Yellow Butterfly escrita por Tia Rovs


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Não é fácil se achar morto quando se quer viver mais que tudo. Quando há um amor para se declarar àquela pessoa especial. Sakura quer vê-lo. Uma única vez, é tudo o que ela pede... Será que ela conseguirá? Yellow Buttefly é uma boa pedida para se ouvir enquanto lêem! ^^



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Parte I

      E então ela abriu os olhos. Finalmente depois de dias sem saber distinguir a consciência do sonho. A alucinação, da verdade. Finalmente era capaz de pensar com alguma clareza, de olhar ao redor e ver tudo nitidamente, como não fazia há dias.

      Aliás... Que lugar era aquele? Era incapaz de distinguir. Deveria ser um quarto branco qualquer na ala hospitalar de Konoha. Era para estar em uma cama. Uma daquelas reclináveis que você aperta o botãozinho e ela sobre ou desce. Entretanto, não havia teto. Qualquer lugar que fosse, era exatamente a céu aberto. As nuvens tingidas em rosa e dourado, pintando a mais bela paisagem do amanhecer. O sol, estranhamente, parecia mais próximo, embora ainda assim sob sua cabeça, irritando sua retina e fazendo com que piscasse algumas vezes.

      Não sentia mais o corpo trêmulo e nem a febre. Na verdade, sentia-se tão bem e saudável quanto uma criança. Nunca se sentira melhor. Estava feliz por aquilo. Onde quer que ela estivesse, agora poderia voltar até a vila e dizer a todos que estava bem. Poderia finalmente fazer o que devia ter feito há algum tempo...

      Sorriu esperançosamente e levantou-se rapidamente. Devia correr até a casa dele. Perdera muito tempo guardando aquilo para si. Perdera muito tempo ponderando sobre aquela relação e sobre os prós e contras de se amar seu sensei. Mas por fim, estava decidida. Era a hora de dizer a ele que sentia o mesmo que ele afirmara sentir por ela um pouco antes da batalha que a deixara no hospital.

      Na verdade, aquele período ali, fizera com que entendesse que a vida era muito curta e que outra situação fatídica poderia levar de vez sua existência e que coisas importantes poderiam nunca serem ditas por ponderação em demasia. E ela não queria mais esperar.

      Contudo... Olhou ao redor. Onde estaria? Parecia estar em algum lugar distante… O chão parecia feito de algodão de tão macio ao toque que era. O pé parecia afundar, como em neve. Os lados não mostravam nada senão o multicolorido do amanhecer. De alguma forma, parecia que ela fazia parte da aurora, dando mais um tom rosado ao alvorecer graças aos seus cabelos.

      Estava perdida. E ainda que o cenário fosse bonito, a esperança e a determinação deram lugar a uma certa hesitação e a um medo. Medo de não poder voltar para casa e dizê-lo o que sentia. Medo de ser incapaz de ser feliz ao lado dele. Mas seja o que fosse, em que continente estivesse, passaria todos até encontrá-lo novamente.

      Observou que, em um momento mais a frente, o solo fofo e esbranquiçado se inclinava, como se em degraus. Determinada, começou a galgá-los. Talvez acima deles, estivesse em algum lugar reconhecível ou quem sabe, encontrasse alguém que pudesse lhe dizer alguma coisa. Estava definitivamente sem escolhas. Aquilo era tudo ao seu alcance naquele momento. Tudo a que poderia se ater.

XXXXXXXXXX

      Os deuses estavam lá, de pé em seu templo, apreciando o belo alvorecer que criaram como a obra de arte mais bela, incapaz de ser copiada por qualquer Goya ou qualquer Botticelli. Isso pois, cada alvorecer era diferente do que ocorrera no dia anterior, mas nem por isso, menos belo que o precedente.

      A pintura do dia nos céus, fora feita em homenagem àqueles humanos que tiveram uma noite cheia de pesadelos, medos e tristezas e que, por uma razão ou outra, deixaram de dormir para ver o dia nascer. E aquela beleza era, justamente, para lembrá-los que depois de uma noite insone ou mesmo que depois das angústias sempre haverá o dilúculo, trazendo a esperança de um dia claro, ensolarado e - por que não?- feliz.

      Entretanto, sua atenção foi capitada por um canto, onde um tom de rosa dos céus se movimentava, brilhando intensamente. Os deuses se entreolharam estupefatos e encararam o ponto com alguma curiosidade.

      Ao que o ponto se aproximou um pouco mais, puderam constatar que se tratava de uma alma que, pelo que parecia, chegara há pouco no templo dedicado às boas almas e aos deuses, uma vez que vinha pela entrada principal. E pelo fato de seus passos serem um tanto vacilantes e incertos. Pelo jeito, esqueceram-se de sua chegada e de ir recebê-la. Isso era dever deles, era claro, mas contemplar o alvorecer acabara capturando suas atenções.

      Vinha a passos largos e suas feições estavam tensas. Pobre, garota! Devia estar amedrontada. Talvez a ajudariam se fossem até ela e a encontrassem a meio caminho. É bem verdade, que não havia motivo para apressar, uma vez que passaria a eternidade por ali, contudo, também não havia motivo para deixá-la naquela ânsia. Os recém-chegados normalmente tinham pressa em esclarecer as coisas.

In the temple of the Gods
The day had come to come together
In the early morning sun
They saw that girl that came to heaven
No templo dos Deuses
O dia chegou para trazer consigo
Cedo em uma manhã de sol
Eles viram aquela garota que chegou ao paraíso

      -Olá, Sakura! –A bela mulher de olhos dourados vindo em encontro a ela disse suavemente, dando-lhe um sorriso brilhante. Sua voz era clara e bastante articulada. Passava uma sensação serena. Junto a ela haviam mais dois homens- Seja bem-vinda ao paraíso. Somos os deuses que cuidam da Terra, dos humanos e, é claro, daqui.

      -C-como assim? –Sakura arregalou os olhos. Ao ver que eles se aproximavam dela, sentira que não eram humanos. Tal como sentira a bondade tomando conta de seu coração e acalentando seus medos, ainda que fosse incapaz de se acalmar em um lugar que desconhecia. Agora, esperava de todo o coração ter entendido tudo aquilo de forma errada. Não! Não podia ter morrido! Não sem antes dizê-lo que o amava. Não sem antes abaixar-lhe a máscara e lhe tocar o rosto com suavidade, acariciando-o e pondo neste toque todas as palavras e sentimentos que não conseguira pronunciar antes. Não sem antes abraçá-lo forte e se sentir tão segura quanto se estivesse em uma fortaleza. Não sem, ao menos, roçar os lábios para descobrir se a sensação de um beijo de amor é tão maravilhosa quanto descrevem. Não podia morrer sem jamais ter beijado alguém com amor! Não podia morrer sem ter o gosto dos lábios dele entre os seus... Simplesmente não! Demorara tanto tempo... Tanto tempo ponderando se a relação entre eles era correta. Se seria mesmo amor o que sentia. Se ele não era apenas mais um homem mal-intencionado. Tanto tempo amando e sofrendo calada. Incapaz de dividir aquilo com alguém por medo do que os outros pensariam. Pelos deuses! Será que ela fora tão má assim que sequer merecia o amor? Sequer merecia a vida ao lado daquele homem em quem desde cedo aprendera a confiar?

      -Sakura, você fez a transição da vida para a eternidade. –Um dos homens, de tez negra e voz tão profunda quanto o oceano, comentou em um tom comedido enquanto punha uma de suas mãos no ombro direito da moça tentando acalentá-la.

      Incapaz de outra atitude senão aquela, Sakura sentiu as lágrimas rolarem, quentes como a lava pelos olhos verdes comparados a duas grandes jóia. Definitivamente, morrera. Nunca o veria. Nunca mais se sentaria ao seu lado após uma missão e dividiria momentos amigáveis e agradáveis em que conversavam amenidades enquanto comiam alguma coisa. Nunca mais sentiria seus braços ao redor de sua cintura ou um abraço forte para consolá-la quando chorava de tristeza. E o que é pior é que ele não estaria lá para fazê-lo neste momento, enquanto derramava toda a dor que sentia na forma de lágrimas, por sentir falta de uma coisa que nunca teve. Por sentir falta dos beijos que nunca trocaram, do amor que nunca fizeram ou mesmo dos filhos que nunca terão juntos. Tantos sonhos... Tantos momentos que podia ser vividos juntos. Tantos momentos que poderiam ter sido felizes...

      Por quê? Por que não ela? Por que não podia amar? Por que não podia ter o homem que quisesse? Por que não podia ser feliz, ao menos um pouquinho?

      -Acalme-se, querida! –A deusa respondeu acariciando-lhe os cabelos, enquanto Sakura ruía até o chão fofo, chorando copiosamente. Não conseguia se acalmar. Não era uma dor simples. Não ia passar fácil. Não era uma perda comum. E tampouco fora algo que ela buscara. Tanto que ambos haviam marcado para sair e conversar sobre aquele assunto, que ele mencionara no dia no qual ela fora ferida, assim que pudessem. Não! Como o destino podia ser tão cruel e lhe arrancar injustamente dos braços de quem amava? Nunca fora ruim para ninguém para merecer este castigo! Nunca! Sempre lutara pelo bem das pessoas de sua vila! Sempre fora preocupada em conseguir curas para os males que atingiam as pessoas. Como pudera morrer assim? Por que nenhum médico pudera salvá-la? Se fosse o contrário, Sakura teria feito até o impossível para salvá-los!

      -Não é justo! –Ela murmurou entre soluços altos- Eu não... Eu não posso morrer assim! Não! Eu não poderia ter morrido por causa daquilo!

      -Menina, nós bem sabemos que a vida na Terra não é uma maravilha. –O outro homem, ruivo e sarapintado de sardas tentou consolá-la. Sua voz era macia e tinha um quê de calidez- Não creio que tenha melhorado muito, melhorou? São todos egoístas, amantes da guerra e da desordem. Fico me perguntando se sua vida lá fosse tão boa para que você quisesse permanecer.

      -Não é isso! –Sakura respondeu fungando, tentando falar com clareza e afastar a tremor de sua voz- A maioria dos humanos ainda é egoísta, ainda fazem guerra sem motivo e ainda apreciam boas fofocas ou um bom barraco, mas é que... Eu não acho que agora fosse minha hora.

      -Ninguém nunca acha que sua hora... –O ruivo começou, ao que a mulher ergueu um braço para que ele silenciasse.

      -Por quê, Sakura? –A deusa perguntou com suavidade, sentando-se ao lado dela.

      -Porque o que eu fiz foi por amor! –Sakura redargüiu em um tom vacilante- Um homem atirou uma zarabatana envenenado na direção de Kakashi. Eu... Eu estava atrás dele. Ele não havia visto. Estávamos cercados, mas ele pediu que ficasse atrás dele. Eu disse que queria ajudá-lo e então ele virou para mim e disse que me amava e não queria que eu me machucasse por negligência dele, pois ele não agüentaria aquilo.

      “Eu o encarei profundamente no olho visível e vi a veracidade daquele sentimento. E eu confesso, já o amava em silêncio há algum tempo, mas ponderei muito sobre aquilo. Ele era meu sensei e não são muitos os que aceitariam um relacionamento em que o casal tem quatorze anos de diferença. E além de tudo, jamais pensei que um dia seria correspondida. Até aquele momento, jamais imaginei que um dia teríamos uma conversa como aquela, principalmente em uma missão em que tudo falhara e que os reforços que Naruto fora buscar ainda não haviam chegado. E eu quis dizer que o amava também, mas ele me impediu, tocando meus lábios com seus dedos. Pediu que eu só falasse aquilo depois que a missão acabasse e que estivéssemos de volta em casa. Eu assenti e foi aí que vi a zarabatana se aproximando dele em velocidade atordoante, estava bem próxima, então eu me joguei contra ele para que caíssemos no chão, mas a seta atingiu meu braço direito e veneno se espalhou. Meu corpo se paralisou e eu fiquei observando a luta até perder a consciência.

Sei que acordei algumas vezes no hospital de Konoha. E que todas às vezes, ele estava ao meu lado, segurando minha mão com força. Dizendo-me palavras de coragem e incentivos para melhorar. Talvez tenha o visto chorar, mas não me lembro se era um delírio febril ou se fora verdade.

Mas eu sempre acreditei, nestes momentos de consciência, que tudo daria certo. Sempre pensei que aqueles que protegiam as pessoas que amam seriam recompensados. E acima de tudo, sempre pensei que gestos de amor se pagavam com amor, não com mortes. E também que quando tudo acabasse, eu finalmente seria capaz de contar-lhe sobre meus sentimentos. Dizê-lo, como ele me disse, que eu o amava e que tudo acabaria bem e que ficaríamos juntos. Mas... Ele nunca vai saber. Eu o amei. Com todas as forças do meu ser. Com todas as fibras do meu coração. Com toda a minha alma. E ainda assim, ele vai se sentir culpado por não ter dito antes ou mesmo, por nunca ter dito. Eu sei que ele vai se culpar pra sempre, dizendo que devia ser para ele aquela dose de veneno e sei que jamais vou ter a paz de que preciso enquanto não vê-lo e lhe dizer o que ficou preso por anos dentro de mim. Aquele imbecil que atirou aquela pequena flecha tomou minha vida, mas Kakashi ficou com minha vida eterna, pois sei que todos os minutos que eu passar aqui vão ser todos dele.”

      Quando terminou de falar, a jovem tinha o rosto encharcado e manchado pelas lágrimas que não pararam de cair. A deusa a abraçava maternalmente, tentando consolá-la a qualquer custo. Sentia seu coração tocado. Seus olhos rasos pelas lágrimas que insistia em segurar. A garganta estava atada por um nó. Pobre, garota! Tão jovem! No auge de seus vinte e dois anos… E pobre, Kakashi! Eles bem sabiam que a vida daquele homem não vinha sendo fácil...

      -Se nós pudermos lhe ajudar de qualquer forma... –Ofereceu a mulher, retirando-se do abraço para encará-la.

      Sakura olhou profundamente em seus olhos dourados e deu um suspiro.

      -Eu só tenho um pedido! –Ela disse ainda chorando com um tom de súplica- Por favor, me mandem de volta! Só mais uma vez! Eu preciso! Eu preciso muito dizê-lo! Eu não ficaria em paz se não o fizesse.

      A mulher buscou o olhar dos outros deuses, querendo saber se consentiriam.

They ask her about life on earth
If it was getting any better
She told someone took her life
If they could send her back just one more time
She knew that someone feel so blue
Eles perguntaram a ela sobre a vida na terra
Se tinha melhorado em algo
Ela disse que alguém lhe tomou a vida
Se eles poderiam mandá-la de volta só mais uma vez
 Ela sabia que alguém se sentia muito triste
XXXXXXXX CONTINUA XXXXXXX

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Notas finais do capítulo

Bem, essa fic está completa. E devo postar o próximo capítulo dentro de uma semana. São três, no total. ^^ E vou dizer, é um dos trabalhos que mais gosto, em se tratando de seu resultado. Não que esteja bom... Muito pelo contrário. É mais uma mostra de que preciso melhorar muito como autora e vou fazer o possível para isso! ^^
De qualquer forma, escrevi no mês que esperava pelo resultado do vestibular e estava deveras angustiada. Espero que vocês entendam esse sentimento e apreciem! ^^ Pois não poderia ter colocado nessa fic mais sentimentos! ^^
Obrigada desde já. E boa leitura! ^^



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