Capítulo 79 - Tazi Lendário

 Ainda estava custando a acreditar que o objeto em minhas mãos era um Tazi de Diamante, o Tazi lendário que Cássio havia comentado. Então ele existe mesmo. E estava ali. Jogado no chão como se fosse um lixo qualquer em plena era de febre! Como alguém teve a capacidade de deixar escapar uma preciosidade dessas? A pessoa não pode simplesmente ter vacilado e perdido algo tão valioso assim, a menos que fosse alguém sem consciência disso. Sim. É possível. A pessoa devia ser um adulto ou algo assim sem interesse nenhum em Tazi. Deve ter ignorado o disquinho e se preocupado só com os salgadinhos. Se bem que, nessa época, nem o Jorjão estava preocupado apenas com salgadinhos. Ah, cara, eu não tenho ideia! Só sei que o bichinho estava ali, na minha mão! Um Tazi de diamante e nem número tinha. Devia ser um dos únicos 4 lançados no país todo. Meus olhos brilhavam (tá, não podia ver minha cara, mas provavelmente estavam brilhando).

- Tem certeza de que está bem, filho? - minha mãe torna a perguntar - Está aí há um tempão com essa cara de quem viu assombração.

- Não é bem uma assombração, mas é algo muito raro - falei.

- Raro?

- Nada demais...vamos então, mãe? Hehe!

 Chegano em casa, corri para o meu quarto e guardei meu Tazi de diamante junto aos outros. A ideia da nossa sociedade era ter todos os Tazi em equipe, sendo assim, todos do grupo poderiam ser Tazi Masters porque todos teriam os mesmos direitos sobre os Tazi. Só que...aquele Tazi lendário...foi achado no meio da rua. E fui eu que achei. Que outra criança no mundo teria a mesma chance? Só existiam quatro daqueles no país inteiro! Mas se eu deixasse alguém saber que eu tinha um Tazi desses quais seriam as chances de perdê-lo? Mesmo tendo a invencível Demi na nossa linha de ataque, não dá para confiar nos alunos mal-intencionados daquela escola. É verdade...precisava manter segredo. Isso. Isso mesmo. Para todas as hipóteses, eu não tinha um Tazi lendário. O melhor a fazer seria guardá-lo e revelar isso apenas quando a febre tivesse passado. Quem sabe eu não poderia vendê-lo por uma grana boa? É. Tem colecionadores para tudo nesse mundo. Quem sabe e...

- Nossa, é um Tazi de diamante! - exclamou uma voz irritante logo atrás de mim. Arrepiei até o último fio de cabelo, mas era só a minha irmã mais velha.

- Ah, Marcela! - reclamei ao vê-la - Não bate antes de entrar, não?

- Mas a porta tava aberta - argumentou ela - E...nossa...é mesmo um Tazi de diamante!

- O que você sabe sobre Tazis?

- Ah, é só obsrevar o que você anda fazendo ultimamente...sempre levando esses Tazi de um lado para o outro, mas até agora só vi Tazis de bronze, prata e ouro. Nunca pensei que tivesse de diamante também.

- Anda bisbilhotando a minha vida, é?

- Ah, cala a boca..tenho mais o que fazer. Não tenho culpa se você vive mexendo nessas porcarias de disquinhos o tempo todo.

- Bom, não é nada demais - falei - Pois é, tem de diamante também...assim como os outros.

 Não podia dar bandeira de falar que era um Tazi super raro. Afinal, não de pode confiar em ninguém hoje em dia (principalmente se for sua irmã).

- Ah, é? Então tá.. - ela parecia meio desconfiada.

- Veio aqui só pra me encher o saco, é? - nessa hora, já estava segurando meu Tazi de diamante com todas as forças.

- Só vim pedir emprestado umas pilhas. Eu sei que você tem alguma sobrando por aí, não tem?

- Ah, tenho. Toma aqui e some do meu quarto!

- Tá, tá bom. Já tô saindo. Garotinho estressado, heim?

 Ela saiu do quarto, mas ainda não me sentia seguro. Com uma irmã daquelas, não duvido nada que ela pesquise sobre os Tazi de diamante lendários e tente me convencer a vendê-lo para ficar com parte do lucro. A Marcela não dava ponto sem nó, então, por via das dúvidas era melhor manter meu precioso Tazi em lugar seguro. Deveria levá-lo sempre comigo? Talvez...desde que eu nunca levantasse suspeitas de que tinha um Tazi de diamante sob o meu poder...sim, é isso. Peguei minha mochila do Capitão Zoing (ainda não descobri quem é esse personagem, mas que a mochila era resistente, era) e coloquei o Tazi em um dos bolsos mais escondidos dela. Tudo que precisava fazer era fingir que não tinha um Tazi lendário, esquecer que ele existia. Nunca ninguém tomaria ele de mim se mantivesse esse cuidado.Para todos os efeitos, eu não tinha Tazi de diamante nenhum!

 Perfeito. O plano parecia ter tudo para dar certo. Tudo estava tranquilo. No dia seguinte, fiz o caminho para o pátio de maneira ainda mais cuidadosa. Tudo bem. Ninguém sabia sobre meu Tazi de diamante, mas, por alguma razão, estava meio paranóico. Calma, calma. Precisava me manter relaxado. Não é como se alguém soubesse o que estava guardando. Afinal, quem suspeitaria de que um cara como eu estivesse escondendo alguma coisa?

- Daniel 

- Aaah! - gritei de susto. Era a Karina. Aquela que sempre chega de mansinho - Karina! Que susto!

- Oh, desculpe. Mas mesmo quando apareço assim, você não costuma se assustar tanto.

- Acho que hoje estou um pouco mais distraído.

- É? Por quê?

- Não sei...estou com a cabeça em outro lugar...pensando no sentido da vida...algo assim..

- Oh, entendo - disse ela, sem esboçar muita reação. Não sabia se ela acreditou em mim ou não, mas, seja como for, mudou logo de assunto.

- Começamos mais um dia...e teremos mais batalhas de Tazi, não é? - comentou ela.

- T-Tazi? Ah, sim...Tazi, não é? Hehe!

- Sim, Tazi. É a febre do momento, não? Como previsto, todos estão envolvidos por ela.

 Olho para o pátio e, de cara, vejo várias rodinhas de alunos fazendo as "batalhas de Tazi". O pátio realmente havia se tornado um campo de guerra onde os Tazi se tornaram o objeto principal. É, parceiro. No mundo aí fora, o dinheiro pode mover o mundo, mas nos limites da escola a moeda de troca é o Tazi. Ter Tazi é ter poder!

- Amigos! E aí? - Wilson se aproximava de nós, acompanhado de Jorjão, devorando um pacote de salgadinhos logo de manhã - Tivemos sorte...Jorjão comprou um salgadinho logo de manhã e achamos um Tazi de ouro.

- Esse a gente ainda não tinha - comentou nosso comilão amigo - Com isso, já temos mais de 10 Tazis de ouro diferentes

- Pela raridade deles, é um bom número. Sinto que nosso rank de guerreiros de Tazi está aumentando. Nossa gangue já deve ter um bom respeito por conta disso.

- Oi, gente! - agora foi a Demi quem chegou. Levei mais um susto nessa - Nossa, Daniel. Que susto, heim?

- É...pois é..hehe - respondi - Hoje estou meio distraído...

- Ah...toma cuidado - disse ela, com aquele jeito fofo de sempre.

- Tudo bem...às vezes fico meio aéreo mesmo - foi o que respondi. Que droga. Eu devia estar me sentindo seguro. Nunca ninguém iria descobrir que eu tinha um Tazi lendário se mantivesse meu bico fechado. Mas por outro lado, se contasse que tinha um Tazi lendário para aqueles caras com certeza nossa gangue teria uma notoriedade ainda maior. E..caramba, o que estou dizendo? Esses Tazi estão me tornando uma pessoa ambiciosa igual ao Wilson...será que estava em um caminho sem volta?

- Seja como for - Wilson interrompe meus pensamentos - Estive pensando no que Cássio nos falou ontem

- O que o Cássio nos falou ontem? - perguntou Jorjão, despejando os farelos do pacotinho goela abaixo.

- Como assim, Jorjão? Não se lembra! Fomos rebaixados a meros bullies, rapeladores de Tazi! É a maior ofensa que alguém preocupado em proteger as minorias das maldades dos alunos mais abusados poderia receber! De hoje em diante, vamos usar nossa habilidade em Tazi apenas para o bem

- Mas como vamos conseguir mais Tazi se não desafiarmos ninguém?

- Não se preocupe, Daniel - respondeu ele - Vamos conseguir Tazi apenas daqueles que merecem castigo! 

- Como assim? - perguntei.

- Veja essa matéria que saiu no blog da escola ontem - disse ele, nos mostrando uma página impressa. A matéria comentava sobre casos de roubos de Tazi. Isso mesmo. O vício estava chegando a tal ponto que bullies covardes tomavam Tazi dos alunos mais fracos à força.

- Cedo ou tarde algo assim iria acontecer - disse Karina - O crime organizado da escola nunca dorme.

- Que horror! - disse Demi - E o cara que fez o artigo ainda fala que ele foi uma dessas vítimas!

- Isso é um sinal! - falou Jorjão - Logo seremos ameaçados por um desses caras! Droga...estamos visados..temos muitos Tazi raros com a gente

 Engoli seco. Se um desses assaltantes viessem atrás da gente, correríamos o risco de perder todos os nossos raros Tazi.

- Calma, calma. Não precisam se preocupar - falou Wilson - Lembrem-se que somos uma gangue...e juntos somos invencíveis!

- Fala isso para os assaltantes! - retruquei - Droga! Tava bom demais para ser verdade...e não vai ser um cumprimento de cuspe vai salvar a gente dessa vez!

- Ai, Daniel! Não me lembra disso! Que nojo! - falou Demi.

- Não precisam se preocupar - falou Wilson - Tenho tudo sob controle. Mesmo esses assaltantes de Tazi vão servir para alavancar ainda mais o nome da nossa gangue!

 Queria saber como ele iria fazer isso. Tem tudo sob controle, é? E é melhor que tivesse mesmo, porque naquele mesmo dia, na hora do intervalo, estaríamos envolvido justamente em um desses problemas. Isso mesmo. Simplesmente fizemos nosso caminho na direção do "canto dos nerds", mas para isso, precisávamos passar por um caminho estreito que, excepcionalmente, estava bloqueado por um garoto não muito mais velho que nós, mas, com certeza, muito mais forte. E ao contrário de Jorjão ele não tinha só gordura. Naquele momento, um menino magro e de óculos, talvez mais novo do que a gente, tentava passar pelo caminho bloqueado.

- Ei, ei, onde pensam que vai? - falou o grandão, assim que o garoto tenta passar.

- S-Só quero chegar na cantina - respondeu o pobre magrelo.

- Bom, claro que pode ir, mas...você sabe...está passando por um território restrito do pátio. Se quiser passar, terá que pagar pedágio.

- Como?

- Estamos aceitando pagamento em Tazi ultimamente - disse ele - Deve ter alguns com você.

 Inconscientemente, o garoto põe a mão no bolso. Motivo o bastante para o grandão fazer a festa.

- Opa. Vamos ver o que você tem no bols - diz ele, praticamente virando o pobre do moleque de ponta cabeça -  Hmm...dois de prata? Tá rico, heim, meu chapa? Acho que isso dá pra passar...

- Mas...eu consegui eles ontem. Por favor, devolva

- Pode pagar a passagem em lanche ou dinheiro também - disse ele - Mas ultimamente pagar em Tazi tá valendo mais a pena...até que tô cobrando barato. Se for passar por outros territórios do pátio acho que não vai encontrar uma pessoa tão boazinha.

 Podíamos ver a cena toda. Seria uma boa desviar o caminho.

- Talvez seja melhor irmos para outro caminho - falei baixinho - Ele é um desses ladrões de Tazi!

- Não - Wilson respondeu no mesmo tom baixo, fazendo um sinal para nós quatro permanecermos parados - Eu tenho um plano...lembrem-se que agora Tazi representa poder nessa escola

- É...é o que parece - comentou Demi

- Então vamos dar um basta nessa situação...e de quebra subir ainda mais no nosso rank. Hehe!

  Tá, tudo bem, concordo que Tazi seja poder, mas como isso iria nos ajudar a nos livrar daquele brutamentos. Será que sairíamos vivos dessa? Aquele cara parecia bem forte. E por que Wilson parecia tão confiante? Bem, o importante é que meu Tazi lendário está em segurança na minha mochila e ninguém iria saber que tenho um desses. Ninguém mesmo. Só preciso manter o bico fechado e...por que estou falando disso agora?  Ai, caramba, devo estar ficando paranóico mesmo...