Capítulo 07 - Eis que surge a...NERD?!

- Você...você veio mesmo? - perguntei à Karina, enquanto ela tocava a campanhia.

- Wilson disse que teria uma reunião hoje na casa dele, não? - ela responde, sem sequer olhar em meus olhos.

- Mas..mas..você está mesmo disposta a levar isso adiante?

- Por que não? Você também está aqui, não está?

- Bem...é que no meu caso não acho que consiga escapar tão facilmente

- Por que você não aprende a relaxar?

- Hã? Relaxar?

- Pense: sua vida escolar seria mais emocionante se não tivesse conhecido Wilson?

Parando e refletindo sobre isso...de fato, as coisas estavam mais agitadas do que eu esperava. Mesmo assim, acho que teria um ensino fundamental difícil ao lado daquele cara.

- Bom...talvez eu ainda estivesse sozinho se não o tivesse conhecido - murmurei

- Então - ela responde, sem me olhar um único segundo - Pessoalmente, eu não me importo de ficar sozinha, mas acho que as coisas podem ficar mais interessantes se ouvir o que ele quer fazer

- Não sei, não

- Se não der certo, basta voltar a viver como antes. É simples

"Essa garota é estranha", pensei, "Mas...se for pensar assim...ela está no lugar certo!"

Pouco tempo depois, Wilson atende a porta, todo animado (como sempre).

- Daniel! Karina! Sabia que eram vocês! - ele grita, vestindo algumas roupas e chinelos havaianas. Era sábado, afinal.

- Bom dia - cumprimenta Karina, sem mudar muito o rosto.

- Entrem, entrem. Só faltava vocês!

Indo para o "sótão base secreta", encontramos Jorjão e Demi. Obviamente, Jorjão devorava alguns sanduiches que a mãe de Wilson preparou.

- E aí, gente? - ele nos cumprimenta, de boca cheia.

- Ei, não fala com a boca cheia! - bronqueia Demi

- Foi mal - ele responde, ainda assim falando de boca cheia.

- Esqueçam esses detalhes! - diz Wilson, puxando uma cadeira e fazendo sinal para nos sentarmos - Agora que já temos cinco membros na nossa gangue, podemos pensar em nossos próximos passos

- Uma coisa que eu estava pensando - comenta Demi, pegando um sanduíche (ainda não acredito que ela realmente estava nessa) - Se temos uma gangue, não precisaríamos de um nome para ela?

- Hmmm..claro. Esse pode ser o primeiro item da nossa pauta. Anota aí, Jorjão! - parece que Wilson nomeou Jorjão como o secretário da reunião. Usando o computador da sala, Jorjão digitava todos os pontos da discussão, mas sem deixar de comer os sanduichinhos (é lógico) - Alguém tem alguma sugestão?

- Um nome? - diz Demi - Precisa ser algo que cause impacto...ou vocês preferem algo mais discreto?

- Pode ser algo que realmente mostre o que somos..mas o que?

"O que somos?", pensei, "Ele não iria gostar do que eu tenho a dizer...". Para nosso grupo, só combinaria coisas como "Os Esquisitos" ou "Os Malucos"

- Talvez Avalanche - sugere Karina

- Avalanche? - perguntei.

- Sim. Vai dizer que nunca jogou Final Fantasy VII? - ela responde secamente.

"Então ela entende dessas coisas?", pensei, "Normalmente meninas não jogam muito video-game"

- Acho que precisamos de algo mais original - diz Wilson

- Talvez algo como...Gangue dos Lendários? - sugere Demi, sorrindo.

"Não acho que combine muito com a gente", pensei.

- Soa forte...mas não sei se pega bem - comenta Wilson - Jorjão...tem alguma sugestão?

- Gangue da Paçoca - ele diz - Tenho pensado nesse nome há um bom tempo

- Gangue...da Paçoca? - pergunta Demi - Por que paçoca?

- Eu gosto de paçoca. Meu doce preferido! Como uma caixa inteira sempre que minha mãe compra

- Ficou engraçado...mas não seria melhor algo menos engraçado? - diz Wilson - Daniel! O que você sugere?

Ele não ia querer ouvir, mas pensei em alguma coisa que não ofendesse ninguém.

- Talvez algum acróstico

- Acróstico? - pergunta Demi

- Uma sigla - explica Karina - Falamos só as primeiras letras de cada parte do nome

- Boa ideia - diz Wilson, sorrindo - Qual sigla pode ser?

- Algo a ver com a gente - comenta Jorjão - Pensem em alguma coisa

- Hmm...o que queremos fazer é mudar...mas mudar não pela força bruta e sim por meios legais para todos

- Queremos mudar e revolucionar através de diversão, não é? - comenta Demi - Que nome podemos usar?

- Talvez...Notórios Estudantes da Revolução Divertida - sugere Karina

- Perfeito! Sendo assim...seremos a NERD! - diz Wilson - NERD! Ei, até que soa legal....

- Bom...parece que combina com a gente, né? - comenta Demi

-Não é? No fundo, conseguimos uma sigla que expressa bem o que somos e que não temos vergonha de assumir! - diz Wilson, com toda a sua empolgação característica - Daniel! Sua ideia de acróstico foi excelente!

- Sei lá....ainda preferia Gangue da Paçoca...mas acho que dá para usar esse mesmo - comenta Jorjão.

Alguém tem uma arma para me emprestar? Quero dar um tiro na minha própria cabeça...quer dizer que fui eu que dei à luz para um nome tão tosco? Mas acho que os outros não se importaram muito com isso..

- Bom, temos um nome - diz Karina, limpando os óculos, sem expressar nenhum sorriso - Qual o próximo tópico da reunião?

Tudo bem. Somos a NERD. Que seja. Agora que temos um nome esquisito e que acabaria com toda a nossa moral de vez, é hora de decidirmos nossos planos esquisitos.

-Agora precisamos ganhar notoriedade. Se somos os notórios estudantes, precisamos ficar famosos de algum jeito. Já temos um grupo de cinco pessoas, quer dizer que já temos quórum para criar um grupo de atividades na escola

- E que tipo de atividade faremos? - pergunta Jorjão - Alguma coisa envovendo café e suco de novo?

- Não, não. Acho que comida não vai nos fazer subir. Afinal, não podemos competir com a cantina, não é? Precisamos de algo mais original - diz Wilson - Que tal...um grupo de anfitriões para meninas, tratando-as como princesas por uma hora. Faria sucesso com as meninas, não?

- Você sabe muito bem que essa não é uma ideia original! - critiquei, entregando meus poucos conhecimentos de shoujo mangá - Além disso, não somos do tipo que as meninas se interessam, somos?

- Bem, talvez se vocês mudassem o penteado - comenta Demi - Ultimamente, calças coloridas andam fazendo sucesso com as adolescentes...apesar de eu achar ridículo

Wilson coloca a mão no queixo, mas pude interferir antes que ele cogitasse qualque hipótese.

- NUNCA! - bronqueie - Nada de calças coloridas! Pensem em outra coisa!

- Tudo bem, também não gosto de calças coloridas...mas o que faz sucesso entre os mais descolados? - ele pergunta - Demi...você que viveu mais nesse meio, o que você acha?

- Bem, adolescentes são fúteis. Pensem em algo que seja diferente, legal e que não precise pensar muito, que provavelmente você vai fazer sucesso - ela responde.

- Você faz sucesso com adolescentes, não faz? - pergunta Karina - Isso quer dizer que você trabalha com coisas fúteis

- Mais ou menos. Gosto de música pop e costumo mesmo cantar coisas não muito profundas...se bem que prefiro mais trabalhar com atuação

- Boa! Talvez um grupo de teatro! Demi, você pode dar aulas para a gente, não pode?

- Mesmo com pessoas tão iniciantes como a gente? - pergunta Karina

- Pode ser legal! - nossa atriz prodígio continua - Uma veterana da minha turma de teatro fez uma peça para crianças só com alunos iniciantes e teve uma boa recepção!

- Não sei se levaríamos jeito para isso - coloquei.

- Pediria ajuda para essa minha veterana...mas ela ganhou um concurso e foi para a Itália há pouco tempo atrás - comenta Demi - Talvez seja melhor começarmos com outra coisa

- É verdade...precisamos começar com algo em que sejamos bons...depois que crescermos um pouco podemos ter nossa própria peça, ou melhor, nosso próprio filme!

- Gostei da ideia do filme! - diz Demi

- Então...o que sugerem? No que exatamente somos bons? - continua Karina, com a cara inexpressiva de sempre.

- Games! - diz Jorjão

- Mas não acho que games sejam uma atividade que a escola consideraria como muito educativa - diz Karina - Muitos pais reclamam da violência excessiva de alguns jogos...mesmo que criássemos um clube de jogos

- Talvez um grupo de desenvolvimento de jogos! - diz Wilson animado - Vocês manjam programação, não é? 

Embora Jorjão faça um mais ou menos com a cabeça e Karina não tenha respondido nada, eu não entendia nada de programação (mesmo gostando de jogar) e a Demi, tadinha, menos ainda.

- Java? Flash? RPG Maker? - perguntava Wilson, mas não obteve resposta.

- Isso é de comer? - pergunta Demi

- Tá bom...vamos pensar em alguma coisa que inicialmente todos possam participar...sem teatro e sem design de jogos...hmmm....nossa escola tem um jornal, né?

- Pois é - comenta Jorjão - Não dá para criar um grupo que faça o jornal. Mesmo sendo um jornalzinho bem vagabundo, já tem um e a diretoria não aceitaria concorrência de jornais

- Talvez não concorrência, mas...que tal assessoria?

- Como assim? - perguntei, já imaginando que tipo de maluquice viria dali.

- Nosso jornal não tem nada de muito interessante a não ser recadinhos sobre cursos aqui, propagandinhas idiotas ali e uma tirinha bem sem-graça...talvez pudéssemos oferecer um serviço de investigação de casos interessantes para colocar no jornal

- Mas assim não estaríamos trabalhando para o jornal de qualquer jeito? - perguntei.

- Prefiro chamar isso de parceria. Nós temos as notícias, eles escrevem a matéria e nós ganhamos a divulgação! É o primeiro passo para a NERD ficar famosa!

- Parece legal! Gostei! - diz Demi, sorrindo animadamente. Karina concorda, apesar de não apresentar nenhuma emoção. Jorjão..bem, ele só arrota mesmo.

- Foi mal, mas...tô dentro - ele responde, terminando de mastigar seu sanduíche

- E você, Daniel? - Wilson me pergunta, ao mesmo tempo que todos olham para mim.

- Adianta eu dizer que não? - falei, embora estivesse satisfeito pelo fato da ideia ser menos maluca do que eu esperava.

- É isso aí! Vamos começar nossa própria equipe de investigação de casos escolares! - exclama Wilson - Mas antes...

Ele faz uma pausa. O que mais faltava?

- Precisamos do apoio de um professor para o grupo de atividades realmente dar certo...são as regras de escola!

- Relaxa - comenta Demi - Aposto que algum professor vai gostar da nossa ideia!

Bem, eu duvidei que Wilson conseguisse juntar mais gente para essa gangue. O mais surpreendente é que os novos ingressantes eram duas meninas. Melhor não duvidar que ele conseguisse apoio de algum professor...embora estivesse quebrando a cabeça para saber qual professor aceitaria esse tipo de trabalho? A Dona Margarida? Ai, era melhor nem tentar adivinhar..e deixar o destino decidir

- Gente! Suco de acerola para todo mundo! - diz a mãe de Wilson, chegando com a bandeja de suco.

Por ora, melhor só tomar o suquinho e me deixar levar...