Boa Noite escrita por Cathy Thesaurus


Capítulo 1
Capítulo 1




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- Boa noite, House.

Ela entra na casa, encosta na porta e permanece por alguns instantes recompondo-se.

Então caminha para a sala para seu encontro tentando apagar House de sua mente por apenas mais uma noite.

- Nós não seremos incomodados novamente.

Don já está calçando seus sapatos.

- Está tarde, eu deveria ir.

- Por quê?

- Porque eu reparto meu cabelo para a esquerda e sou um mimado.

- Você escutou a conversa... – ela cobre os olhos com as mãos, nunca esteve mais envergonhada, o tipo de conversa que ela teve com o House era uma daquelas onde só eles importam e que ninguém, nunca, nunca, NUNCA fica sabendo – Eu não estou interessada nele – disse mais para convencer a si mesma que seu encontro.

- Eu não lhe culpo.

- Eu só disse aquelas coisas para ele não voltar.

Ela não era de se humilhar por ninguém, muito menos por homem, apenas... House não iria estragar mais uma coisa na sua vida, ela não podia permitir isto.

- Eu não ligo para o meu trabalho. Eu o executo bem. Mas meu ideal sempre foi juntar dinheiro o suficiente para as coisas que eu realmente gosto. Música. Viajar.

- Eu também gosto dessas coisas. – isso não era uma mentira.

- Você gosta delas, mas elas não são realmente importantes para você. Eu não sei se é o House, sua profissão, ou se você só necessita de conflito, mas... Você devia se ouvir falando com ele. Nada mais no mundo está acontecendo. Você é focada, confiante, convincente. Não... Não tome isto de maneira errônea, mas eu gostaria de sair com aquela mulher.

- Eu podia lhe arranjar o telefone dela. – essa é a maior humilhação da sua vida.

Quando aquele homem vai deixar sua vida em paz?

Ela não podia acreditar, ela precisava se libertar, mas todo seu casulo, toda sua proteção mantinha-se forte, estática, não quebrava nem ao menos naquele minuto em que ela necessitava romper em lágrimas, plantar soluços e gritos que ecoassem por sua casa vazia, sua casa feita de luxo, riqueza e nada.

House resolve todo o caso e vai tomar café da manhã com Wilson.

Eles conversavam leviandades, descompromissados de tempo e sentimento até que James lembra-se de algo que acontecera mais cedo e resolve tocar no assunto, mesmo sabendo que talvez fosse arrepender-se.

- Agora falando sério House, o que você foi fazer na casa da Cuddy?

- Nada além do meu dever de cavalheiro – fala exibindo um sorriso satisfatório no rosto.

Apesar de que as palavras dela martelavam na sua cabeça ele se sentia completo, tinha quase certeza que acabara com o encontro.

- Você foi acabar com o encontro dela não foi?

Todo o café que house tomava saiu por sua boca.

- Você sabia do encontro?

- Claro que sabia – e continuou tomando seu suco como se nada tivesse acontecido.

- Como você sabia?

- Ela me contou. Por que não contaria? Ela só não confia em você, em mim acho que sustentamos uma excelente amizade.

- Por que não ME contou?

- Porque ela quer fugir de você house, pessoas normais gostam de seguir em frente depois de lhe conhecer!

Estava muito próximo de amanhecer, mas ele não ligava, uma raiva descomunal tomou conta de si e levantou caminhando para fora da lanchonete.

- Aonde você vai? – pergunta Wilson.

Ele não responde apenas continua caminhando até que chega ao estacionamento do hospital novamente e sobe em sua moto.

Ele rapidamente chega ao bairro residencial onde ela morava e o dia ainda não havia nascido no horizonte.

Ele bate na porta repetidas vezes, sem resposta. Ela ouvia as batidas, mas não tinha forças nem coragem para levantar dali, não depois de perceber que seu único relacionamento amoroso seria House pelo resto da vida.

- Eu preciso sair daqui. – ela se vira tapando os ouvidos com o travesseiro, mas de nada adianta, as batidas não cessam.

Ele começa a procurar pela chave reserva, bem procurar no sentido figurado já que sabia exatamente onde achá-la, embaixo do tapete. Entra, larga sua mochila no corredor e apenas fecha a porta, não a tranca.

Olha para as duas taças que permanecem meio-vazias na mesa de centro, uma delas com uma marca singela de batom.

A madeira da lareira tornara-se apenas algumas cinzas e a sala permanecia abafada apesar do frio que fazia do lado de fora da casa.

Ele caminha mancando muito, massageando a perna numa pausa entre o corredor e a porta do quarto dela.

Ele adentra o quarto, ela nem vira apenas solta um suspiro cansado, farto, pesado e um solitário soluço.

Pisca lentamente como se tentasse formar uma visão limpa de lágrimas e focalizar muito mais do que só os móveis como o que havia dentro de si.

- O que você faz aqui?

- Preciso saber se uma coisa é verdade.

- O quê? – ainda sem se virar. Ela não agüentaria olhá-lo nos olhos, sentir aqueles olhos azuis nas suas costas e o calor de um olhar que não podia dividir já era o suficiente.

- É verdade o que o Wilson me disse?

Ela tentava formar em sua mente o que o Wilson deve ter dito a ele. No dia anterior eles haviam conversado, em nenhum momento ela contara os detalhes do que foram os dois, apenas o superficial e que queria seguir em frente, seguir em frente das investidas autodestrutivas dele, seguir em frente das investidas de um retorno do que nunca foi.

- É verdade que você quer me esquecer? Come’on Cuddles, você é um homem ou um rato? – pára por um segundo – não era exatamente isto, mas... Você deve ter entendido.

Ela solta uma gargalhada oca, sem sentido, apenas por ter uma vontade sem lógica de rir daquilo.

- Do que você está rindo? Eu não sou tão engraçado assim.

Ela senta na cama olhando para ele e revelando suas olheiras pesadas, as manchas vermelhas no rosto inchado, os olhos demonstrando um choro de anos guardados, olhos de ressaca, olhos vazios e sem o brilho rotineiro.

- Eu estou rindo da única coisa realmente engraçada aqui, o nível de humilhação amorosa patética a que eu me submeti com o passar dos anos. Rindo do fracasso que meu encontro foi porque a mulher que ele queria é a que eu sou com você e inconscientemente essa eu separei e isolei é só tua.

Um silêncio invade o quarto junto à leves feixes de uma luz amarga dum começo de dia melancólico.

Ele se põe do lado direito da cama e ela fica olhando para ele diretamente sem entender, sem querer realmente compreender o que foi aquele passo.

- Você precisa dormir.

Ela derrama algumas lágrimas que são mais rápidas que seu cérebro.

Ele se deita e a puxa para aninhar-se em seu peito.

- Nada sexual certo?

Antes que ele possa a responder, ela cai num sono pesado e farto.

- Boa noite.


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