Read Between The Lines escrita por LostInStereo


Capítulo 5
Everytime I cry, I’m right back where you wanted


Notas iniciais do capítulo

Heey :D

Desculpem a demora, mas eu realmente precisava de inspiração pra este capítulo. Mas enfim, aqui está ele.

Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/100486/chapter/5

Sentei-me sobre o chão gelado do banheiro, sentindo que o cheiro metálico de sangue invadia minhas narinas. Olhei durante um bom tempo para meu braço, que agora apresentava vários cortes, bem abaixo do pulso. Não chegara a atingir nenhuma veia. Incrível. Eu era covarde e inútil demais até para conseguir me matar direito. Me sentia extremamente patético.

Então comecei a pensar nas consequências dessa tremenda estupidez que acabara de cometer. As pessoas perguntariam, investigariam. Eu seria taxado de problemático. E talvez realmente o fosse.

Senti a raiva percorrer meu corpo violentamente. – Como eu tinha chegado a esse ponto? Minha realidade fora transformada de um modo doentio e eu simplesmente não sabia mais o que fazer.

De repente, ouvi meu celular tocando. Peguei-o do meu bolso e vi o nome ‘Tom’ piscando na tela. Suspirei profundamente antes de apertar o botão vermelho, recusando a ligação. Levantei-me, deixando escapar outro gemido de dor ao me esqueçer que não deveria me apoiar com a perna esquerda. Tirei o resto de minhas roupas, coloquei o celular sobre a prateleira que ficava sobre a pia e entrei no chuveiro. – Um banho gelado provavelmente me acalmaria.

Deixei que a água escorresse por meu corpo sem piedade. Lágrimas se misturavam às gotas que caiam do chuveiro, sem que eu percebesse, em um primeiro momento. Após alguns minutos, peguei o sabonete para desinfectar minhas feridas, que arderam terrivelmente quando entraram em contato com  a espuma. Mas essa dor eu podia aguentar.

Demorei não mais que dez minutos para acabar e então fui até meu quarto para colocar uma roupa limpa. Olhei meu relógio de pulso, que tinha deixado sobre minha escrivaninha, de relance. – Eram quase oito horas. – Abri meu armário e peguei uma bermuda, vesti-a e decidi ficar sem camisa.

Me encontrava agora na cozinha, não mais desperado. Porém, ainda aflito. Peguei uma garrafa de cerveja da geladeira, ignorando o fato de que meu pai perceberia sua falta mais tarde. Abir-a sem cerimônias e bebi um longo gole. - Em um piscar de olhos já estava na terceira, sentado no piso frio sem me importar com mais nada. Foi quando ouvi passos ecoando pelo chão.

“Tem certeza que quer se distrair dos problemas com álcool?” ouvi uma voz profunda dizer. Virei-me instantaneamente, surpreso, vendo que Tom estava ali, em pé sob o batente da porta.

“Como você entrou?” perguintei, erguendo uma sobrançelha.

“A porta tava destrancada. E já que você não atendeu minhas ligações, eu achei melhor entrar e ver se você estava vivo.” Ele respondeu, antes de se aproximar, estendendo a mão. “Vamos, me dá a garrafa.” Fiz uma careta e a coloquei junto ao peito. Ele se agachou, encarando-me. “Não me obrigue a tirá-la de você.” Mostrei a língua. Foi o suficiente para motivá-lo a cumprir sua ameaça. Houve uma luta silenciosa no meio da cozinha, até o momento em que ele segurou meu braço esquerdo com força e eu automaticamente gritei de dor.

“AAAH, PORRA!” cerrei os dentes, sentindo minha respiração acelerar. Ele me soltou, assustado com minha reação.

“O que foi..?” perguntou, observando-me. Vi seus que seus olhos se arregalaram ao notar os cortes em meu braço. “Mas que porr...-”

“Não é nada.” Exclamei, colocando meu braço contra meu abdômem, tentando escondê-lo. Tom estendeu a mão mais uma vez, desta vez pegando meu pulso delicadamete para poder ver melhor.

“Danny...”

“Já disse que não é nada.” Insisti. Ele fechou a cara.

“Realmente espera que eu acredite nisso?” Não sabia o que reponder. Apenas fiquei de cabeça baixa. “Bom, é melhor não deixar isso exposto. Onde vocês guardam o kit de primeiros socorros?” Apontei para a despensa. Ele se dirigiu até lá a passos rápidos.

“Segunda gaveta do armário de baixo.” Eu disse, sentindo-me um pouco grogue por conta do álcool. “A caixa branca de plástico.” Logo ele estava de volta, com um frasco de anti-séptico, esparadrapo e um rolo de gaze seguros nas mãos.

“Por que você fez isso, cara?” Perguntou ele, apreensivo, enquanto esguichava o anti-septico nos cortes. Novamente fiz uma careta de dor. “Olha, eu imagino o quão difícil que tá sendo tudo isso, mas...-”

Ele mandou os trogloditas do futebol me baterem, Tom.” Interrompi, sério. Tom olhou para cima, seus olhos encontrando os meus.

“Bem que eu ia comentar...” Ele engoliu em seco. “Dude, você tá um trapo.” Suspirei. Ele pegou a gaze e começou a enfaixar meu braço. “Mas isso não é motivo pra...-” Ele se calou ao ver que lágrimas começaram a escorrer por meu rosto e terminou o que estava fazendo, antes de voltar a me fitar. Ficamos em silêncio por um momento, sendo possível escutar apenas o som de meus soluços até que ele pigarreou, com irritação estampada em seu rosto.

“Ele não te mereçe, Dan.” Constatou. “Ele não dá a mínima pros seus sentimentos. Não liga que você tá sofrendo.” Vi-o cerrar os punhos. “Isso tem que acabar.”

“Não posso simplesmente esquecê-lo.” Eu disse, minha voz falha. “Não é fácil assim.” Foi a vez de Tom suspirar. Ele levou uma mão à cabeça, afagando o próprio cabelo. Notei seus olhos percorrendo meu tronco, de uma maneira não muito discreta.

“Tom...?”

“Que?” ele disse, sacudindo a cabeça como em um reflexo. “Você tá cheio de hematomas.”

...

Era Sábado de manhã. Eu havia passado a noite na casa de Tom, que insistira que meus pais não podiam me ver naquele estado deprimente no qual os eventos do dia tinham me deixado. Me encontrava sentado em uma cadeira na varanda do quintal, enquanto ele preparava o café da manhã na cozinha. Eu estava com seu violão, arranhando distraidamente as cordas, sentindo-me relaxado pela primeira vez em dias.

“Sabe, você poderia usá-lo pra canalizar sentimentos, em vez de se machucar.” Ouvi Tom dizer quando ele voltou, trazendo dois pratos de ovos mexidos e colocando-os sobre a pequena mesa redonda. Ele se referia ao instrumento seguro em minhas mãos. Olhei para ele, que me lançou um sorriso. “Quem sabe, pode até surgir uma música.” Retribui o sorriso.

“Quem sabe.”

...

Já devia ser mais que dez horas da noite. Eu tinha voltado para casa e dito que havia tropeçado nos degraus da escola ao ser questionado sobre meus ferimentos, sem muita certeza de que existia alguma credibilidade nessa desculpa. Previsivelmente, meus pais estavam razoavelmente irritados, porque eu não avisara que passaria a noite fora.

Enfim, depois de algum tempo me explicando, subi para meu quarto, em busca de um momento a sós. Peguei meu violão, ainda com a ideia de Tom pairando em minha mente. E começei a tocar notas aleatórias para ver se algo se concretizaria. Após alguns minutos, eu já tinha uma melodia sólida e uma letra completa.

Is it me or is my life a chain of unforgiving tasks

Is it you and do you have the life that no one really asks?

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

Oh, I can't forgive you

Is it me or is it time to take a look in who I choose

When you have everything you got everything to lose

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

Oh, I can't forgive you

Oh, I can't forgive you

I can't forgive you

I can't forgive you

I can't forgive you

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

You should know by now

You should know by now

That I can't forgive you

Oh

You should know by now

You should know by now

I can't forgive you

Terminei de tocar com uma sensação de nostalgia percorrendo meu interior. Essa letra era o reflexo de minha razão. Eu precisava deixar toda essa situação de lado e seguir em frente. Não deveria deixar que minha ingenuidade me dominasse a ponto de pensar que minha vida não tinha mais valor.

Porém, ao me lembrar de Dougie, senti um nó se formando em minha garganta. Não entendia como aquele pequeno conseguira causar um impacto tão grande em minha existência.

E me perguntei se alguma vez, pelo menos,eu cruzava seus pensamentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam dessas reflexões do Danny?
E esse Tom protetor, hein?

Seria ótimo se vocês pudessem indicar esta fic *--* eu agradeceria muito.

Ah, se alguém não souber qual é a música que o Danny toca neste capítulo, tá aqui: http://www.youtube.com/watch?v=v0Kk9u9P3hs