Capítulo 65 - Preparando-se para o pior...como sempre!

 Já era praxe se reunir na nossa "base secreta" na casa de Wilson. Eu até poderia inventar uma desculpa, mas o suco de acerola da mãe dele era realmente muito bom e aposto que se eu desmarcasse eles achariam outra data para me encaixar. Não tinha jeito. Precisava mesmo escutar os planos de Wilson para enfrentar a festa de aniversário da Parícia, festa essa que fomos convidados misteriosamente. De certa forma, também achei importante se reunir para saber o que fazer, afinal, se tinha alguma coisa certa nessa história era que Patrícia estava armando alguma para a gente. E Wilson colocava todas essas informações importantes no quadro branco.

- O nome é...Operação de Espionagem de Aniversário - disse Wilson, apontando para o quadro com uma vareta (na verdade, uma antena de carro antiga. Reciclar é importante). Na lousa, tinha o desenho de uma casinha e uma bonequinha palito com cara de malvada representando a Patrícia.

- Err...acho que a casa da Patrícia é um pouco maior - comentou Demi.

- Que seja... - Wilson apaga o desenho e faz outro exatamente igual, mas em tamanho maior e com uma piscina do lado - Agora tem até a piscina. Mas, então..voltando ao plano...nós vamos à festa da Patrícia que, com certeza, deve ter alguma pegadinha preparada para nós.

- O que poderia ser? - perguntou Jorjão, obviamente, devorando todos os enroladinhos de salsicha que a mãe de Wilson preparou (não preciso dizer que a mãe de Wilson adorava a gente e sempre fazia vários lanchinhos sempre que aparecíamos lá).

- Aí que está. Pode ser qualquer coisa - respondeu Wilson  -Não temos familiaridade com o terreno do inimigo e qualquer tipo de armadilha pode estar sendo preparada. Precisamos nos manter unidos. Estamos todos juntos nessa!

- Sempre estamos juntos nessas coisas - completei.

- Mas agora precisamos estar mais do que nunca! Somos cinco contra...não sei mais quem. Vai saber se todos os convidados não estão cientes de que vamos ser vítimas de algum truque? - disse ele, em um tom incisivo. Parecia mesmo estar preparado para o que der e vier.

- Mas o que podemos fazer? - perguntou Karina - A decisão mais segura seria recusar o convite.

- Nunca! - disse Jorjão - Uma pegadinha é um preço baixo para pagar por todos os salgadinhos, docinhos e o bolo que vai ter lá. É uma festa de aniversário, poxa. Vale a pena correr o risco.

 Nem preciso dizer que Jorjão tinha grande simpatia por festas de aniversário. E também não preciso dizer que essa simpatia não era bem pela comunhão com o aniversariante.

- Além disso, recusar o convite só iria mostrar como somos medrosos. Como ficaria a reputação da nossa gangue? - lembrou Wilson.

- Nossa gangue tem alguma reputação? - fiz questão de completar.

- Seja como for...vamos à festa - continuou ele - E a primeira coisa de que precisamos será...isso aqui!

 Ele mostra um tipo de comunicador, daqueles de criança que brinca de espião (o que não era muito distante da gente) com um sorriso no rosto.

- Isso seria? - perguntou Demi.

- É um Comunicador Avançado Ultra Secreto de Espionagem. Veio num brinquedo antigo que eu tinha, mas eu ampliei a capacidade dele para ter um alcance maior. Tenho seis, mas só vamos precisar de cinco - explicou Wilson, orgulhosamente.

- Você adora mexer com essas coisas, não é? - perguntei, enquanto recebia meu comunicador.

- Eletrônica é minha paixão - comentou ele, logo depois voltando para o quadro branco e continuando com os planos - A ideia é simples: usaremos esses comunicadores entre nós e avisaremos uns aos outros em caso de atividade suspeita.

- Mas não é uma festa na piscina? - perguntei - Acredito que nem isso aqui seja à prova de água.

- Usaremos isso apenas enquanto estivermos separados. Na piscina, vamos tentar nos manter juntos e observar as coisas com mais atenção ainda

- Tá. E depois da piscina? - perguntou Demi.

- Provavelmente teremos a hora do almoço. Outro momento para tomarmos cuidado com atividades suspeitar e observarmos bem o prato de cada um.

 Mexer com comida deixaria o Jorjão nervoso e já pude ver que ele fez uma expressão mais revoltada quando Wilson comentou aquilo. Mexam com tudo, menos com seu prato de maionese e seu churrasquinho. O problema é que, depois do almoço, ninguém sabia o que viria.

- Depois do almoço, o que eles poderão fazer? É o dia inteiro, mas será que ficarão na piscina o tempo todo? - Demi continuou os questionamentos.

- Claro que não. Uma hora chegará o clímax de toda festa de aniversário: a hora do parabéns.

-  E você acha que ela pode fazer alguma coisa na hora do parabéns? - perguntei.

- Não podemos saber, mas é um momento crítico. Todo cuidado será pouco nessa hora...e precisamos estar prontos para contra atacar assim que suspeitarmos de qualquer coisa

- Contra atacar com o quê, Wilson? - perguntei - O que poderemos fazer no meio de uma festa de aniversário?

- Hehe. Realizaremos a pior das vinganças

- Pior das vinganças?

- Chamo isso de "o grande saqueamento de aniversário" - respondeu ele, com um sorriso no rosto.

- Grande...saqueamento de aniversário? - estranhei.

- Exatamente. Mesmo que soframos alguma coisa no decorrer da festa, não desistiremos tão fácil da nossa honra. Na hora do parabéns, as luzes se apagarão e cada um pegará uma sacola de plástico e levará o máximo de coxinhas, brigadeiros, docinhos e salgadinhos que puder! Bwahahahahaha!

- Caraca...vamos chegar mesmo a esse ponto, Wilson? - perguntou Jorjão.

- Se não houver outra maneira...

- Essa é a nossa vingança? - perguntei, ainda não compreendendo a gravidade do nosso ato.

- Essa é a pior das vinganças! - retruca Jorjão - Pode imaginar uma festa onde todos os salgadinhos e docinhos tenham sido saqueados?

- Mas...ela não pode simplesmente mandar trazer mais?

- O importante é o impacto que vamos causar! Se formos sacaneados, daremos a volta por cima com esse ataque surpresa! Hehehe! - Wilson parecia mesmo empolgado. Bem, não seria considerado roubo, já que os salgadinhos são para os convidados mesmo, mas nem por isso poderíamos pegar tudo. Seria realmente uma jogada ousada.

- Para isso, basta levarmos sacolas de plástico? - perguntou Demi.

- Exatamente. Iremos levar roupa de banho em uma mochila, então, poderemos levar sacolas plásticas extras. Talvez sejamos revistados na entrada, mas nunca ninguém suspeitaria de inocentes sacolas de plástico. 

 Revistados? Não é só uma festa infantil? Acho que de todas as ideias sem noção que tivemos, essa era a pior de todas (mas eu sempre falo isso e ele sempre consegue inventar algo pior). A grande vingança da festa de aniversário...bem, eu queria ter a esperança de que a Patrícia não fosse fazer nada, mas aposto que ela vai nos sacanear de alguma forma. O problema é que as chances do nosso plano dar certo não eram das maiores...mas se desse certo, bem, acho que até eu acharia engraçado.

- Com licença - disse Karina, levantando a mão.

- Pois não? - respondeu Wilson.

- Gostaria de ir para a próxima pauta da reunião. Se vamos para uma festa de aniversário...teremos que levar um presente, não?

- Oh, sim. É verdade - concordou Wilson - Demi. Você é da sala dela, não é? Sabe que tipo de console ela tem? Podemos fazer uma vaquinha para comprar um jogo no nome de toda a nossa gangue.

- Acho que ela não joga videogame - respondeu ela.

- Como assim? De que adianta ter tanto dinheiro se não gasta em games? - indignou-se Wilson.

 Bom, taí uma coisa que eu precisava concordar com ele. Se tivesse a mesma grana que aquela metida, torraria muito em vários jogos. Mas já que ela não tinha, precisámos pensar em outra coisa.

- Livros? - sugeriu Karina.

- Ela não é muito de ler - respondeu Demi - Eu sei que ela prefere filmes. Mas acredito que ela sempre compre os DVDs originais de todos os filmes que gosta.

- Ela deve gostar de roupas, não? - pensei alto, mas Demi ouviu.

- Ah, sim, é verdade. Mas as roupas que ela deve estar acostumada a ganhar sairiam tão caras quanto um jogo de videogame!

- Que droga...como vamos comprar um presente para uma garota que já tem praticamente tudo? - reclamava Wilson, andando de um lado para o outro.

- Err...que tal levarmos uma caixa de bombons? - sugeriu Jorjão.

- Bombons? - questionei - Por que bombons?

- Todo mundo gosta de chocolate...e servirá de consolo se ela tiver os brigadeiros saqueados

 É. Tinha uma lógica. E se a festa teria brigadeiros, ela não devia estar num regime rigoroso (Demi já contou uma vez que Patrícia fazia dieta de tempos em tempos). Uma caixa de bombons de qualidade no nome do grupo todo? É...talvez ela até ache a gente legal depois dessa, né? Tá, tá bom, vou parar de sonhar alto.

- Decidido. Então, preparem-se agentes! Iremos iniciar nossa operação no próximo sábado. Encontro vocês na entrada da escola, às 9 da manhã, para irmos juntos! Ah, sim, compraremos os bombons ainda essa semana

- Hihi - Demi deu uma risadinha - Se a Patrícia aprontar alguma...estou pensando como ficará a cara dela ao descobrir que pegamos todos os docinhos

- Você acha mesmo que isso vai dar certo? - perguntei - E mesmo que a gente consiga...como vamos sair?

- Relaxe - respondeu Wilson, ouvindo nossa conversa - A festa durará o dia todo. Também bolarei um plano de fuga perfeito!

 Saque dos salgadinhos? Plano de fuga? A gente vai é se ferrar bonito...de novo! E piscina no começo do dia? Sábado será um dia cheio, bem cheio.