Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 14
A tríade de motivos (editar)




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A tríade de motivos

 

Kiba entrou na sala de aula, no instante em que Anko terminava de passar um enorme texto na lousa e pedia para que os alunos se sentassem em duplas. Hinata apressou-se a sentar com Shino, pois Naruto continuava com a expressão arisca.

Sem perguntar, puxou a carteira para perto da de Naruto e se sentou.

— Preciso falar com você. - Naruto soltou um som impaciente pela boca e revirou os olhos, mas Kiba o ignorou. - Gaara pediu para te passar um recado.

— O que ele quer? - Naruto o fitou interrogativo. - Disse para você esperar por ele depois dessa aula. Ele descobriu que você vai se encontrar com o Sasuke depois da aula...

— E o que ele tem a ver com isso? E, aliás, quem contou a ele?

— Não sei. - Kiba deu de ombros. - Apenas o ouvi falando com alguém, por telefone, pois não pude ouvir a outra voz.

Naruto não respondeu. Apenas fitou a lousa, com o texto passado por Anko.

— Naruto, eu queria te fazer uma pergunta há um tempo já.

— O que foi?

— Qual é a história entre você, o Gaara e o Sasuke? Desde que você chegou, eles têm agido estranho. Mais nervosos e...

— Idiotas?

— Quase isso. Então... Pode confiar em mim...

— O problema, é que eu não quero. Não preciso confiar em você e espero nunca precisar. - Naruto respondeu, com a mesma expressão ácida que estava se tornando normal nele desde sábado.

O garoto levantou subitamente, indo até a professora Anko.

— Posso ir ao banheiro?

In english, please.

May I go to the bathroon?

— Yes, but...

Naruto não ouviu o que mais ela disse. Saiu da sala apressado, andando pelos corredores sem ter para onde ir. Ao ver Kakashi vir na direção oposta, aparentemente nervoso, entrou depressa no banheiro masculino. Estancou ainda na entrada.

A porta se fechou lentamente atrás dele, sem que percebesse. De repente, um frio invadiu-o e transformou sua cabeça em um grande vazio de idéias.

Pouco antes:

Gaara saiu da sala de geografia, antes que fosse obrigado a ouvir as ladainhas irritadas do professor Asuma, inconformado com o retorno dos alunos baderneiros às aulas. No meio do corredor, ouviu uma discussão. Eram as vozes de Kakashi e Sasuke. O garoto estava tendo o que merecia.

Gaara aproximou-se para ouvir. Mas, no mesmo instante, os dois se calaram e se afastaram. Gaara entrou no banheiro masculino e encostou na pia, no momento em que a porta se abria novamente e Sasuke entrava, distraído.

Bastou os dois se encarem por um segundo, que suas expressões tornaram-se duras. Sasuke tentou retroceder, mas Gaara lhe chamou:

— Como vai, Sasuke. Eu soube que terá um dia agitado hoje.

— E você não? - Retrucou. - Por acaso você também não tem um trabalho social para fazer?

— Tenho. Mas não estou falando disso.

— Está falando do quê então?

— Estou falando do Naruto.

Da mesma forma como acontecia sempre que os dois discutiam, não alteravam a voz mais que o necessário. As palavras apenas vinham carregadas de desprezo e ódio mútuo, que era o bastante para deixar clara a aversão que tinham um pelo outro.

Para eles, aquele estranho tipo de sussurro dizia mais do que se poderia exprimir em palavras e era o suficiente para que qualquer um entendesse a mensagem.

— O que tem ele? O acordo acabou no ano passado, graças ao seu amigo Kiba. Não é culpa minha...

— Eu sei. - Gaara deu de ombros. - Não disse nada! - Encarou-o. - Mas preciso saber uma coisa...

— Vamos ver... O que é? Quem sabe eu possa responder...

— Por que agora resolveu implicar com ele. Quero dizer, antes, deixava-o apenas para os Populares, mas, agora... O que aconteceu?

— O que você tem a ver com isso? - Sasuke deu um meio sorriso. - Não me diga que está preocupado.

— Eu? - Gaara hesitou, pensando, enquanto olhava para Sasuke. - Talvez. Mas não por ele. - Fitou-o. - Eu estava pensando... Será que acabaremos como nossos pais?

— Quer saber se você vai para a prisão? - Sasuke riu. - Provavelmente. Tal pai, tal filho. É o que dizem.

— Eu poderia dizer o mesmo sobre você. - Gaara retrucou, contendo-se para não aceitar a provocação. - Ou você realmente acredita que ele é o melhor pai do mundo? Aparentemente não foi o suficientemente bom para seu irmão.

— Não diga sobre o meu pai, o que qualquer um diz sobre o seu. Aliás, se eu não me engano, o seu irmão não suportou a idéia de ser filho de um assassino...

Os dois se calaram quando a porta do banheiro foi aberta.

Naruto encarava-os, pasmo, sem palavras, tal e qual eles próprios. Naruto apenas voltou a si, quando uma chama queimou dentro dele, vinda da profunda raiva que havia dentro dele. Aquele calor o empurrou para frente, fazendo-o invulnerável perante a frieza dos dois pares de olhos que o encaravam. Era aquele calor, só dele, que o fazia diferente a eles. Daquela vez, ao menos, ele sabia que não seria afetado por eles. E isso lhe deu forças. Caminhou até a pia, molhou as mãos e falou displicente:

— Espero não ter chegado em má hora. - Passou as mãos carregadas de água no rosto e encarou distraído os dois. - Atrapalhei alguma coisa?

Nem Sasuke, de frente para o espelho, nem Gaara, que olhava por cima dos ombros para a mesma direção responderam. O Popular se adiantou para a porta, mas Gaara recuperou-se do momento de paralisia.

— Não tente me atingir através do meu irmão, Sasuke. O que atinge você, não me atinge tão facilmente.

Sasuke voltou-se para ele.

— Nada atravessa a frieza dos Sabaku, não é? Nem os amigos...

— Vocês falando de amigos? - Naruto perguntou displicente, entrometendo-se na discussão. - Pensei que vocês não entendessem do assunto.

— Está valente, heim, Naruto! - Sasuke riu debochado. - Pensei que nunca viria você tão cheio de si.

— Me espelhei em vocês, eu acho. Não conheço ninguém que ame mais a própria cara, do que vocês dois. Mas sou só um aprendiz em matéria de egocentrismo.

— Cala a boca Naruto. - Sibilou Gaara. - Acha que ele tem coragem por enfrentar você, Sasuke? - Sorriu, da mesma forma que Sasuke fazia. - Não pense que é uma ameaça real.

Sasuke retrucou o sorriso cinicamente.

— É. Talvez você tenha razão. - Falou com a voz mais baixa e, por isso, mas chamativa. - É com você que ele tem que se preocupar. Com você e a sua família.

— Não fale como se você se importasse. - Gaara respondeu no mesmo tom, sabendo que ele voltava às provocações a respeito de seu pai e seu irmão.

— Como se você se importasse.

— Por favor... - Pediu Naruto, com a raiva queimando-o mais do que nunca, entendendo perfeitamente o que estava implícito naquelas palavras. - Nenhum dos dois precisa se importar! Não agora. O que nos uniu um dia, nos separou e acabou por aí.

— Isso não é sobre o que aconteceu entre a gente. - Rebateu Sasuke.

— Então é sobre o quê, Sasuke? - Gaara perguntou, mas Naruto o atropelou. - É sobre nossas famílias? Sobre nossos pais? Sobre quem tem mais força entre vocês dois? - Sasuke não respondeu.

— Eu acho que os dois são fracos...

— E você é um grande entendedor sobre as fraquesas, não é Naruto! - Interrompeu Sasuke, mas foi ignorado.

— Sempre viveram as vidinhas confortáveis de vocês, com pai e mãe para se preocuparem, com falsos amigos para segui-los e enfrentar seus inimigos por vocês!

— Falsos amigos? - Sasuke riu. - Olha quem fala! - Encarou-o maliciosamente. - Logo você, que nunca teve amigos de verdade... Que foi usado e que se deixou levar pelas ladainhas que falávamos quando crianças? Você é digno de pena.

Naruto riu, ao ouvir isso.

— Talvez seja. Mas nem mais, nem menos que vocês. Talvez para mim tenha sido real na época, mas não pense que eu continuo a...

— Parem com isso. - Reclamou Gaara, entediado. - Parece briga de marido e mulher...

— Você faz parte disso... - Resmungou Naruto.

— Fazia. - Gaara corrigiu-o. - Mas ainda bem que tocamos no assunto, pois há uma coisa que ficou pendente para resolvermos...

— Pendente? - Sasuke agitou os braços, impaciente. - O que por exemplo?

Gaara não o olhou. Mesmo naquele momento, era mais fácil ser forçado a encarar Naruto, que Sasuke ou o próprio reflexo.

— Me encontrem na casa do Naruto domingo que vem, às oito e a gente resolve tudo de uma vez. - Falou.

Então, olhou para Naruto.

— Chame a Sakura.

 

 

Passei o resto do período sem aparecer nas aulas. Não conseguia pensar em nada. A discussão no banheiro, sou obrigado a concordar com Gaara, pareceu briga de namorados. Um triângulo estranho que nós formamos.

Acho ainda que eu estaria melhor se tivesse encontrado Sasuke no final da aula e tivesse feito tudo o que tinha se passado na minha mente nessa manhã. Mas mais uma vez, não pude fazer nada por mim mesmo.

Fiquei lá, ouvindo um acusar o outro, acusando-os também, sem que nenhum de nós tivesse coragem de dar nomes às acusações, às provocações. Não consigo ver como poderia ser mais fácil. Parece surreal o que está acontecendo aqui. Há tanta coisa na minha cabeça, que quase não me envergonho por ter surtado nos últimos dias.

Claro que eu estava tendo uma crise de auto-piedade, mas eu realmente quis apanhar mais do Sasuke, para ver se aprendia e entendia de uma vez por todas que nunca tive amigos, que sou digno de pena.

Talvez tenha sido por isso Hinata tenha ficado daquele jeito. Ela só voltou a falar comigo quando soube que eu não estava mais em "perigo". Ela ainda não está como antes, mas não posso fazer nada por ela. Agora, já é frescura da Hyuuga.

É... Acho que a minha "acidez", como disse o Shino agora a pouco, não passou totalmente. Não quero destilar veneno sobre ela. Hinata não me fez nada, mas, pelo que eu me lembro, por mais que eu tenha sido grosso com ela, não foi por querer, nem sem motivo. Ela pirou sozinha... Nisso, foi igual a mim.

O Jiraya me ligou hoje, disse que só virá no meio do ano, nas férias. Eu sinto falta dele. O Iruka está cada vez mais ocupado e agora tem muita gente na República.

Estou sendo um pouco contraditório hoje, não? Minha única defesa é que não estou sozinho nessa.

Gaara, Sasuke, Hinata... Agora a pouco, o último que resolveu bagunçar minha cabeça foi o Shino.

Desde que nos encontramos na saída do colégio, ele tem sido bem menos irritante. Até está rindo. Cara estranho.

Mas, voltando ao assunto da noite, ainda tenho que falar com a Sakura... Mas como? Quando? Onde? Com a Karin na cola dela, nem chego perto. Amigas... Sei... Acho que a Sakura sofre do mesmo mal que eu, Sasuke e Gaara... Falsos amigos.

Vou parar por aqui, hoje. Está cada vez mais difícil continuar a escrever. Acho que esse ano não vou participar do concurso de redação.

Não sou mais o mesmo. E esse ano promete ser infernal. Paciência. No ano que vem eu me inscrevo... Eu acho...

Bom, é isso...

Tenho que pensar em duas coisas. Uma, em como vou falar com a Sakura, mas tenho até domingo para isso. E outra, a nova tarefa que o Shino repassou pra gente. Eu, o Shikamaru, a Hinata e o Kiba, os mais novos repórteres do jornal, temos muito o que fazer.

Fui.


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Notas finais do capítulo

Especial Os Outros, feito por Patiku, no meu blog: http://doddy-imoral.blogspot.com/2008/11/bastidores-de-os-outros.html



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