Perfeito para Você escrita por Thatah


Capítulo 11
Capítulo 11 - Instintos


Notas iniciais do capítulo

Começo esse capítulo com uma ótima justificativa pelo que irá se suceder nos capítulos seguintes.

Espero que compreendam a minha intenção, do porque coloquei Leah no caminho.

"Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
(...)
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional..."

Carlos Drummond de Andrade



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/105576/chapter/11

"Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar." Carlos Drummond de Andrade

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional... Carlos Drummond de Andrade

Depois de um bom tempo em pé, Leah sentou-se ao meu lado recostando sua cabeça em meu ombro. Permaneci imóvel por alguns minutos, mas logo cedi e passei o braço por cima de seu ombro.

Ficamos sentados ao lado um do outro, por um longo tempo, apenas encarando o horizonte. Estávamos processando as possibilidades… Imaginei se ela realmente tinha pensado naquilo por muito tempo, ou se só estava desesperada para ficar livre. Leah e eu não dissemos nada, enquanto eu remoia meus próprios medos e decepções. Eram como se tentássemos provar como seria fácil se fossemos apenas nós dois, tentando colar os cacos, os pedaços um do outro.

O silêncio era bom, nada para se falar, muito para se pensar. Mas nossa concentração logo foi quebrada, nossos estômagos nos despertaram.

Leah sorriu e então correu em direção a uma árvore, deixei o tempo necessário para que ela se despisse e se entregasse a sua forma lupina. Em poucos minutos, fiz o mesmo.Corremos em busca de nossas presas.

Logo encontramos um rebanho de cervos de rabo preto. Leah suspirou consigo mesma, mas não hesitou. Seu bote foi simples e eficiente - gracioso até. Ela derrubou o maior, o macho, antes que o animal assustado percebesse plenamente o perigo.

Para não ficar atrás, abati a segunda maior fêmea do rebanho, quebrando-lhe rapidamente o pescoço entre minhas mandíbulas, para que ela não sentisse dor desnecessária. Eu podia sentir o nojo de Leah em conflito com sua fome, e tentei facilitar para ela, deixando o lobo dominasse minha mente. Não foi difícil, estava nisso a quase um mês, entregar-me aos instintos era algo simples e natural. Eu tinha vivido como lobo por tempo suficiente para saber ser integralmente o animal – ver e pensar como ele. Deixei que os meus instintos práticos me dominassem, permitindo que ela também sentisse isso. Ela hesitou por um segundo, mas depois, aos poucos, pareceu que sua mente tinha chegado lá e tentava ver do meu modo. Era muito estranho – nossas mentes estavam mais ligadas do que nunca, porque de alguma forma, nós estávamos tentando pensar juntos.

Foi estranho – não mais que o beijo, e a repentina intimidade entre nós – mas acabei ajudando Leah.Os dentes dela cortavam o pelo e a pele do ombro de sua presa, rasgando um grosso naco de carne sangrenta. Em vez de recuar, como seus pensamentos humanos queriam que fizesse, ela deixou que seu eu-lobo reagisse instintivamente. Era algo de certo modo entorpecente automático. E permitiu que ela comesse em paz.

Ao contrário de Leah, eu não me senti tão desconfortável, foi até fácil para mim fazer o mesmo.

Comemos juntos até estarmos satisfeitos.

Obrigada, agradeceu ela um tempo depois, enquanto limpava o focinho e as patas na relva molhada.

Eu não me dei a esse trabalho; tinha acabado de começar a chuviscar e tínhamos um enorme rio muito próximo a nós. Eu ficaria bastante limpo.

Sério mesmo que você consegue se contentar com isso? Questionou-me ela, provavelmente ao perceber em meus pensamentos que ainda não voltaria para La Push.

Leah odiava carne crua, perguntei-me o quão desesperada por um novo recomeço ela estava, para se propor a correr atrás de mim, por dias, sem uma refeição, e sem uma que fosse descente.

Com o tempo você se acostuma… respondi.

Mas sem a intenção de realmente forçá-la a viver de forma tão “alternativa”.

Trocamos um rápido. Leah e eu. Este ainda continuava sendo um plano idiota. Não daria certo. Mas enquanto procurava em minha mente algum modo de me livrar da dor, o que Leah dissera havia me dado um estalo.

Talvez fosse mais conveniente esperar pelo imprinting… eu disse, sem olhar em sua direção.

Leah respirou pesadamente, me provando que esta possibilidade também tinha lhe visitado a mente.Sem sucesso!

Você quer mesmo sofrer imprinting, ou que alguém sofra por você, ou seja o que for? Ela perguntou. O que há de errado em se apaixonar como uma pessoa normal, Jacob?O imprinting é só mais uma maneira de ter suas escolhas arrancadas de suas mãos.

Ela estava certa, não tinha como discordar quando seu raciocínio era exatamente o reflexo do meu. Mas aquilo ainda parecia mais certo do que, essa intimidade entre ela e eu.

Sam, Jared,Paul, Quil… eles não parecem se importar.

Acontece que nenhum deles pensa por si mesmo. - rebateu ela.

Sorrimos diante dos fatos.

Encerrei o assunto por ali, não iria tentar argumentar em cima do que eu concordava. Era ilógico!

Isso aqui ainda parece mais provável do que essa obrigação “mágica” sussurrou ela.

O silêncio se entendeu por mais um tempo, eu apenas observei Leah contornar a árvores, com passadas rápidas e “delicadas”.

Quando exatamente você decidiu vir ao “meu resgate”?

Resolvi quebrar o silencio e mudar de assunto.

Estava matando tempo, Sam tinha acabado de voltar da casa da Emily e juntado-se a nós para a patrulha. Tudo estava indo normal até que – sem querer – acompanhei os pensamentos de Sam, em mais uma de suas infindáveis trocas de carinho com a Emily. Fiquei irritada, queria poder me distrair, olhei em volta e não vi opções. Os meninos estavam fazendo o de sempre: Torrando o saco! Afastei-me um pouco deles para arejar os pensamentos, foi quando os seus invadiram a mente de todos… Sam fez sinal para que todos controlassem os pensamentos e que tentássemos não dizer nada a você! Fiquei na “escuta”, como sempre fico, quando estou remoendo minha “sorte” eterna... Sua dor era tanta, que foi como se minhas próprias feridas estivessem ali, diante de mim, sangrando como no dia em que descobri que Sam jamais seria meu… - Leah pigarreou, recompôs sua postura andando um pouco mais a minha frente, como se aquele momento de desabafo fosse ainda mais doloroso que o seu sofrimento em si - Vi sua determinação em não mais voltar. continuou ela - Então percebi que ficaria sozinha… sem nenhum pensamento que eu pudesse aturar.- Ri disso, com certeza, eu mais do que ninguém entendia o que era ter que aturar os pensamentos dos meninos! - Você não é um garoto fácil de lidar, mas jamais se compararia a chatice dos meninos. – Ela completou meu pensamento - Eu precisava fazer algo… Senti-me presunçosa por um momento, pois de todas eu era a única que verdadeiramente entendia o que você estava passando. Eu não pensei em nada, apenas sai correndo atrás do seu rastro. Foi difícil não pensar em nada, manter meus pensamentos em modo “off” para que você não notasse minha intenção.

 Compartilhar pensamentos, era algo tão normal entre nós lobos… Mas este momento “desabafo” de Leah foi diferente. Ela quis compartilhar comigo o que estava em seus pensamentos e mais ainda, ela dividiu comigo um pouco de seu sofrimento.

Eu estava ocupado demais, ou eu realmente não ouvi nenhum pensamento a seu respeito?! Quer dizer, você está fora de casa, há muito tempo… tanto quanto eu. – comentei, ao perceber que em nenhum momento os meninos mencionaram Leah. Mas logo me arrependi de ter comentado.

Agora você entendeu onde eu queria chegar. “Diga-me quem me quer… e eu irei até ele.” – Leah completou em um tom casual, como se não se sentisse verdadeiramente ofendida com tanto “desprezo”.

Sei que sou difícil. É natural que os meninos não sentirem, ou se importarem com a minha ausência… - respondeu ela.

Você também não facilita… - disse mecanicamente.

Ela sorriu pela primeira vez, sem se demonstrar ofendida ou carrancuda.

É difícil estar lá, mas também é difícil ficar longe. Você mais do que ninguém deveria compreender.

Apenas assenti com a cabeça, ladrando uma risada tristonha.

Ela é tudo o que você quer e tudo o que não pode ter.

Leah falou ao ver a imagem na minha mente. Bella!

Não consegui responder e ela emendou.

Sei que é ruim para você, Jacob. Eu entendo… melhor do que você pensa.

Balancei a cabeça positivamente e então lhe questionei.

Quer esquecer o que sente por Sam?

A pergunta não pareceu surpreendê-la, mas ainda assim, Leah pensou por um momento antes de responder.

Queria que houvesse outra forma… mas já que não tem. Acho que a resposta é sim! Na verdade é o que estou tentando fazer.

E quando foi que você teve a brilhante idéia? – perguntei.

Leah acompanhou meu raciocínio, ladrou uma risada constrangedora.

Não planejei nada disso… - respondeu ela, em defesa. Mas ela deixou escapar um pensamento, me fez sorrir.

Tenho certeza de que não…

Ficamos em silencio – mais uma vez. E então ela apertou os passos, ela não queria falar sobre aquele assunto, e eu muito menos. Deixei que ela tomasse uma bela distancia e então corri atrás, não estava planejando ultrapassá-la, apesar de ser interessante uma disputa.

Não lembro quando a proposta de voltarmos para La Push passou por minha mente de forma positiva, mas acabei concordando em voltar , sem contar que Leah  já havia me apresentado todos os motivos para voltar, não me deixando outra opção. No fim, conclui que fugir não adiantaria nada, para nenhum dos dois. Era melhor aceitar os fatos, e voltar!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!