Annabeth saiu do hospital com o rosto coberto de lágrimas secas. Ela estava com uma sensação de sufocamento, até o momento que saiu do local e sentiu o ar encher seus pulmões novamente.
Percy ainda não tinha coragem de sair. E muito menos ela queria vê-lo. Talvez fosse melhor assim, no final das contas. Eles realmente haviam se encontrado mais cedo naquele dia. Porém, as coisas não aconteceram como o combinando. Percy contou sobre seu passado e como Rachel havia sido importante nele. Annabeth ouviu quieta, entendendo – ou procurando entender – as coisas calmamente. Entretanto, quando a loira revelou seu novo corte e assumiu que havia vomitado durante a viagem para Nova York, o moreno explodiu de fúria.
E, agora, aquilo havia acontecido. Como se já não fosse o bastante todo sofrimento que ambos tiveram que pagar. Annabeth não reparou que estava sentada num gramado até que alguém a abraçou. A garota não precisava virar para saber quem estava ali, aquele cheiro de maresia era inconfundível. A primeira coisa que ela percebeu foi que ele estava tremendo de tanto soluçar.
Quando ambos se acalmaram, deitaram no gramado na frente do hospital. As pessoas passavam e olhavam para ele com pena. Como se soubesse exatamente o que estava acontecendo.
–O que ela te falou? – perguntou, por fim, Percy.
–Nada – mentiu a loira – Quero ir para casa – disse levando e cruzando os braços ao redor do corpo como se fossem sumir enquanto andava.
–Alguma lâmina afiada te esperando? – disse o garoto com a amargura seguindo-a.
Annabeth parou bruscamente e se virou para encara-lo. Ele estava com o cabelo desgrenhado, os olhos inchados e parecia prestes a explodir. Mesmo assim, isso não justificava o comportamento.
–Fique aqui. Eu sei ir sozinha. – disse e saiu correndo entrando no primeiro táxi que encontrou.

Uma hora antes
Eles tinham acabado de chegar ao hospital. Não se falavam desde a discursão a respeito dos cortes de Annabeth. O primeiro a entrar no quarto foi Percy, enquanto a loira esperava por ele do lado de fora. Suas unhas praticamente já não existiam, mas repetia a si mesma que não havia o que temer.
Alguns poucos segundos depois a porta foi aberta. O moreno saiu com a cabeça baixa, acenando para a Annabeth. Entrando lá ela se deparou com Rachel deitada com emaranhado de fios para mantê-la viva. Ao se aproximar, a loira notou como a garota que tanto a atormentou estava fraca. Os ruivos dos cabelos e os verdes dos olhos estavam sem brilho. Sua pele era translucida. Ela estava acabada. E não havia ninguém ali por ela. Os pais não quiseram ir vê-la. Porque ela sempre foi uma decepção.
–Oi – Rachel disse dando um sorriso fraco. – Eu sei que você deve estar pensando porque eu a chamei aqui. Bom, acho que desculpas nunca adiantaram, não é? – a ruiva deu uma risada amarga – é engraçado como não me arrependo por ter feito as coisas que fiz. Só me arrependo por ter machucado você. Não com socos e sim com palavras. – ficou um momento em silencio – nada deve fazer sentido para você. Mas já não me resta tanto tempo assim. Então, eu tenho uma coisa para lhe dar.
–Eu não quero nada seu - disse Annabeth com amargura
–Só pegue, não precisa ler – a outra sussurrou apontando para uma pilha de três diários. – Talvez isso te ajude. Com tudo. – ela olhou para fora, na direção de Percy. Annabeth seguiu seu olhar, já com os diários em mão – Cuide dele. Ele não sabe se cuidar sozinho, nunca soube.
–Já posso ir? – perguntou a loira com impaciência
–Não – disse a ruiva – Vai haver uma chance para você agora, Annabeth. Não a jogue fora. Sem mim lá, as coisas pode se acalmar um pouco. Crie seu próprio espaço naquela escola. Faça isso que – a menina começou a tossir. Tosses agonizantes, daquelas intermináveis. Logo, estava tendo compulsões.
Annabeth correu o mais rápido que pode para o corredor e começou a gritar por ajuda. Naquele exato momento ela se descuidou e seu novo corte apareceu. E Percy a viu. Logo as enfermeiras entraram e os dois ficaram sozinhos no corredor
–O que você está segurando? – disse Percy, a voz demostrando sua raiva.
–Nada – respondeu Annabeth guardando os diários na mochila –Você está estranho. Aconteceu alguma cosia?
–Que tal isso – disse o menino pegando-a pelo braço e apontando para o corte. –Quando você fez isso?
–Ontem – a voz da menina não passava de um sussurro -Eu pensei que você e a Rachel tivessem fugido ou algo do tipo quando não os vi no colégio.
–Ah, e pareceu uma ótima ideia se cortar não é? E ainda por cima mentiu para mim ainda pouco quando disse que só tinha se cortado em Nova York
–Você não entende! – a loira gritou – não é fácil aguentar tudo isso. Parece que o mundo está desmoronando nas minhas coisas. E eu ia te contar sobre esse, mas quando eu te falei o que aconteceu lá você fez tudo do jeito que nunca esperei de você.
–E o que você esperava de mim?
–Que você me ajudasse. Que me abraçasse e dissesse que tudo isso ia passar. Que você iria continuar me apoiando e confinando em mim.
–Ajudar você? – disse ele cético – Ajudar você a se destruir? Ver você se matar? É isso que você quer que eu faça?
–Não seja idiota. Estou falando de apoio. Será que é tão difícil para você entender? – disse Annabeth quase chorando
–Mas você não tenta. Você não me liga antes de fazer uma bobagem dessas. É muito fácil correr atrás depois que a besteira foi feita
–O que é fácil você falar quando não é você que aguentar pessoas como sua amiginha – rebateu a garota apontando para a porta do quarto
–Isso não justifica você se destruir mais ainda. Se você for perceber, não foi a Rachel que te destruiu. Você fez isso sozinha.
Annabeth estava pronta para revidar quando uma medica apareceu
–Desculpe incomodar- disse ela – Mas a amiga de vocês morreu.