O dragão era negro e frio, e estava curvado para sua senhora, ereto, com o longo pescoço quase a tocar o chão de mármore. Todos no grande salão admiravam espantados e assustados, deveriam viver em um sonho, aquela imagem não poderia ser tão nítida, mas era. Tentavam compreender, mas não admitiam na loucura que era aquilo. A criatura esguia parecia ser um súdito, mesmo sem ela ter dito sequer uma palavra, apenas estava curvado à sua senhora. Então a rainha levantou-se do trono e pôs-se em direção a ele, caminhando sutilmente em direção ao seu servo. O dragão curvou-se ainda mais, e a mulher alta, de cabelos castanhos longos e finos, presos numa trança que atingia o fim das costas, esguia e elegante, sorriu. Nada mais importava para ela. As suas mãos estavam sujas de sangue, mas não se importava, desde as Bárbaras Guerras, com sangue de inimigos. Entregou-se. Acariciou a cabeça feroz, tocando nos longos chifres esguios e nas escamas ásperas.Seu servo.O dragão abriu as longas asas e a mulher aproximou-se ainda mais, era uma loucura!, mas deveria fazê-lo. As asas eram plácidas e quase transparentes, reluzindo nas sombras. A rainha agarrou fortemente nas escamas da costa do dragão e subiu-lhe o dorso. Sentia-se confortável. O animal levantou voo por entre o salão, os nobres levantaram-se assustados, deixando cair as taças do vinho, mas não ousaram dizer nada. A criatura foi-se lentamente, destruindo o teto da grande salão e pela primeira vez em anos, a mulher viu a luz do sol que invadia os olhos claros, que por um momento causou-lhe tontura. Mas estava protegida, sobre as asas de seu servo.