Des:contados escrita por Miss D


Capítulo 5
Paredes azuis, borboletas vermelhas


Notas iniciais do capítulo

Eu, particularmente, achei q a one ficou até boa. Não sei o q vcs vão achar. *olhos brilhando de expectativa* Espero que gostem. o/



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Daniela achava que aquele podia muito bem ser o pior dia de sua vida. Sabe quando as coisas estão tão, tão péssimas que começa a desejar que tudo seja apenas um sonho ruim e então você acorde e as coisas estejam normais de novo? Era assim que ela se sentia. Só que aquilo não era só um sonho ruim.

Mas ela preferia ter pesadelos a ter que assistir à cena.

Já havia visto coisas semelhantes, no entanto hoje passava dos limites. Ela estava tão cansada, tão absurdamente enjoada daquilo tudo. Como se pudesse realmente mudar as coisas. Rá!

Não entendia o que tinha de errado com a sua família. As outras não eram assim, não podiam ser assim. Quando que, em qualquer uma das casas de suas amigas, a mãe de alguma delas colocou uma faca no pescoço ameaçando se matar? Quando? Apostava que nenhuma vez. E, apesar de tudo, estava exatamente vendo isso. Sua mãe tentando se matar, quer dizer.

Como Daniela podia estar calma? Não estava calma. Ela definitivamente não estava.

Tudo na pequena sala parecia alguma pintura de um artista gótico: um pai impotente, enraivecido; uma garota prostrada, aos prantos, tantas lágrimas saindo de seus olhos que mal podia enxergar; e uma mulher, louca, desvairada, segurando uma faca contra o pescoço, gritando qualquer coisa.

De fato, um pintor gótico registraria bem aquela cena. Menos as paredes.

E por que ‘menos as paredes’? Elas eram de um tom demasiadamente alegre de azul, para combinar com a situação. Azul celeste, como um lindo céu claro depois de uma tempestade.

Exceto que a tempestade ainda acontecia bem ali, mesmo com aquelas paredes, daquela cor. Que não coloria realmente nada, pois ainda assim a menina via tudo em cinza e borrado. Sem vida.

Algumas vezes antes desejara morrer. Desejara com todas as forças de sua alma. Entretanto, à medida que os dias iam passando e ela novamente acordava de manhã no outro dia, e no outro, e no outro, perdeu as esperanças.

Mas era disso que tinha medo. Porque, em algum lugar dentro de si mesma, sabia que esse dia chegaria, impiedoso, cruel.

Por isso tentara se convencer de que era só um sonho. E tinha que ser só um sonho, tinha.

Tentava desviar sua mente da situação, mesmo estando ali, presente, testemunhando a desgraça. Não pensar. Era isso. Pensar em outra coisa. Podia tentar imaginar borboletas. Elas eram seus bichinhos preferidos, com aquelas asas grandes e charmosas. Sim, lindas e esvoaçantes borboletas.

Não conseguia não ver, no entanto.

Daniela observou seu pai avançar em direção à sua mãe, segurando seus braços, tentando contê-la. A garota arfou, tomada pelo espanto. Agora a mulher debatia-se ainda mais contra o corpo do marido.

“Um pesadelo”, ela pensou. “É só um pesadelo”, repetia em pensamento, de olhos fechados.

Os gritos pareciam querer ensurdecê-la. Seus ouvidos doíam. Sua cabeça doía. Levantou o rosto novamente para olhar de volta para os dois. O que viu nunca mais sairia de sua mente.

O pai da menina ainda tentava segurar aquela mulher histérica, descontrolada, mas ela girou o braço que tinha a faca na mão e conseguiu se livrar do aperto ali. Porém, a mão foi direto para a barriga. Penetrou ali. O líquido vermelho rapidamente começou a esguichar, manchando o chão, o sofá, as paredes, o pai. Tudo. Menos a menina, que estava afastada. Sua visão tornou-se turva demais e antes que pudesse fazer algo, tudo estava ficando escuro, e frio, e aterrorizante, e...

Borboletas. Borboletas enormes voavam para lá e para cá, fazendo piruetas, avançando em um jardim cheio de flores. Flores lindas. Onde ela estava? Ai. Sua cabeça doía.

Abriu lentamente os olhos.

Branco. Muito branco, em toda parte, em todo lugar. Era tudo tão branco que a claridade excessiva chegava a cegá-la. E novamente a pergunta: onde estava? O que fazia ali?

– Daniela? Você está bem?

Ai. A voz entrava pelos tímpanos dela e soava lá dentro, muito alta, batendo forte, com ecos distantes, como se fossem milhares e milhares de vozes juntas. Retumbando dolorosamente dentro de sua cabeça. Não conseguia nem mesmo entender o que aquela voz – ou seriam vozes? – dizia. Tudo estava confuso demais.

– Daniela?

Esse era o seu nome? Ah, sim. Disso ela sabia. Ou pelo menos pensava saber. Era Daniela, não era? O que havia acontecido? Como fora parar naquele lugar esquisito, cheio de vozes indistinguíveis? De quem era aquela voz? Ela não se lembrava muito bem. E por que eles estavam todos vestidos de branco? Era muito branco. Não havia nenhuma cor. Era como um lugar vazio. Triste.

Uma enxurrada de memórias bombardeou-a de tal forma que ela mal conseguiu manter-se firme. Dor. Uma dor lancinante, insuportável, que quase rasgava seu cérebro. E medo. Um medo mais profundo do que qualquer outra coisa ali dentro.

– Daniela, hora do seu remédio – disse uma voz sem vida.

Sem vida. Então ela lembrou-se. E começou a gritar.

– Não, não! Não deixe ela fazer isso, não deixe, não...

Mãos apertavam seus braços, sentia que alguém a segurava em um aperto de aço enquanto alguma coisa gelada e pontuda espetava seu braço. Uma coisa que queimava para dentro de seu corpo.

Queimava...

E então ela estava calma outra vez. Totalmente calma, completamente calma. Como se... Como se não houvesse mais nada ali, mais nada que fazer. Como se não tivesse forças. Seus membros estavam moles. Ela inteira estava meio que entorpecida. Mas chorava, as lágrimas quentes marcavam traços em seu rosto.

– Paredes azuis – sussurrava sem parar. – Paredes azuis. Eu gostava daquelas paredes. Azuis, tão azuis... – soluçava. – Por que ela fez aquilo?

E então recomeçava uma vez, e outra vez, e então outra.

– Azuis, azuis – cantava ela. – Eram bonitas. Papai as pintou para mim, porque eu pedi. As paredes... – e então chorava ainda mais. – As paredes...

Lentamente afundando em seu sono novamente, para o sonho anterior, aquele que havia deixado; aquele que estava tendo antes de despertar.

Borboletas. O céu bonito. Um jardim.

Ali ela olhava para cima, para o céu límpido daquele lugar, sem nenhuma nuvem. As borboletas voavam sobre sua cabeça. Borboletas vermelhas.

Vermelhas.

Mas não eram borboletas. E não havia céu algum. Era sangue, borrando de escarlate a paisagem, não um céu límpido, mas aquelas paredes azul-celestes. E uma mulher morta estendida no chão.


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Notas finais do capítulo

E então, e então, e então?*mode Alice Cullen on*. Quem vai comentar? EU QUERO COMENTÁRIOS. Tudo bem, não vou ser tãããão agressiva. Mas comentem. Está bom? Deixe um comment. Ruim? Deixe também. Péssimo, uma droga total? Que bom, me ajude a ver onde eu estou errando. Mas eu PRECISO que alguém diga ALGUMA COISA.
BeijoS,
Miss Doll *u*