Capítulo 96 - Temporada de caça ao esquilo

- O QUÊ?! - exclamou nossa querida diretora Silvia após Wilson sugerir em ajudar a caçar um esquilo que por alguma razão invadira nosso colégio - Querem perder aula para ajudar a pegar um o quê?

- Um esquilo, dona Silvia! - disse tia Sonia, a tia da limpeza que viu com seus próprios olhos a estranha criatura que entrou pelos protegidos portões da Megatec - Tem um bicho desses andando por aí!

- Um esquilo? E desde quando existem esquilos nessa região? - questionou a bela diretora, ainda cética quanto ao assunto.

- Ouvi dizer que há um parque no centro da cidade. Algum pode ter escapado pra cá - comentou o vice-diretor Ruy, enquanto via alguma coisa no computador.

- Silêncio, vice-diretor! - gritou Silvia. Ruy apenas voltou a teclar sem falar mais nada (e pensar que um dia ele foi diretor e deixava as coisas naquela escola bem mais nas coxas).

- Tá, mesmo supondo que haja um esquilo, não implica que deveria deixar vocês se envolverem nisso - raciocinou a sempre sensata diretora - É o primeiro dia de aula e não deveriam faltar assim sem mais nem menos.

- Não é sem mais nem menos - interferiu Wilson - Uma criatura estranha na escola pode interferir em muito no nosso aprendizado. Deveríamos nos livrar desse inconveniente para nos dedicarmos à nossa educação com toda a tranquilidade possível.

 Muita cara de pau. E eu estava no dilema: matar aula ou plano do Wilson? Por mais que fosse interessante matar aula...os planos do Wilson sempre me faziam preferir mil vezes estar sentado tranquilamente na cadeira da sala de aula vendo o quanto as partes da célula são emocionantes. Além disso, caçar um esquilo poderia ser arriscado (eles devem morder, não?).

- Boa tentativa, Wilson - disse a diretora, esperta o bastante para não cair naquela conversa - Mas não vou permitir que percam aula por conta de um assunto desses. Deixe isso para os adultos.

- Tem certeza? Podemos ser úteis nisso - continuou Wilson - Até conseguimos pegar o estagiário fantasma uma vez!

- Estagiário fantasma? - estranhou a diretora.

- Err...é só imaginação deles - interviu o vice-diretor - Mas a diretora está certa, Wilson. Podem ir para a aula que nós tomamos conta desse assunto.

- Isso mesmo - disse a diretora - E vão logo para a aula, ou vão perder o sinal dos dez minutos de tolerância.

- Além disso, pode demorar para a gente encontrar o safadinho - falou tia Sonia - Ele saiu correndo e não temos a menor ideia de onde ele pode estar.

- Err...diretora - disse Demi, apontando para a mesa da diretora - Deveria olhar ali.

 Ao voltar os olhos para sua mesa, diretora Silvia deu de cara com o bichinho. Era mesmo um esquilo, daqueles marrons e peludos, comendo algum tipo de amendoim (não era noz) em cima da mesa dela.

- É mesmo um esquilo! - exclamou a diretora - Em cima da minha mesa! Como pode?

- Eu pego o danado! - disse tia Sonia, mas nesse exato instante o sinal dos dez minutos de tolerância toca, assustando o esquilo que sai dali correndo rapidamente. Wilson até tentou pegá-lo, mas atividades físicas não era muito o forte da nossa turma. Resultado: agora a diretora sabia que o bicho estava solto pelo colégio.

- Então tem mesmo um esquilo solto por aqui? - disse a diretora - Isso pode dar confusão.

- Ainda bem que os alunos estão nas salas - disse o vice-diretor.

- Nem todos - falou a diretora, olhando para nós - Vocês acabaram de perder a primeira aula.

- Tudo bem - falou Wilson - Agora a senhora não tem mais desculpa para nos impedir de ajudar na caçada.

- Acha mesmo que vamos conseguir pegá-lo? - perguntei - Ele corre muito mais que todos nós juntos.

- Ora, Daniel. Nós somos animais racionais. Nossa inteligência supera a velocidade de qualquer esquilo.

- Então você tem algum plano? - perguntou Demi.

- Opa. Claro. Venham comigo.

- Ei, eu ainda não liberei vocês! - disse a diretora.

- Diretora, tem um esquilo solto por aí. Vai mesmo nos prender aqui? Nossa ajuda pode ser muito útil! - disse Wilson, sempre assumindo a liderança.

- Como posso garantir que não vão matar a segunda aula e... - a diretora parou de falar ao olhar para sua cadeira.

- O que foi, diretora? - perguntou Demi.

- O esquilo...fez xixi na minha cadeira! - exclamou a diretora. O vice-diretor não resistiu em dar uma risadinha.

- Que coisa. E olha que ele estava no banheiro há pouco tempo - comentou Jorjão.

- Droga. Tá bom. Podem ajudar a pegar esse esquilo. Quero ele fora daqui ainda hoje. Vou ligar para um veterinário agora mesmo!

- Deixa com a gente, diretora! - disse Wilson confiante, embora eu não tivesse tanta confiança assim. Pegar animais nunca é muito fácil. Ainda mais quando são pequenos e rápidos. Não demorou muito para a gente estar no meio do pátio, escondidos embaixo de uma mesa e segurando uma cordinha presa em um bastão que segurava uma caixa com um pouco de amendoim embaixo.

- Agora é só esperar o bicho aparecer - disse Wilson.

- Esse é o truque mais velho do universo - comentei - A seleção natural já deve até garantir que os animais não caem mais nessa.

- Será mesmo? Um clássico desses não deveria falhar.

- Há grandes probabilidades de funcionar - disse Karina - Considerando que o esquilo esteja com fome.

 Nisso ouvimos um ronco. Era o estômago do Jorjão.

- Foi mal, gente. É que ver esse amendoim ali me deu fome.

- Nem vem. Ele é a isca para pegarmos o esquilo - falou Wilson - Ele não deve resistir ao amendoim, e...

- Não é ele ali! - falou Demi, baixinho, mas forte o suficiente para chamar nossa atenção. Wilson puxa a corda, mas, no fim, o bicho foi mais rápido.

- Ele..escapou bem rápido, né? - falou Wilson.

- Será que não puxou rápido o suficiente? - perguntou Demi.

- Eu disse que não ia funcionar. Precisamos pensar em outra coisa - comentei.

- Ele correu assim que sentiu que a caixa ia cair - comentou Jorjão - Nunca pensei que fosse desistir da comida tão rápido.

 Alguns animais preferem a sobrevivência do que a comida. De qualquer forma, ele estava solto de novo e tia Sonia já estava preparada para tentar capturá-lo na unha mesmo, bem, na verdade ela tinha uma rede, dessas  de limpar piscina, mas que caberia perfeitamente um esquilo.

- Ali! Está indo na direção da tia Sonia! - falou Wilson.

- Ah, agora eu te pego, danadinho - disse ela - Eu já corri atrás de muita galinha quando era pequena.

 Mas o esquilo escapou rapidamente assim que viu a rede se aproximando, correndo para as escadas e subindo para os corredores das salas de aula.

- Droga. E demorou tanto para eu achar essa redinha - reclamou tia Sonia.

- Está indo para o corredor de cima - falou Wilson - Lá ele não tem muito para onde fugir.

 Nisso, diretora Silvia apareceu no pátio, obviamente exigindo resultados.

- E então? Conseguiram localizar o esquilo? - perguntou ela.

- Bem...localizar, sim - falou Wilson - Agora pegá-lo...bom, isso está mais difícil.

- Eu liguei para o veterinário, mas ele vai demorar um pouco pra chegar - explicou a diretora - Mas precisamos pegar o esquilo até lá. Onde ele foi?

- Para cima - respondeu Demi, apontando para as salas de aula.

- Para as salas de aula? - espantou-se a diretora - Bom...nem todos os professores deixam a porta aberta, então talvez ele não cause tanta...

  Mas logo um monte de alunos gritando negaram tudo que a diretora estava dizendo.

- ...confusão -  Silvia terminou a fala, com vários gritos e alunos correndo atrás do esquilo.

- É um esquilo? - disse algum dos alunos.

- Foi tão rápido que achei que fosse um rato - disse outro.

 Desnecessário dizer que não dava mais pra ter aula nenhuma naquela escola.

- Droga. Mas pelo menos agora podemos ganhar mais força - disse a diretora.

- Como assim? - perguntou Wilson.

- Hora de usar uma das maiores armas de uma diretora - disse ela, voltando-se para trás imediatamente. O que ela quis dizer com aquilo? A confusão nas salas continuava.

- Desse jeito todo mundo vai começar a correr atrás do esquilo - comentou Jorjão.

 Profeta Jorjão...mal sabia ele o quanto estava certo. Poucos instantes depois de dizer aquilo, ouvimos alguma coisa pelos alto-falantes do pátio (coisa que raramente era usada).

- Atenção a todos! - era a voz da diretora Silvia - No momento, temos uma emergência que nos impede de continuar com o bom andamento das aulas.

- Eu falei que era uma emergência, não falei? - disse Wilson - E ela achando que eu queria enrolar.

- Shhh. Vamos ouvir o resto - reclamei.

- Um esquilo de pelagem parda e aproximadamente do tamanho de um gato está perdido pelos corredores do colégio. Peço que todos mantenham a calma e que fiquem em seus lugares. Estamos trabalhando para capturá-lo e entregá-lo a profissionais capazes de lidar com ele. Por favor, repito, mantenham a calma.

 Você acha mesmo que dá para continuar tendo aula sabendo que uma coisa tão incomum está acontecendo? Claro que todo mundo ficou totalmente alvoroçado.

- Será que a gente ganha alguma recompensa se pegar o esquilo? - comentou algum aluno.

- Sei lá, mas e se ele morder? - disse outro.

- Ei, gente, ele tá correndo por ali! - falou outro aluno.

 O bichinho era mesmo rápido. Talvez algum tipo de esquilo atleta. Se humanos atletas já davam um baile na gente, imagina um esquilo atleta? Talvez fosse um bom personagem novo para uma tirinha, mas Wilson pensaria nisso depois. No momento, ele estava mais interessado em capturar o esquilo.

- Deve ter outro jeito de pegá-lo - comentou Wilson - Precisamos pensar em alguma coisa diferente.

- Talvez seja melhor pensar em outro jeito de atraí-lo - comentei.

- Isso. Você sempre tem as melhores ideias, Daniel. Vamos pensar em outra armadilha! - disse Wilson, totalmente animado.

 E o primeiro dia de aula continuava inusitado. A temporada de caça ao esquilo continuava.