Jared Lilly: Aventuras no Colegial!! escrita por raycosta


Capítulo 4
Capítulo 1 - Primeiro Dia de "Jaula" (Parte 03)




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       Como uma forma de me redimir pelo escândalo no carro, deixei que Seth levasse as minhas coisas. Pode até parecer frescura minha, mas o caso é que ele parecia se sentir mais gratificado com aquilo do que eu própria.

Estávamos indo agora pegar os nossos horários sabe-se lá Deus aonde. Vovô Edward se despediu da gente no estacionamento mesmo, depois partiu com o seu carro, chamando a atenção de todos ali que ainda não haviam se familiarizado com a nossa existência. A coisa se mostrou exatamente como a minha avó descreveu: atravessar o corredor lotado de alunos até o nosso destino final me fez sentir como um daqueles bonecos alegóricos de desfile popular! As emoções de todos os adolescentes ao nosso redor se afetavam drasticamente em reação à nossa presença. Foi um carnaval de sensações interiores, que eu, infelizmente, fui forçada a sentir dentro de mim como se fossem as minhas.

Tio Emmett nem quis vir com a gente... Já foi logo tomando o rumo da coordenação dos professores, pra se apresentar e aguardar até que suas primeiras aulas de educação física começassem.

Quando viramos para entrar no pequeno compartimento da recepção, eu soltei o fôlego indiscretamente.

    – Ok, isso foi pior do que eu esperava! – minha mãe comentou.

    – Nem me fale! – papai acrescentou.

    – Vocês acharam isso ruim?! Esperem até a hora do intervalo... – vovó sibilou. Comecei a desconfiar que ela estava sentindo uma pitada sombria de prazer em nos torturar por antecipação daquele jeito.

\t\t  O relógio no alto da parede anunciava que nos restavam apenas mais cinco minutos, antes que o sinal para o início das aulas tocasse. Um frio intenso se emancipou no meu estômago.

    – Calma, Lilly! Vai dar tudo certo! – Seth disse, ao notar as minhas mãos se balançando no ar involuntariamente.

\t\t  Até parece...

Como se não bastasse o nervosismo da estréia, eu ainda teria que freqüentar um montão de aulas com ele! Seria obrigada a permanecer alerta o tempo todo, me policiando entre devotar alguma atenção aos assuntos e em não dar bandeira de que eu estava completamente desmiolada por sua causa.

    – Vocês estão todos juntos?! – a vozinha nasal da mulher na recepção cortou o sobrevôo da minha mente.

    – Sim. Eu sou Isabella Cullen, 2° ano! Esta é a minha irmã Renesmee e Jacob Black, seu namorado. 2º ano também!

            Vovó, apesar da aparência tranqüila, estava tão receosa, que nem reparou que algumas daquelas apresentações que fez teriam sido até dispensáveis – àquela mulher, pelo menos. Não sei até que ponto nós seríamos eficientes em sustentar aquelas histórinhas sobre o nosso grau de parentesco. As pessoas, cedo ou tarde, iriam se interessar em descobrir onde nós morávamos, quem eram os nossos pais, etc...

       No entanto, por via de comodidade, vovô Billy foi nomeado como responsável por nós, os Blacks, enquanto que vovô Carlisle foi o escolhido para representar vovó Bella e minha mãe. Seth tinha a mãe dele e o vovô Charlie para cuidar de quaisquer incidentes, ou aborrecimentos que fossem. Só nos restava torcer para que os disfarces durassem, senão... Bye bye, aventura do colegial!

A senhora não demorou muito tempo a encontrar nossos horários. Pareciam, de alguma maneira, já estar no topo da pilha. Vovó nos anunciou também, os calourinhos do 1º ano. Na farsa, eu e Jared ainda continuaríamos como irmãos – infelizmente –, porém viramos primos do nosso pai, pelo fato de nós três carregarmos o mesmo sobrenome ainda. Mudança de sobrenomes foi um "privilégio" dado apenas à minha mãe, que voltou temporariamente a ser Renesmee Cullen. Seth foi o único a permanecer como “ele mesmo”, por assim dizer... Foi o jeito que encontramos para justificar os multi-relacionamentos do nosso grupo de uma maneira aceitável aos olhos dos nossos queridos coleguinhas e corpo docente.

Essa, lamentavelmente, foi a parte mais discreta e curta do nosso primeiro dia de aula.

~~

\t\t  Como era primeiro dia de aula para todos, Lilly, Seth e eu escapamos de sermos alvos de cerimônias de apresentação e outras babaquices diante da classe. No entanto, isso não excluiu o triste fato de nós três termos 80% das nossas aulas em comum.

Nossa sala principal ficava no prédio 01, e era um cubículo com aproximadamente 80 m², mal arejado, por conta das janelas – fechadas o tempo todo e com vidros revestidos por uma película escura. Um dos aparelhos de ar-condicionado estava quebrado. Mas, como o sistema elétrico era interno, ele permanecia ligado, fazendo um barulho constante e indigno de confiança.

A educação Forkiana deveria estar mesmo a anos luz das demais do país. As carteiras ainda eram de tampo, e todos eram forçados a se sentar em duplas. Como chegamos relativamente cedo na sala, ainda havia algumas que estavam vazias. Procurei me sentar o mais afastado possível de Lillian e Seth – que, irremediavelmente, se sentariam juntos em todas as oportunidades que conseguissem. Pelo menos, os atuais conflitos sentimentais dela continuariam a me servir de distração durante as próximas e torturantes horas. Se tornou hilário receber seus boletins constantes e involuntários sobre o quanto estava se sentindo miserável – não pelos mesmos motivos que eu, mas ainda assim já me servia como prêmio de consolação.

\t\t  Nosso primeiro período foi o de ciências econômicas, onde eu pude descobrir o quanto o termo “sustentabilidade” podia mesmo se tornar factível, após repetido 42 vezes em menos de 1 hora. Nesse mesmo período ainda, notei também uma elevação de interesse no fenômeno “Lilly e Seth” por parte das menininhas da nossa turma. Eram emoções tão controversas que dava até medo tentar entendê-las. Os dois estavam absorvidos demais com a proximidade um do outro para perceber quaisquer alterações de comportamento que estivessem provocando no meio externo.

\t\t  No segundo período – álgebra –, o queridinho Clearwater já não participou conosco, deixando Lilly um pouco mais a vontade para respirar, e a mim, entregue outra vez à completa monotonia. O Sr. Jefferson parecia sofrer de algum tipo de distúrbio sensitivo, já que o seu modo desleixado de pressionar o piloto contra o quadro parecia provocar ânsia de vômito em todo mundo ali, menos nele. De fato, o homem deveria ser o último professor na face da terra a ainda usar piloto pra dar aula – depois da invenção do computador, e tal... “Primeiro dia de aula”, aparentemente, era um aspecto irrelevante diante de tamanha urgência em nos ensinar análise combinatória e fatoração, tudo de uma vez só!

    – E então – de repente, uma voz feminina se pronunciou ao meu lado e me sobressaltou, interrompendo as minhas tentativas frustradas em me auto-induzir num coma –, você é caladão assim mesmo, ou está só com vergonha de falar comigo, pelos motivos óbvios?!

\t\t  Incompetência minha não ter concluído que, uma vez que todos na nossa classe já estavam devidamente sentados em duplas, logo, eu também deveria ter ganho uma companhia em algum momento das aulas. Me virei para encarar a minha falante – que, ao primeiro exame, me pareceu bastante comum enquanto digitava despreocupadamente em seu notebook os exemplos dados pelo professor. Mas foi só quando ela finalmente ergueu seus olhos azuis piscina para mim que eu me dei conta de que “comum” estava longe de ser um adjetivo aplicável a ela. Pude então entender o que ela quis dizer com “pelos motivos óbvios”: se tratava de uma garota muito bonita, de fato.

Certamente, bonita demais para ser tão simpática, pelo menos! As linhas de seu rosto eram duras, definidas. No entanto, muito femininas. Os cabelos, em camadas que iam até metade das costas, e os cílios ao redor dos olhos expressivos eram bem escuros. Mas a luz que incidia no contorno da cabeça revelava um tom discreto de castanho, parecido com o da minha avó Bella. A pele era clara – apesar de um tanto bronzeada, se a comparássemos com as demais garotas dali – e sua postura era muito correta na cadeira. Como a de uma bailarina. Nas roupas, acessórios e corte de cabelo, ela denunciava um poder aquisitivo relativamente mais alto do que o padrão geral. Havia uma grande possibilidade de ela ser mesmo uma daquelas modelos fotográficas esnobes, que freqüentam o colegial apenas para esfregar sua “superioridade” na cara de todos que a pudessem ver.

Porém, naquele primeiro instante com ela, não consegui identificar em seu humor qualquer emoção ligeiramente fútil que fosse. Empreguei mais esforço, pra ver se eu finalmente conseguia pescar alguma manifestação que a traísse, mas foi como antes: total tranqüilidade – acompanhada, agora, por uma ligeira onda de precaução. As linhas firmes de seu rosto se franziram para mim, de um jeito desapontado.

    – Acho que é a primeira opção, então... – deliberou ela, sorrindo discretamente, e eu então fiz as conexões corretas sobre meu silêncio naquela conversa.

    – Jared – titubeei, por impulso.

    – Hãn?! – seu cenho voltou a se franzir.

\t\t  Incompetência minha, de novo, não ter previsto esse tipo de situação. Fiquei indeciso, sem saber exatamente até que ponto seria seguro transcorrer apresentações ali, sem comprometer o nosso disfarce. Mas não demorei muito a concluir que seria absolutamente inocente deixar que ela soubesse o meu nome – algo que, dentro de alguns dias, todos ali saberiam, fosse como fosse.

    – Meu nome é Jared!

    – Impressionante! – ela observou, de um jeito desconexo.

    – O quê?!

    Sarcasmo não tinha funcionado desse jeito com o pessoal daqui, até agora!

\t\t  A garota sorriu mais abertamente dessa vez, claramente satisfeita. Então ela era de fora... Isso era bom. Quer dizer, explicava o seu comportamento, digamos, incomum. Tratei de me ajustar logo àquela situação, antes que eu aparentasse ter problemas mentais:

    – É que – relaxei os ombros –, aqui em Forks pelo menos, as pessoas praticam sarcasmo como um mecanismo de defesa. Um escudo. Não é costume usá-lo pra outros fins por aqui, por isso talvez você sinta dificuldade em se entrosar.

\t\t  Certo, até que eu estava indo bem até aqui.

    – O que você está tentando proteger, Jared?! – mas aí ela largou essa pergunta estranha de um jeito completamente espontâneo, o que, no entanto, quase me desequilibrou da cadeira.

    – O quê?! – foi só o que consegui pronunciar, com a voz afetada em algumas oitavas.

Ela pareceu não conseguir decifrar direito aquela minha reação repentina e despropositada, então procurou esclarecer o seu questionamento:

    – Desculpe se eu me expressei mal... É que, já que o meu sarcasmo funcionou com você, concluí que eu talvez estivesse falando com um sarcástico também. Mas, pela sua cara, acho que me enganei...

\t\t  Ok, alarme falso. Ela não era uma espiã Volturi psicopata, uma alienígena ou qualquer coisa desse tipo. Eu já podia desmanchar a minha expressão de asno e respirar outra vez.

    – Não é isso... É que eu não acho uma coisa fácil introduzir assuntos com completos estranhos.

    – É verdade... – sua expressão se tornou séria dessa vez. Mas eu logo veria que esse era outro adjetivo que não se aplicava à sua personalidade – Eu geralmente fico dividida entre começar direto com uma discussão a respeito dos conflitos no oriente médio, ou sobre o índice de natalidade em Porto Rico. Mas, e apenas em raras ocasiões, opto por dizer simplesmente um “Oi, tudo bem?!”, sabe... só pra variar!

\t\t  Permaneci imóvel e ela sorriu de novo aquele sorriso satisfeito. Em seguida, me estendeu uma mão.

    – Oi, tudo bem?!

\t\t  Precisei de 5 segundos, antes de poder fazer qualquer coisa.

    – Você é sempre engraçadinha assim?! – não soube o que mais perguntar. Ela suspirou e buscou a minha mão para me forçar a participar do seu cumprimento.

    – Só quando eu estou chateada por ter que começar na escola nova! – ela manteve o sorriso descontraído e eu apenas pisquei duas vezes.

\t\t  Seu ânimo me soou inquietantemente igual ao meu! O que era ela?! Uma versão minha, só que feminina e tagarela?! “Garota estranha!” – pensei comigo mesmo, depois que ela libertou a minha mão.

    – O meu nome é Laura West, tenho recentes 16 anos e sou de Nova York.

    – Oi. – disse, sem saber mais se aquela ainda era a resposta correta. Aquele falatório todo me deixou confuso.

\t\t  Voltei meus olhos outra vez para o quadro, agora completamente tomado pela letra cursiva do Sr. Jefferson. A minha falta de profundidade em relação a ela, no entanto, não a desencorajou a meu respeito. Pelo visto, ser breve não era mais “o melhor remédio para se encerrar um diálogo esquisito”... parecia, agora, ser um novo tipo de estimulante social:

    – Não vai me dizer a sua idade?! – ela era insistente. Mas de um jeito que eu, apesar do esforço, não consegui classificar como frívolo. A garota parecia, honestamente, estar apenas interessada em me conhecer, sem segundas intenções – Tudo bem, eu não ligo se você for um repetente!

\t\t  Repetente?! Eu?! Ah, se ela soubesse o quanto eu era adiantado... – e não só academicamente falando.

Inacreditavelmente, aquela minha percepção sobre as intenções puras dela me levaram, então, a demonstrar o meu primeiro traço de rendição à vida escolar. O primeiro indício de que eu estava prestes a trair todos os estatutos que eu havia imposto a mim mesmo, antes de pisar na Forks High School (incluindo não fazer amizades):

    – Também tenho 16. – menti.

Sim, eu havia acabado de contribuir com a farsa combinada pela minha família, para facilitar a nossa vida dentro daquela instituição que eu passei os últimos dias me catequizando para odiar apenas.

    – Poxa, isso é bem estranho... – a afirmação dela me interrompeu antes que eu evidenciasse demais a decepção que estava sentindo agora – Você parece ter mais do que isso. 18, pelo menos.

    – É, as pessoas me dizem isso com freqüência! – menti de novo, com um sorriso amarelo. Nunca ninguém teve necessidade de me dizer tal coisa.

\t\t  O sorriso voltou a brincar em seus lábios. Essa não... Se continuássemos nesse caminho, eu correria o sério risco de deixá-la infiltrar a armadura social que me deu tanto trabalho construir ao meu redor.

Laura West sentiu que podia, em fim, dar mesmo continuidade a novas linhas de conversação. Ai não... eu estava perdido!


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