For Once In My Life escrita por hatsuyukisan


Capítulo 7
Os Giordano (Pt 2)


Notas iniciais do capítulo

Tive que dividir o capítulo em dois tá gente? Se não ia ficar chato demais de ler... ;_:



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  O almoço foi até tarde. Já eram quase três horas quando finalmente saímos da mesa. Don Giordano, os tios e Fredo tinham compromissos, o pai de Anna se ocuparia com o vinhedo e as mulheres iriam começar os preparativos para o jantar. Anna levou-me para conhecer a propriedade onde crescera. Explicou-me que moravam nas casas próximas à maior, seus pais, seus tios e a família de Frederico. Contou-me que o avô de Fredo e Don Ângelo cresceram juntos e construíram juntos tudo que os Giordano tinham agora. As oliveiras iam até onde os olhos podiam alcançar. Nós caminhávamos paralelos à elas.

     - Anna, a sua mãe... Ela não disse nada sobre nós nos casarmos.

     - Ela toma isso com uma afronta. – respondeu – Sempre deixou muito clara sua vontade de me ver casando com Fredo.

     - Ah, então é isso que ele é?
     - É. – riu um pouco – Ficou com ciúmes?
     - Um pouco. – corei.
     - Bom, Freddie foi meu primeiro beijo e meu primeiro namorado. Mas só o foi por pressão por parte da minha família. Sempre fomos muito mais amigos do que qualquer outra coisa.

     - E o seu irmão? Cadê ele?
     - Deve estar em Roma ou em Palermo à negócios. Este é outro que não vai fazer questão de fingir estar contente com o meu noivado.

     - Por quê?

     - Vou te contar uma história. – parou à sombra de uma das oliveiras, eu parei ao seu lado – Era uma vez, uma moça siciliana, filha do Don mais respeitado da Sicília...

     - Sua mãe. – eu ri, quando nos sentamos na grama.
     - Shh, não estraga a história. – ela riu e se aconchegou em mim – Um belo dia, essa moça, aos seus dezenove anos, foi passar as férias de verão na Costa Amalfi, um lugar lindo, na costa sul da Itália. Lá ela conheceu um belo amalfitano, filho do dono da gelatteria mais tradicional da cidade, encantou-se por ele de tal forma que em menos de duas semanas já trocava juras de amor com o rapaz. Entregou-lhe seu bem mais precioso numa noite quente e estrelada. Quando chegou a hora de regressar à Sicília, jurou ao seu amado que fugiria de casa para viver com ele em Amalfi, já que seu pai não aprovava amalfitanos. Tinha tudo planejado, mas não esperava que estivesse grávida, e seu temido pai fosse se tornar consciente de tal fato. Ele a repreendeu severamente e disse que nunca mais tornaria a ver o amalfitano. O poderoso Don tinha outros planos para filha. Fê-la casar-se com um charmoso rapaz japonês, que viera à Sicília para fazer um acordo com um dono de uma famosa fábrica de motores e acabou apaixonando-se pela pequena italiana. O japonês, cego pela sua paixão, aceitou casar-se com a siciliana, ainda que esta estivesse grávida de outro homem.
     - Seu irmão não é filho do seu pai?
     - Hey, não terminei! – ela mordeu a minha mão – Tempos depois eles tiveram uma filha. Uma menina um tanto inquieta, que a certa altura da vida resolveu ir ao Japão em busca de suas raízes. Lá ela conheceu um rapaz... – e então começou a rir.
     - Engraçadinha. – beijei-lhe a bochecha.

     - Eu tô feliz de estar aqui com você. – acariciou minha mão.

     - Viu só? Falei que não seria tão ruim assim.

     - Ah... Que é ruim não poder dormir na mesma cama ou sequer no mesmo quarto que você, isso é. – riu – Mas sabe... Fico feliz de ter trazido você aqui, no lugar onde eu cresci. Você sempre me levou na casa dos seus pais, eles gostam de mim e tudo mais. Sentia que eu era meio desconhecida pra você. Mas agora não mais. Agora você sabe quem eu sou, de onde eu vim.

     - Sabe, outros caras pirariam, teriam medo, sei lá... Pelo fato de você ser italiana e pelo seu avô e tudo mais. Mas eu tenho que dizer... Quanto mais te conheço, mais te amo, Anna. Quanto mais te conheço, mais tenho certeza de que é com você que quero passar o resto da minha vida.

     - Kouyou... – ela sorriu – Você tá fazendo a nossa história parecer um romance barato com esse papo.

     - Contanto que a gente fique sempre na lista de best-sellers. – eu ri e ela me beijou.

     - Escuta, durante essa semana... Meu avô e meus tios vão fazer de tudo pra ver se você é realmente siciliano.

     - Eu? Siciliano?
    - É, eles querem ver se você tem colhões, homem. – nós rimos.

     - E como eles vão fazer isso?
     - Vão te testar. Mas não entre na deles, italianos são muito competitivos e orgulhosos. Meu avô disse que os japoneses são homens honrados, isso é um ponto pra você. Mas ainda assim ele vai querer saber até que ponto você está disposto a ir por mim. Não deixe eles saberem o que você está pensando. Seja impassível. Sicilianos gostam disso. E cada vez que aparecer uma oportunidade de me agradar, me proteger, enfim ser um cavalheiro... Faça-o. Mas não seja meloso. Entendeu?
      - Entendi.

  E Anna estava certa. Durante aqueles dias, me fizeram beber dos vinhos mais fortes e comer dos antepastos mais apimentados. Frequentemente, durante alguma conversa, Don Giordano pedia qual era minha opinião sobre o assunto. Eu procurava parecer o mais siciliano possível. Tudo melhorou quando, nós, homens sentamos para assistir um jogo de futebol. Em algum momento durante o jogo, cheguei a me sentir parte de tudo aquilo. Minha empolgação mirrou um pouco no outro dia, quando resolvi que me sentia siciliano o suficiente para comer uma azeitona direto do pé. Coloquei-a na boca e me arrependi. Era amarga e tinha uma consistência estranha, muito diferente de quando se as come em conserva. Cuspi-a, fazendo uma careta. Anna riu de mim e continuou colhendo as azeitonas e colocando-a no cesto.

  No fim das contas era agradável estar ali. Recebi uma ligação de Reita em uma daquelas tardes ociosas.

    - E aí? Como vai a Itália? – ele perguntou.
    - Você nunca adivinharia o que eu estou fazendo agora. – eu ri.

    - O que?
    - Estou sentado à sombra de um limoeiro siciliano, bebendo vinho. – respondi, e Anna apareceu, sentando-se no meu colo – Com uma siciliana linda no colo.
    - Ah, Deus. Perdemos o Uruha. – o baixista riu do outro lado.

    - Estou tentado, meu caro Akira. Mas ainda gosto do Japão.

    - Ainda bem. Vê se não volta falando com as mãos.

    - Vou tentar. Mas não prometo.
    - Estamos te esperando, Shima.
    - Nós vamos embarcar na sexta. Vejo vocês no domingo.
    - Até domingo, carcamano. – ele riu.
    - Até. – e então desliguei.

    - Reita? – Anna passou os dedos pelos meus cabelos.
    - Sim. – respondi, fechando os olhos quando sua mão tocou meu rosto, ternamente.
    - Meu avô quer que a gente case aqui. – disse, de repente.
    - Nossa... Por essa eu não esperava.

    - Eu esperava. Ele diz que arca com todas as despesas de trazer sua família e nossos amigos pra cá. Quer uma cerimônia católica, tradicional.
    - Uau... – suspirei surpreso.

    - O que você me diz, Kouyou? – perguntou séria.
    - Eu achei que você quisesse casar no Japão. E sem cerimônia religiosa.

    - E quero. Mas não depende só da minha vontade. Você é parte disso também. O que você quer?

    - Seu avô vai ficar muito chateado da gente casar no Japão?
    - Vai, mas não vai dizer. Ele irá ao casamento, mas isso não necessariamente significará que ele é conivente com a nossa decisão. E a sua mãe? O que você acha que ela vai pensar da gente casar aqui?
    - Ela vai chorar do mesmo jeito. – eu sorri.

    - Tô confusa.
    - A gente tem que decidir agora?
    - Não, claro que não.
    - Então quando voltarmos pra casa, discutiremos isso com meus pais. Veremos o que eles pensam.

    - Tá. – esboçou um sorriso e me abraçou – Quero ir pra casa.
    - Nós vamos, depois de amanhã. – acariciei-lhe as costas.

  Anna passou aqueles últimos dias na Itália um tanto desanimada. Eu via nela sua imensa vontade de ir para casa. Anna era mais japonesa do que muitas pessoas nascidas no Japão e filhas de pais japoneses, amava aquele lugar como ninguém. Anna me ensinou a ver a beleza nos néons coloridos de Shinjuku e nas multidões de Shibuya. Aprendi com ela que Tokyo é um dos melhores lugares do mundo para se viver. Percebi o quanto sentia saudades de casa quando deitei minha cabeça no travesseiro naquela quinta-feira à noite, ansioso pela volta para casa.

  Don Giordano e sua esposa nos acompanharam pessoalmente até o aeroporto. Ao se despedir de mim, o velho me deu um abraço e sorriu. Senti-me seguro ao saber que tinha a aprovação dele. Mas ainda assim ele esperava que eu cedesse à vontade dele de que Anna e eu nos casássemos na Itália. E tomar a decisão de casar no Japão poria em risco a minha boa relação com ele. Seria difícil decidir.

  Anna entrou no avião animada por estar indo para casa. Durante os dois vôos, nós conversamos sobre a viagem, sobre qual era o saldo de tudo aquilo. Decidimos que, apesar de tudo, havia sido positivo. O avô de Anna gostava de mim, seus familiares receberam bem a notícia e eu aprendi que não se deve comer azeitonas frescas.

  Chegamos em casa muito tarde, passada meia-noite. Anna tirou os sapatos, despiu-se a caminho do banheiro e enfiou-se na banheira de água quente, entorpecida pelo cansaço. Entrei com ela na água e ela veio achar lugar entre meus braços, murmurando sobre como era bom estar em casa. Nós poderíamos ter adormecido ali mesmo, se Anna não tivesse levantado, se queixando que a água se tornara fria e indo deitar na cama. Quando saí do banheiro, Anna já dormia. Beijei-lhe o rosto, deitei-me ao seu lado e puxei a coberta sobre nós, agradecendo a Deus por não ter que trabalhar no outro dia.

   Não sei dizer ao certo que horas eram quando acordamos no dia seguinte, mas tinha certeza que já havia passado do meio-dia há tempos. Anna aconchegou-se a mim e resmungou sobre não querer sair da cama. E de fato só saímos dali quando a fome tornou-se mais forte que a preguiça. Passamos o sábado entre o sofá e cama, feito gatos sonolentos, nos espreguiçando e enroscando-nos um ao outro. Em momentos como esse eu podia jurar que não reclamaria de passar a vida toda assim, entregue a preguiça, com Anna em meus braços.

  No domingo, acordei ao ouvir Anna no telefone.

     - Ok, te vejo daqui a pouco. – ela desligou.

     - Quem era?

     - A Anna. Vou sair pra almoçar com ela. – levantou-se da cama.

     - Já?

     - São meio-dia e meia, Shima. – riu.

     - Nossa... Eu dormi tudo isso?

     - Uhum. Quer que eu deixe alguma coisa pra você comer? – entrou no banheiro e começou a lavar o rosto e escovar os dentes.

     - Não precisa. Já que você vai sair pra um almoço de garotas, eu vou sair pra um almoço de garotos. – me levantei e fui até o banheiro.

    - Vai? Com quem? – disse, cuspindo a pasta de dente na pia.

     - Com o Reita. Você vai falar com a Anna sobre ser a madrinha e tudo mais?

     - Vou. Você vai falar com o Reita? – saiu do banheiro e foi se vestir.

     - Sim.

     - O Reita e a Anna já se conhecem?

     - Acho que sim. Quer dizer, os dois estavam na sua festa de aniversário no ano passado. Por quê?

     - Não, nada. Só curiosidade. – respondeu, daquele jeito que não escondia que ela tinha sim alguma outra coisa em mente. – Bom, tô indo. Qualquer coisa me liga. – veio me dar um beijo.

     - Tá bom. Divirta-se. – disse, vendo-a pegar a bolsa e sair.


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Notas finais do capítulo

Vocês sabem que titia tarda mas não falha, hein? Reviews meus docinhos :*



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