Anjo Caído escrita por yumesangai


Capítulo 14
O que teria sido do mundo


Notas iniciais do capítulo

Se você viu o segundo filme You Can (Not) Advance, vai encontrar algumas semelhanças.



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12: O que teria sido do mundo

Shinji não sabia como iria encarar Kaworu depois do que aconteceu, quer dizer, Asuka tinha razão, a situação criou um pânico dentro de si. Não que ele se arrependesse do beijo, mas ele não conseguia se imaginar naquela situação de novo.

Bateu a cabeça numa das máquinas de bebida, por sorte ou não, ele não precisava estar no colégio hoje.

"Por que toda vez em que eu te encontro, parece que você está num dilema?" Uma voz conhecida soou divertida, enquanto observava.

"É complicado..." Shinji respondeu ocupando um lugar no banco.

"Complicações em relacionamento? Eu sou mestre". Kaji disse divertido, sentando-se ao lado dele e passando o braço por seu ombro.

Shinji sorriu meio sem graça.

"Você se declarou?" Ele perguntou ainda meio que achando graça. Shinji assentiu com o rosto vermelho. "Foi correspondido?" Assentiu mais discretamente. "Foram num encontro?" Maneou a cabeça quase que imperceptivelmente. "Foi bom?" Concordou na velocidade da luz. "Se beijaram?"

"Kaji-san!" Decidiu dar um ponto final naquela conversa.

"Você está com medo de magoar alguém?" Perguntou repentinamente sério.

Shinji baixou os olhos. Sim, ele tinha medo. De se magoar. De magoar o próprio Kaworu. Talvez o próprio pai...? Ele provavelmente não se importaria com o tipo de relacionamento que Shinji estava tendo, desde que continuasse pilotando.

"É normal se sentir assim?" Perguntou assustado. A mão sobre o peito. Coração batendo forte, mas Kaji não podia ouvir. "Eu sinto que vou apenas me machucar no fim"

"É porque nós precisamos de alguém. É o dilema do ouriço". Shinji o olhou, esperando que ele continuasse. "Ouriços só tem espinhos, mas eles se juntam quando precisam de calor, mesmo que se machuquem. Assim são as pessoas, nós precisamos uma das outras, mas isso envolve nos machucar, abrir nossos corações".

"Você não está só, não é?" Repetiu as palavras que Kaji usou anteriormente.

O mais velho assentiu. "Você deveria pensar na sua própria felicidade, se isso te faz bem, então continue. A vida passa muito rápido para ficar criando possibilidades, lembre-se que elas também nos são roubadas quando menos esperamos".

Shinji sorriu.

É claro que tudo isso era verdade e fazia sentido, mas não mudava o fato de que ele sabia que pilotar o EVA e ter alguém especial em seu coração era um fardo pesado, e ele tinha medo de não conseguir carregá-lo.

"Eu tenho uma ideia". Kaji o tirou de seu mundo.

–/-

" Quando você falou sobre isso eu achei que estava falando de um encontro". A quinta criança disse de braços cruzados, mas sorria achando graça do rosto rubro do outro piloto.

"Gomen". Murmurou encolhendo os ombros. "Mas acho que todos nós precisávamos disso".

Kaworu olhou na direção da primeira e segunda criança. Rei parecia indiferente a tudo, mas olhava em volta. Asuka estava com uma expressão irritada, mas tirava fotos com o celular. Os outros dois não eram pilotos, mas não queria dizer que eles também não merecessem um descanso. Kensuke e Toji eram a definição de alegria.

Só pessoas do auto escalão tinham autorização de conseguir um passe para entrar no centro de tratamento de água. Lugar onde havia espécies de animais marítimos de antes do Segundo Impacto e também a oportunidade de ver a água na cor que deveria ser.

Graças ao convite de Kaji, Shinji trouxe todos para desocuparem as mentes do estresse dos Anjos e das aulas de modo geral. O processo para entrar no centro de tratamento era rigoroso. Eles passavam pelo nível 1 que consistia numa descontaminação por irradiação, depois um banho quente seguido por um outro frio. O nível 2 para reesterilização via dissociação eletrolítica de compostos orgânicos, onde afundavam em algo parecido com LCL, seguido de um secador gigante. Então o nível 3, onde afundavam em mais algum líquido.

A veste do local era obrigatória, já que roupas do exterior poderiam ainda estar contaminadas. Todos vestiam um jaleco branco com um crachá pendurado no bolso. A roupa das garotas se ajustava como um vestido e dos rapazes consistia numa peça superior e outra inferior. Os calçados eram chinelos de borracha.

Apesar do exaustivo processo, assim que as portas se abriram, todos arregalaram os olhos e correram para frente dos enormes tanques onde os animais nadavam. Era uma aquário gigante com animais que eles viam apenas em figuras de livros. Era o mundo submarino de antes do Segundo Impacto.

Água-viva, tartarugas, peixe-espada, peixes coloridos e até mesmo um tanque só de pinguins.

"Não é incrível?" Shinji disse para Kaworu que observava tudo de braços cruzados, expressão séria, que condizia a ele, mas não a ele junto da terceira criança. "O que foi?" Perguntou ligeiramente preocupado ao vê-lo daquele jeito.

"Esse é o mundo antes de Adão". Disse com certo desprezo.

"Eu gostaria de ter vivido nesse mundo, com a água nessa cor e todos esses animais, sem ter que enfrentar Anjos..."

"Sem ter me conhecido?" Rebateu quase que automaticamente.

Shinji estranhou a pergunta. "Do que está falando Kaworu-kun? Nós estudaríamos juntos, mas viveríamos num mundo menos assustador". E voltou-se para o aquário. "Me da uma sensação de paz, ver essas criaturas, porque eu sei que existia um mundo antes de se tornar isso que nós conhecemos. O mundo antes do mundo".

"Esse mundo é muito mais assustador".

"Por quê?"

Kaworu não respondeu, seus olhos vermelhos apenas brilharam, balançou a cabeça negativamente e se afastou.

"O que ele tem?" Asuka perguntou se aproximando.

Shinji ainda olhava na direção em que a quinta criança havia se afastado. "Não sei". Voltou-se para a ruiva. "Você também parece de mau humor, não gosta daqui?"

Asuka desviou o olhar, encarando os peixes.

"Não é que eu desgoste. Mas essas criaturas que só podem viver nesses tanques, por que mantê-los? O lar deles não é mais habitável e foi só isso que sobrou. Eles deveriam estar mortos".

O clima melhorou na hora do almoço. Todos com a exceção de Kaworu estavam reunidos, sentados numa toalha aproveitando uma boa refeição caseira. Cortesia de Shinji.

"Ayanami, você não come carne, então trouxe um pouco de sopa pra você". Estendeu uma caneca para ela.

Rei sorriu e bebeu.

"Obrigada, obrigada também por ter me convidado".

"Você gostou?" Shinji se sentiu animado, conversar com Rei ainda era um pouco complicado, parecia que eles se sentiam bem apenas na presença um do outro, não precisavam dizer nada, embora isso fizesse da situação um pouco constrangedora.

"Sim. Arigatou".

"Vocês japoneses agradecem demais!" Asuka resmungou alto.

"É uma questão de boa educação". Toji retrucou alto, falando de boca cheia.

Shinji aproveitou para se retirar enquanto uma nova troca de farpas se iniciava, Kensuke e Kaji estavam entretidos discutindo detalhes submarinos ou qualquer coisa do gênero.

No segundo andar, apoiado numa grade estava a quinta criança.

"O que você está sentindo?" Shinji perguntou preocupado.

Kaworu apenas balançou a cabeça negativamente.

"Eu vou trazer algo pra voc--"

Kaworu o segurou e o puxou para um abraço.

"Eu só preciso de você". Sua voz era doce. Seu corpo era quente.

Shinji hesitou por alguns segundos, mas passou o braço pela cintura dele. Com ele não existia mais nada, ele sequer se importava de alguém estava vendo.

Ah sim, era o dilema do ouriço.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Demorou. Demorou muito. Me desculpem.
Dizer que "faltou tempo" seria mentira, mas faltou inspiração.
Ano passado (2013) estive em período de monografia e já era complicado de postar. Passei. Me formei. Aleluia! No começo do ano me casei e me mudei (sou nova apesar de tudo, viu!?) e aí fiquei sem internet e ocupada com mudanças e obras. Agora está tudo estabilizado e pretendo voltar a postar com alguma regularidade.
—Alguma_ porque existem capítulos com cenas de batalha e eu sou quase um fracasso completo nessas cenas. Enfim, por favor, continuem acompanhando.