Thorns > Recomendações

sandsphinx

26/03/2017 às 20:58
Sim, sou suspeita pra recomendar qualquer coisa escrita pela Cecília. Eu amo tudo o que ela escreve. Já espero me apaixonar pelas histórias dela antes mesmo de começar a ler. Mas se você para para pensar, começar a ler algo com as expectativas no céu não exige mais da história para você realmente se apaixonar por ela? Não sei dizer.
O que eu posso dizer com certeza é que Thorns é o tipo de fanfic que te surpreende. É bem escrita -- muito bem escrita. Tem um quê de sombria, e um charme inegável. Não é uma história fácil de classificar, e não é fácil de localizar -- no tempo, no espaço, dentro de seu próprio universo. E é exatamente isso que faz dela algo tão incrível. Tem um tom de sonho, parece quase surreal. Claro que isso não faz com que os personagens sejam menos realistas, e também não impede ninguém dar aqueles gritinhos de emoção nas partes mais apaixonantes.
Todos os elementos do mito de Hades e Perséfone estão presentes e reconstruídos, prontos para cativar tanto quem já os amava quanto quem nunca teve interesse. E, principalmente, se você gosta daquele conceito meio vago de destino, de histórias que se repetem de novo e de novo, de pessoas presas em uma dança eterna, acho que essa história é ótima para você. Sei que foi perfeita pra mim.

Clarisse Hugh

03/10/2017 às 16:07
A questão a respeito de thorns é que trata-se de uma peça rara, onde se deve apreciar com muita parcimônia, para que nada escape. Cada detalhe colocado ao longo dos parágrafos como se fossem nada, mas a questão é que são tudo. O diabo mora nos detalhes, diz o ditado alemão, e, apesar de realmente se tratar de uma história protagonizada pelo senhor dos mortos, não há nada de obscuro ou vulgar nestas linhas. O texto, pelo contrário, é de uma literatura tão cheia de significado poético em suas associações da vida com a morte, da dualidade da flor que nasce e perece com a mesma facilidade.
Os dias são indicados em latim e isso por si só já serve de prelúdio para ilustrar a aura de antiguidade imbuída na história, mas, mais do que isso, há também certa atemporalidade nisso, como a ideia do amor que vence o tempo. “Que mito estão recriando”, pergunta-se a florista e é tamanha a graciosidade com a qual Cora – Koré, a donzela – transforma-se em Perséfone deliberadamente e de forma intencional. Prova do sumo das sementes da romã e, ao contrário do azedume de uma prisão, experimenta o doce sabor da liberdade.
Muito menos indefesa e passiva do que normalmente se vê nas versões tradicionais do conto, vê-se claramente Perséfone desabrochar a olhos vistos a cada frase, bem como suas preciosas begônias e orquídeas. Ela compreende da efemeridade e também de sua parcela do eterno e as aceita com o mesmo estoicismo com o qual exibe pérolas ornando o pescoço enquanto firma-se ao chão de pés descalços, preciosidade da rainha primaveril. Sorri para a morte como se aceitasse um convite e, se o esperou por tanto tempo, faz-se hora de fazer valer a pena.
Thorns é, por fim, mais do que uma leitura delicada, maravilhosa e deliciosa, mas uma própria alegoria à existência.