou com firmeza, encarando o caçula. - De quanto é a dívida?

Gaara desviou os olhos de Kankuro.

— Já disse para não se preocupar. Guarde o seu dinheiro e compre as suas coisas. Não precisamos da sua ajuda agora.

Kankuro jogou no chão o pano sujo que estava usando até agora.

— Qual o problema Gaara? - Perguntou em seguida, sem perceber que estava sendo vivamente observado pelo mais novo. - O que eu preciso fazer para me desculpar com você? Já passei horas trancado no quarto com a mãe, outras tantas horas conversando com a Temari e mais algumas horas com o nosso pai. Mas você... Você dificulta tudo! Não fala o que te irrita, não fala o que eu sei que quer falar... Eu não consigo entender você. E eu queria tanto!

— Não perca seu tempo tentando me agradar, Kankuro. Nem tentando acertar as palavras para me dizer as coisas que não me farão odiá-lo para sempre. O que me fez te odiar, não foram as suas palavras, você sabe disso.

— Então você me odeia? - Kankuro encarou-o, contendo o tom alarmado e tentando parecer calmo. - É essa a palavra que define o que sente por mim? Ódio? - Gaara não respondeu. - Já é alguma coisa. Pelo menos já sei contra o que lutar.

Como Sasuke chamaria aquilo? Um último ato de esperança para os irmãos? Um modo de dar uma dica, sem parecer ceder, mas querendo desesperadamente que o outro entendesse o recado... Será que Kankuro tinha entendido que aquela era a maior abertura que Gaara poderia ter dado para retomar a antiga relação entre os irmãos?

Aquele era um sentimento confuso, mas Gaara estava encarando-o de frente pela primeira vez. A conversa com Naruto e Sasuke, que não chegou a ser conversa, nem acerto de contas, nem nada a que Gaara pudesse dar um nome, surtira algum efeito dentro dele. Mas não sabia o que era. Simplesmente não conseguia mais identificar nada do que sentia. Não sabia mais o que sentia em relação aos dois ex-amigos, nem aos seus companheiros de Impopulares... E agora, com Kankuro, sentia que mais um laço que se esforçara tanto para romper, estava apenas esperando para ser recuperado.

Mas era isso o que realmente queria? Deveria odiar Kankuro. Mas...

 

 

— Kank... - Gaara chamou, abrindo a porta do quarto de Kankuro. - A mãe mandou te chamar para o jantar.

— Já vou.

Ouviu a voz do mais velho, antes de entrar completamente no quarto desarrumado. Havia alguns potes de spray sobre a cama e algumas folhas de sulfite com desenhos estranhos. Kankuro os estudava atentamente, mas quando percebeu Gaara parado logo atrás dele irritou-se.

— Sai daí, moleque. - Falou, empurrando o garoto para longe da cama. - Lembra da regra? Não entre no meu quarto se não quiser morrer dolorosamente.

— Não tenho medo de morrer. - Respondeu o mais novo.

Kankuro não pode deixar de rir.

— Tenho que reconhecer que você é bem corajoso. Mas agora vasa!

— Me fala o que você está fazendo... - Gaara pediu, quase implorando.

Kankuro olhou-o por pouco tempo, mas o suficiente para guardar bem aquela expressão pidona. Ele era pior que Temari naquela chantagencinha emocional.

— Tá bem. Mas vai ter que prometer que não vai contar nada a ninguém. Especialmente os nossos pais.

— Por que não?

 

— E promete também que não vai fazer muitas perguntas, okay?

— Prometido.

Gaara se livrou dos braços do irmão e foi direto para a cama. Kankuro seguiu-o, com um ar sem jeito e ajoelhou-se ao lado da cama. O mais novo olhava para os desenhos. Havia rostos destorcidos e palavrões em toda parte. Um dos rostos, chamou a atenção de Gaara.

— Esse se parece com você. - Disse, apontando para um desenho destorcido de Kankuro, em que ele aparecia com um nariz imenso, uma cara inchada e o corpo gordo e de aparência maleável.

Kankuro riu, observando o desenho. Por mais que a “semelhança” fosse proposital, sentiu-se minimamente ofendido com a comparação.

— Acha mesmo?

— Acho.

— Eu sou feio assim? - Perguntou, mais para si mesmo.

— Esses desenhos são feios.

— São mesmo.

— Quem fez?

— O Itachi... - Kankuro respondeu rápido, mentindo.

— Por quê?

— Porque ele acha divertido. - Kankuro tirou o desenho da mão do irmão. - Ele e os amigos dele desenharam isso na parede da escola. - Mentiu de novo. - Só para zoar comigo e os meus amigos.

— Que idiota.

— Não é? - Kankuro conteve um riso.

— E por que está com esses sprays aí?

— Para uma pequena vingança. - Gaara escancarou os olhos para Kankuro, mas sorriu com a idéia. - Promete que não vai dizer para ninguém?

— Prometo.

— Nem para o Itachi?

— Claro que não conto!

— Valeu irmãozinho... - Kankuro sorriu e levantou-se. - Agora, vasa.

Com a curiosidade sanada, Gaara não teve outra opção, ainda mais com sua mãe chamando pelos dois lá de baixo. Desceram juntos para o jantar. Kankuro foi o primeiro a levantar da mesa, dizendo-se satisfeito e com sono.

Não demorou muito e Gaara subiu para os quartos atrás dele, querendo saber qual seria a tal vingança, mas quando chegou no quarto, não havia ninguém lá, nem as coisas sobre a cama. No lugar delas, estava o material de escola de Kankuro. A mochila também não estava lá.

Não era a primeira vez que Kankuro saia de casa sem que os pais soubessem. Gaara já estava acostumado a dar cobertura a ele. Devia ser a tal vingança. Sorriu, imaginando as confusões em que Itachi e Kankuro se meteriam na próxima vez que se encontrassem nas reuniões chatas dos adultos.

Correu para a sala. Queria ligar para Sasuke e dizer a ele o quanto seu irmão era melhor que o dele. Já estava com o telefone nas mãos quando se lembrou da promessa. Recolocou o fone no gancho e subiu para o próprio quarto.

Na manhã seguinte, a Escola Secundária de Konoha amanheceu com uma parte da parede pixada com desenhos grosseiros sobre Kankuro e seus amigos e palavrões que xingavam quase toda a família de cada um deles...

Curiosamente, Kankuro achou tudo aquilo muito engraçado quando chegou em casa. Enquanto Itachi espumava de raiva por ser acusado de algo que não fez...

Mas isso, Gaara só ficou sabendo muito tempo depois...

 

 

— Ainda não entendo como conseguiu... - Gaara deixou escapar, chamando a atenção de Kankuro, que voltara a mexer no carro.

— Consegui o quê?

— Se tornar amigo do Itachi.

Kankuro encarou-o, mas quando falou, estava novamente com a cara enfiada no motor.

— Acho que foi o inverso do que aconteceu com você, o Sasuke e o Naruto.

— Como assim?

Kankuro meneou a cabeça.

— Não sei, Gaara... O que aconteceu com vocês?

 

Gaara encarou-o, mas Kankuro não lhe deu mais atenção.

 

O dia estava insuportavelmente quente. À medida que o tempo passava, o calor aumentava de forma absurda. Gaara sentia o rosto derreter debaixo do sol do meio dia, por isso andava entre as árvores da praça da cidade. Mesmo com a ajuda da sombra, não se sentia nada melhor com aquilo. Estava quase desistindo da caminhada, quando encontrou um banco providencialmente localizado bem debaixo de uma enorme árvore. Apressou o passo e se sentou ali, sozinho com seus pensamentos. Não os entendia, mas mesmo assim, estava gastando cada segundo daquele dia para continuar entretido com eles. Por mais que a última semana de aula não tenha sido das melhores e a sexta-feira tivesse terminado da pior forma possível, enchendo-lhe de dúvidas maiores ainda, Gaara não estava nem aí. Se precisasse, falaria com Neji mais tarde... Queria um tempo para si.

Mas viu que não seria tão fácil ficar sozinho. Saindo de um supermercado, viu Sasuke, Juugo e Suigetsu. Esperou que eles não o tivessem visto, porém logo percebeu que estava errado. Os três foram até ele, Suigetsu sorrindo de forma debochada, Juugo com a cara séria de sempre e Sasuke com a expressão indecifrável.

— Oi... - Disse, assim que eles se aproximaram o suficiente para ouvir.

— E aí, Sabaku? - Suigetsu perguntou sentando-se ao lado de Gaara, que o olhou com indiferença.

— Como vai, Suigetsu? Fiquei com receio de ter que ir te visitar no hospital depois do que o Neji e o Sai fizeram com você naquele dia. Foi covardia.

Suigetsu perdeu o sorriso. Seu rosto ainda tinha as marcas dos muitos socos que levara dos dois Impopulares. Mas eram as marcas no resto do corpo que ainda doíam.

— Idiota... - Falou, mas Gaara não lhe deu ouvidos, apenas encarou Juugo.

— Aliás, fiquei sabendo que a sua briga com o Neji estava bem equilibrada. - Comentou, com o rosto sério, mas com um tom de voz irônico. - Não é fácil se comparar a ele.

— Não tenho nenhuma pretenção de me comparar com ninguém. - Respondeu Juugo.

— Certo. - Gaara baixou os olhos. - E você Sasuke? Como vai?

— Melhor que você, pelo que parece.

— É. Deve ser mesmo. - Gaara olhou-o. - Eu vou nessa. - Disse, se levantando. - A gente se vê na escola.

Gaara se afastou alguns passos, mas parou e se virou para Sasuke.

— Sobre ontem... - Começou, consciente de que Juugo e Suigetsu estavam ouvindo. - Não precisa facilitar as coisas para mim de novo. Eu... Vou dar um jeito de não decepcionar ninguém...

— Estava na hora. Pensei que teria que escolher outro rival.

— Meu lugar é exatamente onde estou. Não vou perder para ninguém.

— Essa é a graça.

Os dois ainda se encararam por algum tempo. Gaara virou-se novamente e começou a andar para longe deles. Sasuke ignorou as expressões curiosas e desconfiadas de Juugo e Suigetsu e sentou-se no banco.

— O que aconteceu aqui? - Suigetsu perguntou.

— Ele está de volta. - Sasuke respondeu.

— De onde?

Sasuke encarou-o, depois olhou para Juugo. Suigetsu era mesmo idiota...

 

 

 

Gaara olhou para o prédio da Escola Secundária de Konoha. Era a primeira vez que a via. Não era nada impressionante, mas não deixava de chamar a atenção. Tinha um enorme espaço de grama na frente, com algumas árvores espalhadas aqui e ali. A quantidade de alunos era o que mais chamava a atenção. Havia poucos grupos formados, pois ainda era o primeiro dia de aula. Ele sabia quem estaria matriculado naquela escola e se perguntava se Sasuke também sabia que mais uma vez seriam colegas.

Sasuke continuava a morar na mesma casa em que nascera, mas Gaara, por causa do falatório que a prisão de seu pai causara, precisou se mudar para um lugar em que não fossem o centro das atenções. Por isso, nos últimos dois anos, eles estudaram em escolas diferentes e, agora, mais uma vez, estariam frente a frente.

O último contato entre os dois não tinha sido dos melhores. Entre as acusações infundadas sobre os pais, aquela fora a última vez em que ele, Sasuke, Sakura e Naruto estiveram juntos. Naruto fora viajar com Jiraya e ninguém soube dele durante aquele tempo. Sakura ainda procurara Gaara por alguns meses, mas depois perderam o contato completamente. Sasuke simplesmente sumira.

— Vai ficar parado aí? - Temari chamou, andando na frente dele.

Gaara se mexeu finalmente e foi de encontro à irmã, sem dizer nada. Temari estava no segundo ano e era uma das meninas mais conhecidas na escola. Não era a mais bonita, nem a mais inteligente, mas era com certeza uma das que chamava mais atenção, simplesmente por não ser convencional. Falava alto, respondia para os professores, arranjava briga com outras meninas e com meninos, não tirava boas notas... Mas era com um ídolo. Alguém que todas as garotas, que não queriam ser do tipo Barbie, adimiravam.

Os dois irmãos subiram as escadas para entrar no prédio. As duas portas estavam abertas para os alunos e davam uma visão ampla para o corredor principal. Temari pegou o papel que Gaara carregava consigo e deu uma olhada. Em seguida, apontou para o fim do corredor.

— O seu armário fica logo na virada à esquerda. A sua primeira aula é... - Deu mais uma olhada no papel. - Na sala 03, vai ver logo, é perto do seu armário.

— Valeu.

A garota acenou para ele e se juntou aos amigos, sumindo em pouco tempo. Gaara apenas seguiu para onde ela apontara e encontrou o armário sem dificuldade, assim como a sala de química, no número 03. Pegou o cadeado, mas teve dificuldade em abri-lo. Estava já se estressando com aquilo, quando viu uma mão pegar o cadeado dele.

— A idéia é abrir o cadeado, não destruí-lo. - Disse Sasuke, sem olhá-lo.

— Era o que eu estava tentando fazer. - Gaara falou entre os dentes, encarando-o.

— Passa a senha. - Sasuke pediu, mas já estava arrancando o papel da mão de Gaara.

— Não precisa. Eu faço isso sozinho.

— É mesmo? Porque não foi o que pareceu.

Gaara não deu ouvidos e recuperou o cadeado e a senha das mãos do outro. Ainda tentou mais algumas vezes, enquanto Sasuke o observava.

— Me dá isso. - Sasuke pegou tudo de novo e, em poucos instantes, conseguiu abrir o maldito cadeado. - Depois você agradece.

Gaara ignorou a ironia e enfiou os cadernos dentro do armário, separando apenas o material de química. Quando fechou o armário, encarou Sasuke.

— Depois eu te agradeço... - Murmurou, como se aquilo já fosse um agradecimento. Ao seu estilo, claro.

Sasuke deu de ombros.

— Teve notícias dele? - Perguntou, começando a andar ao lado de Gaara.

— Dele quem?

— Do Naruto.

— Não, nem procurei saber. E você?

Sasuke mantinha os olhos no chão, caminhando calmamente, mas pensativo.

— Também não. A Sakura falava com ele no começo, mas...

— É. Ela falava comigo também. Ainda fala com ela?

— Falo. A gente estudou junto esse tempo todo.

— E como ela está?

— Bem. Meio maluca e... Rosa...

— Rosa?

— Você vai ver quando ela chegar.

Gaara encarou-o. Há quanto tempo ele não a via, não falava com ela, nem tinha notícias? Sasuke, no entanto, estivera sempre ao lado dela. Sentia saudade daquela menina chorona que eles tinham sempre que tentar consolar e quase sempre acabavam apanhando. Como ela estaria agora? O que Sasuke queria dizer com "Meio maluca e... Rosa"?

Os dois pararam em frente à sala de química. Sasuke olhou para dentro, com um olhar cheio de pensamentos. E virou-se para Gaara.

— Eu vou para a minha sala. Vou começar com física. - Disse, ficando ainda algum tempo de frente para ele. Mas não obteve resposta. Gaara simplesmente baixou os olhos para o material. - A gente se vê.

— É. - Gaara disse enfim. - Agora vai ser um pouco difícil evitar...

— Vai... Até a próxima.

— Até.

 

 

 

 

 


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