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Nicklausse
ID: 521574
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  • 24/09/2014


  • Sobre uma ária antiga

    Não surgem (escuta, escuta) as nossas palavras

    Daquela ária antiga?

    Eu te desenterrei.

    E finalmente tu vês de novo o sol,

    Tu me falas, ó amiga!

    Essas palavras dizias.

    Não ouves? Não ouves?

    Mas quem as recolheu?

    Dos ventres ocos da madeira surgem os teus modos,

    Que o vento libertou.

    Dizias: "Eu te leio no coração. Não me amas. Tu pensas que é a última vez!"

    Noto a boca um pouco murcha.

    "Não me amas. E a ultima vez mas antes que me abandones

    O voto há de se cumprir.

    Oh! Faz que eu te falte no coração!

    Tu não me perdoas se já na têmpora beijada os cabelos estão brancos?"

    Olhai aqueles cabelos sobre aquele pescoço pálido

    Os sinais dos anos; E te disse:

    "Mas cala-te! eu te amo."

    Os teus belos olhos estavam cobertos de lágrimas

    Sob meus beijos.

    "Me enganas, me enganas" respondia tu,

    As minhas mãos beijando.

    "Que importa? Eu sei que me enganas; Mas amanhã talvez tu me amarás morta."

    Profundo era o céu do leito; e o leito profundo como a tumba, obscuro,

    O corpo estava sem véu; e no leito profundo já parecia impuro.

    Vi pela varanda aberta uma cidade longínqua

    Cortada por um rio sinuoso, fechado por uma grinalda de rochas

    Que acesas ardiam de uma luz vermelha;

    No dia de verão e os ventos traziam odores

    Dos jardins remotos

    Onde em torno iam mulheres poderosas

    Cantando entre avidas flores.

    (Ottorino Respighi)



    nicklausse mudou seu nome para Nicklausse18/12/2014