Eu não gosto de escrever sobre mim. São só palavras e, por vezes, palavras não são certas. Mas, no entanto, eu posso dizer algumas coisas certas sobre mim que nunca mudam e nunca mudarão.

O meu cabelo é rebelde, aborreço-me com ele e grito-lhe e depois frustro-me ainda mais porque sei que ela não vai mudar. No meio da cabeleira encaracolada encontro cabelos maioritariamente castanhos, mas depois existem os loiros, os ruivos e os pretos (devo ter nascido num dia de arco-íris). O meu nariz é arredondado e depois tem os olhos, pontinhos azuis e verdes que é o que mais gosto em mim, porque eles nunca são iguais. De manhã parecem o mar, no escuro ficam cinzentos e, quando a minha pele branca fica vermelha eles são o ponto de destaque no meu rosto. Alguém me disse uma vez que eles são inconstantes, bem eu sou inconstante.

Eu gosto do inverno, ouvir a chuva a cair, o vento a gelar-me a ponta do nariz, ficar no escuro da sala, com a televisão ligada como luz de presença, enrolada na manta e nas almofadas, com um livro no colo e uma chávena de chá ao lado. Tudo parece como um romance e eu gosto de viver nessa fantasia de romance.

Mas depois, do nada, eu me transformo no verão e tudo o que eu quero é divertir-me e sair para fora da prisão em que eu própria me meti, no romance ilusório que criei. Quero uma mochila nas costas, umas botas nos pés, uma máquina fotográfica pendurada no pescoço, um lápis e um caderno para acompanhar. Quero ir pelo mundo e viver aventuras, conhecer os cantos e os recantos encobertos pela mão do Homem.

Quero caminhar e continuar a caminhada, porque acima de tudo sou uma rapariga de 1,63 metros que pouco se conhece e este pouco que sabe parece estar sempre em mutação. Quero caminhar e nunca parar a “cruzada”.