– Eu lembro de tudo! – A ruiva disse determinada.

– Inoue, como você, o quê... – Rukia respirava em descompasso enquanto o coração lhe batia na garganta pela visão da ruiva na porta da loja.

– Não podem machucá-lo... – Orihime encarava os olhos de Ichigo com fervor. – Eu não permito, ele...

– Te seqüestrou e pode fazê-lo de novo! – Renji gritou ao fundo. – Escute Inoue, ele é mal, ele te enganou.

– Enganar? Ele... – Engasgou, tentando segurar o choro. – Não, vocês me enganaram... – A voz saiu baixa e muito falhada.

– Inoue, nós não enganamos você. – Ichigo de aproximou tocando o ombro da amiga, encarando Rukia. – Tentamos te proteger, achamos que seria doloroso para você ter todas aquelas lembranças, nos perdoe.

– Ulquiorra voltou, está na Soul Society e desconfiamos que queira libertar Aizen. Inoue, se você se lembrou de tudo... – Rukia chegou perto da amiga. – Lembre que ele era o mais fiel.

– Rukia... Kurosaki-kun... – Encarou os olhos castanhos, aqueles olhos pelos quais havia se apaixonado. – Me deixe... Deixe-me ir com vocês.

– Inoue você... – Renji foi interrompido.

– Nos desculpe por tê-la escondido tudo. - O quincy, até então em silêncio se manifestou. - Precisamos de você Inoue, pois, somos companheiros, não é? – Estendeu a mão.

– So-somos... – Um pequeno sorriso apareceu no rosto da menina ao encontrar a mão, ainda machucada, de Ishida.

Urahara abriu o portão para Soul Society, todos entraram. Orihime olhou para trás ainda pensando em tudo que acontecera em algumas horas, lembrando-se apenas de um abraço.

~*~

– Como estamos com o arrankar? – O velho general perguntava a alguns subordinados.

– Soi Fong montou a tática, o esquadrão dois está à postos observando os movimentos do invasor.

– Algum estrago?

– Por enquanto, nenhum. Ele apenas caminha em direção a “prisão”.

– Como imaginei.

– Alguma ordem?

– Não. – O velho homem levantou. –Aqueles a quem eu esperava chegaram, chamem o substituto e os outros e mandem uma borboleta para Soi Fong voltar. Entrem.

Passaram todos eles pela porta, como nos velhos tempos aquele time estava reunido, os seis estavam lá.

– Bem-vindos, Kuchiki, Tenente Abarai, Inoue, Ishida, Yasutora e Substituto Kurosaki. – Yamamoto estava sério.

– As ordens, General.

– Kurosaki, vá aonde deve ir... – As sobrancelhas se levantaram. – Quincy, Chad, dêem a ele cobertura, Inoue se junte a Unohana. Kuchiki e Tenente queiram se dirigir aos seus devidos esquadrões.

– Entendido, senhor. – Disseram em uníssono.

~*~

Ulquiorra caminhava calmamente por dentro da floresta próxima a Hukongai, sentia aos poucos o poder daquilo que procurava emanar por perto, coberto pelas paredes da prisão onde seu antigo mestre encontrava-se. Sentia reiatsus de vários shinigamis se distanciarem, enfim, parariam de seguí-lo.

Parou debaixo de uma pequena clareira, observando o local, segurou uma grande espada com apenas uma das mãos.

– Lixo, imundo. – O moreno encarou Ichigo que forçava a Zangetsu no arrankar. – Não se atreva a me atacar pelas costas.

– Você é mesmo uma praga Ulquiorra! Quantas vezes eu vou ter que lutar com você?

– Quantas forem necessárias! – Ele repeliu a espada com a mão atirando o oponente alguns metros adiante.

– Fico feliz por ter voltado... – O ruivo abaixou a espada. – Aquela luta não foi vencida por mim, talvez, tenhamos contas a acertar... BAN-KAI!

– Tudo bem, é justo. – Ulquiorra retirou a espada da bainha transformando sua ressurrection, sabia exatamente com que tipo de oponente estaria lidando.

A investida foi rápida e em silêncio, o cero passava por Ichigo que desviava com a espada, como se o cortasse ao meio, avançando por entre a luz verde.

Kurosaki adquiriu a distância que precisava para soltar seu poder. O Getsuga Tenshou atirado de perto, um grande estrago para a asa do “morcego” a sua frente.
O estilo de luta de Ichigo não havia mudado muito, mas Ulquiorra estava visivelmente mais fraco, a reiatsu humana contida nele interferia nos poderes hollows. Era claro: um hollow era fruto de angústias, vivia e suprimia-se de maus sentimentos, como humano Ulquiorra recuperara cada sentimento bom, aquilo era um veneno para seus poderes.
Levantou-se recuperando a asa perdida, apontando para Ichigo uma das lanças de reiatsu que podia fazer, mas era fraca.
Sabia que não podia vencer o ruivo. Não naquele estado e em seu coração, pois agora ele podia se lembrar o que era um, embora negasse a si o tempo todo, sabia que Orihime amava aquele shinigami de toda a alma e não suportaria vê-la sofrer por ele novamente. Procurou atrasá-lo, causando várias explosões ao seu redor, fazendo Ichigo sumir na poeira.

– O que está havendo Ulquiorra? – Ichigo gritou. – Está fugindo da luta? Apareça e vamos terminar aquilo que começamos há um ano!

Recebeu de volta o silêncio de Ulquiorra que continuava a atirar e se afastar. Não conseguia fazer Muciélago transformar-se na segunda etapa precisava sair daquele lugar, não queria morrer, não iria morrer sem encontrar o que procurava. Aquela “brincadeira” de esconde-esconde o cansava e fazia com que ele usasse sua reiatsu ao máximo, talvez não durasse muito tempo, mas estava perto, ele sentia e tinha que continuar.

~*~

Orihime ia andando até o quarto esquadrão, até onde sabia, havia alguns poucos feridos e mesmo assim nada sério. Sentiu as reiatsu de Ichigo e Ulquiorra ecoarem por toda a Soul Society. Eram esmagadoras, como daquela vez e ela podia se lembrar. Sentiu a reiatsu de Ulquiorra cair lentamente, não podia suportar aquilo. Por mais que os amigos dissessem que ele era mau, ela guardava em si uma chama de esperança. Eles se lembravam de Ulquiorra como hollow que ele havia sido, mas ela o vira como um ser humano, aquele ser humano estranho, mas que passava suas tardes vendo filmes tentando entender o mundo que estava.

Correu deixando os cabelos ruivos embaraçarem, iria sair dali e atravessar a Rukongai inteira se preciso, os outros estariam ocupados demais para pensar em sua ausência. Seu peito subia e descia. Sorte dela, eles não estavam muito longe, ativou o Santen Kesshun a fim de repelir pedras em meio à poeira de explosões, seguindo as luzes verdes, era perigoso, mas precisava seguir. Já estava bem perto pode ver o vulto do morcego. Ela se aproximou enquanto a poeira ao redor se dissipava, Schiffer estava ofegante, o suor se misturava ao sangue que escorria dos cortes por todo o corpo. . Inoue assustou-se, era como ver a uma sompra do passado, a máscara de ossos deixou lugar para os chifres, os pelos tomavam conta dele da cintura para baixo, as asas eram imensas – embora uma delas estivesse estraçalhada. – o número quatro pousava em seu peito juntamente com o buraco na altura do coração. Olhar para aquele buraco a fazia sentir-se enjoada era um vazio que lhe tirava a paz. Ficou parada observando Ulquiorra preparar a próxima lança, ele iria atirá-la, mas os olhos dele a encontraram. Ficou confuso, a partir dali não sabia se seria uma cilada da Soul Society ou se ela realmente havia se lembrado. Encarou os olhos acinzentados da ruiva, procurando uma resposta.
– Santen Kesshun! – Ela gritou correndo para frente dele, evitando um ataque poderoso de Ichigo, que quebrara a barreira dela, mas evitara o ataque.
– Mulher, o que pensa que está fazendo? – Ele segurou-a pelos pulsos, virando-a para si.

– Abra uma garganta Ulquiorra! – Rebateu. – Abra, agora!

– Não posso, mulher! – O moreno a soltou. – Estou muito perto...

– Perto de morrer? – Inoue gritou. – Por favor, Ulquiorra, abra! Seja sensato! Ichigo está aqui, mas o que irá fazer se os outros também aparecerem? Esqueceu que acabaram com Yammy usando apenas três Capitães? Vai lidar com todos eles, agora? E Ichigo? Vai mesmo morrer assim?

Pela primeira vez na vida ele iria admitir que aquela menina a quem ele julgava tola tinha razão. Abriu a garganta e estendeu a mão para ela, ela agarrou, dessa vez não houve uma reitsu sumindo ou o corpo se tornando pó. Ulquiorra, enfim, pode sentir aquele toque.