Irmãos?! Não! escrita por sisfics


Capítulo 26
Capítulo Vinte: Finalmente.




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Simplesmente o arrependimento sumiu de dentro de mim e agora só sentia ódio. Queria acabar com James com minhas próprias mãos, expulsá-lo da minha vida, fazer com que nos deixasse em paz. Mas aquelas palavras não me fizeram acordar para a realidade, mas mergulhar num pesadelo pior do que estar afastada de Edward.

Estava explicado agora o choque de nossos pais e , principalmente, o rosto magoado de Renne. Uma nova pontada de dor surgiu em mim por saber que eu era a culpada.

O silêncio na sala se quebrou quando Edward quebrou o contato entre nossas mãos e avançou alguns passos na direção daquele desgraçado. É claro que ele só estava fazendo o que eu também queria fazer e era completamente impedido de raciocinar por causa daquele sorriso debochado no rosto de James que nos fazia ver vermelho. Ainda assim, só pioraria a situação, isso só nos prejudicaria agora.

Quando tomei conta de seu gesto, joguei meu corpo para frente o mais rápido que pude, entrando no espaço que faltava entre Edward e a pessoa mais próxima de nós que era carlisle.

Ele segurou meus ombros e tentou me tirar da sua frente, mas agarrei sua cintura com toda a força que tinha, fazendo com que só se movesse alguns centímetros.

- Não. - implorei.

Minha voz soou mais desesperada e alta do que o normal, fazendo com que ele se ligasse de novo na realidade e parasse de forçar minha barreira.

Ele me olhou ainda meio tonto, deu um passo para trás, consequentemente me levando junto, e tentou se acalmar.

- Pensei que fosse me bater de novo. - James rosnou.

Carlisle e Renne olharam para ele e isso só serviu para que o estimulasse ainda mais a começar seu showzinho.

- Aprontam essa crocodilagem comigo, com seus próprios pais e ainda tem a cara lavada de aparecer aqui. Como vocês são egoístas. - apoiou uma das mãos na testa se fazendo de vítima mais uma vez.

Carlisle se voltou para nós e perguntou vacilante:

- Onde vo-cês estavam até agora? - não queria mesmo que nós dois respondessemos.

Não falamos nada, eu estava congelada agora, então Edward prevendo algo que não passava pela minha cabeça, fez com que eu girasse para que ficasse atrás dele, assumindo agora a função de barreira.

- Ah, você vai mesmo perguntar isso? - James falou com deboche - Meus pais tem muito respeito por você, doutor. Eu também tenho, mas preciso dizer que essa é a coisa mais idiota que você poderia dizer. Eu já falei que vi os dois juntos se agarrando no baile. Será que a hora que eles estão chegando não diz mais alguma coisa? - apontou para o relógio em seu pulso - Olha o sangue na camisa dele. Eu disse que tinha sido ele quem fez isso comigo. - apontou para o próprio rosto - Olha o estado dessa garota, o vestido dela rasgado. Acha que eles estavam fazendo o que? Passeando pelo parque? Pelo amor de Deus, vocês não conseguem ver.
- Cale a boca. - minha mãe explodiu de repente, assustando a todos nós.

James não se moveu por alguns segundos, a encarando incrédulo, e até mesmo eu e Edward prendemos a respiração esperando que ela se movesse de novo, mas foi ele quem deu o primeiro sinal de vida.

- Me desculpe, Renne. - falou num rosnado - Mas, sinceramente, não vou ficar no meio dessa sujerada desses dois. Eu tô cansado disso e sei que é um assunto pra ser resolvido em família. - minha mãe estreitou os olhos para o deboche nas palavras dele - Até mais.

Ele veio caminhando na nossa direção com passou firmes e não tentou manter distância ao passar por nós.

- Boa sorte. - sussurrou me fazendo tremer.

Apertei de novo meus braços em volta da cintura de Edward, mas foi desnecessário porque ele não se mexeu, apenas continuou encarando firmemente os nossos pais.

Escondi ainda mais meu rosto atrás das costas de Edward. Não queria ver mais nada que ia acontecer.

Não sei se passou um minuto ou uma hora, só consegui respirar de novo quando Carlisle começou a falar.

- Onde vocês estavam? - perguntou primeiro, eu não tive coragem de responder, mas Edward sabia que se isso não acontecesse seria pior, então se pronunciou por nós dois.
- No... baile. - sussurrou.

Carlisle fez um som que não consegui identificar.

- Meninos, o James veio aqui essa noite e começou a... - minha mãe foi interrompida.
- Acho que não precisa explicar, Renne. Eles já parecem saber muito bem sobre o que aquele garoto veio fazer aqui. A questão agora é outra. - Carlisle vacilou tanto em perguntar que parecia estar recebendo uma facada - Ele disse que vocês... - não conseguiu terminar a frase - Edward, Isabella, alguém por favor diga que não é verdade. Diga que é um mal-entendido desse garoto e que vocês... não mentiram... todo esse tempo... para nós.

Esse era o maior problema. Não havia ninguém ali naquele cômodo que poderia atender ao pedido dele. Nós havíamos mentido, enganado, escondido tudo por todo esse tempo deles dois. Meu ódio por James aumentou ainda mais. Nos últimos momentos de paz que eu poderia ter até que Edward fosse embora, ele resolveu estragar tudo e talvez... talvez até... adiantar a ida de Edward para Nova Iorque.

- Não. - murmurei para mim mesma.

Edward segurou minha mão, sem entender nada do que eu tinha dito. Eu estava receosa em como explicar tudo para eles dois. Talvez a idéia que tivemos no último verão de contarmos apenas o necessário não fosse mas tão boa assim. Ele tinha me dito que James tinha descoberto tudo de nós dois pelo meu caderno enquanto conversavamos no carro. E se James tivesse dito o mesmo para minha mãe? Ou então talvez só tenha dado a "dica" e ela tenha ido ver, ou sei lá.

Tantas coisas passavam pela minha cabeça, eu não conseguia saber qual era a certa e qual a errada.

- O que estão esperando? - Carlisle insistiu.

Puxei minhas mãos das de Edward, saindo do abraço e me afastando. Minha mãe agora parecia menos nervosa, mas ainda assim confusa.

- Não sabemos o que responder porque não sabemos o que você ouviu, Carlisle. Tenho certeza que foram tantas mentiras quanto as que você espera ouvir da gente.
- Isabella? - Renne chamou minha atenção.
- Espere, amor. - ele deu um passo na minha direção e, sobre os olhos assustados de Edward, eu também fiz o mesmo - O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que é mentira parte do que ele disse. - as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto de medo e de ansiedade - E a outra parte, pode até não ser mentira, mas não é como vocês estão pensando. Nem nunca foi.

Edward não estava entendendo mais nada, ou então o seu silêncio era simplesmente de surpresa pelo meu gesto.

- Estamos dispostos a explicar, mas eu imploro, por favor, que nos deixe terminar de falar tudo antes de falar qualquer coisa. É muito importante pra mim, Carlisle. Por favor, prometa?

Ele pensou por alguns segundos ainda desconfiado e só depois que insiti muito com os olhos vi que fez um sim com a cabeça.

- Qualquer coisa que me faça entender o que está acontecendo aqui, por favor? - sussurrou.
- Não é verdade o que James disse sobre essa noite. - segurei o vestido rasgado na lateral - Ele é o culpado por isso se querem saber. Edward só me ajudou essa noite, mãe. - ela olhou assustada para mim - James é um covarde, então acredite em mim também.

Ela arregalou os olhos e chegou mais rápido em mim do que Edward que abaixou sua mão antes mesmo que ela chegasse no meu ombro.

- Do que está falando, menina? - perguntou, segurando meus ombros - O James-
- Mãe, me escuta, tá? - segurei suas mãos - Se James disse que me viu... com... - não consegui falar - Não posso dizer que é mentira, mãe. Mas não é o que a senhora tá pensando. Sei que vai ser estranho dizer agora, e por favor não me interprete mal, mas isso não começou dessa noite.
- Como?
- Bella. - Edward me advertiu de que não era uma boa maneira de começar.
- Vocês acham que aconteceu alguma coisa entre nós, mas não tem coragem de perguntar. E nós só nunca tivemos coragem de contar. Eu poderia dizer que o que sinto surgiu há uma semana, mas na verdade começou desde que vocês se casaram.
- O que? - Carlisle se irrtou.

Edward me puxou pelo vestido para que ficasse perto dele, fazendo com que os braços da minha mão caíssem moles e eu me afastasse mais do pai dele. Não sei se ele estava vendo coisas que eu não conseguia ver, mas eu só queria terminar logo com tudo.

- Se acalma, Carlisle. Não é da forma que vocês estão pensando. Lembra que vocês demoraram duas semanas até contar para nós sobre o pedido de casamento? É quase a mesma coisa. - dei de ombros ainda chorando.

Minha mãe sacudiu a cabeça e cambaleou até a parede mais próxima.

- Era o que me faltava. - murmurou.
- Nós íamos contar, mas ficamos com medo. Ficamos com medo do que vocês diriam e da reação que teriam. Foi no verão enquanto estávamos fora. - decidi optar pela história que combinamos - Quando voltamos, James já estava aqui e você fazia questão de me jogar pra cima dele, não é mãe?
- Pare de fugir do assunto, garota. - gritou.
- Não estou fugindo de nada. Eu só quero explicar porque não contamos antes.
- Faz muito tempo desde o verão. Eu não consigo mais acreditar em vocês. - Carlisle disse.
- Não sabe o que aconteceu com a gente desde o verão para dizer isso, pai? - ele então pareceu ter um estalo na cabeça.
- É por isso? - perguntou só para Edward - É por isso que não me contou quem era garota, não é? Você esteve a ponto de dizer na noite que sua tia chegou. Edward, o que vocês tem na cabeça?
- Pai, calma. - foi só o que disse.
- Então, vocês dizem que estão tendo um... uma espécie de... relacionamento embaixo do nosso teto há mais de seis meses e me pede calma? Não posso ter calma, filho. Nos últimos tempos você vinha mentindo para mim, mas vejo que era bem pior. Até você Bella? - perguntou olhando para mim - Não acredito que estejam fazendo isso com a gente?
- Eu juro que não fizemos nada demais, Carlisle. Nos amamos. - implorei - De verdade. Por favor, você prometeu que ouviria.
- Prometi porque no fundo queria que não fosse verdade tudo aquilo que aquele garoto disse.
- Ele é um mentiroso, pai. - Edward gritou.
- Vocês também são.
- Não, pai. Só teve uma mentira. Só tínhamos medo de que vocês se magoassem com a gente e acabassem se separando por causa disso. Só pensamos em vocês. Se vocês deixarem a gente contar a história com todos os detalhes sobre...
- Os detalhes são o que eu menos quero agora, Edward. - rosnou - Acho que já ouvi o suficiente para muitas noites. Você vai para o seu quarto agora, Isabella.
- Por favor, Carlisle? - pedi mais uma vez.
- E você, Edward, suba para o seu e faça suas malas. Você vai dormir no hotel com sua tia hoje.

Aquela frase surpreendeu até mesmo minha mãe que se desencostou da parede e foi para o lado de Carlisle.

- O que disse? - ela perguntou.
- Isso mesmo. Você vai fazer suas malas agora e eu vou te levar para passar a noite no hotel com sua tia. Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre esse assunto até você estar dentro do avião. - apontou o dedo na cara de Edward enquanto falava - Acho que vou precisar adiantar sua passagem também.

Eu e Edward nos abraçamos com mais força. Só podia ser brincadeira. Como Carlisle queria saber a verdade se não nos deixava explicar? Edward simplesmente não podia ir embora. Talvez eu tivesse a arma para impedir.

Edward Pov

Em silêncio ele desceu do carro, batendo a porta com toda a força e deu a volta até estar na mala. Antes que a abrisse, olhei para meu pai pelo retrovisor e o vi apontar com força com a cabeça para que eu descesse também.

Agi involuntariamente ao desafivelar o cinto e descer do Mercedes. O luminoso do motel estava aceso indicando a falta de vagas.

Nós fomos até a recepção, ligamos para o quarto da minha tia que se assustou um pouco, mas abriu a porta para nós.

Meu pai entrou primeiro com a minha única mala, a largando ao lado da porta, enquanto eu me arrastava para dentro.

- Afinal, o que aconteceu? - perguntou, fechando o roupão.

Ela olhou para a mala, enquanto fechava a porta, depois para nós dois.

- Você brigou com sua esposa? - era isso que aquela amarga queria.
- Não. - Carlisle rosnou ainda sem olhar para mim.
- Pai? - ele só ergueu um dedo, mandando que eu me calasse.

Tinha sido assim a viagem até aqui. Nem o choro de Bella o tinha amolecido. Pensei em talvez falar no carro, soltar de uma vez enquanto estivesse dirigindo para que não tivesse reação, mas ele não permitiu do mesmo jeito. Eu nunca tinha visto meu pai tão irritado.

- Imagino o que tenha acontecido. - Elizabeth falou olhando para mim - O que aprontou dessa vez, garoto?
- Porque quer saber, titia? Vai tentar estragar também?

Meu pai ia chamar minha atenção, mas ela o impediu pousando a mão em seu ombro.

- Não desconte sua raiva em mim, Edward. Tudo isso vai acabar. Sempre soube que faltaria uma mãe na sua educação.
- Você está querendo dizer que vai tentar suprir essa necessidade? Faça-me o favor, titia. Prefiro ficar sozinho no mundo do que com você.
- Cale-se agora, Edward. - meu pai gritou.

Ele abaixou a cabeça a apoiando nas mãos. Depois de um segundo, vasculhou o bolso da calça e me entregou uma chave.

- Vá para o carro. Espere lá até que eu te chame. Aproveite para se acalmar.
- Vai deixá-lo sozinho com a chave do carro? - Elizabeth cantarolou - É bem capaz de sair daqui correndo.
- Já pode parar de destilar seu veneno. - rosnei.

Ela sorriu amarelo, então puxou meu pai pelo braço até a porta.

- Não há problemas se conversarmos aqui fora, meu irmão. É melhor prevenir do que remediar e você poderá me explicar direito o que está acontecendo.

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro ainda confuso, mas a seguiu até que a porta fechasse nas suas costas. Fiquei sozinho no quarto e a primeira coisa que me veio na cabeça foi ligar para Bella para saber como estava sendo em casa.

Renne se escondeu em seu próprio quarto depois que comecei a arrumar as malas, ela acreditava que se fechasse os olhos e esperasse um pouco talvez tudo aquilo fosse sumir. Eu não a culpava. Com meu pai nos calcanhares, arrumei uma mala grande, colocando todas as roupas lá de qualquer jeito. Bella só se fechou em seu prórpio quarto porque Carlisle estava montando guarda no corredor e ela preferiu se acalmar sozinha.

Não pude vê-la da janela de seu quarto, enquanto arrancávamos com o carro, mas talvez desse jeito fosse pior. Eu tinha receio pelo que Bella faria depois que fossemos embora, então liguei três vezes seguidas para seu celular, mas ela não atendeu, o que me deixou ainda mais angustiado.

Fui até a porta e tentei ouvir o que os dois falavam no corredor, estava baixo demais, mas consegui entender uma parte crucial da conversa:

- Foi surpresa para você? - ela perguntou.
- O que acha? Os dois nunca demonstraram nada na nossa frente. Pareciam tão amigos e só amigos. - ele disse mais alguma coisa que não entendi, então respirou fundou e continuou - Elizabeth, acha que estou sendo duro demais com os garotos? Edward disse enquanto discutíamos na sala que até hoje ele não mentiu sobre nada para mim, só sobre isso e que foi como uma bola-de-neve, acarretando nesse grande mal-entendido que te trouxe aqui, mas eu não deixei que terminasse.

Ela perguntou algo que não ouvi.

- Sim, acho. - ele respondeu - Eu deveria pelo menos ouvir até o final.
- Que idéias são essas, Carlisle? Não se influencie pela cara de coitadinho do seu filho e dessa garotinha filha da sua esposa. Os dois não são mais crianças inocentes. Nem pense em compactuar com essa possível orgia embaixo do seu teto.
- Elizabeth? - elevou a voz chamando sua atenção - Não fale desse jeito. Se não for para ajudar, também não atrapalhe.
- Sinceramente, meu irmão, não cheguei a conhecer sua enteada pessoalmente, mas uma garota que se submete a mentir assim para a própria mãe e namora um menino que mora com ela. Me desculpe, mas não é possível que ela seja boa gente.
- Não fale assim de Bella. - rosnou - Ela é uma ótima menina.
- Tão ótima que seduziu seu filho. Aposto que foi isso que aconteceu. Só estou falando a verdade, então encare de frente: você não tem dois santinhos dentro de casa.
- Eles disseram que se amavam.
- E alguém ama com dezoito anos? - perguntou rindo.

Se a porta não estivesse trancada, talvez não conseguisse me conter e ia começar a gritar com aquela mulher. Meu pai só não podia se deixar influenciar pelo que ela estava dizendo. Na hora que uma luz começava a aparecer na mente dele, ela surgia para acabar com minha alegria.

- Eu e Esme nos conhecemos com dezoito anos. - disse, tentando terminar a conversa.
- Essa é a exceção e não a regra. Espero que já saiba o que tem que fazer. Eu estarei pronta a hora que for.

Me afastei da porta, e fui até a cama me jogando nela. Eu sabia que ela estava falando de adiantar as nossas passagens aéreas.

Tentava não pensar em nada, mas era impossível. Alguns minutos depois, os dois entraram, mas meu pai ficou na porta. Me sentei depressa, esperando que um dos dois dissesse alguma coisa, então minha tia pegou papéis que não pude ver dentro da sua bolsa que estava no armário da cômoda e entregou para Carlisle.

- Tente se acalamr, meu irmão. Tudo dará certo. Nos vemos amahã, boa noite. - ele sequer olhou para mim quando o chamei e foi embora.

Elizabeth fechou a porta, depois se virou para mim com um sorriso debochado.

- Espero que não se incomode com o sofá, querido.
- Você já nasceu amarga assim ou é só inveja? - rosnei.

Ela deu um sorrisinho, enquanto andava até o banheiro.

- Faça logo sua cama ali, Edward. É melhor descansar para o nosso voô de amanhã.

Bella Pov

O dia nasceu preguiçosamente sobre a copa da árvore que ficava ao lado da minha janela. Ainda não era um sol, mas um dia bem mais claro do que os normais de Forks, surpreendente para o início de inverno. Só que eu não estava nem um pouco interessada em nada disso. Só não conseguia parar de pensar no que estaria acontecendo com Edward e Carlisle na rua. O barulho no corredor me assustou.

Não tinha idéia de que minha mãe já estivesse acordada. Vesti meu casaco de dormir largado sobre a cama e saí também no corredor, ainda a vi terminando de descer as escadas, então esperei um tempo e fui também. Ela estava sentada no sofá, ficando de costas para mim, e digitava alguns números no telefone.

Ela esperou até terminar de chamar, depois desligou. Pegou então um papel embaixo do aparelho e ligou para o número escrito nele.

- Boa dia, Elizabeth. - falou um tempo depois - Estou bem sim, querida. Obrigada por perguntar. Er... eu poderia falar com Carlisle. - coçou a cabeça enquanto escutava - Como assim não passou a noite aí? Pensei que ele e Edward... Ah, sim, então ele deixou Edward aí e saiu. - apoiou o rosto na mão - Sabe para onde ele foi?

Carlisle tinha levado Edward para o motel onde sua tia estava passando a noite, mas não tinha voltado para casa. Do jeito que estava nervoso quando saiu com Edward era mesmo de se preocupar. Talvez só tivesse passado a noite longe para se acalmar, mas por outro lado podia ter acontecido algo de sério. Aquela cena da minha mãe no telefone, me fez lembrar quando meu pai faleceu. Renne acordando de manhã cedo com o telefonema informando do acidente e eu escondida da mesma forma atrás da escada vendo tudo e sem poder fazer nada.

- Obrigada, querida. Nos falamos depois. - desligou o telefone e ligou para o hospital em seguida.
- Bom dia, eu poderia saber se o Dr. Carlisle está aí? - dei dois passos na direção do sofá - Eu aguardo. - ela esperou demonstrando ansiedade até que recebeu a notícia - Você tem certeza? Ele nem apareceu essa manhã? Mas... eu sei que fez o que pode. Obrigada pela informação.

Desligou o telefone com raiva e acho que foi assim que me viu. Ela terminou de se virar com seus olhos inchados e vermelhos, então se levantou num pulo.

- O que faz fora da cama, Isabella?
- O que aconteceu com Carlisle? - deu de ombros.
- Devia estar lá em cima.
- Me fala o que tá acontecendo, mãe. - pedi.

Apertou os braços sobre as costelas, soltando o ar num silvo, então se sentou de novo.

- Carlisle deixou Edward no motel com Elizabeth e não voltou até agora. Ele não passou no hotel, não atende o celular e não disse para nenhum dos dois se passaria em algum lugar.

Me aproximei devagar, até sentar ao seu lado tomando uma certa distância.

- Acha que aconteceu alguma coisa? - perguntei com medo.
- Não quero pensar nisso. Agora, você pode me dizer o que está fazendo fora do seu quarto?
- Ainda está aborrecida por ontem a noite? - riu sem humor - Poxa mãe, não faz isso comigo. Não parece a senhora agindo desse jeito.
- Engraçado como você as vezes se surpreende com as pessoas. Você se surpreendeu, eu também. - me encolhi com seu olhar, afastando minha mão que estava prestes a tocá-la - Sobe, por-

Segurei seu braço, a interrompendo, ela me olhou com uma sobrancelha erguida. Estava esperando que eu suplicasse para que ela escutasse sobre o meu relacionamento com Edward, mas eu só queria que ela me perdoasse.

- Não me trata desse jeito, mãe. A gente só tem uma a outra, lembra?

Encarou minha mão em seu braço, pensando no que eu tinha dito, tentando encaixar aquilo de alguma forma naquela situação. Então suspirou vencida e olhou em meus olhos.

- Porque você mentiu desse jeito pra mim, hein garota. - sorri de alívio e escorreguei pelo sofá até estar em seu colo.

A abracei com todas a força que me restava depois de uma noite em claro, deitando minha cabeça em seu ombro, e segurando as lágrimas. Ela me abraçou também com mais calma e carinho como sempre fazia.

- Me desculpa, mãe. Eu não queria ter mentido assim para a senhora. Me perdoa, por favor? - tirou os cachos do meu rosto os prendendo atrás da minha orelha e beijou minha testa.
- Não chore de novo, Bella. Nossa noite foi muito difícil, mas você tem que se acalmar.
- Mas tudo isso tá acontecendo por minha culpa. Queria tanto voltar atrás, mãe.

Ela me segurou pelos ombros, me afastando para olhar em meus olhos.

- Você está arrependida de que parte? - perguntou.

Aceitar aquela mudança seria uma passo grande demais para Renne e Carlisle. Maior do que o que eu e Edward tivemos que dar quando se casaram, mas eles precisavam aceitar assim como nós aceitamos.

Ela não estava arrependida de ter aceito o convite de Carlisle de almoçar depois que o conheceu melhor. Eu também não me arrependia de ter aceitador amar Edward depois de ter conhecido o lado engraçado, carinhoso e perfeito dele.

Ela enrugou o cenho, esperando minha resposta, mas fomos surpreendidas pelo barulho na porta da sala. Carlisle entrou com alguns papéis na mão e uma cara exausta.

Saí dos braços dela, a deixando correr até ele. Os dois se abraçaram, depois se entreolharam com um sorriso sem graça.

- Onde estava até agora, Carl? - perguntou com um nó na garganta.
- Me desculpa, querida, mas meu celular abaixou a bateria.
- Porque não disse para Elizabeth onde estava?
- Você ligou para ela?
- Sim, não sabe o quanto eu estava preocupada. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. Você estava tão nervoso. - ele segurou seu rosto.
- Calma, meu amor. Estou bem. Eu garanto. Me desculpe se te assutei. Pensei que estaria dormindo e nem notaria minha falta. - ela sorriu dando de ombros - Eu precisei resolver umas coisas e não queria vir para casa. Resolvi tudo por telefone, por isso a bateria descarregou.
- Resolver o que, Carlisle? - perguntou segurando a mão dele com os papéis.

Eu não tinha conseguido ver o que estava escrito nos papéis, nem se ficasse ajoelhada no sofá. Mas minha mãe os virou para que conseguisse ler, então olhou de volta para ele com os olhos arregalados.

- Daqui há cinco horas? Você está louco, Carlisle? Como quer que Edward vá para Nova Iorque assim?
- O que? - gritei.

Ele pela primeira vez olhou para mim com seus ombros caídos e retomou sua expressão dura.

- É isso mesmo. Eu vou subir agora e terminar de arrumar as coisas dele, depois vou para o hotel e saímos de lá com Elizabeth para Seatle. A viagem até lá vai demorar, mas se corrermos dá tempo de chegar no aeroporto.
- Não, por favor, não. - implorei.

Carlisle não se comoveu com meu pedido, apenas deu um beijo na testa de Renne e subiu. Desci do sofá e fui até Renne que continuava parada perto da porta.

- Mãe, você não pode deixar isso acontecer. - falei segurando sua mão, mas ela não reagiu de imediato - Mãe, pelo amor de Deus, me escuta. - a sacudi.
- Espera aqui, Isabella.

Eu quis subir os degraus atrás de Renne, mas sabia que ela precisava ter uma conversa sozinha com Carlisle. Cruzei os dedos involuntariamente os colocando nos bolsos do short. Talvez conseguisse o convencer a esperar até segunda antes de mandar Edward para outra cidade.

Fui até a cozinha, tentei achar alguma coisa para comer, mas desisti tamanha era minha ansiedade. Me sentia fraca de fome e de sono, mas eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse a conversa interminável deles no segundo andar. Acho que eles discutiram por quase uma hora, mas para mim pareceu uma eternidade até que Carlisle apareceu com uma mala menor do que a que Edward tinha levado ontem a noite.

Me apoiei na bancada que dividia a cozinha os observando. Minha mãe cruzou os braços irritada, enquanto Carlisle vestia seu casaco e procurava a chave do carro no bolso.

- Me desculpe, Renne? - sussurrou.

Ela não respondeu, mantendo a mesma postura firme, enquanto o assistia ir embora. Meu padrasto entrou no carro sem olhar para trás e arrancou.

- Mãe? - chamei baixo.

Uma de suas mãos alisou a nuca de maneira nervosa e a ouvir soltar um rosnado de frustração.

- Minha cabeça está cheia demais. Me deixe pensar por um minuto, Bella.
- Mas, ele vai levá-lo para o aeroporto agora? - ela assentiu - Vocês não conversaram?
- Bella, as coisas não são tão fáceis assim. - se irritou.
- Vamos atrás deles, não vamos? - perguntei em vão - Vamos, não é mesmo, mãe? Nós vamos atrás deles pra impedir-
- Não vamos, Bella. Por favor, me deixe pensar por um segundo em paz.- Renne subiu as escadas e logo ouvi a porta de seu quarto bater.

Eu teria que tomar a medida drástica que pensei ontem a noite só que precisaria de ajuda. Subi até meu quarto correndo, achei meu celular dentro da bolsa de ontem, precisei resgatar forças para ignorar as ligações de Edward e achei o número de Jacob. Enquanto chamava, tirei minha roupa de dormir e vesti a primeira camiseta, uma calça jeans e meu casaco preto. Jake atendeu com a voz sonolenta, me fazendo pensar duas vezes antes de falar.

- Bells? O que houve? - sua voz estava embargada.
- Er... Oi. Tudo bem, Jake?
- Mais ou menos. Aconteceu alguma coisa séria pra você me ligar essa hora?
- Jake, não sei como te pedir isso. - me deitei no chão, tentando achar entre o estrado da minha cama o pequeno aro de metal - Você disse uma vez que estaria disposto a me ajudar para qualquer coisa se eu precisasse. Ainda está de pé?
- Claro, Bells. Eu sempre vou te ajudar. Pode dizer.

Achei o caderno e o puxei com força para que desencaixasse do pequeno espaço entre a madeira e o colchão.

- Quais seriam as chances de você me levar até Seatle?
- Agora? - perguntou assustado.
- Sim, Jake. Precisa ser agora. Eu vou entender se você não quiser me ajudar e acredite quando digo que jamais pediria sua ajuda se não fosse mesmo urgente, mas vou ser eternamente grata se você fizer isso por mim.
- Bella, você tá chorando? - passei a mão pelo rosto úmido, mas não respondi.
- Vai me ajudar, Jake?
- Tudo bem, Bells. Eu vou só vestir uma roupa e passo aí na sua casa. Buzino quando chegar. - suspirei aliviada.
- Obrigada, Jacob.

Desliguei o telefone e comecei a folhear o caderno a procura de partes que poderiam me salvar nesse momento, mas me interrompi quando meu celular vibrou no meu colo com uma mensagem de Edward que dizia:

"Perdi tempo demais tentando me convencer de que não sentia nada por você. Eu teria feito tudo diferente, Bells. Te amo.

P.S.: Teria te entregado antes, mas não pude. O ache na gaveta da minha cômoda."

Sem entender coisa alguma, fui até seu quarto abraçada nas folhas escritas com meu garrancho e segui o que estava escrito na despedida. Essa hora, Carlisle já devia estar entrando com Edward e Elizabeth no carro e os levando na direção de Seatle. Sentei em sua cama, sem entender nada do que ele queria de mim e qual era seu objetivo, ainda assim abri a gaveta da cômoda e achei alguns papéis além de uma caneta e um saquinho de veludo azul marinho.

Aquele pequeno saquinho devia ser o que mencionou na mensagem. Por um segundo achei tudo uma tremenda estupidez, de mãos atadas esperando Jacob e procurando algo naquele caderno que fizesse Renne mudar de idéia, eu tinha acabado de aceitar a idéia de que fosse mesmo uma despedida, mas não deixaria Edward ir. Peguei o saquinho, o abri e derrubei seu conteúdo na palma da minha mão. Era uma pequena aliança que fez um choque percorrer meu corpo imediatamente. O gesto fez mais algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto guardava o anel de volta no saquinho. Era perfeito, era lindo, e era Edward quem ia colocá-lo no meu dedo. Decidida, abri a porta do quarto da minha mãe, mas ela estava no banheiro, então coloquei o caderno aberto na página certa em cima de sua cama. A buzina na frente da casa chamou minha atenção. Jacob tinha sido rápido e eu tinha demorado também tempo demais encarando incrédula tudo aquilo que a aliança representava para nós.

Voltei para meu quarto, abri a janela e com cuidado desci pelo início da telhado até a beirada da calha, pulei para o galho mais baixo da árvore, engatinhei até o tronco e desci com um pulo.

Quando entrei no jardim, ouvi minha mãe gritar meu nome da janela de seu quarto, mas não me virei. Entrei depressa no carro de Jake que arrancou na direção sul.

Não tive tempo nem de colocar o cinto de segurança, logo estávamos virando á esquerda e a direita até chegarmos na rodovia. Jacob cantou pneus na saída o que o fez bufar de si mesmo.

- Se meu pai me visse agora. - entendi ele falar.

Só então me preocupei com a segurança. Jake levou uma mão até o rosto, secando um filete de suor que aparecia na testa.

- Você é louca. Você é louca. Você é louca. - murmurou.
- Me desculpa. No fundo eu não queria ter te metido nessa.
- Agora só resta saber no que você me meteu. Bella, porque você desceu pela janela? Poderia ter caído daquela árvore, ainda mais atrapalhada do jeito que é.
- Obrigada. - rosnei.
- Que inferno! Pelo menos vai me contar o motivo por eu só sair do meu castigo quando terminar a faculdade? - fiz uma cara de quem não estava entendendo nada e, realmente, não estava - Acha mesmo que sua mãe não está agora ligando pro meu pai? Ele vai querer comer meu fígado mal passado. Porque diabos estava fugindo de casa?
- Saí pela janela de impulso. Eu só não queria que ela me ouvisse da varanda, o que com certeza ia acontecer porque é embaixo da janela dela, mas ao mesmo tempo esqueci de te pedir para que não buzinasse. Droga! Eu estraguei tudo.
- Tudo o que?
- Ela vai ligar para o Carlisle. - comecei a prever meu fracasso - Ele não vai deixar que eu me despeça de Edward. Ela não vai ler meu caderno. Que droga, Jake! Ele vai embora.

Sabia que não estava entendendo coisa alguma, então só me deitei mais no banco, querendo sumir por alguns minutos.

- Não devia ter te metido nessa. Mas eu sou muito egoísta para não pedir que faça isso por mim.
- Tudo bem, Bells. Você tentou avisar pelo telefone, se eu vim até aqui foi porque...- fez uma careta sem saber o que responder - Porque eu queria. Droga, Bella, porque não falou que sua mãe não podia saber? Eu teria estacionado na esquina.
- Me esqueci. - dei de ombros - Desculpa?
- Tudo bem. - respondeu sorrindo - É uma viagem de quase três horas até lá. Tente relaxar e se acalmar.
- Acho difícil. - murmurei quase inaudível.
- Mas tente. - tentou não ser tão rude ao dizer.

O celular começou a vibrar no meu bolso. O peguei com as mãos tremendo e desliguei na cara de Renne. Depois disso, me encolhi mais no banco, tentando fazer o que ele tinha dito, esquecer dos problemas que me esperavam no meu destino e entender porque Jacob estava tão emburrado. Ele fez questão de ficar em silêncio pela primeira hora e meia, me restando só acompanhar as linhas pintadas na pista ao lado do carro.

Não que eu estivesse à vontade para tagarelar, mas daquela forma havia mais espaço para pensar nas possibilidades negativas para meu futuro próximo, por isso passei a observar o motorista.

Sua testa estava com um enorme vinco que parecia ser de preocupação. Ele conduzia com uma mão só, enquanto esfregava a outra pelo jeans da calça.

- E se eu explicasse ao seu pai que você não sabia de nada e-
- O que? - me interromepeu.

Não soube o que responder. Pensei que ele estivesse só aborrecido pelo provável castigo, mas do jeito que tinha falado estava me deixando confusa.

- É pra você não ficar preocupado desse jeito. Eu juro que não vou colocar você nessa. Falo para minha mãe que menti para você. - dei de ombros.

Jake deu um sorriso de canto de boca, como se estivesse segurando uma gargalhada.

- Acha que eu estou preocupado com isso, Bella?
- Acho. - ficou um pouco de lado no banco, enquanto tentava manter os olhos na estrada
- Bells, já sei de tudo. É por isso que estou desse jeito. Porque quero que você chegue a tempo e quero que-
- Como?
- Droga. Eu sei que devia ter te contado antes, mas é que tanta coisa aconteceu nos últimos tempos e eu esperava mais hora menos hora que você mesmo contasse sobre o que tem com o ... o Edward.
- Como você sabe disso? - tentou responder, mas o interrompi - Quem falou para você? Como descobriu?
- Pode parar de pirar, por favor? Que merda! Olha, eu vi vocês dois juntos no carro na festa do Mike. Não disse nada porque não sou nenhum intrometido ou coisa parecida. Depois você começou a agir estranho, eu insisti que você me contasse o que estava acontecendo, porque queria te ajudar. Aquela vez que te encontrei perto da delegacia, em alguns intervalos na escola, mas você nunca falou nada. Voltou com o idiota do James, então eu esqueci, mas saquei que tinha alguma coisa dando muito errado no dia que estávamos juntos e o Edward pediu para falar com você.
- Sério?
- Que que há, Bella? Porque eu mentiria agora. Só quero te ajudar. Deviam ter contado para todo mundo, cometeram um erro.
- Vai me dar lição de moral agora? - estava em frangalhos.
- Não, nao é isso. Só não entendo porque vocês esconderam.
- Porque moramos sobre o mesmo teto. Porque nossos pais são casados. Porque o James estragou tudo.
- Sempre soube que ele era um filho-da-
- Nem precisa me lembrar. - resmunguei abraçando as pernas e olhando para o lado de fora.

Não sabia o que sentir. Fiquei irritada sem motivos por Jacob não ter me contado que já sabia. Ao mesmo tempo irritada comigo mesma por ter sido tão transparente. Se ele tinha percebido, imagine James, além da ajudinha que meu caderno deu.

- Tá mais calma? - perguntou vacilante.

Sorri desanimada e assenti.

- Me desculpa? Não imaginava, fui pega de surpresa. Você entende? - assentiu.
- Eles não quiseram nem conversa, não é mesmo? Quero dizer, seus pais.
- O pior de tudo não foi isso. A verdade é que eles não descobriram por nós, mas pelo James. Sinceramente, Jake, eu não quero falar sobre esse assunto.
- Concordo. - deitei minha cabeça no banco e esperei ansiosa para que chegássemos - Vamos chegar logo, eu prometo.

Só aquela hora que faltava de viagem me pareceu uma eternidade. Meu coração passou a palpitar mais forte quando chegamos na cidade. Apesar da falta de senso de direção e a pressão que eu fazia, Jake conseguiu achar o caminho.

Ele não se incomodou quando eu mal esperei que arranjasse uma vaga e logo pulei do carro com seu desejo de boa sorte nas costas. Segui até o balcão de informações e descobri que o próximo vôo para Nova Iorque saía em quarenta minutos em um portão de embarque do outro lado da construção. Eu demoraria pelo menos metade daqueles quarenta minutos andando até lá. Corri o mais depressa que pude, mas os cadaços do tênis pareciam me castigar por todos os pecados que já cometera na minha vida. Finalmente o portão E-38 estava lá com todas as suas cadeiras e passageiros, menos o mais importante deles. O reconheceria de qualquer jeito, sob qualquer circunstância e sabia que Edward poderia estar em qualquer lugar do mundo menos naquele salão. Olhei ao redor, caminhei entre os espaços possíveis tropeçando em algumas malas de mão, mas não o achei. Tive vontade de chorar de ódio. E se eu estivesse no lugar errado? E se Carlisle já o tivesse colocado num vôo anterior? Eram coisas que eu não queria nem pensar.

Encostei na parede mais próxima, deixando minha testa repousar no revestimento frio. Quando menos esperei, alguém puxou meu braço e me empurrou para trás com rapidez. Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, seus lábios estavam nos meus, os obrigando a se movimentar rápido. A minha primeira reação seria empurrar aquele desconhecido louco e me afastar o mais depressa, mas mesmo sem poder ver seu rosto, eu o reconhecia pelo perfume, pelo toque e pela voz mesmo sendo só um sussurro.

- Minha garota. - murmurou com os lábios no meu - Ah, minha garota, o que você está fazendo aqui?

Apesar da pergunta, o beijo não me permitia responder. Sua mão presa a minha cintura me puxava mais contra seu corpo. Joguei meus braços ao redor de seu pescoço, o deixando aprofundar mais. Não queria me separar tão cedo daquele beijo que mostrava o quanto eu tinha medo de perdê-lo, mas o ar acabou. Eu me recostei de novo na parede, o fazendo colar a testa na minha. Seus olhos verdes estavam pequenos de cansaço, confirmado também pelas olheiras.

- Você está aqui. Não acredito. Você veio me ver?
- Não, vim ver um outro acéfalo que gosta de me fazer de imbecil. Imagine. - riu baixo, mas uma outra idéia fez esse riso diminuir.
- Sua mãe está aqui? - levantou o rosto e olhou em volta - Renne está aqui?
- Não, Edward. - o puxei pela gola para que olhasse de novo para mim - Eu vim sozinha.
- Mas, Bella. Não me diga que você fugiu... Você não fez isso, fez? - algo na minha expressão respondeu sua pergunta - Droga, Bells, porque você fez isso? Só vai piorar as coisas para você quando voltar para casa.
- Quando voltarmos para casa. - corrigi.
- Não deveria ter vindo.
- Mas queria te ver. - puxei o saquinho do meu bolso - Eu queria que você fizesse isso por si mesmo.

Ele o pegou da minha mão, abriu e tirou o anel de dentro.

- Era para você se lembrar de mim enquanto estivesse fora. - pegou minha mão e olhou dentro dos meus olhos - Eu posso, minha Bella?
- Deve. - murmurei feliz demais para dizer qualquer outra coisa.

Edward pôs o anel no meu dedo, e enquanto fazia aquele movimento tão devagar e com tanto amor, foi como se uma pontinha de esperança crescesse dentro de mim de que voltaria para casa comigo. Ele beijou o anel, então se aproximou devagar até selar meus lábios com carinho. Estava prestes a explodir, mas afastou meu rosto com um sorriso triste.

- Eu te amo. - sussurrei.
- Você precisa ir embora agora. Meu pai não pode te ver e ele vai voltar logo.
- Não vou embora. Eu quero falar com Carlisle. Ele vai deixar você ficar, eu sei que vai-
- Não dá, Bella. Elizabeth não vai deixar. - aquela mulher era quase como uma carcereira pelo visto.
- Não, Edward. - rosnei decidida.
- Sem discussões. - me calou com um dedo passando devagar pela minha boca, mas empurrei sua mão.
- Eu não vou embora. Vou falar com seu pai, ele deve estar mais calmo agora. E quanto a sua tia amada: mando essa mulher ir para o inferno em dois segundos.
- Então, mande. - a voz veio de trás dele.

Edward se virou depressa, abrindo espaço para que eu encarasse a nova bruxa que tinha aparecido para me atormentar. Sua tia tinha o rosto amargo, um pouco retorcido numa expressão de desaprovação. Ela encarou com raiva a mão dele apoiada na minha cintura, então com uma careta sussurrou:

- Garoto, sabe que está fazendo a escolha errada.
- O que você tem com isso? - perguntei num súbito.

Edward me olhou assustado, mas nós precisávamos encará-la. O castigo que viesse depois seria pouco perto da recompensa. Estava decidida a tirar aquela mulher do meu caminho, porque dessa forma Carlisle decidiria pelo melhor com a própria cabeça.

- Não falei com você, Isabella. Aliás, também é um prazer conhecer minha sobrinha emprestada.
- Deus me livre. - sussurrei alto o suficiente para que ouvisse.
- Mas voltando ao problema central: acho melhor os dois se afastarem. Quando Carlisle chegar, ele decide o que fazer com você. - me senti um lixo pelo tratamento que me dava.

Uma mulher arrogante, petulante, prepotente e amarga. Um verdadeiro monstro. Agora eu entendia porque Edward não quis ir antes para Nova Iorque. Se eu fosse obrigada a conviver com aquela mulher por mais de uma semana, enlouqueceria completamente. Ele bufou, mas ao invés de obedecer a tia, me puxou para mais perto, cobrindo meu corpo com seus dois braços.

Me aninhei em seu peito, mas não como provocação, só mesmo para matar minha vontade.

- Então deixe que ele chegue e decida pela própria cabeça. - rosnou.
- Crianças, vamos deixar essa besteira de lado. O amor é mesmo lindo quando se tem dezessete anos, mas é hora de acordar para a realidade. Edward, não é nem justo trocar tudo que estão lhe oferecendo por uma besteira como essa. Crianças, porque tanto esforço e trabalho assim? É apenas Nova Iorque. Porque enfrentar Deus e o mundo se só serão mais alguns meses longe um do outro? Pensem bem, se vocês se comportarem, agradarão seus pais de uma forma incomunal, então quando a faculdade chegar daqui há alguns meses será bem mais fácil convencê-los. Vocês não estarão morando no mesmo teto e será bem mais fácil deles assimilarem essa situação.

Ela chegou perto, então segurou minha mão que estava apoiada no peito de Edward.

- Eu só quero o que for de melhor para vocês. Vamos acabar com essa infantilidade toda e assumir o que é melhor para todo mundo.
- E como você pode saber o que é bom para mim? - rosnei.
- Isabella. Isabella. Sejamos racionais. - puxei a mão que segurava.
- Está tentando usar a mesma arma que usa com meu pai, mas não vai funcionar. Sou mais parecido com a minha mãe, se lembra? Estou vacinado contra você. - Edward me puxou para o lado, me afastando dela.
- Qual a imagem que você tem de mim, Edward? - perguntou colocando as mãos no quadril.
- Acho melhor não saber qual.
- Meninos, se vocês estivessem mesmo dispostos a me ouvir estariam entendendo a lógica por trás do que digo.

Afundei meu rosto no ombro dele, enquanto os dois começavam a conversar ou discutir. Na verdade, me desliguei por um instante dos dois, pensando no que tinha dito. Edward tinha me prometido quando tomou aquela decisão de que não estava indo para Nova Iorque porque sabia que não se adaptaria bem à cidade e às outras novidades que viriam junto. Ele me prometeu que nossa situação na época da decisão não tinha alterado nada e eu acreditei. Só que talvez agora isso fosse necessário para que a gente ficasse juntos de novo no futuro. Não que a idéia dela fosse completamente maluca. Muito pelo contrário, era bem racional, mas sempre fui tão emocional e só o pensamento de ficar mais tempo longe de Edward fazia meu peito doer. Seria muito difícil ter que suportar tudo aquilo para no final não ter a certeza se ficaríamos juntos ou não. Além disso, a distância me amedrontava porque me conhecia o suficiente para saber que ela não mataria meu amor, mas a minha confiança.

- Não estou me sentindo bem. - murmurei.
- Vai fazer mal para seu pai. - Elizabeth tentou insistir.
- Engraçado, eu achava que era você quem fazia mal para ele, ou ele não teria vindo para Forks. - rosnou, parecendo não ter me ouvido.
- Eu não acredito que meu próprio sobrinho está dizendo isso. Juro que jamais imaginei que fosse me tratar desse jeito, Edward.
- Jamais imaginei que a senhora não gostasse de ver a felicidade das pessoas desse jeito, tia.
- Edward, por favor, não estou... - estavam prestes a se matar e só queria me sentar.

O cansaço da noite em branco estava me deixando com as pernas fracas. Só queria que eles parassem de discutir ou o que quer que seja que estivessem fazendo.

- Não vou mais discutir com você. Isso é absurdo! Só acho melhor vocês dois se afastarem. Não quero ver o que seu pai vai dizer quando chegar aqui. - não respondeu, mas também não me soltou.
- Edward, me ajuda a sentar? - pedi bem baixo, enquanto segurava meu rosto com uma das mãos e enrugou o cenho.
- O que você-
- Isabella? - Carlisle o interrompeu.

Edward olhou para cima, torcendo os lábios e Elizabeth na nossa frente descruzou os braços, fazendo uma expressão de quem tinha avisado.

- Não vou me meter mais. Vocês não querem, não é mesmo? - resmungou com um sorriso debochado.
- O que vocês tem na cabeça, hein. - chegando mais perto apoiou uma mão no peito de Edward e nos afastou - O que está fazendo aqui, Isabella? Como Renne permitiu que você viesse para cá?
- Ela não sabe que vim. - sussurrei.

Não sei se era o nervosismo, mas estava começando a me sentir ainda mais zonza do que antes. Levantei o rosto, juntando um pouco de coragem e avaliei a expressão de Carlisle. Ele estava triste, aborrecido e ao mesmo tempo confuso. Nada do que Elizabeth tinha dito. Ele era só o marido da minha mãe de novo e era minha chance de convencê-lo.

- Carlisle, por favor, me perdoa? Eu sei que não devia ter vindo, mas precisava. Edward não tem nada com isso, ele sequer sabia que eu vinha para cá. Só cheguei aqui com ajuda de um amigo e minha mãe só sabe que pulei pela janela. Ninguém tem culpa de nada. Todas essas idéias idiotas vieram da minha cabeça, então não fique aborrecido com eles dois, mas eu precisava conversar com você. Eu precisava dizer o que penso.

Estava com medo de cair para frente quando começasse a falar, por isso dei mais um passo na direção dele e apoiei uma das minhas mãos em seu ombro. Carlisle não se importou muito com o gesto, não que fossemos próximos em casa o suficiente para isso, mas ele estava mais concentrado nos meus olhos. Edward notou a diferença do meu apoio por carinho e por desespero, por isso também deu um passo para frente e apoiou uma mão na minha cintura. Mas teve medo de fazê-lo lembrar da briga principal ao chegar mais perto e atrapalhar o início da conversa que eu poderia ter com seu pai

- Sei que vocês acham que nós mentimos, enganamos, escondemos tudo de vocês. Sinceramente, foi isso mesmo que fizemos, mas foi para o seu bem e o da minha mãe que não falamos nada. Pare para pensar comigo. Eu faria a mesma coisa se estivesse no seu lugar. Se um filho meu e uma enteada começassem a ter uma relacionamento embaixo do meu teto, é claro que pensaria o pior e as únicas soluções seriam separar os dois ou me separar. Vai me enganar que não pensou nisso? - enrugou o cenho.
- Olha Bella, vamos... - ele apoiou a mão na minha e tentou a afastar, mas o interrompi.
- Não minta pra mim, por favor. Foi por isso que não contamos antes, Carlisle. Eu tive medo de contar para você e acabar causando isso. Quero dizer, não queria minha mãe infeliz, muito menos Edward te queria infeliz.
- Infeliz? - Elizabeth perguntou com uma risada.
- Pelo amor de Deus, cale a boca. - Edward rosnou.

Carlisle se distraiu por um momento com o princípio de discussão atrás de nós, mas então entrei mais na sua frente e apoiei a outra mão em seu ombros. Ele abaixou o rosto, negando com a cabeça alguma coisa que estava pensando.

- Carlisle, se pudesse te mostrar como foi os meus útlimos dezessete anos ao lado do seu filho, você ficaria assustado. Nós sempre nos odiamos e brigávamos na escola feito cão e gato. Era uma richa idiota, um ódio que nutria por ele sem entender de onde vinha, então quando você e minha mãe começaram a namorar foi quase como me sentir dentro do ninho inimigo. - ri com minha piada sem-graça, então percebi que ele estava sorrindo também.
- O que está dizendo?
- É verdade. - Edward confirmou.
- Não sei se um dia você já sentiu isso por alguém, mas o simples fato de saber que o seu filho respirava em algum canto do universo me deixava irritada. Quando você e minha mãe começaram a namorar, foi como uma bomba caindo na minha cabeça. Me sentia quase traída por ela, mas eu jamais disse nada porque todas as vezes que ela chegava de um encontro com você era como se um novo brilhinho acendesse nos olhos dela e eu simplesmente não podia ser egoísta ao ponto de estragar aquilo tudo e acabar com um pouquinho de felicidade que estava tendo. Ela sempre foi meu tudo e depois que vocês contaram para gente que iam se casar eu descobri que Edward sentia o mesmo. Essa sensação de que só tem uma pessoa no universo que pode ser seu porto-seguro e ele não queria estragar a felicidade dessa pessoa. Carlisle, no início do casamento, eu juro que quase matei seu filho algumas vezes, mas me mantive forte por causa de vocês e acho que fui tão forte que acabei me apaixonando.

Provavelmente, estava roxa de tanta vergonha e sentia bem meu rosto queimando, mas não me detive em dizer aquilo porque era o único jeito. Carlisle piscou algumas vezes, assimilando a informação, enquanto alternava um sorriso e uma desaprovação. Foi quando minha mãe apareceu gritando atrás de nós.

- Ah, céus, é para me enlouquecer. Finalmente encontrei vocês. Porque esses malditos portões de embarque têm que ser tão longe um dos outros? Por isso tenho medo de altura. - parou entre mim e Carlisle com a respiração ofegante - Não acredito que cheguei à tempo.
- Renne, mas o que você está fazendo aqui? - ele perguntou.

Minha mãe cruzou os braços, só então notei que meu caderno estava nas suas mãos, e estava também com uma expressão muito aborrecida. Me desencontei de Carlisle para encará-le de frente, por isso a tonteira voltou, fazendo o saguão girar, mas não caí. De alguma forma, finquei os pés no chão para não cambalear.

- Essa é mesmo uma ótima pergunta porque nem eu sei que diabos estou fazendo aqui. - girou nos calcanhares e deu o caderno na minha mão - Vamos, Isabella, agora me explique porque pulou daquela janela antes que eu pudesse pegar o carro. Você é louca? Onde estava com a cabeça? Você poderia ter caído daquele galho.
- Mãe.
- Você pulou da janela do seu quarto, Bells? - Edward perguntou me girando de frente para ele.
- Gente, calma.
- Menina, você é louca. - Carlisle se juntou à bronca.
- Já deu para perceber que ela é. - Elizabeth resmungou.
- Já falei para calar a boca. A gente resolve isso aqui em família, okay? - Edward fez questão de não ser nem um pouco educado.

Com um pouco de medo, peguei o caderno da mão de Renne que ainda o apontava para mim. Ela parecia bem chateada mesmo, quase com um ódio maior do que quando quebrei seu vaso de cristal que ganhou de presente de casamento com meu pai com um tombo bem feio há cinco anos.

- Olha, mãe, desculpa. Por favor, me desculpa?

Antes quis tanto que ela chegasse, seria a salvadora da minha pátria, mas agora estava estragando meu discurso emocionante e não ensaiado que estava convencendo Carlisle. Enquanto eu abraçava o caderno, um pequeno estalo veio à minha cabeça.

- Você disse que ia pegar o carro? - perguntei,interrompendo uma pergunta que Carlisle começava.
- É, eu ia pegar o carro. Acha mesmo que ia deixar Carlisle fazer a loucura de levar o Edward embora.
- Sério? - Edward e Carlisle perguntaram juntos.
- Sim, é sério. Eu precisava dizer umas coisas na cara desse garoto, aliás na de vocês dois. - apontou para Carlisle e Edward.
- Mãe. - estava começando a se animar demais.
- Garoto, como você pensa que pode fazer isso com a minha filha? Olha aqui, eu não sei mais o que está acontecendo, estou mais confusa do que antes e além disso eu gastei cento e noventa e sete dólares no táxi de Forks até aqui porque tive que vir lendo esse caderno e não podia dirigir. E você, Carlisle, achou mesmo que eu ia deixar você levar meu filho embora? Olha, não sei o que você vai fazer, mas o Edward não vai.
- Não vou?
- Filho? - Elizabeth perguntou com cara de nojo.

Minha tontura aumentou, tentei esticar o braço e tocar Edward, mas tinha ido para frente para abraçar Renne.

- Ai, Renne, obrigado. Eu não acredito.
- Não me abraça, garoto. Você traiu minha filha.
- Você o que Edward? - Carlisle perguntou.
- Gente, eu tô tonta.
- Você pode colocando sua mochila ali porque não vai entrar nesse avião. Agora, Isabella, você pode começar a me explicar tintin por tintin o que está escrito nesse caderno e acredite quando eu digo que tem partes que é melhor você medir suas palavras.
- Vocês enlouqueceram. - Elizabeth bateu o pé cruzando os braços.
- Isabella? - minha mãe chamou, enquanto minha vista escurecia - Isabella?

Acho que fui de encontro ao chão, mas apaguei antes de sentir o baque.

[...]

Quando abri meus olhos, estava num lugar diferente do saguão. Primeiro vi uma luz forte, depois o sorriso da minha mãe e os olhos de Edward. A mão de Carlisle estava na minha. Sabia porque era uma mão tipicamente de médico: fria, avaliativa e leve. Minha respiração estava mais calma, meu coração também parecia ter normalizado e o sorriso de Edward me acalmou ainda mais.

- Bella, você está bem, meu amor? - Renne perguntou.

Demorei alguns segundos para assimilar a pergunta, então com um aceno leve de cabeça assenti a fazendo apoiar a mão no peito e soltar um suspiro de tranquilidade.

- Você anda dando muitos sustos em mim, pequena insuportável. Não me faça brigar com você por isso. - Edward sussurrou passando a mão pelo meu rosto.

Sorri em resposta, sentindo aquela sensação gostosa que só a pele dele causava em mim. Ele inclinou sua cabeça devagar na minha direção e por um segundo era só ele e eu naquele lugar que eu nem sabia onde era. Seu lábio tocou o meu muito de leve, apenas um roçar delicado, então sorrimos e deu um beijo na minha testa.

- Você foi o culpado. - murmurei.
- E porque seria?
- Porque não me segurou. - riu do meu bico, então deu outro beijo no alto da minha testa.
- Vejamos então. A menina está bem. - alguém disse atrás da minha cabeça.

Estiquei o pescoço para trás e vi uma mulher vestida de branco com um grande sorriso. Devia estar no departamento médico. Se eu tinha desmaiado, esse seria o único lugar que poderia estar.

- Sim, nós já sabemos qual o problema dela enfim. - Carlisle se levantou, esfregou as mãos uma na outra e sorriu - Quando foi a última vez que você se alimentou, pequena?
- Não me lembro. - confessei envergonhada.
- É dessas frases assim que tenho medo, sabia? - Edward fez todos rirem.
- Eu quero que você fique. - sussurrei para que só ele ouvisse.
- E conseguiu. - resmungou, abaixando cabeça até meus ouvidos - Obrigado pelo desmaio, meu amor. Eu perdi o avião.
- Perdeu o avião? - sorri enquanto perguntava tão alto que todos na sala olharam para mim e riram.
- Obrigado por tornar nossa conversa pública, amor.
- Sabe que sou boa nisso.
- É, definitivamente, ela está bem agora. Até piadas já está fazendo. - Carlisle segurou de novo minha mão.
- Não que sejam tão boas assim. - Edward resmungou fazendo uma careta.

Dei um tapa de leve em seu braço, então Renne se sentou na maca com um sanduíche gigantesco na mão.

- Obrigada por ter comprado para ela, Elizabeth. Foi muito gentil da sua parte. - segui seu olhar e vi Elizabeth com um sorriso de desculpa acoada num dos cantos da sala.
- Obrigada. - sussurrei também apesar de ser contra o meu gosto.
- Acho que vou esperar lá fora. - disse antes de caminhar na direção da porta.
- Acho que sua enteada está bem nas suas mãos, doutor. Então, com licença. - a enfermeira também saiu do lugar.

Com a ajuda de Edward, me sentei na maca. Ele se sentou atrás de mim, me servindo de apoio. Minha mãe também chegou para frente e começou a me forçar a comer aquele sanduíche como se fosse o último remédio na face da Terra. Os três olhavam para mim como se esperassem que eu dissesse algo, mas tinha medo de falar. Por isso fiquei quieta até conseguir me livrar do último pedaço que minha mãe empurrou pela minha boca mesmo estando sem fome alguma.

- Está mais conformada? - perguntei ainda de boca cheia.
- Só mais calma. Como posso confiar de te deixar morar sozinha na faculdade se até de comer você se esquece.
- Um dia o passarinho tem que voar. - me apoiei ainda mais em Edward e seus braços envolveram minha cintura.

Eu estranhei seu gesto porque estávamos na frente de nossos pais. Teríamos que ser comedidos, mas ele não foi nem um pouco. Então, percebi que Carlisle e Renne não estavam aborrecidos com nós dois daquele jeito. Algo simplesmente tinha acontecido enquanto eu dormia.

- Realmente, Bells, eu nao costumo dizer isso, pelo menos não em voz alta, mas você tem razão dessa vez. O passarinho tem que voar às vezes e é tão difícil para nós pais assimilar isso. - minha mãe respirou fundo antes de continuar - Nós pais estamos sempre tão preocupados com tantas coisas como a escola, a saúde, as companhias que mal lembramos do que realmente importa que é a felicidade dos nossos filhos e eu nunca pensei que para que você fosse feliz a minha felicidade também tinha que ser prioridade.
- Como?
- Você sacrificou sua felicidade pelos últimos meses escondendo de mim que estavam juntos por puro medo de estragar a minha felicidade com Carlisle. Saiba, meu bem, que não reencontrei a felicidade só quando me casei com ele. Eu sempre fui feliz mesmo sendo sozinha com você. - segurou minha mão com um sorriso triste estampado no rosto - Porque você achava diferente disso, Bella? Será que nunca demonstrei da forma certa?
- Não. Não, é porque... porque... eu não sei porque. - Carlisle sorriu da minha gagueira e se sentou ao meu lado junto de minha mãe.
- Não fique muito nervosa, você acabou de desmaiar. Apenas ouça sua mãe.
- Mas-
- Isabella, eu entendo o motivo por você ter mentido, só que juro que até agora a lógica que usou para chegar até ele não faz muito sentido para mim.
- Eu só não queria te magoar, mãe. Era impossível que... como se fossem deixar assim tão fácil nós dois ficarmos juntos, não é? Não façam essas caras. - se entreolharam com um sorriso.

Abaixei a cabeça porque ainda estava um pouco tonta apesar do apoio de Edward e do efeito do remédinho milagroso de Carlisle. Minhas mãos estavam soando frio mesmo com toda aquela positividade à minha volta.

- Ah, Isabella, sua cabeça de vento. Até parece que não conhece sua mãe. Se esqueceu que sempre dou um jeito para tudo? E quando digo tudo é tudo mesmo. - sorri com sua expressão.
- Vocês. É verdade? Não estou mais entendendo nada. O que aconteceu enquanto estava dormindo? - Carlisle deu uma risada.
- Bella, sinceramente, fazer o que fez hoje foi insensato, imaturo, infantil e não pense que vai ficar sem um belo castigo por isso. Pela mentira que criou, propagou e insistiu em contar adicione mais algumas belas semanas ao que antes você já pensava ser ruim. Quanto a algumas coisas que li naquele caderno que me entregou, além de termos uma longa conversa para esclarecer, você irá também acrescentar meses e mais algumas tarefas longas, árduas e incansáveis. - de algum modo dentro de mim sabia que estava falando sobre a viagem do verão passado e a história da possível gravidez que aconteceu na época - Quanto ao resto, acho que, sinceramente, fazer o que você fez hoje foi corajoso, além de uma prova do que vinha tentando falar antes para nós dois. Você tentava falar que era real e que era verdadeiro. É por isso que, enquanto dormia, nós decidimos que o melhor mesmo pode não ser proibir, mas abrigar vocês dois. Confiamos mais num mentiroso do que nos nossos
próprios filhos. Acho que isso foi covarde de nossa parte, mas estamos dispostos a construir algo novo com a ajuda de vocês.

Edward apertou minha cintura com força, acho que foi só esse gesto dele que me fez voltar ao planeta Terra e entender que era verdade mesmo o que Renne estava dizendo.

- O-qu-e? - me deu um solavanco para que parasse de falar.

Não que fosse uma espécie de reclamação, mas só não estava acreditando no que tinha ouvido.

- Ora, não era isso que vocês queriam? - Carlisle deu de ombros - Só vou avisando que esse castigo será cumprido pelos dois e novas regras vão surgir na nossa casa, além do mais ainda não os perdoei completamente pela mentira e não estou nem um pouco satisfeito com Nova Iorque, mas admito que não deveria ter sido tão preciptado, só ainda não estou satisfeito.
- Mas vai ficar, pai. Eu prometo que vamos fazer tudo que disserem. Eu prometo que vamos seguir as regras, cumprir o castigo e eu falo por mim quando digo que Nova Iorque não vai fazer diferença nenhuma. Eu juro, pai. Eu juro, Renne. Nós-
- Calma, Edward. - minha mãe o interrompeu.
- Desculpa? É a empolgação. Eu mal consigo acreditar.
- E eu ainda não consigo. - sussurrei, mas Renne e Carlisle ouviram.

Os dois desceram da maca com um movimento da minha mãe, e com a ajuda de Edward desci também, agora mais firme me apoiando nele. Os dois se abraçaram e, apesar da cara de desconfiança de Carlisle, ele sorria. Eu sabia que para ele seria mais difícil, só não entendia porque.

- O que mais podemos fazer? Vocês estão felizes juntos e não seremos responsáveis por destruir isso. - olhou nos olhos de minha mãe antes de continuar - Que sejam felizes como eu sou.

O tom de felicidade que agora assumia cada célula do meu corpo era simplesmente inexplicável. Eu tive vontade de chorar, gritar, rir, gargalhar, pular, mas uma só coisa tive forças suficiente para fazer. Me virei de frente para Edward e nós nos abraçamos como da primeira vez que fizemos isso depois de termos confessado um ao outro o que sentíamos.

- Eu te amo, Isabella. - sussurrou.
- Também.

Com delicadeza, segurou meu rosto, colou nossas testas e selou nossos lábios devagar sem se importar que estivessem vendo ou não. Mal pude acreditar que estava vivendo aquele momento, por isso minhas pernas bambeavam tanto. Edward entrelaçou seus dedos aos meus enquanto aprofundava o beijo e me deixei levar esquecendo de onde estávamos.

- Cof! Cof! Er, tudo bem , meninos. - Carlisle resmungou, mas sem nos interromper - Gente, não abusa. Vocês podem fazer isso em outro lugar?
- Carlisle. - Renne chamou sua atenção.
- Que que foi? Crianças, acabou, okay. Edward, larga minha menina agora antes que eu jogue água em vocês dois.

Edward empurrou meu rosto, tentando segurar uma risada alta, mas não o fez. O som de sua risada era a única coisa que queria ouvir por muito tempo, mesmo com castigos, problemas, novas regras, as conseqüências dos nosso namoro na escola e em casa, eu precisava passar por isso. Foi então que percebi: ele estava ali do meu lado, segurando a minha mão. Mesmo que fosse pesado demais, estaria comigo dividindo o peso.

- Te amo! - ele sussurou.
- Idiota! - respondi sorrindo.

Ele saberia o que aquilo significava.


Fim.


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Notas finais do capítulo

Último capítulo, amanhã eu posto o epílogo.E não esqueçam: Tem segunda temporada.