Without Hope escrita por Borboleta Negra


Capítulo 14
Capítulo 14




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Era o segundo mês em que eu estava trancada naquele lugar. Apenas com a companhia dos livros e de Draco, nas vezes que ele vinha me dar as refeições, ou dormir comigo. Ele já havia contado toda nossa condição para Harry e Gina. Gina ficou com uma fúria inimaginável, segundo ele, mas Harry o achava perfeitamente digno para ter um relacionamento comigo. As coisas estavam cada vez mais difíceis para Draco, dava para ver apenas pelas suas olheiras, ou sua voz rouca, seu olhar cansado. Eu tentava o confortá-lo no máximo, mas mesmo sendo o máximo que eu podia fazer, não era o suficiente. Eu não aguentava mais vê-lo daquele jeito. Sua dor era minha dor, seu desespero, seu amor.

O relógio havia marcado 3:00 PM e Draco não vinha com o almoço. Eu já estava ficando preocupada, afinal Draco não era uma pessoa que costuma se atrasar. Andei até a porta, á abrindo levemente, notando que não havia absolutamente ninguém no corredor. Andei devagar pelo chão de pedra, mal escutando meus passos. O caminho até o Salão foi difícil, o dia estava agitado demais para o meu gosto, as pessoas passavam para lá e para cá, tornando difícil minha mobilidade pelos corredores.

Crispei meus lábios, enquanto me encolhia atrás de uma estatua grande, no momento em que ouvi a voz madura de Harry. Queria poder levantar daquele lugar apertado, correr até ele e abraçá-lo, sem ter de me preocupar com Sonserinos em fúria, como antes. Bons tempos... Contive-me apenas em apreciar sua voz melódica, que se direcionava para Gina. Deveria ser sua única companhia, pensei. Tanto a de Gina quanto a de Harry. Não havia mais Hermione. Não havia o “trio de ouro”, não havia Hermione, Rony e Harry... Apenas Harry. Rony estava morto, vedado em um lugar obscuro em baixo de nossos pés. Na realidade, não havia mais Rony Weasley. Apenas restos mortais. Apenas ossos dentro de um caixote enfeitado. E agora eu estava como ele. Eu era apenas “nada”. Suspirei ao perceber que estava me torturando de novo, como no inicio do ano. Malfoy precisava tanto de mim quanto eu dele, mas ele era a prioridade no momento. Comparar aquela pessoa maravilhosa á uma lavagem havia sido um erro. Mas aquilo estava em meus pensamentos, estava guardado em minha mente privada. Era só minha. Eu podia fazer qualquer coisa com ela. Algumas semanas trancafiada em uma sala havia me tornado uma psicopata, era a única coisa que vinha á minha mente. Tentei deixá-la livre de qualquer pensamento que se desviasse de “Draco Malfoy” e me pus á correr silenciosamente assim que não havia ninguém no corredor.

O Salão Principal estava terminantemente vazio, sem nenhuma alma, viva ou não, ali. Estranhei o detalhe e pensei. Ele poderia estar em seu quarto, um lugar claramente impossível de se entrar, pelo menos para mim. Pensei que ele poderia estar doente, na ala hospitalar, mas teria apresentado algum sinal nos dias anteriores. Sua saúde estava estável e inabalável, diferente de seus sentimentos. Ele poderia estar pensando, em algum lugar não habitual como a Sala Precisa. Só pude pensar no ponto mais alto dali, a Torre de Astronomia. Tinha uma bela vista, era raramente visitado... Tratei de ir lá, tão cuidadosamente quanto antes, me escondendo atrás de estatuas grandes sempre que possível e evitando corredores com uma pessoa, muito menos com mais. Logo estava na escada para a Torre, então andei lentamente, para não fazer barulho algum, caso alguém estivesse lá. Subi todos os degraus com facilidade e perfeição, para então olhar em volta.

Sua silhueta estava esculpida em cima de uma das janelas. Seus pés se equilibravam sobre a grade e ele apenas sentia a brisa suave acariciar-lhe o cabelo. Se fosse á algum tempo, teria ficado desesperada. Até fiquei, por uns dois segundos, menos... Mas depois o desespero se foi, com a mesma facilidade que apareceu. Draco estava sofrendo muito. Por mim. Estava sofrendo por causa da minha existência. Então entendi o raciocínio lógico dele: Se sofre tanto, por que não parar esse sofrimento? Aquele era o único jeito...

“Pulando de dois em dois degraus, com os livros na frente do corpo, cheguei ofegante ao alto da torre. Deixei meu material no chão e olhei por uma das grandes janelas, debruçando-me sobre a mesma. Deixei meus pés descansarem no ar, enquanto meu corpo balançava para frente e para trás, enquanto os meus braços firmes aturavam o peso de meu corpo sobre o para-peito da janela. E olhando para o gramado lá em baixo, perguntei-me como seria morrer.

Acho engraçado e ridículo ao mesmo tempo o fato de que ninguém nunca descobriu isso. Fechei os olhos sentindo a brisa levar e voltar com meus cabelos, enquanto eu balançava como uma criança. Até que fui surpreendida por um par de braços em volta de meu corpo. Eles me puxaram da janela e me pousaram no chão. Depois duas mãos pegaram meus ombros e me viraram. Olhei chocada para aquele par de olhos verdes.

_Hermione, você está louca?_Harry perguntou gritando. Uma mistura de ira e preocupação pairava sobre seus olhos brilhantes e vividos._Você não tem nada na cabeça? Pensei que era inteligente! Mas ficar se balançando que nem um bebê é o cumulo do absurdo e da burrice!

_A ultima coisa que eu sou é burra Harry._Levantei a voz, odiava ter minha inteligência sendo insultada._Se eu estava ali, sabia o que estava fazendo!

_Então você quer morrer?_Ele gritou de volta.”

                                                                                      [Fragmento retirado do capítulo 2]

Harry não queria que eu morresse. Talvez Harry não tivesse razão. Se eu sofria, por que prolongar esse sofrimento? Subi os últimos dois degraus da escada em espiral e andei lentamente até a janela. Meu braço estava estendido, minha mão aberta, tremendo por causa da escolha. Draco olhou para trás de relance, quando eu estava quase empurrando sua perna, então se virou. Pude ver seus olhos cansados, seus cabelos desgrenhados, os lábios secos, a barba não feita. Seu estado era terminal. Então ele estendeu a mão, num convite silencioso.

Se ele morresse, meu corpo padeceria junto dele, mesmo que meu coração continuasse á bater dentro do peito. Eu não tinha escolha. Toquei sua mão estendida e então ele me puxou para cima. Draco enlaçou minha cintura e eu enlacei a sua com minhas pernas, abraçando seu pescoço com os braços. Encontramos nossas testas e nos olhamos demoradamente.

_Eu te amo, Hermione Jane Granger.

_Eu te amo, Draco Malfoy._Falei, expressando meu sentimento agudo apenas pelos olhos.

Ele encontrou seus lábios finos com os meus. Lava com metal. A quentura tomou conta de meu corpo, a eletricidade. Então ele pulou. Meus olhos fechados não me permitiam ver nada. Eu estava acolhida no peito de Draco, sentindo sua quentura contrastar com o vento violento que cobria todas as minhas partes não cobertas pelo corpo dele. Eu ouvia seu coração. Eu sentia seu cheiro. E eu lembraria pelo resto de minha existência, minha existência como fantasma, como espírito... O cheirinho do Draco.

Eu apenas ouvi o baque. Apenas ouvi nossos corpos se chocando com o chão. Sem dor, sem pensamento, sem respiração, sem circulação... Meu corpo apenas parou de responder. E descobri que ver toda sua vida em sua frente é mito. Eu não vi nada. Não ouvi nada. Por poucos milésimos de segundos pude pensar nessas palavras. E, antes de morrer, me lembrei de algo...

“Era uma vez... Uma camponesa pequena e frágil. Ela colhia, certa manhã, frutos por toda a extensão de seu jardim e então, sem procurar, avistou um coelho. A pequena menina correu até o animal branco que era de um altura um pouco abaixo de seus joelhos, rezando para que ele não saísse correndo. Então o coelho começou á saltitar, opondo-se aos desejos da garota, e entrou em uma pequena toca. Triste, a garota foi embora, mas no dia seguinte voltou àquele lugar, encontrando o pequeno coelho novamente. Vários dias se passaram com a menina sempre perseguindo o coelho e o mesmo se escondendo em sua pequena toca. Até o dia em que aconteceu algo.

O coelho não se moveu. Nem apenas um centímetro. Então a garota foi ao seu encontro, lentamente, até poder tocar e acariciar seus pelos brancos. Ela acariciou os pelos dele até sua mãe lhe chamar. Desde aquele dia, dia após dia a pequena menina ia se encontrar com seu novo amigo coelho, contando-lhe estórias.

Então, certo dia, ela foi até o coelho novamente. Ele estava ali, como sempre. Pronto para recebê-la. Ao tocar em seus pelos, a menina percebeu que ele não se movia. Estava frio. Sem vida. Seus olhos avermelhados não brilhavam. Era a primeira vez que ela via a morte. Para ela, o coelho havia morrido. E para o coelho, a menina nunca mais apareceria. Seria uma morte, que valia para os dois.”

Mas agora tudo estava em paz.


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Notas finais do capítulo

'-'
Ficou uma merda neah?
>—>
Mas sério, não vou conseguir fazer melhor e...
NÃO ME MATEM >.
E... Bom, os agradecimentos :B
Primeiramente á todos os leitores, fiquei impressionada com o numero de reviews e recomendações...
Segundo eu queria agradecer á fidelidade de todos esses leitores e... Enfim.
Foi muito bom escrever essa história, do inicio ao fim, mesmo com todas as crises de não-criatividade... Foi muito boa a presença de vocês no decorrer desse ano, os elogios, os risos, tudo.
E eu tenho que agradecer á vocês por tudo isso, pois por vocês que eu continuei a história, por vocês que eu consegui pensar em coisas antes não previstas e que eu mudei algumas coisas, acontecimentos e etc.
Eu dei tudo de mim nessa história, creio que não é o suficiente, mas acho que agradou á muitas pessoas. O final é triste, nem tudo é um mar de rosas, e no comecinho eu avisei á vocês, por isso não briguem comigo >—>
Eles estavam finalmente em paz *-*
Beijos á todos, vou sentir eternas saudades e, caso quiserem ler outra história ou ficarem ligados em uma nova, vão no meu profile:
http://fanfiction.nyah.com.br/borboleta_negra
Amo vocês :*
Feliz natal!