Faz um tempo que estou governando esse país. E eu nem ao menos sei quanto tempo. Mesmo sendo a rainha, eu nunca entendi o que ocorre por aqui. Só posso dizer, sem querer gabar-me, que eu acho que tornei esse país melhor. Antigamente, quando vim parar aqui, era totalmente silencioso. Uau... “Antigamente”? Eu usei essa palavra?

-Vossa majestade, vossa majestade! -Sim? -Há plebeus oferecendo seus devidos biscoitos à você. -Ora, ora. Aceito. -Vou trazer imediatamente. Enquanto espero meu servo trazer os biscoitos à mim, vou aqui no jardim. Ele que me procure depois. Bem, as pessoas me elegeram a rainha por eu ter mudado esse local, não foi grande coisa, mas pra eles acho que sim. Como sou a rainha, tive de jurar nunca abandonar meu reino até a morte. Não, acho melhor não parar por aí. Eu quero até mesmo depois da morte... Governar. As pessoas por aqui são de todo, muito bondosas. Pelo menos comigo. Ah, os biscoitos chegaram! -Vossa majestade, onde estás? -Aqui no jardim, Heiji! -Ah! Seus biscoitos! Só um instante – E vem correndo até mim, sim, os biscoitos caem assim que ele tropeçara, eu já imaginava isso. – Ah... Desculpe, vossa majestade. -Tudo bem. Não tem problema. Pode voltar pro seu serviço. -  E levanta-se. -Mas vossa majestade não irá ficar faminta? -Não, estou bem. -Certo. Com licença, me retirarei.

E sai andando. Heiji é o meu servo fiel. Pelo menos acho que é, ele está comigo desde que acordei aqui. Não acordei exatamente nesse castelo, eu acordei... Aonde mesmo? Impossível. Passara tanto tempo assim? Não, não. Eu devo ter memória fraca mesmo. Só lembro que foi ele quem me trouxe até a vila, na qual todos elegeram-me rainha.

Pra expressar meus pensamentos e refletir na vida, é só neste meu jardim florido mesmo. Sempre penso em quem foi a rainha antes de mim. Creie ou não, quando comecei, esse mundo pareceu tornar-se verde.

Cada rosa daqui, parece não ter na parte de fora dessa vila. Pelo menos desse detalhe, eu me recordo. A única coisa que não gostei daqui, é ficar presa nessa vila e principalmente, nesse castelo. Sempre tenho a mesma rotina de sempre. Acho que minha cabeça estava um tanto quanto afetada quando aceitei reinar por aqui. Mas como eu disse, tenho orgulho do que faço. Sim, eu sinto saudades de meus pais. Não sei onde foram parar. Heiji disse que chegaram à falecer em um acidente de avião. Mas não acreditei muito não.

Ei,  o que estou fazendo nesse jardim? Só agora que eu vim me tocar que EU sou a rainha de verdade, EU que ordeno, não sou uma princesa que fica presa no castelo porque os pais mandam? Idiota. Isso que eu sou. Sempre estive pensando em quem era a antiga rainha e outras coisas do tipo relacionado à este mundo. Sempre quis me lembrar também como vim parar aqui. E, para isso, terei de ir vila afora. Assim que todos estiverem dormindo, eu fujo... Não acredito que sou tratada como uma simples princesa. Só porque o Heiji é mais velho... Ele acha que pode me dar ordens? Heiji... Eu nem o conheço direito. Bom, é bom eu dar uma volta na vila agora para projetar direito meu plano de fuga. Logo, logo eu volto mesmo.

Agora estou caminhando em direção à porta de saída.

-Onde vossa majestade vai? -Sair. -Não saia da vila, vossa majestade! É arriscado! -Certo.

Arriscado... Hunf! O que pode ter por lá? Que eu saiba, este é um país muito bem seguro. Porque eu contratei bastantes seguranças. Se bem que eu acho que só governo de verdade, essa comunidade.

Estou saindo do castelo agora. Caminho, caminho, são tantas pessoas me olhando... É como se fosse um feitiço feito por mim. Eu acho tão legal isso. Eu tenho um naipe de paus em minha mão, verde e parece tatuado, eu também tento decifrar o mistério dele, ou seja, o porquê dele estar logo aqui. Que eu saiba, ele está aqui desde que cheguei. Mais um detalhe.

Está escurecendo... Eu sei disso porque todos estão se recolhendo. Todos acenam com suas mãos à mim, outros mandam-me beijos, alguns me agarram... Eu realmente sou bastante querida. Esse país não tem hora e nem ao menos mudança climática, ele é sempre um pouco escuro. Acho que as pessoas se recolhem quando dá sono nelas. Acho que não tem ninguém observando agora... Dá para eu sair tranquila. E então, saio em busca de algo diferente de minha vida monótona.

Confesso que ao olhar para a vila fora dela, me causou arrepios na espinha. Ora, eu sou dona desse país. Não há nada a temer, não é? Ando, ando, ando. À quanto tempo andei? Eu perdi a vila de vista, como pode? Quase nesse momento mesmo eu comecei à andar... Sim, eu me perdi. Encontro-me nessa floresta fechada.

Um espelho? ... O meu estado está horrível! O que houve com meu rosto?! Meus olhos que costumam ser verdes, estão vermelhos... Sangue? Sangue pingando no espelho?! Eu... Eu acabei de sair de onde eu estava! Como tudo tão derrepente?! Eu quero voltar pro meu reino! Não vou perder para isso! Eu vou governar  até o fim, e esse não é meu fim!

Mas... Não resisto, devo olhar para cima para ver de onde pinga tanto sangue... Mais... Mais um espelho? Essa sou eu... Eu estou sangrando?! Minhas mãos estão realmente sangrando. Mas não vejo sangue no primeiro espelho... Nem vejo sangue escorrendo de minha cabeça... Estou assustada... Socorro... Socorro... Salvem a rainha. Corro, mas dou de cara com mais um. Nesse, eu estou bem. Estou confusa. O que realmente acontece comigo? Qual espelho é o verdadeiro?! Percebi uma coisa... O naipe está brilhando. E quanto mais brilha, mais dói. Dói tanto que essa dor me leva ao chão. Acho que o espelho de cima é o certo. Eu estou morrendo? Minha cabeça sangra assim que eu a toco. Quem... Quem é a pessoa à minha frente? Uma... Menina?

-Olá, Miku.

Ela está sorrindo... Ela possui uma faca... Por que? Quem é? O que eu fiz para merecer isso?

-Q-Quem é você? Me faça voltar para meu r-reino, rápido, p-por favor! Eu sou a rainha, já que você sabe meu nome, d-deve saber d-disso! -Ora, ora. Não faça tanto esforço ao falar, minha querida. Além do mais, são seus últimos suspiros, guarde para você. Sim, você está certa, o espelho de cima é o correto. Impressionante, não? -P-Por que? -Shiu, silêncio. É rápido. Você não sente muita dor assim que o ataque é logo no seu ponto vital, o coração.

Ela dissera isso com tanto orgulho... Não consigo ver direito o rosto dela, mas se não me engano ela lambeu a faca... Está tudo embaçado... Só vejo algo vindo em minha direção. Acho que... Chegou meu fim. Mas, tão derrepente assim?!

-Vossa majestade! Vossa majestade, desperte! Já é tarde! -H-Heiji? -Você dormiu muito, vossa majestade. Estava preocupado. -Dormi?!  -Sim. Por que o espanto? Você está bem,  vossa majestade?! Está pálida! -E-Estou. Foi só um pesadelo! -Ah, tudo bem, então... Ah, olhe... Essa é menina fez uns biscoitinhos à você... E fez questão de trazê-los! -Ah... Olá. -Olá, Miku-sama.  – A garota retirou o chapéu de sua cabeça, e logo pude reconhecer, apesar da imagem estar meio embaçada, eu vi que era a pessoa que estava em meu sonho, ou melhor, pesadelo. Estou com calafrios, dor de cabeça, estou com medo... Muito medo! -O QUÊ?! O que faz aqui?! Heiji, prenda-a. HEIJI, FAÇA ALGO! ELA TENTOU ME MATAR! EU SEI QUE FOI ELA! -Hã? V-Vossa majestade?! -HEIJI, TIRE-A DAQUI, É SÉRIO! É MUITO PERIGOSO! -Perigoso por  quê, Miku-sama?   -NÃO, NEM VENHA! ESSE ROSTO ANGELICAL NÃO ME ENGANA! SOCORRO, GUARDAS!!! -V-VOSSA MAJESTADE! Por que está gritando? -ELA TENTOU ME MATAR, você quer o quê? -Deve ter sido só um p-pesadelo, vossa majestade. -MAS FOI COM ELA, TENHO CERTEZA! UM PESADELO ASSIM, NÃO É UM BOM SINAL! E se for uma visão?! E se ela estiver planejando me matar?! -N-Não está. Ela é da vila. -Daqui?! Impossível!!! Nunca a vi!!! -Como não, Miku-sama? -Sai, para fora! Estou ordenando! Sou a rainha, obedeça-me!!! -Certo, Miku-sama.... -Mas... Vossa majestade, são só uns biscoitos... -FORA! OS DOIS! ANTES QUE EU MATE A VOCÊS! -  Pego minha arma. -V-Vossa majestade! C-Certo! Abaixe essa arma, por favor!

Finalmente foram embora. Eu sei, eu sinto que ela vai me fazer algo! Não, não vou perder meu cargo de rainha tão cedo! Nunca!  Nada... Nada... -NADA E NEM NINGUÉM VAI ME SEPARAR DESSE MEU DESTINO DE GOVERNO! O que é isso? M-Meu coração dói. Como se eu estivesse levando uma pontada enorme nele.

-S-Socorro! S-Socorro!!!

Minha voz está desaparecendo... Vejo pessoas entrando, me colocando numa camisa de força... Ei... -O que é isso?! Quem deu permissão?! -A outra rainha também acabou assim... -É, coitada...

Não me ouvem? Estão me levando para um... Calabouço? É isso que estou vendo?! Eu não sabia que havia isso no subsolo do castelo!! -Desculpe, rainha. Mas as pessoas que se tornam assim nesse reino... Tem de serem castigadas, se não cometem algum delito... Que algum dia podem se tornar enormes...

Não! Eu não estou louca! O certo é prederem aquela menina! Ela quem quis matar! Eles definitivamente me largaram aqui... A porta está aberta, há tempo de fugir! Talvez assim que eu fuja, dê tempo de chegar em outro país, conquistar as pessoas e reinar por lá! É isso!!! Mas... Heiji? É ele que está vindo em minha direção? Está sorrindo?

-Sabe, Miku. Tudo não passou de uma farsa. Você nunca foi rainha de verdade. Foi tudo um plano. Plano?! Que história é essa?! Uma... Injeção? O que tem nessa injeção?! Ai, as pontadas no meu coração ainda continuam aparecendo... -Meu nome não é Heiji. E eu nunca fui seu servo. Bom, agora, nem adianta eu contar tudo à você. – Ele dizia mexendo na injeção... Eu estou com muito medo... – Mestra. -Já?... Pensava que já tinha dado o fim nela.

Sabia... Eu sabia que era ela! Desgraçada!!! -Calma. -Veja, ela disse que teve um pesadelo comigo. Por que será? -Não sei.

Ele chegou mais perto de mim. E me aplicou a injeção no pescoço... Eu, eis em que minhas últimas palavras... Consigo dizer:

-Eu... Quero continuar reinando. Pra sempre...  -Claro... Até mais, Miku.

Escurece, tudo escurece num só segundo.

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O que é esse país que é denominado “País das Maravilhas”? Não seria “dos Horrores”? A menina, por mais incrível que pareça, concedeu o desejo de Miku. Deixou ela trancada no calabouço para se decompor por lá mesmo... A cadeira realmente era um trono real... Mas a única vista que aquele corpo obtinha, era o da porta. Mas do mesmo jeito, as “pessoas” por lá, se sentem observadas. Mesmo sem rainha ou rei sequer. Não pelo corpo, mas talvez, pelo espírito  de Miku... Ou não.