Sexo, Escola e Rock And Roll escrita por Fernanda Lima


Capítulo 8
Erro técnico


Notas iniciais do capítulo

* Versão de Allen Johnson *



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 - Não, eu me recuso a ir à sala agora! – Isabel me arrastava impiedosamente em direção ao alojamento temporário do monstro de 1.95 m de altura e 98 kg (ou mais), que curiosamente tinha parentesco próximo com ela, uma criatura que não tinha mais do que 1.65 m.

  - Deixe de ser idiota, o que ele pode te fazer de mal?

  O que ele poderia me fazer de mal?

  - Que tal me pendurar numa árvore de cabeça para baixo pela cueca e me fazer de pinhata de novo?

  Bom, isso.

  - Patético... – Ela estava rindo de mim. Por que ela estava rindo de mim?

  Saí correndo dela pelo corredor em direção ao quintal de sua casa, quando ela me empurrou e se posicionou em frente ao portão se saída.

  - Vamos dar uma saída por enquanto... – Disse, tentando abafar o caso. Ela não engoliria essa.

  - E você espera que eu saia sem avisar a ninguém?

  - Exato. Você é esperta. – Ela ia me bater.

  - Novamente, patético. – Ela segurou o meu pulso e começou a me puxar em direção à sala de estar de sua casa. – Vamos. A casa não é tão grande assim para você querer se esconder sempre que meu irmão aparecer.

  Eu tinha plano de saúde, então acho que meu tratamento intensivo não sairia tão caro.

  Quando chegamos à sala, William estava gritando para a televisão com sua voz de câmera lenta.

  - Mas tu é um idiota, Edilson! – Agora eu sabia com quem Bel havia aprendido a se comportar.

  - Irmão. – Ela o chamou, que virou de lado e sorriu ridiculamente.

  - Olha, quem é o campeão aí? 

  - Lembra do Allen? – Ela puxou minha blusa enquanto eu tentava fugir pela sombra. Dei um sorriso para disfarçar.

  - Allen? O baixinho que gostava de subir no telhado? – Eu estava tentando salvar o gato deles, ora. Não sabia que era natural os gatos fazerem isso. – Como me lembro! – Então, ele se levantou e deu um tapão nas minhas costas, o que me fez dar uns dois passos para frente e quase soltar um palavrão. – Aprontamos muitas juntos, né, guri?

  Qual o objetivo disso mesmo?

  - Olha, William, vamos dar uma saída. – Ela chegou mais perto dele. Era até engraçado, pois ela batia no ombro dele.

  - Que horas pretendem chegar?

  - Não se preocupe antes das 22 horas, e não chame a polícia antes das 23h.

  - Aonde vão?

  - Perambular.

  - Leve o celular.

  - Quebrou.

  - Leve o cartão telefônico, então.

  - Perdi.

  - Putz, então leve o meu celular.

  - Eu não sei mexer.

  - Então que se ferrem vocês dois.

  Ele saiu da sala e nós dois começamos a rir. Dei a língua para ele.

  Já no fim do corredor, perguntei:

  - E então, Bel, o que pretende fazer?

  - Vamos andar de bicicleta pela cidade. Você pode pegar a do meu pai. – E ela apontou para uma mountain bike verde escuro parada ao lado de uma bicicleta comum cor de vinho, que supus que era de Bel.

Peguei minha mochila num cabideiro ao lado da dispensa, e quando Bel ia subindo em sua bicicleta, me veio uma inspiração.

- Inspiração, Bel.

- O que devo fazer? – Ela já estava acostumada com minhas inspirações artísticas que vinham nas horas mais inesperadas.

- Fique em pé ao lado da bicicleta, com um pé no pedal e uma mão no guidão, olhando para o horizonte.

Depois de ela se arranjar, observei-a um pouco e saquei um kit de aquarela, pincéis e também um papel Canson próprio da mochila. Enchi um potinho com água em seu tanque, e me sentei no chão para pintar. Me veio uma pergunta à cabeça.

- Bel, por que você usa tantas coisas cor de vinho? – Eu já havia começado minha obra.

- Bom... eu acho que me lembra daquelas roupas medievais e da corte moderna também, ainda mais as que vêm com rendas e com mangas brancas e bufantes.

- Você gosta mesmo de história, hein? Andei olhando seus livros, e você tem ao menos uns 40 sobre história medieval e moderna, e uns 20 de história antiga.

- Nunca tirei uma nota abaixo de 9.8 em história, em toda a minha vida. Tenho paixões pelas idades medieval e moderna. Me parece tão familiar, não sei explicar... – Sua expressão havia ficado mais leve e natural com o assunto, o que estava me deixando ainda mais inspirado. Acelerei a pintura. – E você, de que disciplinas gosta? – Ela perguntou sem mover a cabeça.

- Eu gosto de artes e de matemática. Acho que as duas se complementam.

- Você é incrível nas artes. Não tenho dom para nenhum tipo de arte, que tosquice...

Rapidamente, me lembrei de um episódio e comecei a rir.

- Mas você é boa em música. Lembra da flauta da tia Telma? – Gargalhei com a lembrança da cena.

- Ah, não. Não me venha com flauta da tia Telma. – Sua expressão era zangada agora.

- “Gente, gente, olha a música que aprendi a tocar na flauta!” – E comecei a assobiar o funk da Carla Perez.

- Idiota, eu não sabia distinguir estilos musicais na época, ok?

- Mas você aprendeu rapidinho. – Minha barriga estava doendo de tanto rir.

- Quieto! Você não presta mesmo!– Ela se virou para mim, zangada.

- Pose.

- Desculpe. – E voltou para sua posição anterior. – Como está seu trabalho?

- Pergunte em dez segundos.

Dez segundos depois, ela me perguntou novamente:

- Como está seu trabalho?

- Acabado.

- Mas já? Só tem 10 minutos que estamos aqui.

Empinei o nariz, metido, e lhe mostrei a folha úmida de aquarela.

- Caramba, você é incrível! – Bipolaridade mata, oi. – Me dá? Eu vou enquadrar e pendurar no meu quarto.

Eu a havia desenhado no topo de um castelo de pedra, com um vestido cor de vinho estilo medieval, apoiada na varanda e olhando para a paisagem no horizonte, com lagos grandes, bosques e uma aldeia.

- Pode ficar. – Ela saiu correndo, provavelmente até seu quarto, e depois voltou, ofegante. – Então, vamos?

- Vamos. – Botei minha mochila nas costas e peguei a bicicleta verde. Olhei em meu relógio de pulso, e eram cerca de 10 horas da manhã.

19 horas

  - Que. Cansaço. – Falei, me jogando na poltrona do cinema com um balde mega de pipoca na mão.

  - Me matem antes que isso comece a doer... – Isabel se jogou na poltrona ao meu lado, com um copo de 1L de fanta uva – nosso refrigerante preferido - em cada mão.

  Havíamos passado o dia inteiro andando de bicicleta, e agora estávamos no extremo oposto da cidade, em relação à casa de Isabel. Tomamos um mega sundae numa sorveteria enorme que nem sabíamos que existia, e depois resolvemos ir ao cinema, com preguiça de voltar tudo de novo na hora.

Logo na primeira cena de filme, apareceu um cadáver imerso em uma poça enorme de sangue.

- Isso é horrível. – Bel disse ao meu lado.

- Eu sei. Não é legal?

- Muito. Ei, não coma toda a pipoca com manteiga.

- Eu como o quanto quiser da sua preciosa manteiga, afinal eu que paguei 15 reais por essa pipoca. – E comi um punhado de pipocas praticamente derretidas pela manteiga na cara dela.

- Ah, é? Então você vai morrer de desidratação, pois eu paguei pelos refrigerantes e posso tomar tudo. – E ela bebeu um pouco de cada copo na minha cara.

- Você vai fazer xixi nas calças e vai feder daqui até sua casa.

- E aquele cara morto da primeira cena é você daqui a 40 segundos.

Como superar? E 40 segundos era Death Note demais para mim.

Durante o filme, Bel havia começado a passar mal com tanta comida e mais as nojeiras que apareciam a cada cena. Então depois que acabou, ela resolveu vomitar na moita ao lado do cinema.

- E aí, acabou? É meio constrangedor ficar ao lado de um arbusto que faz “Bleagh” e “Rarg”.

Ouvi um outro “Bleagh” como resposta. Cerca de um minuto depois, ela saiu de trás da moita, despenteada.

- Droga... me dá sua água.

Tirei um cantil militar da mochila e entreguei para Bel, que detonou com todo o seu conteúdo.

- Desse jeito, vai acabar vomitando de novo.

- Quieto. – Ela me entregou o cantil vazio e saiu andando em direção ao bicicletário onde havíamos estacionado nossas bicicletas.

Chegando lá, ela olhou para o lado e arregalou os olhos. Olhei para a mesma direção que ela.

- Allen... nossas bicicletas, elas...

- Sumiram. – Completei.

Só restavam as correntes, que haviam sido jogadas no chão. Me aproximei e segurei-as, tentando não entrar em pânico.

- Rápido, Len, temos que chamar a polícia ou algo assim.

- Não, o processo seria demorado demais. O melhor é acharmos um jeito de voltar para casa, para depois nos preocupamos com as bicicletas.

Então, tirei o celular da mochila, que deu um apito de bateria fraca. Olhei a hora em meu relógio de pulso, eram 21h 30 min.

- Me diga seu telefone. Rápido, a bateria está acabando. Tem problema ligar a cobrar? – Digitei o “9090”

- Numa situação nessas, claro que não...

- Ok, pode falar.

- 3254...

- Hum.

- ...7845.

Opa.

- Erm, Bel, sobre o celular... digamos que... a bateria acabou.

- Mas que saco! Por que tudo tem que dar errado? – Ela saiu emburrada, e sentou-se no meio-fio, com as mãos apoiadas nos joelhos e o rosto apoiado nas mãos.

- Calma. Você tem algum dinheiro para uma passagem de ônibus, metrô, qualquer coisa?

Ela tirou as mãos vazias dos bolsos.

- Não, e você?

Peguei minha carteira na mochila.

- Tenho 25 centavos.

- Nem dá para comprar algodão doce.

Ela bateu na minha mão, o que fez a moeda rolar até o meio da rua.

- Eu gostava dessa moeda. - Disse, encarando-a.

- Então vai pegar.

- Não gostava tanto assim.

Depois de alguns minutos de silêncio, falei para ela:

- Acho que temos que voltar andando para casa.

- Está maluco? Está escuro, aqui não é a parte mais segura da cidade, não sabemos bem para onde ir e estamos a uns 10 km da minha casa. Levaria umas 2 horas e meia no mínimo para voltarmos.

- Então tem alguma outra idéia? – Sem esperança, perguntei: - Conhece alguém que more aqui perto?

Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

- Acho que tem uma amiga da minha mãe que mora nesse bairro... – Ela olhou para as casas por alguns momentos. – Não, espera. Ela se mudou para uma cidade vizinha tem uns dias.

- Que ótimo... – Escondi meu rosto em meus joelhos. – Sabe se outra pessoa mora aqui? Jack, Maria, sei lá...?

Então, ela virou a cabeça vagarosamente para mim, com os olhos brilhantes.

- É isso. Lembra que Maria nos disse que ela vinha passar os finais de semana com uma tia dela...

- ...que mora a cerca de 800 metros do cinema cultural do bairro do Lântemo? – Rapidamente, nos entreolhamos. Nos levantamos e atravessamos a rua correndo, como dois náufragos que avistaram terra.

Porém, ao chegar na calçada do outro lado da rua, ela parou e puxou a manga de meu casaco. Ótimo.

- O que foi agora? – Olhei para ela, aborrecido.

- 800 metros para qual direção?

Epa.Não havia pensado nisso.

- Ela te deu algum ponto de referência?

- Ela mencionou algo sobre uma igreja com umas flores no jardim...

- Igreja... não sei onde fica. Vamos perguntar no cinema.

Andamos de volta para o cinema, dessa vez desanimados.

Chegando lá, andamos em direção a um atendente de caixa sonolento.

- Boa noite. – O homem se voltou para Isabel. – Pode nos informar onde fica uma igreja com umas flores na frente?

- Igreja... tem uma indo aqui pela direita. Fica a uns 800 metros daqui.

Entreolhamos-nos, satisfeitos.

- Obrigada, moço.

Bel agarrou minha mão e andou rápido até a saída. Chegando lá, ela parou e me encarou.

- Olhe. Eu não sei o que pode acontecer, pois já é tarde e essa é uma região violenta da cidade. E não tem ninguém na rua a essa hora para nos ajudar caso algo aconteça. – Sua expressão era séria. Eu apenas assentia. – Portanto, não vamos nos separar.

Andamos para a direita do cinema, conforme o cara havia nos informado. Chegando lá, avistamos uma passagem um tanto estreita e sinistra. Apesar dessas condições, continuamos andando.

- Bel, fique do meu lado.

- Por quê? Sei me defender. – Sua voz era de desdém.

- Então finja que você vai ao meu lado para me defender caso seja necessário.

- Acho que isso é mais real do que você pensa... – Ignorei-a e continuei andando.

No fim da passagem, que deveria ter cerca de 150 metros, havia uma bifurcação. No caso, uma trifurcação, pois havia calçadas para todos os lados.

- E agora, para onde vamos? – Ela perguntou ao meu lado, com uma voz cansada.

Olhei ao redor, em busca de alguma referência. Só consegui avistar uma árvore alta do outro lado de uma calçada larga que atravessava a que estávamos no momento.

- Vou subir naquela árvore para ver se avisto alguma coisa. Me espere aqui.

- Ok, tenha cuidado. – Ela se posicionou bem, logo abaixo de um pequeno poste de luz.

Naquela região, era comum que as igrejas tivessem grandes cruzes de madeira em seu topo. Então se subisse alto, talvez avistasse algo do tipo.

Comecei a escalar a árvore, preocupado tanto em não cair como em ficar de olho em Bel, sozinha lá embaixo. Bel era bastante forte para uma garota, mas não pário para um bandido armado. Bom, mesmo que alguém mal-intencionado aparecesse e eu estivesse perto, não conseguiria abatê-lo também, mas poderia chamar alguém da vizinhança para ajudar-nos, ou qualquer coisa. Era preciso começar a pensar nessas possibilidades.

Quando alcancei um ponto com uma boa vista, olhei em todas as direções, procurando por algo útil. Depois de várias tentativas, pensei ter avistado uma cruz no fim da calçada que ia em frente. Olhei de novo para ter certeza e desci rapidamente da árvore. Bel estava parada, na mesma posição em que a havia deixado.

- Vamos, acho que avistei algo indo direto. - Limpei minha roupa das folhas e das formigas.

- Você acha que avistou algo? – Sua voz era, novamente, de desdém.

- Nessas horas, precisamos arriscar. – Comecei a andar, e Bel veio correndo para o meu lado, sem dizer nada.

Cerca de 5 minutos depois, avistamos algo de perto. Estávamos no alto de uma ladeira, e logo abaixo havia uma praça com várias lamparinas, o que facilitou a visão e nos deu um pouco mais de calma, depois da escuridão. Algumas casas tinham suas luzes acesas, mas não muitas, já que aquela região era nova e tinha muitas residências vazias. Sentimos também o cheiro suave de damas-da-noite.

- Estamos perto. – Bel disse ao meu lado. A animação do momento fez com que descêssemos a ladeira correndo. Depois de atravessar a praça e andar mais um pequeno trecho, chegamos na tal igreja.

- Viu, eu disse que era bom arriscarmos. – E então, paramos em frente à construção.

A igreja era maior do que pensávamos. Tinha as paredes brancas, e as portas e janelas num tom de ouro velho. No jardim, grandes roseiras, margaridas e damas-da-noite.

- Que igreja linda... – Ela falou, suavemente. Seu estilo colonial certamente a deixara fascinada.

- Está sentindo o cheiro dessas flores? – Perguntei, já animado.

- Estou... – ela respirou fundo. – Vamos logo achar a casa de Maria. Pode ser qualquer uma num raio de 50 metros a partir dessa igreja.

- Vamos tentar ver se tem móveis na casa pela janela, e se tiver, chamamos pelo interfone.

- Mas vamos perturbar as pessoas.

- Isabel. – Segurei seus ombros e a olhei bem nos olhos. – Somos dois jovens de 16 anos, perdidos, sem dinheiro e sem comunicação com o mundo, sem ter como voltar para casa e no meio de um bairro perigoso. Eles não se importarão.

- Tudo bem... Então, você olha na casa depois da igreja e eu na que fica antes.

- Ok. – E andei em direção à janela da primeira casa, que não estava envolta pelo portão.

Olhei para dentro da janela e não avistei nada. Voltei para a frente da igreja, e Bel fez o mesmo.

- Nada?

- Nada. – Ela parecia preocupada. Tentei acalmá-la.

- Ainda temos as casas de trás e as que ficam depois da praça. Vamos primeiro nas de trás, que estão mais próximas.

- Tudo bem... – Nosso passo era lento, pois estávamos exaustos.

Fizemos a mesma coisa com as três casas que ficavam na rua de trás. Só havia gente morando na última, pois avistei alguns móveis lá dentro. Voltei para a frente do portão e toquei o interfone. Depois de uns 5 toques, alguma alma agora zangada resolveu atender.

- Alô, quem é? – Uma voz feminina meio ranzinza falou através da caixa verde.

- Ahm... desculpe incomodar... a Maria Yukai mora aqui?

- Não tem nenhuma Maria aqui não, querido. É uma Maria japonesinha que você está procurando?

- Sim, é uma garota japonesa. – Me animei um pouco.

- Ah, ela aparece no fim de semana numa casa cor de salmão que tem ali do outro lado da praça. Acho que vi ela hoje de manhã, se não me engano... é uma casa com o telhado escuro e o portão cinza, vai lá checar.

- Ah, obrigado. – Já bastante animado, corri até Bel, que me esperava escorada no portão de uma casa que havia checado.

- Bel, Bel! – Ela olhou aborrecida para meu sorriso. – Não me olhe assim. Uma mulher me disse que a Maria está numa casa salmão com o portão cinza depois da praça. – Ela me encarou, cansada demais para sorrir.

- Então vamos. – Ela pôs a mão nos bolsos e começou a andar na minha frente, quase se arrastando.

Passamos pela praça e procuramos por uma casa salmão. Ficava na segunda fileira de casas depois da praça. Uma luz fraca que mudava de cor, provavelmente uma televisão, estava acesa numa janela do lado direito da casa.

- Vou chamar o interfone. – Bel andou até o portão e apertou o botão do interfone. A pessoa atendeu rápido. Não ouvi o que o morador disse, apenas escutei Bel dizendo:

- Você não sabe o que nos aconteceu... Só posso dizer que não temos como voltar para casa. Aham, eu te conto, abre a porta pra gente.

Supus que Maria havia atendido ao interfone. Depois de um zumbido de abertura do portão, Maria apareceu na porta, com uma camisola azul-claro e os cabelos soltos e despenteados.

- Vocês estão com umas caras horríveis. Ah, mas vão ter que me contar cada detalhe do que aconteceu. Olha a hora em que vocês me aparecem!

Tanta energia para se ter às dez e meia de um sábado... Ela estava radiante, como sempre, contrastando com nosso estado desprezível. Saiu andando para dentro da casa e deixou a porta aberta. Fechei-a quando entrei.

Ela só havia acendido uma pequena luminária no canto da sala, então não pude vê-la bem. Só avistei os contornos de dois pufes, um sofá em L, uma rack com uma TV LCD, uma revisteira, um quadro e uma arca com alguns jarros em cima.

Segui em direção a um quarto, que imaginei ser o dela. Bel já estava lá dentro, sentada na cama de Maria - bastante grande para uma garota tão pequena. Encarava a TV, que mostrava um jogo não-terminado de Final Fantasy XIII. Maria rapidamente o salvou e desligou a TV, acendendo uma lamparina em forma de leque que ficava ao lado de sua cama.

- Vocês estão tão cansados... querem passar a noite aqui? - Ela nos olhava com compaixão.

- E você acha mesmo que eu vou me levantar daqui? – Bel disse, se deitando em cima da cama. Maria lhe lançou um sorriso.

- Vamos fazer o seguinte. Eu ligo para sua casa e pergunto o que é melhor fazer. E você, Allen? – Ela olhou para mim.

- Eu passaria a noite na casa de Bel.

- Ok, melhor ainda. Me esperem. Pode deitar na cama, se quiser. – Ela falou a última parte para mim, saindo do quarto.

Me deitei na cama, ao lado de Bel, que já havia apagado ali em cima. Fechei meus olhos também, que pesavam e ardiam com o sono. Cerca de dois minutos depois, Maria reapareceu no quarto.

- Gente,vocês podem dormir aí. Bel, sua mãe está preocupada. – Bel respondeu com um gemido indefinido. – Ela disse que vem buscar vocês amanhã umas dez horas. Então, tomem café-da-manhã aqui, ok?

Respondi com outro gemido. Senti que ela estava tirando meus tênis e meias, e provavelmente os de Bel também. Ouvi-a ligar o ventilador, então nos cobriu com uma manta macia e apagou a lamparina. Depois disso, não me lembro de mais nada.


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Notas finais do capítulo

Desta vez o capítulo está grande u.u



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