Ulquiorra acordou sentindo-se completamente tenso, a posição a qual dormira no sofá não tinha sido das melhores. Talvez seu subconsciente tão afetado pela presença se Orihime acalentada em seu colo o impedira de se mover qualquer milímetro que fosse, adormecendo estático.

O sol frio da manhã passava pela janela, onde Tsuki encontrava-se deitado no peitoril balançando a cauda preguiçosamente, Ulquiorra ainda mantinha-se estático, observando a ruiva. A luz tocava levemente o rosto branco e delicado de Orihime, ela ainda se mantinha abraçada no moreno, apoiando a cabeça no seu peitoral e a mão direita repousada logo ao lado; Os olhos, mesmo fechados, ainda mostravam um leve e praticamente imperceptível inchaço devido às lágrimas vertidas na noite anterior. Observou-a por minutos, achou-se completamente maluco e dor da noite mal dormida falou um pouco mais alto.

– Mulher... – Ele sussurrou. – Acorde...

Ela ainda se mantinha completamente estática.

– Mulher... – Ulquiorra tentava ser delicado, tendo como resposta apenas um suspiro. Aquilo era demais e para ele quase um ato de arrogância.

Levantou subitamente, fazendo Inoue bater de encontro com a almofada do sofá.

– Oh meu Deus! – Ela levantou rapidamente no sofá. – Céus, estou atrasada, o despertador e...

– É sábado.

Orihime olhou para frente. Aquele com certeza não era seu apartamento e aquele na sua frente, realmente, não morava com ela. Jogou-se no sofá tentando assimilar todo o cenário e lembrou-se da noite anterior sentindo as bochechas queimarem.

– Eu... eu... – Ela abaixou a cabeça.

– Vou fazer o café. – Schiffer apenas virou-se. – Como gosta de panquecas?

– Não precisa eu vou pra cas... – Ela ouviu o estomago roncar recebendo o olhar de Ulquiorra. – Curry e... morangos.

~*~

– Então eles podem voltar... – O homem de chapéu verde e branco dizia.

– Não só podem como ele voltou. – A bela morena de olhos amarelos dirigia-se a ele. – Como um humano, mas estranhamente ele ainda emana uma fraca e quase inexistente reiatsu hollow.

– É provável que ainda existam poderes que podem ser despertados... – o homem apoiou a cabeça em uma das mãos.

– Eu não os despertaria, ainda é um arrankar, de Aizen!

– Yoruichi-san, se ele fosse tão mau você acha que estaria se envolvendo tão profundamente com aquela menina?

– É isso que me assusta. – A mulher de aspecto felino passava uma das mãos nos cabelos. – Nós apagamos a memória dela para que ela não sofresse com o que acorreu com ela, com o seqüestro, o cativeiro, as humilhações. Traumas que ele fez! Se ele ainda tem reiatsu hollow, ainda age como tal. Se ele já a seqüestrou uma vez e lhe fez mal ele pode fazer qualquer coisa! Ele ainda é um pedaço hollow!

– Ichigo também é. – Urahara apenas suspirou. - Se confia nele, confie em Ulquiorra.

– Mas ele não é um Vaizard, ao menos expressa emoções...

– Não dá pra expressar o que não se conhece, é tudo uma questão de conhecê-las, uma questão de ter um passado.

– Tudo bem. – Yoruichi suspirou assentindo. – Mas deixarei Yoshio de olho neles.

– Como quiser.

~*~

Orihime falava animadamente, mas já havia se acostumado ao silêncio de Ulquiorra, aquele silêncio preenchido apenas com aqueles olhos verdes e vazios que ela fitou por instantes. Levantou rápido, ajudando-o a recolher a louça do café, nem o havia agradecido, sentiu-se idiota.

– Obrigada. – Disse timidamente colocando pratos na lava-louça e olhando-o diretamente. – Obrigada por cuidar de mim. – O silêncio do rapaz enquanto voltavam para a sala, era naquele momento perturbador. – Chorei ontem, de novo, você deve achar que eu sou estúpida, além diss...

A conclusão das palavras da ruiva não foi possível, ela sentiu em seu pulso a mão gelada de Ulquiorra a agarrar e puxar para perto, enquanto a outra mão tapava-lhe os lábios com delicadeza e ao mesmo tempo revolta, fazendo com que Orihime sentisse o coração disparar e soltasse uma baixa expressão abafada e o pequeno gatinho branco no peitoril da janela levantar-se assustado.

– Chega. – Ulquiorra tirou a mão da boca da ruiva, encarando os olhos acinzentados, aproximando-se devagar do rosto de expressão assustada.

Schiffer sentia um misto de prazer e incomodo com a proximidade que ele mesmo causava, sentia a forte respiração, por sinal muito descompassada, da garota encontrar-se com a sua, tão calma e natural. Ele se aproximava sem pressa afrouxando a mão do pulso preso levando-a até o pescoço da ruiva, e puxando-a para si. Ela, por sua vez, sentia o coração saltar-lhe, sentia a proximidade dos lábios quentes dele nos seus, o espaço entre o toque era mínimo. Foram segundos que duravam por uma eternidade.

Ulquiorra fora tomado mais uma vez por sua razão, desfazendo-se daquele momento, impedindo que aquela pequena distância fosse quebrada. O moreno puxou-a pelo pulso, novamente, levando-a em silêncio até a porta do apartamento, sem dizer uma única palavra, Orihime apenas ouviu a porta ser fechada atrás de si, ainda confusa.

Ela parou ali mesmo onde ele a deixara, ela, apenas olhava o pulso marcado em vermelho, pelo formato dos dedos dele ali. Não sentia dor, nem alívio, quão menos se sentia chateada, apenas confusa. Subiu para o seu apartamento, deitando-se em sua cama.

– Eu não o entendo... – Ela suspirou para si. – Mas eu sinto que temos uma ligação muito forte.

Adormeceu, na verdade aquele cochilo durou apenas alguns minutos, sonhou novamente. Ulquiorra estava lá, se desfazendo em pedaços que ela não podia alcançar. Acordou, descendo até o apartamento dele pensando no sonho.

– Ulquiorra, eu vou te alcançar... – Ela disse baixinho, batendo na porta que não era atendida.

Inoue girou a maçaneta, estava aberta, mas não havia ninguém em casa.

~*~

O moreno corria na rua atrás do gatinho branco que escapara de casa, seguiu-o até uma velha loja, dando de cara com homem de chapéu listrado.

– Ulquiorra... Cuarto espada, hein? – Urahara encarava o ex-espada sorridente.