Cinco Estrelas escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Almoço cinco estrelas




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Seguia com os olhos a bolinha que quicava de um lado ao outro da quadra de tênis. Ajeitou os óculos sob o nariz e concentrou-se nos movimentos que os jogadores faziam. Eiji estava cada dia mais forte, e Oishi não era diferente. Eles estavam empatados. O jogo parecia difícil.

Kunimitsu estava curioso para saber que fim daria aquela partida.

O celular tremeu no bolso da jaqueta de seu uniforme, e ele se desconcentrou perdendo um ponto feito por Eiji.

Tezuka afastou-se um pouco das demais pessoas, para atender a chamada. Não era nada urgente, apenas uma confirmação de uma consulta que ele teria dali dois dias.

O capitão voltou ao seu lugar, cruzando os braços, com o celular na mão fechada na altura do peito.

O próximo ponto foi de Oishi, seguindo mais um de Eiji. Daquele jeito eles continuariam empatados.

Quando o rapaz de cabelos vermelhos ergueu a raquete para acertar a bola, lançando-a para o outro lado, Tezuka desviou novamente o olhar para o celular que vibrava em sua mão. Ele perdeu um ponto aclamado por todos.

Fez um ruído baixo com a boca, olhando de vez a mensagem que recebera.

"Estou tentando ligar, mas está sempre ocupado." Kunimitsu piscou algumas vezes. Ele havia ficado somente poucos minutos no telefone. Respondeu a mensagem.

"Estou no treino."

Pronto! Era o suficiente para deixar aquela conversa estacionada até a hora que ele estivesse livre. Mas não era bem assim que Keigo Atobe pensava, nem agia. Ele agia primeiro.

"Está jogando com o celular na mão? Rs"

Atobe parecia querer conversar. Tezuka respondeu.

"Não, é claro! Estou assistindo uma partida."

Não demorou a ter uma resposta, e Tezuka respondeu mais uma vez, perdendo o set ganho por Oishi. "Tenho que terminar o treino, até."

Aquela foi uma deixa para Tezuka voltar ao treino, mas Atobe não compreendeu muito bem, ou não quis entender que era uma despedida. Mas dessa vez, ele ligou para o capitão da Seigaku.

 

Keigo Atobe estava no corredor da Hyotei. A aula já havia acabado, mas ele precisava entregar alguns trabalhos atrasados, isso porque estava treinando tão intensamente para o torneio Kantou, que acabou deixando de lado algumas matérias. Não era sempre assim, na verdade ele era um excelente aluno, tirava sempre ótimas notas, mas aquele torneio era um pouco especial, já que iria jogar com alguém que verdadeiramente poderia ter chances de vencê-lo. E estava dando tudo de si nos treinos.

E naquele dia, exclusivamente, permitiu-se estar de folga. Nem Kabaji estava ao seu lado.

Enfiou uma mão no bolso da calça, e segurou o celular com a outra, próximo ao ouvido, esperando que Tezuka atendesse logo sua ligação.

— Atobe... Eu disse que estava treinando. – Atobe sorriu ao ouvir a voz de Tezuka, ele sempre tão sério com suas responsabilidades.

— Não, você disse que estava assistindo uma partida. Deixe eles treinando e venha almoçar comigo.

Tezuka ficou em silêncio por alguns segundos. Não sabia por que ainda se surpreendia com aqueles pedidos de última hora. Não é que ele não gostasse, ao contrário. Mas naquele momento, não poderia largar todos ali, ele ainda tinha que treinar e... E quando viu, estava fazendo mentalmente uma lista dos prós e contras. Enquanto do outro lado, ouvia a respiração de Atobe, chamando-o pelo nome.

— Desculpa, eu me distraí com o jogo. – Tezuka se afastou mais da quadra de tênis, deixando de prestar atenção no jogo de Eiji e Oishi.

— Vamos almoçar, depois você volta para o treino. – Atobe mexeu nos cabelos loiros, olhando pela janela do corredor. Dava para enxergar as quadras de tênis lá de cima. – Prometo que te levo de volta.

— Não sei. – Tezuka levou a mão livre aos cabelos, e respondeu por fim. – Tudo bem, onde nos encontramos? – Atobe sorriu vitorioso do outro lado da linha, nem precisou se esforçar tanto.

— Tem um novo restaurante próximo àquele que fomos da última vez. – Essa última vez havia sido há um mês, quando eles se encontraram casualmente numa loja de artigos esportivos. – Me espere lá daqui uma hora, ainda tenho algumas coisas a fazer.

 

Atobe desligou o celular, logo que ouviu a confirmação de Tezuka. Ele demorou pouco mais de dez minutos para entregar o trabalho extra e deixou a Hyotei em sua limousine.

Pediu para o motorista estacionar o carro um pouco antes de chegarem. Queria um pouco de discrição ao chegar. Um pouco estranho para alguém como Atobe, mas ele sabia que se Tezuka estivesse ali perto, fingiria que não o conhecia. Tão tímido.

O restaurante havia sido inaugurado há uma semana. Ficava ao lado de uma galeria a céu aberto, um ótimo ponto. Logo que Atobe fora lá pela primeira vez, imediatamente imaginou-se ali com Tezuka, não sabia exatamente o porquê, mas ele associava o lugar sóbrio ao rapaz da Seigaku.

Já reservara uma mesa, assim que saiu da escola, foi questão de um minuto para o gerente conseguir um ótimo lugar para Atobe Keigo.

Quando ele chegou, foi levado direto a uma área bem confortável, e um pouco mais isolada das demais mesas. Sentou-se, pedindo apenas água para se refrescar daquele ar seco que fazia lá fora.

Acabou chegando um pouquinho mais cedo, deixou claro que estava esperando uma pessoa, e por isso não iria fazer nenhum outro pedido até lá.

Tezuka não teve problemas em abandonar o treino por uma hora, somente para o almoço. Deixou tudo nas mãos de Inui, que estava animado para testar um novo suco especial. O capitão sentiu-se até aliviado em não precisar ficar ali para ver o resultado. Antes de sair, demorou um pouco no vestiário, se trocando. Afinal, conhecia bem Keigo, e sabia que com ele, poderia esperar de tudo, principalmente os lugares que costumavam frequentar. Não seria nada agradável ir a um restaurante cinco estrelas como os que Atobe frequentava, vestindo o uniforme da escola. Ajeitou os óculos, e saiu.

Pegou um ônibus, que demorou mais do que o normal para fazer a viagem, e chegou ao local marcado. Estava cinco minutos atrasado. Odiava atrasos, sentia-se totalmente envergonhado, e em sua cabeça passaram diversas formas de se desculpar com Keigo.

Assim que entrou no restaurante, Tezuka sentiu-se estranhamente à vontade ali. O lugar era agradável, as janelas grandes iluminavam bem o salão com diversas mesas. Algumas de dois lugares, outras um pouco maiores. O maitre lhe direcionou até onde estava Atobe. No caminho, Kunimitsu percorreu os olhos no lugar, as toalhas brancas nas mesas, sobrepostas com outras vermelhas. Um balcão de madeira ao fundo, com diversas prateleiras abarrotadas de garrafas de bebidas de todos os tipos. Nas paredes do lugar, alguns quadros de arte. O lugar não estava tão cheio, apensar da hora do almoço, mas talvez fosse porque ainda era um restaurante novo, de culinária estrangeira.

 

— Atobe. Me desculpe a demora, tive que me arrumar, e o ônibus não passou no horário certo...

O loiro moveu a mão no ar, levando-a de volta próximo ao rosto, largando um dedo sobre a pinta perto dos olhos azuis. Ele apoiou o cotovelo na mesa, não estava interessado em saber nas desculpas de Tezuka, sequer havia notado que ele estava atrasado. Mentira, ele olhara a cada minuto no relógio, mas não se importou mesmo com o atraso, porque sabia que ele viria.

O capitão da Seigaku sentou-se na cadeira de frente ao rapaz, que estava vestindo o seu uniforme escolar. Tezuka não demonstrou qualquer reação ou disse algo, mas Atobe ficava bem vestindo qualquer coisa. Ele tinha aquele magnetismo em volta de si, por isso todos o olhavam com admiração, não sabia explicar porque daquilo, vai ver Keigo nasceu com esse brilho próprio mesmo.

Como não conhecia nada do cardápio, que estava em francês, pediu para Atobe lhe sugerir algum prato.

Num francês perfeito, ele fez o pedido ao maitre que os atendia preferencialmente. Porque todos ali sabiam quem ele era. E com um cliente tão importante, o restaurante poderia ganhar mais clientes tão importantes quanto.

Atobe puxou um assunto qualquer sobre os treinos, e a escola, mas logo o assunto morreu. Sentiu que Kunimitsu estava um pouco inquieto em sua cadeira.

 

— Você não fica com tédio? – perguntou o loiro, bebendo um pouco da água na taça. – Sabe, dessa vida. Só treina, estuda, vai para casa. Enfim.

— O que mais eu poderia fazer? Atobe. – ajeitou os óculos, bebeu um pouco de água e voltou as mãos sobre o colo, esperando a refeição chegar.

— Vejamos, você não viaja, não se diverte. Só quando sai comigo. – Pretensioso demais, mas era um pouco verdade. Tezuka saía com os amigos, mas sempre se segurava mais, não era tão espontâneo também, fato mais do que óbvio. Era bem previsível. Mas quando estava sozinho com Atobe, às vezes, relaxava e não se preocupava com nada. Mas era somente o jeito dele.

— Não tenho como viajar tanto quanto você. – Era verdade. Para Atobe ir almoçar num restaurante em Paris era a mesma coisa para Tezuka ir ali naquele restaurante francês.

— Então da próxima vez que eu for à Europa, vou te convidar. Você vai comigo? – A refeição chegou, impedindo de Tezuka responder aquela pergunta. Mas mesmo que pudesse responder agora, não saberia o que dizer.

Eles almoçaram quase em silêncio. Esse sempre sendo quebrado pelo loiro que hora ou outra falava algo sobre a culinária francesa, ou o país mesmo. Ele conhecia muitos lugares, além de várias curiosidades que aprendia com as viagens. Tezuka gostava de ouvi-lo falar. Não somente por curtir mesmo ele falando sobre o mundo e outras pessoas, porque geralmente a primeira impressão é que Atobe só sabe falar dele, mas não, ele é bem inteligente. E tem uma voz que encanta. Era isso que Tezuka sempre pensava enquanto o ouvia falar sobre algo.

— Tezuka, parece que está mais tímido do que a primeira vez que saímos. – Atobe limpou a boca levemente com o guardanapo branco.

— Não sou tímido. – Ele não era muito tímido, apenas quieto. Sério.

— Ah! É mesmo, você não é tímido, é apenas calado demais.

— Eu não sou muito bom nisso, você sabe. – Tezuka se limitou a responder. Preferia ouvir.

— Me pergunte algo. – moveu a cabeça para o lado, deixando os cabelos loiros caírem de leve.

— Como?

— Me pergunte algo, já que não é muito bom em encontrar um assunto para conversarmos. Pergunte qualquer coisa, depois eu faço o mesmo. Assim teremos muito assunto.

Kunimitsu deixou o garfo sobre o prato, estava satisfeito, enquanto Atobe pedia a sobremesa, ele pensava no que perguntar.

— Você está treinando muito? – Ok! Foi uma pergunta chata. Mas ele não era chato, Atobe sabia que estava só um pouco recuado.

— Sim, porque meu oponente é alguém muito forte, e eu não o subestimo. De forma alguma. – Piscou, sorrindo em seguida. – Certo! Então, já que está tocando nesse assunto. Como está seu braço? Pronto para o jogo?

— Estou bem sim. Quero que dê tudo de si no jogo, porque eu vou fazer o mesmo.

— Você sabe que eu sempre dou tudo de mim quando diz respeito a você. – O sorriso marcante nos lábios de Atobe fez Tezuka estremecer um pouco. Sentiu as maçãs do rosto arderem intensamente. Era incontrolável aquela reação. – Então, você iria a Europa comigo?

— Atobe. – o rapaz deu um tempo para a sobremesa ser servida, e voltou a falar quando o maitre se afastou dos dois. – É a minha vez de perguntar.

— Ah! É mesmo, eu me empolguei um pouco. – Keigo pegou a colher de sobremesa, levando um pouco de sorvete à boca. Olhou para Tezuka, piscando os olhos lentamente, esperando a pergunta.

— Por que... Por que você me convidou para almoçar hoje? – Naquele último mês eles pouco se falaram, bem, talvez fosse por conta dos treinos mais intensificados, só que no fundo ele achava que era por outro motivo. Quem sabe, talvez fosse o beijo que trocaram na última vez. Só de lembrar daquilo, Tezuka ficou mais vermelho, deixando Atobe escapar um sorriso mais atrevido, vai ver pensava a mesma coisa.

— Estava com saudades de você, por isso chamei.

— Eu também. – Tezuka baixou os olhos para o sorvete. Terminaram a sobremesa em silêncio. E no fim, Atobe pediu a conta. Tezuka fez questão de dividir o valor, mas o preço estava tão salgado que acabou aceitando que Atobe pagasse. – Tudo bem, da próxima vez, você paga.

Era justo. Mas também para isso acontecer, eles deveriam ir a algum lugar um pouco mais simples, não um restaurante cinco estrelas. Embora aquele ali ainda estivesse no início, e não havia conquistado tantas estrelas assim, mas Keigo daria um jeito para que logo, logo tivesse.

Eles caminharam pela galeria, olhando as vitrines. Algumas coisas que interessavam Atobe, ele comprava. Tentou dar algo de presente para Tezuka, mas era quase impossível tirar dele um “Sim, eu quero”.

Talvez estivesse fazendo as perguntas erradas, oferecendo as coisas erradas também.

Atobe ligou para seu motorista, e ele apareceu em poucos minutos, levando consigo as sacolas de compras. Tezuka até havia dado por falta da limousine dele, não a vira estacionada ali por perto.

Caminharam mais um pouco, até o final da galeria, onde havia uma praça. O lugar estava mais tranquilo, poucas pessoas circulavam por ali, talvez fosse por isso que eles gostavam de ir lá. Já deveria ser a quarta vez. E era bem melhor quando não se deparavam com gente conhecida.

Sentaram num dos bancos de madeira, e observaram a fonte d'água por alguns minutos em silêncio.

Atobe passou o braço por cima dos ombros de Tezuka, que não se mexeu com a aproximação do loiro. Era um bom sinal. Só não iria abusar, para não estragar o clima.

— Preciso ir, eu disse que ficaria só uma hora fora, e ainda tenho que treinar. – ele não estava fugindo, queria ficar ali, mas ainda assim tinha responsabilidades a cumprir, e Atobe sabia mais do que ninguém o quanto Tezuka era responsável.

— Tudo bem, eu levo você.

— Acho melhor não, posso pegar um ônibus. – Disse, desviando os olhos para o outro lado, para não envergonhar-se ao olhar direto nos azuis.

— Você tem vergonha de mim, não é? – Atobe tirou o braço dos ombros de Tezuka, que virou rapidamente para dizer um não apressado. – Tudo bem, é tão constrangedor assim estar comigo? Digo, se é pelo meu carro, posso trocar.

Ah, ele era tão simples. Mas não era exatamente o carro que deixava as coisas um pouco mais complicadas. Mas pelo visto para Atobe, estar na companhia de outro rapaz em trajes escolares numa praça posando de namorados não era nada grave.

— Eu não tenho vergonha de você. Só que... Você entende não é? – moveu a mão. – Não entende?

— Acho que sim. – Atobe jogou os cabelos que caíam em seu rosto para trás. – Se não é vergonha, então é timidez.

— Não. Eu não... – não tinha como argumentar com ele. – Certo, eu posso não estar preparado para isso. Entendeu agora?

— Exatamente o que é “isso”? – Atobe virou o corpo, aproximando seu rosto do de Tezuka. – Me diz, para eu entender melhor.

— Nós dois. – as palavras saíram quase num sussurro. Tezuka fixou os olhos na pinta do rosto do loiro, para não encará-lo nos olhos. – Eu acho.

— Entendo. – ele se aproximou só mais um pouco, fazendo o rapaz mover-se no banco, e quase caindo no chão, quando não havia mais banco para sentar. Os reflexos rápidos de Atobe o ajudaram a segurá-lo rapidamente. – Então, nós dois, né? – Sorriu, aproveitando o momento para roubar um beijo de Kunimitsu, que não o impediu, ou pelo menos ate ser reerguido de volta ao banco e ajeitar-se melhor. Educadamente ele levou as mãos ao peito de Atobe, e afastou-se, desgrudando os lábios.

Claro que ele não levou a mal aquela reação, naturalmente. Não esperava outra atitude de Tezuka, estavam num lugar público, e mesmo que afastado dos demais, e envolto de algumas árvores e plantas. Ainda era um lugar público.

Tezuka se levantou, precisava mesmo ir. Mas antes, Atobe insistiu na carona, e dessa vez foi aceita.

A limousine estacionou na esquina do colégio, um pouco afastado do portão principal. Tezuka abriu a porta, esperava que Atobe dissesse mais alguma coisa, mas apenas viu um sorriso, e um desejo de bom treino. Ele desceu do carro, agradecendo pelo almoço. Meia hora depois, quando já havia se trocado no vestiário, Tezuka pegou seu celular, havia uma mensagem.

"Almoça comigo amanhã?"

"Sim. Mas dessa vez, por minha conta."

"E onde você vai me levar?"

"Não posso pagar um lugar 5 estrelas, mas vou ver o que faço."

"Confio em você, até mais."

Tezuka não respondeu, não era preciso, quando já estava bem claro qual era a situação deles. Claro que gostaria de levar Atobe num lugar tão bom quanto aquele que ele o levara. Mas qualquer lugar ficaria bom na companhia dele, esperava que o loiro pensasse da mesma forma.

Deixou o celular dentro do armário mesmo e foi treinar.

 


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Notas finais do capítulo

Hj é aniversário de Keigo Atobe, então, parabéns pra ele ♥



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