Urahara abaixou-se pegando nos braços o pequeno gato branco a quem Ulquiorra perseguia, sorrindo e ainda encarando o moreno.

– Quem é você? - O cuarto perguntava.

– Urahara Kisuke, não deve se lembrar de mim, mas cheguei a conhecê-lo quando veio aqui com seu velho amigo Yami.

– Shinigami? - Ulquiorra cerrava os punhos. - O que você quer?

– Senhor Schiffer, não quero te arranjar problema, mas... Alguém me avisou que estava vivo e aqui. Sua reiatsu tão fraca e imperceptível... - Ulquiorra mantinha-se calado prestando atenção, aquilo lhe interessava. - Nunca pensou em recuperar seus poderes e seu passado?

– Passado?

– É claro! - O homem balançava um leque branco. - Todo Hollow tem um passado.

Ulquiorra o encarou perplexo. De fato ele tinha um passado, mas sempre pensou que pelo fato de tê-lo esquecido não valia a pena lembrá-lo, mas ter seus poderes de volta seria como se libertar daquele lixo humano e inútil que ele se sentia.

– Pode fazê-lo? - O moreno mirou os olhos por de trás do leque.

– Apenas se estiver disposto.

Urahara virou-se ainda com Tsuki nos braços, o ex-cuarto espada apenas o seguiu, chegando a um "buraco" no chão que dava a uma espécie de deserto, um verdadeiro campo de treinamento.

– Vamos brincar. - Urahara sorria colocando o gatinho branco no chão.

Ulquiorra encarou indiferente, até o momento em que viu o gato, Tsuki, crescer e adquirir a forma do próprio espada. Aquele pálido, melancólico e frio arrankar havia se materializado na frente dele.

– Apenas pegue-o. – O loiro jogou uma simples katana aos pés do cuarto.

~*~

Os dias se passaram desde que Orihime olhou o apartamento vazio, Ulquiorra não havia voltado. Todos os dias ela ia até lá e tudo se mantinha da mesma forma, já havia desistido de vê-lo de novo.

– É minha culpa. – Ela dizia para o retrato do seu irmão. – Eu o forcei a ficar perto de mim e ele se irritou! O que eu faço? Ele era o único que estava cuidando de mim!

Abraçou as pernas e chorou, e em pouco tempo algo fez seu coração disparar. Não sabia ao certo o que, mas era como se uma força esmagadora a pressionasse por inteiro. Levantou assustada do chão e saindo pela porta do apartamento correndo, seguindo aquela força brutalmente forte. Era como se aquela energia a chamasse, como se ela já a conhecesse de algum lugar.

À medida que ruiva se aproximava sentia-se vacilar, tremer, a visão lhe era turva e aos poucos o corpo perdia o equilíbrio. Olhou para frente, mas a visão desestabilizada não lhe permitia decifrar aquele borrão de grandes asas escuras a sua frente sendo acertado por um feixe de luz azul. Realmente era algo muito intenso, desmaiou no meio da rua.

~*~

– Inoue? – O jovem de cabelos negros encarava a ruiva que abria os olhos com dificuldade.

– Ishida-kun? – Ela massageou a testa com os dedos sentando-se devagar.

– Você está bem?

– O que houve? Como você chegou aqui?

Ishida encarou Orihime de forma tranquila, virando-se calmamente entregando-lhe uma xícara com chá quente.

– Nada, apenas vim visitá-la e quando cheguei você estava... – Ele suspirou interrompendo a frase. – Dormindo próxima a foto do seu irmão. Seus olhos estavam um pouco inchados, então, achei que se eu ficasse e cuidasse de você ajudaria um pouco.

– Foi um sonho, então? –Pensou ela. – Por que seu braço está enfaixado?

– Ah, isso? – Ele olhou o curativo pensando em uma desculpa. – Estava ajudando meu pai no hospital quando ele virou-se com m bisturi na mão e me cortou.

– Entendo... Parece perigoso. - Realmente, ela era tontinha o suficiente para acreditar em qualquer coisa.

– Bom, infelizmente não posso mais ficar, tenho que ir até a casa do Ichigo. Trabalho.

– Entendo... Se importa se eu não for até a porta? Sinto-me cansada. – Ela recebeu de Ishida uma afirmação com a cabeça. - Até mais Ishida-kun!

– Se cuida, Inoue-san!

Ishida saiu e desceu as escadas calmamente encaminhando-se até a casa de Urahara, entrou na loja com passos firmes e fortes encarando Ichigo, Rukia, Urahara e a gata Yoruichi.

– Ishida! Você está bem? Inoue está bem? – Rukia aproximou-se

– Está ótima, parece não desconfiar, mas não me façam mentir de novo! Não suporto mentir pra ela!

– É necessário... – Urahara se escondia por de trás do leque.

– Tratam-na como se ela fosse uma garotinha fraca, por Deus! Inoue precisa saber! – O quincy apoiava-se no balcão visivelmente irritado. – E você o que tinha na cabeça quando resolveu devolver os poderes aquele arrankar?

– Ishida, acalme-se! – Ichigo encarava o amigo.

– Acalme-se? Ela já a seqüestrou uma vez, o faria de novo!

– Ele não o fará... – Urahara apenas girou sua bengala, Benihime. – Afinal, no passado dele ainda havia algum sentimento.

~*~

O grande morcego humanóide se recolhia naquele beco escuro, regenerava suas asas feridas pelas flechas azuis do quincy, respirou fundo contendo sua reiatsu, aos poucos foi emitindo uma luz esverdeada que se concentrava em seu buraco no peito, transformando-se num pequeno pingente redondo devolvendo a forma humana ao cuarto espada.

– Eu me lembro... – O rosto de Ulquiorra pela primeira vez trazia algum tipo de expressão, surpresa. – Meu... Passado.