This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 70
Capítulo 70




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Capítulo 70 - Verdade ou Consequência?

 Maldição. Mil vezes maldição. Acabamos pegos em uma armadilha inesperada. Temos que participar justo de um jogo de verdade ou consequência? Essa é a brincadeira mais humilhante que pode esperar uma pessoa e pela conversa que ouvi da Patrícia com o Cássio tudo tenderia a ferrar para o nosso lado.

- Verdade...ou consequência? - repetiu Demi - Como assim?

- É um jogo onde você escolhe responder uma pergunta ou pagar um castigo. É uma brincadeira bastante popular entre adolescentes - explicou Karina, mais uma vez, surgindo do nada.

- Karina. O que faz aqui? Poderia ter escapado dessa! - falei espantado.

- Cheguei agora pouco - respondeu ela - Senti que algo iria acontecer por aqui quando vi todo mundo se reunindo.

- Sempre faço essa brincadeira nos meus aniversários, mas dessa vez gostaria que todos os convidados participassem - continuou Patrícia - As regras são simples: formamos uma roda, giramos essa garrafa. Quando a garrafa parar, a pessoa que estiver de frente para o fundo dela faz uma pergunta para a pessoa que está de frente para o gargalo. Ela pode responder ou...aceitar pagar um castigo. Vai ser divertido!

- Divertido? Só se for para ela - balbuciei.

- Ah! Vamos ver no que dá! - falou Wilson, chegando do nada. Ou eu estava muito distraído, imaginando as terríveis consequências daquele jogo ou ele aprendeu as técnicas da Karina.

- Você...também podia estar longe daqui

- Calma, Daniel. Tudo indica que essa pode ser a armadilha que ela estava preparando. Ou não...

- Ou não? Com certeza é!

- Vamos lá, gente! - gritou Patrícia, animadamente - Vamos formar uma roda e começar o jogo!

- Ela é mesmo animada - disse alguém ali no meio. Animada ou não, nosso destino estava selado. Fugir? Bem que eu gostaria, mas quando me dei conta, já estava sentado na grande roda com todos os convidados (pelo menos os da nossa idade, os adultos ficaram conversando em outro canto. Sorte deles).

- Melhor encararmos isso de frente - falou Wilson baixinho - Dependendo do que acontecer, temos nosso plano preparado.

- Está falando...daquilo? - perguntei, pensando no plano de saqueamento de salgadinhos.

- Exatamente. Esse tempinho que explorei a casa descobri algumas coisas interessantes.

- O quê?

 Mas não deu tempo de minha pergunta ser respondida. Patrícia liderava a brincadeira, enquanto os moleques babacas da nossa escola riam sem motivo (ou riam da gente, o que era mais provável). Ela começou a girar a garrafa e não demorou para parar com o fundo na direção de Patrícia e o gargalo na direção de Demi. É claro que a Patrícia tinha que se sentar bem na frente da Demi. E lá vinha a primeira pergunta.

- Oh, Demi. Você é a primeira a responder.

- Que coisa, né? - respondeu ela, meio nervosa com o olhar de todos em volta. Malditos.

- Bem, bem, vejamos...primeira pergunta, qual sua verdadeira relação com esses seus novos...hmmm..amigos?

- Como? Não entendi - respondeu ela, já com as orelhas vermelhas.

- Oh, que bonitinha, ficou vermelha. Sinal de que tem culpa no cartório...

 Todos riem. Demi realmente estava nervosa. E eu também não estava gostando nada daquilo. Sabia que não iria dar certo.

- Estou falando de...bem, você sabe. Vocês andam tão juntos... - continuou Patrícia.

- Nós...somos apenas - Demi iria responder, mas alguém respondeu na frente.

- Somos amigos, ora! - respondeu Wilson - Que pergunta mais óbvia.

- Parece estar com muita vontade de responder, não é? - reparou Patrícia.

- Desde que sejam coisas realmente desafiadoras. Pode vir o que for! Ninguém aqui tem medo de nada! - disse ele.

 Quis gritar "não, não provoque mais ainda!", mas ela já estava dando um risinho maldoso e estala os dedos duas vezes. Mais uma vez, a garrafa é girada e, dessa vez, o gargalo para na frente de Karina. E, dessa vez, quem pergunta é uma das amigas da Patrícia.

- Hã? Eu? Bem... - nisso, a aniversariante cochichou algo no ouvido dela. Parece que precisava da ajuda da Patrícia até mesmo para elaborar uma pergunta - Err...pergunta, você já beijou alguém?

 "O QUÊ?!", pensei, "Sabia...ela vai continuar fazendo perguntas comprometedoras para a gente. E na frente de todo o colégio. Maldita"

- Sim - responde Karina.

 Todos ficam pasmos. Inclusive eu.

- Isso...é sério? - falou um dos moleques da turma.

- Ela parece tão quietinha - comentou outra menina.

- Quem...você beijou? - perguntou outra menina.

- Isso já é outra pergunta - disse Karina, mantendo a frieza mais do que nunca - Se quiser saber...terá que perguntar de novo na próxima rodada.

 É. Fazia sentido. A pergunta era "você já beijou alguém?", mas não incluia "quem você beijou?" Mas o pior é que agora também fiquei curioso.

- Hunf...tá bom - falou Patrícia, não se deixando abalar por aquilo. Estalando os dedos duas vezes de novo, ela gira a garrafa de novo e, por incrível que pareça, cai novamente na mesma menina, mais uma vez perguntando para Karina.

- Ora, ora. Não é que são vocês de novo? - falou Patrícia - Já sabe o que perguntar não é, Bia?

- Bem... - balbucia a garota - sim...err...agora fale, quem você beijou?

- Já beijei minha mãe - responde Karina.

Todos sentem uma gotinha escorrer pelo rosto.

- Você tá tirando uma com a nossa cara, né?! - bronqueou um dos moleques - Não é disso que a gente tá falando!

- Como não? - respondeu Karina - Vocês perguntaram quem eu já beijei. Minha mãe é uma resposta perfeitamente válida.

- Estávamos falando de outro tipo de beijo! - acrescentou outro cara da nossa sala.

- Então deveriam ter especificado na pergunta - disse a garota.

- Tsc. Você não tá jogando direito - reclamou Patrícia.

- Mais estranho que isso...não é o fato da garrafa ter parado duas vezes exatamente do mesmo jeito? Qual a probabilidade disso acontecer? - observou a garota. E era verdade. Não era muito estranho a garrafa ter parado exatamente na mesma configuração duas vezes seguidas? Todos olharam para Patrícia, mas ela ainda disfarçava bem. É claro que tinha coelho naquele mato.

- Err...foi só coincidência - ela dá uma tossidinha e gira a garrafa de novo - Vocês vão ver que agora vai cair em uma posição diferente.

 De fato, agora cai com o gargalo apontando para Jorjão. Quem pergunta é outra amiga da Patrícia. Mais uma vez, é a aniversariante que dá a dica da pergunta (por "coincidência", também estava do lado dela).

- A pergunta é - fala a pau mandado, também com um olhar maldoso não muito diferente da Patrícia - Tem alguém da sala de quem você goste?

 Sempre perguntas constrangedoras. Por sorte, a garrafa não parou em mim nenhuma vez. Mas algo me diz que eu não me safaria tão rápido dessa. Tá na cara que havia algum truque na garrafa, mas onde? Enquanto pensava nisso, a resposta de Jorjão acaba tirando toda a minha concentração (é, eu estava do lado dele).

- Eu não posso escolher consequência?

 As meninas se entreolham maldosamente. Quase tive um infarto quando ele falou aquilo.

- Você tá doido?! - retruquei - Pedir castigo é mil vezes pior do que responder a pergunta!

- Mas essas perguntas não tem graça

- E você acha que o castigo vai ser divertido?

- Que seja - disse a garota que fez a pergunta - Seu desafio é: ir no meio da roda e recitar uma poesia

- Hihi. Isso vai ser divertido - disse Patrícia, preparando sua câmera.

 Droga. A avacalhação estava na cara. Pobre Jorjão. Pagar um mico desses. É claro que ele não devia lembrar de nenhuma poesia. Não era muito bom nas aulas de português e ser o centro das atenções naquele contexto deixaria qualquer um constrangido. Qual não foi minha surpresa ao ver que ele realmente se prontificou a recitar.

- Você...vai mesmo? - perguntei.

- É fácil. Eu sei uma poesia - falou ele.

- Manda ver, Jorjão!- incentivou Wilson. Oh, pobre Jorjão. Espero que saiba o que está fazendo. E o mais estranho de tudo: ele sabia mesmo.

- Vai recitar mesmo? - indagou Patrícia, com uma câmera preparada.

- Claro. Recitarei "A Bela Manuela" - respondeu ele.

 "A Bela Manuela?", pensei. O que poderia ser?

 Eis que ele começa a declamar o poema:

 "Essa é a história da bela Manuela

  Que morava na Rua da Portela

  Com uma gata e uma cadela

   Ela gostava de mortadela

   E de queijo mussarela

   Que comia numa baixela

   Usava perfume de canela

   E uma saia amarela.

   Adorava ficar na janela

   Pintando uma tela

   Com aquarela.

   E o sonho dela

   Era ser uma modelo bela

   Que desfilasse na passarela

   Mas um dia ao acender uma vela

   Ela caiu da janela

   Quebraram-se os dentes dela

   Deixando- a banguela

   E essa é a história da bela Manuela"

 Bem, só posso dizer que essa foi a pior poesia que já ouvi na minha vida inteira. Mas, por outro lado, eu não poderia fazer melhor. Wilson aplaude animadamente. Patrícia e as garotas se entreolham e acabam por aceitar o castigo.

- Tá legal. Pode sentar - falou Patrícia, sem muita reação - Vamos para o próximo...hmm..

 A garrafa gira, gira, gira e...sim, isso tinha que acontecer. O gargalo para na minha frente. Outra das patricinhas capangas da aniversariante iria perguntar. E essa parecia saber bem o que queria saber.

- Sei que é chato repetir a pergunta, mas também estou curiosa...e você? De quem você gosta?

  Por que elas sempre tem que perguntar esse tipo de coisa? Droga...o que poderia fazer? Recusar a pergunta e aceitar uma consequência? Mas eu não tinha nenhuma poesia preparada, isso se elas não inventarem algo pior. Claro que existe uma pessoa de quem gosto, mas...ainda não estou preparado para falar isso tão...abertamente.

- Será que essa pessoa está aqui? - falou Patrícia, olhando para as unhas - Bem, lembre-se que é um jogo de verdade e consequência...não pode mentir.

- Você sabe, Paty? - perguntou a amiga.

- Bom...digamos que sim. Mas é ele que precisa falar, não é?

- Sua... - balbuciei, mas se eu não falasse, será que ela iria falar?

- Sério que você gosta de alguém, Daniel? - perguntou Demi,curiosa.

- Bem...eu...eu... - tentava pensar em alguma coisa inteligente para sair dessa, até que, finalmente, olhei em volta e vi que alguém estava faltando - Ei, peraí

- O que foi? - perguntou Patrícia, gaguejando.

- Onde está o Cássio?

 Patrícia engole seco. Claro. Como não percebi isso antes? Cássio não estava na roda, então, só podia ser a mente responsável por aquele jogo tendencioso.

- Somos nós que fazemos as perguntas aqui - falou a aniversariante, deixando o nervosismo aparecer.

- Não, não. Agora é a gente que quer saber. Você convidou todo mundo para participar, mas o nosso amigo Cássio não está aqui. É injusto continuar a brincadeira sem ele - pronunciou Wilson.

- E eu vou saber onde aquele esquisito tá! - respondeu a loirinha - Você ainda não respondeu Daniel...de quem você gosta?

 Mas ignorei a pergunta e peguei a garrafa do centro da roda. Abri a tampinha dela e vi algum tipo de dispositivo.

- Eu só falo...se você me explicar o que é isso

- Como? - Patrícia emudeceu.

- Tem alguma coisa na garrafa? - perguntou Wilson.

- Hmm...entendo - disse Karina - Provavelmente, é um dispositivo que permite controlar o movimento da garrafa à distância. Algo fácil de ser feito por alguém habilidoso em ciências.

- Alguém como...o Cássio! - falei, virando para trás e apontando para um vulto que se escondia atrás de uma das colunas da área coberta.

- Droga. Fui descoberto! - retrucou ele, aparecendo de trás da coluna e segurando seu controle remoto. Claro. Era tudo muito claro. Patrícia, coincidentemente, estava de frente para a coluna onde Cássio estava e mandava sinais, como estalos de dedo, para decidir em qual de nós a garrafa iria parar. Claro que só nós iríamos responder as perguntas.

- Tsc. Que droga - reclamou Patrícia - Agora que a brincadeira estava ficando boa

- Ah, dane-se! - falou um dos moleques - Vamos continuar a jogar e...

- Cala a boca - bronqueiou a aniversariante - Agora perdi a vontade de jogar. DJ! Pode voltar a colocar a música!

- Mas...a gente pode continuar e... - o cara continuava, mas Patrícia o fuzila com o olhar.

- Eu NÃO QUERO MAIS continuar. Já não falei?

 Típico de uma garota mimada. Quando as coisas não saem como o planejado, ela faz birra. A roda se desfaz e a festa continua.

- Obrigado por participarem. A festa continua, viu, gente? - ela sorri falsamente e sai conversando com algumas meninas.

- Ufa...essa foi por pouco - suspirei.

- Mas de quem você gosta, Daniel? É alguém que a gente conheça? - perguntou Demi.

- É mesmo! Também quero saber! - disse Wilson.

- Err...de ninguém em especial - disfarcei.

- Sei - balbuciou Karina. O que eu poderia dizer? Ainda não estava pronto para revelar meus sentimentos.

- Esqueçam isso! Pelo menos desmascaramos o plano dela! - falei.

- Mas isso não basta, Daniel. Hehe - Wilson ria maldosamente - Agora temos motivos para nos vingar desses constrangimentos que passamos.

- Então...você vai mesmo..

- Sim. A operação de saqueamento de salgadinhos vai começar agora!

 E como eu sempre digo: nada é tão ruim que não possa piorar.


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Notas finais do capítulo

O ápice da festa de aniversário está chegando. Será que a operação vai funcionar? Aguarde o próximo capítulo. Até lá! ^^