Eu estava lá no meu canto,ouvindo música. Mas se você perguntasse que música eu estava ouvindo, eu não saberia dizer. Eu estava pensando nos momentos antes de eu ter que pular pra minha cama.

Eu estava pensando sobre como ele me olhava com desejo nos olhos, como a mão dele traçava caminhos pelo meu corpo e como a minha pele se arrepiava levemente a cada toque dele. Eu pensava no cheiro da pele dele, em como era passar a mão suavemente por sua pele gelada, devagar. Eu pensava na sensação de sermos somente um por um momento, no modo como ele traçava beijos pelo meu pescoço, tão suavemente, mas um pouco feroz, não sei se faz sentido, mas enfim. Clara foi pro banheiro e ligou o chuveiro. Eu olhei pro Nico e ele olhou pra mim e sorriu. Ele foi até mim, se sentou ao meu lado e beijou meu ombro. Eu sorri e então olhei pro braço dele e lembrei de uma coisa... Eu tracei uma linha com a ponta dos meus dedos pelo braço dele e senti, em meio aos músculos - nada exagerado, eram os músculos das lutas e treinos, eu amava isso - uma cicatriz. Uma cicatriz que ainda estava... "Em alto relevo" no braço dele.

Então eu peguei o braço dele e levantei a manga da camisa dele, a cicatriz não era muito grande, mas devia ser a cicatriz de um corte bem profundo, pelo jeito. Ele viu que eu olhava a cicatriz e então eu olhei pra ele.

-Como você conseguiu essa cicatriz?

-Na luta contra o exército de Cronos. - Eu voltei a olhar pra cicatriz. Aquilo devia ter doído muito. Então eu beijei a cicatriz e algo estranho aconteceu. O colar que meu pai me deu, que eu tinha até esquecido que estava no meu pescoço, brilhou. E quando eu olhei pra cicatriz de novo, ela não estava totalmente curada, mas não estava mais tão marcada na pele do Nico. Ele olhou pra mim e levantou uma sobrancelha. -Como você fez isso?

-Eu não fiz nada, o meu colar fez. - Então ele sorriu e lembrou que eu conseguia curar meus ferimentos e às vezes os de outras pessoas com a água. Não funcionava sempre nem comigo, eu tinha que me concentrar, e se eu estivesse muito machucada, eu estaria concentrada na dor e não no machucado em si.

Então Clara saiu do banheiro.

-Então vocês não brigaram? - Ela perguntou, olhando pra nós.

-Ué, porque brigaríamos? -Disse Nico.

-Eu sei lá. Mas quando eu cheguei, vocês estavam em silêncio, um de um lado do quarto e o outro do outro. - Eu troquei um olhar com Nico e dei uma risadinha. -O que aconteceu?

-Nada, Clara. Nada. - Disse Nico, olhando pra Clara.

Então nós ouvimos o barulho dos grandes portões se abrirem de novo. Hades, Perséfone e Deméter tinham chegado. Eu podia ouvir Deméter reclamando com Perséfone por ter casado com um inútil. Eu achava que os poderes de Deméter eram bem pequenos e sem valor perto da força de Hades, mas eu não discutiria com ela.

Chegou a hora do jantar e graças aos deuses, eu e Nico conseguimos nos conter. Perséfone me deu boa noite e me deu um beijo na testa após o jantar. Ok, ela realmente me tratava como uma filha agora, aquilo não era ruim, mas era assustador de algum modo. Hades olhou pra mim, pro Nico e pra Clara, quando estávamos deixando a mesa. Ele simplesmente acenou com uma mão, sem sorrisos nem nada. Mas acredite, um aceno de mão vindo de Hades, era muito mais que um "Boa noite" educado de Perséfone, eu sabia que devia ser difícil pra Hades ser educado, ainda mas com Deméter tagarelando na cabeça dele.

Nós fomos pro quarto, e como não tínhamos muito que fazer, fomos dormir cedo.

Nico's POV.

Eu estava deitado na cama, Clara e Ruby já estavam dormindo, mas eu não conseguia dormir. Eu olhava pra Ruby e não sei o porquê, eu não gostava da idéia dela dormir tão longe. Eu achava que era perigoso, sei lá. Sei que é neura, mas eu não queria que nada de ruim acontecesse a ela. Eu andei até a cama dela e Clara já estava dormindo tão pesado que não me viu. Eu deitei ao lado de Ruby e fiquei olhando ela dormir.

Agora eu me sentia melhor, ali do lado dela. Eu podia proteger ela. Era muito difícil pra eu ficar longe dela. Ela acordou um pouco atordoada e olhou pra mim. Então sorriu e fechou os olhos de novo, se ajeitando nos meus braços. Eu dormi rapidamente, sentindo o perfume suave da pele dela, abraçando ela. Eu sabia que teria que acordar mais cedo que todos, pra voltar pra minha cama. Eu só queria ficar mais algumas horas ali. Meus olhos se fecharam e eu dormi, acho que pela primeira vez na vida, posso falar que realmente descansei, sem sonhos loucos, sem nada disso.

---------------------------------------------------------------------------------------------

Eu me lembro de ter pensado em acordar mais cedo que todos, não foi o que aconteceu. Eu acordei com Clara olhando pra nós dois, enquanto estávamos dormindo.

-BOM DIAAAAAAA!!!!! - Disse ela e Ruby quase caiu da cama, mas eu segurei ela.

-Oi, Clara.

-Pode deixar, eu não vou falar pra ninguém que você pulou pra cama da Ruby no meio da noite. - Aquilo me fez corar. Por que raios a Clara tinha que SEMPRE fazer isso?

-Obrigado. - Eu respondi contrariado. Eu queria falar "Você não vai falar mesmo, porque se falar eu te corto em pedacinhos minúsculos e te jogo no Styx." Mas a garota já estava mal por estar no submundo, não custava nada ser educado com ela.

Nós nos levantamos e eu fui ajudar Clara a treinar as habilidades de filha de Hades, no jardim de Perséfone, enquanto Ruby assistia a cena.

---------------------------------------------------------------------------------------------

Percy's POV.

-VOCÊ NÃO ENTENDEU, QUÍRON! ELA SUMIU ONTEM DE MANHÃ!

-Ela deixou um bilhete, Percy. E você não tem idéia por onde procurar ela.

-Eu me viro, só não posso deixar a Ruby por aí. SOZINHA.

-Vamos esperar até amanhã, que é segunda. Ela disse que voltava segunda. Se ela não voltar até às 6 da tarde, eu deixo você ir procurá-la.

-Até lá, muita coisa pode ter acontecido com ela.

-Desde o segundo que ela atravessou as barreiras mágicas do acampamento, muita coisa poderia ter acontecido. Mas não há muito que fazer, a não ser esperar. E nem pense sair sem avisar, vou deixar alguns campistas de Ares de olho em você. - De Ares? Droga. Eles me matariam antes que eu pudesse pôr um dedo pra fora das barreiras mágicas. Eu tinha a maldição de Aquiles, mas se eu conhecia bem as crianças do chalé de Ares - que eram muitas, por sinal - elas cortariam cada centímetro do meu corpo, se fosse preciso, pra achar o meu ponto fraco. E pra ajudar, eles não apenas tinham o ódio normal que eles tem por todos quando o assunto era eu. Eles tinham um ódio profundo, talvez eles me odiassem mais que tudo. Olhei pra Quíron e bufei.

-Até segunda então. Mas SÓ até segunda. - Ele assentiu. Eu saí tempestuoso de volta pro chalé de Poseidon. Me joguei na cama.

Mas que droga, o que Ruby tem na cabeça?