Capítulo 75 - Entrando na febre de cabeça!

  Poucas horas depois o sinal toca indicando o momento do horário letivo mais esperado pelos alunos: a hora do intervalo. Você sabe: hora de comer, descansar, relaxar, conversar com os amigos e, só para variar um pouco, ter seu lanche roubado por valentões caso fique no caminho dele. Eu já devo ter dito isso antes, mas a escola é uma terra sem lei, onde os inspetores se fazem de cegos e os alunos fracos sofrem nas mãos dos mais fortes. Quando se está na escola, meu amigo, apenas tendo algum grau de poder para obter respeito. Até agora, esse poder só era obtido sendo um atleta musculoso (se você for um menino) ou sendo uma patricinha rica (se você for menina). Sendo mais ou menos bom no futebol ou sendo uma garota bonitinha você, no mínimo, consegue passar pela sua vida escolar em paz. Agora, caso você pertença ao grupo dos nerds, ruins de futebol e se nenhum amigo popular: esqueça. Tu tá ferrado!

  Bem, essa era a situação até o momento. Mas, por incrível que pareça, o sistema estava prestes a mudar. Sim, isso mesmo. E isso tinha a ver com a febre do momento: os disquinhos de plástico conhecidos como Tazi. Até aquele instante, achava que seria apenas mais uma mania idiota sem futuro, mas a coisa era mais séria do que eu pensava. E é claro que Wilson, com seu faro nato para empreendimentos, sabia que os Tazi eram um negócio promissor. Quando nos demos conta, lá estavam os cinco membros da NERD com um pacote de salgadinhos para cada um, prontos a iniciar a sociedade dos Tazi.

- Muito bem, irmãos! - disse Wilson, em um momento de solenidade antes de abrirmos nossos pacotes - Entraremos agora na estrada que nos levará ao topo da pirâmide social escolar! O mundo dos Tazi!

- Mas eu nem gosto desses salgadinhos - argumentou Demi - Eles tem muita gordura trans.

- Ah, se esse é o problema eu fico com o seu! - disse Jorjão, pegando o pacotinho da garota sem perguntar duas vezes - Alguém mais?

 Karina também entrega o seu pacote a Jorjão que abre ainda mais o sorriso.

- Se é para comer...é comigo mesmo! - comemorou nosso grande amigo Jorjão.

- Você também não gosta de salgadinhos? - perguntei a ela.

- Eu não sou de comer muito - respondeu ela - Melhor deixar com o Jorjão. Assim temos certeza de que não haverá desperdício.

- Mesmo assim...os Tazi que vierem nos seus salgadinhos podem ficar com vocês - continuou Wilson - Eles serão seus primeiros Tazi! Hehe!

- Mas eu já tenho um - falou Demi - Lembra que eu mostrei para vocês hoje de manhã?

- Bom, mas esse será seu primeiro Tazi no nosso clã. Em pouco tempo, a NERD será a maior autoridade em Tazi dessa escola

- Como pode estar tão confiante? - perguntei - Existem 200 Tazi e muitos deles são muito raros. Precisamos conseguir todos se quisermos um título de Tazi Master! Isso pode levar anos, talvez séculos!

- Heh! Relaxe, Daniel! Nós temos uma arma secreta!

- Que arma secreta?

- O Jorjão, é claro! - falou ele, apontando para nosso forte amigo - Ele pode comer pelo menos um cinco pacotes de salgadinho por dia sem enjoar.

- Caraca! - espantou-se Demi - Isso não faz mal para a saúde?

- Não...como cinco por dia justamente para ter um controle. Se comesse uns dez como antigamente aí sim seria mais tenso.

 Bom, já me acostumei que o metabolismo de Jorjão é diferente de qualquer pessoa comum. Tá. Quanto aos salgadinhos não precisávamos nos preocupar, mas isso não seria o suficiente.

- Tudo bem, mas mesmo que o Jorjão conseguisse comer trinta salgadinhos por dia, ainda assim não seria o suficiente - acrescentei - Você ouviu o que aqueles caras disseram, não ouviu? Para conseguir mais Tazi precisamos ganhá-los em apostas nas batalhas de Tazi!

 Sim, eu falei batalha de Tazi mesmo achando ser um nome exagerado. E, se não formos bons nisso, nunca conseguiríamos todos.

- Bem, é aí que entra nosso treinamento - falou Wilson - Vamos treinar duramente nossos lançamentos e levantar um método infalível para batalha de Tazi!

- Como pode garantir ser infalível? - questionei - Depende muito da habilidade do jogador, não?

- Não parece ser tão complicado - disse ele, pegando uma folha de papel do bolso e começando a anotar algumas coisas (ele trazia caneta e papel até no intervalo? Pois é) - Vejamos as variáveis envolvidas...hmm...tamanho da pilha dos Tazi, força de lançamento, velocidade do lançamento, gravidade, direção do vento, quantidade de suor grudada no Tazi...

- Suor? Que nojo - comentou Demi.

- Mas pode acontecer. O suor pode grudar nos Tazi e dificultar o giro deles. Ah, sim, momento de inércia do giro dos Tazi..

- Acha mesmo que consegue criar um modelo perfeito para lançamento de Tazi? - perguntei.

- Nada é perfeito, meu amigo. Mas pode aprimorar e muito nossas jogadas. Bem, primeiro precisamos de dados experimentais. Vamos fazer alguns testes.

 Naquela altura, já havíamos conseguido todos os Tazi dos salgadinhos. Fizemos uma pilha com eles e iniciamos uma partida de treino.

- As regras são simples, não é? - falou Wilson, segurando a câmera do celular da Demi que pegou emprestada para filmar a batalha - Basta lançar um dos seus Tazi na pilha e ver quantos você vira. Estão todos virados para baixo?

 Fiz que sim com a cabeça. Wilson orienta Demi para lançar seu Tazi na pilha e, em uma única jogada, ela consegue virar todos. Sim. Ela era boa nisso.

- Nossa, consegui! - comemorou ela.

- Uau! Como você?

- Eu não sei. Nunca joguei isso antes! - disse ela, tão surpresa quanto todos ali.

- Espera um pouco...lance de novo - pediu Wilson. Ela obedece. Montamos uma nova pilha e ela lançou o Tazi novamente. Mais uma vez, todos são virados. Incrível. Demi parecia ter um talento natural para batalhas de Tazi.

- Nossa...você...é boa mesmo - comentei.

- Deve ser sorte

- Veremos isso logo - falou Wilson - Sorte é um bom sinal. Lance mais uma vez.

 Ela o faz de novo. E vira todos novamente. Bom demais para ser apenas sorte. Mesmo assim, Wilson ainda não estava satisfeito.

- Só mais uma - disse ele - Se virar todos de novo...é sinal de que você nasceu para isso

- Que exagero! - reclamou a garota, mas Wilson insistia para que ela jogasse de novo. Meio sem graça, ela lança mais uma vez e vira todos de novo. Não tinha mais o que duvidar: Demi era uma lançadora de Tazi profissional!

- Incrível! - exclamou Wilson - Você deve ser a melhor jogadora de Tazi do mundo!

- Não parece ser grande coisa - falou ela - E não dá para garantir que eu ganhe todas. Talvez com uma pilha menor fique mais difícil.

- Será? Aqui tem uma pilha só com um Tazi. Tente lançar e ver se vira

 Ela lança do mesmo jeito e vira o Tazi. O único Tazi. Wilson estava impressionado, assim como eu. Parece que tinhamos outra arma secreta.

- Sim, sim, sim. Demi. Você é perfeita! - disse Wilson, com as mãos no ombro dela e com seus olhinhos brilhando. Naquela altura, ele já tinha amassado todas as anotações que fez e esquecido todos os cálculos - Com o Jorjão comendo os salgadinhos e com você ganhando as batalhas, seremos os maiores Tazi Masters desse colégio!

 Normalmente eu não levo muita fé nos planos do Wilson, mas daquela vez eu realmente estava achando que poderíamos nos dar bem. Isso mesmo que você ouviu: Eu, Daniel Luz, sendo otimista! Sinal de que Demi realmente tinha talento! Será que todos os micos que pagamos até hoje finalmente serão compensados?

- Ei, vocês! - disse uma tia da limpeza que passava pelo corredor - Desçam para o pátio! Aqui não é lugar de brincar! 

 Acontece que estávamos jogando no corredor das salas de aula. Motivo: era o único lugar que tínhamos para ficar além da biblioteca (onde não era permitido fazer barulho).

- Ah, sim - falou Wilson - Vamos lá, gente. O intervalo ainda não acabou! É nossa chance de conseguir alguma coisa!

   Com a Demi do nosso lado, parece que tínhamos tudo para nos dar bem no submundo dos Tazi. E nossa entrada nesse universo estava apenas começando!