Capítulo 63 - Um convite para a perdição! Prepare-se para muita encrenca!

 Agente Daniel falando, iniciando relatório de missão. Informações iniciais em...oh, desculpe. Os últimos acontecimentos acabaram me deixando meio condicionado. E quando falo os últimos acontecimentos estou falando de problemas envolvendo meus queridíssimos colegas de escola. Eu não sei se já falei isso aqui, mas se não falei, falo agora: tudo que eu queria era passar meus tediosos anos de estudante em paz, dormindo nas aulas chatas, fingindo jogar futebol na Educação Física e tendo como máximo de emoção entregar meus trabalhos na última hora (quer mais emoção do que isso?). Mas eu consigo? Não, claro que não. Eu sempre tenho que me envolver em alguma coisa vergonhosa e constrangedora. Sempre. Droga. Bem, mas chega de reclamar, afinal vocês devem estar se perguntando o que aconteceu comigo dessa vez. Como sempre dizem: vamos começar do começo. E lá vamos nós...voltar para aquele intervalo de sexta-feira, na biblioteca da escola, onde tudo começou.

- Como é que é?! - gritou Wilson, assim que ouviu a espantosa notícia de Demi, o que rendeu vários chiados pedindo silêncio e um olhar nada simpático da bibliotecária.

- Não precisa falar tão alto...mas é verdade - explicou Demi - Aqui estão...cinco convites.

 Peguei aquele pedaço de papel cartão, muitíssimo bem trabalhado, com todos os detalhes e bordas cheias de firulas, o rosa chiclete choque chocante e um perfume anormal de morango. Só uma pessoa em toda o colégio teria um gosto tão, como posso dizer, peculiar.

- Isso é... - balbuciei, ainda tremendo diante da..da coisa em minhas mãos.

- Por incrível que pareça, é um convite para a festa de aniversário da Patrícia. - responde Demi, com uma expressão preocupada e séria.

 O nome era esse mesmo: Patrícia. Mais precisamente, Patrícia Bittencourt. Para quem não se lembra (o que é difícil), digamos que ela era uma garota de posses e adorava exibir isso o tempo todo. Também foi responsável por quase acabar com o colégio no curto período de que assumiu o grêmio estudantil e quase nos matou de vexame ao sumir com nossas fantasias no dia da nossa apresentação da festa junina da escola. Ainda bem que foi "quase", mas de uma forma ou de outra aquela lá não era flor que se cheirasse. Pelo menos era bonita, aliás, muito bonita (e o pior de tudo é que ela sabia disso).

- Esses convites são...oficiais mesmo? - perguntou Karina, largando momentaneamente seu livro e observando com cuidado seu cartão - Eles não vão se auto-destruir ou liberar alguma substância tóxica, vão?

- Entendo que estejam desconfiados - disse Demi - E eu também fiquei, mas ela deu mesmo esses cinco convites para a gente.

- É de se desconfiar mesmo - falou Wilson.

 Nossas suspeitas eram justificadas, afinal, assim como quase todo mundo daquela escola, Patrícia não ia nada com a cara da nossa turma, principalmente com a Demi. Por alguma razão, ela tinha uma implicância monumental com a nossa garota propaganda preferida. E se vem alguma gentileza da Patrícia, bem, não é um bom sinal. Não mesmo.

-  Festa de aniversário? - Jorjão ainda parecia em êxtase com a notícia - Está falando de brigadeiros, coxinhas, cajuzinhos e....e...bolo?!

 Ele realmente parecia em êxtase.

- Bem, imagino que terá tudo isso - disse Demi, assustada com o olhar e expressão vidrada dele.

- Nós vamos, não vamos? - pediu ele, praticamente implorando para irmos.

- Não sei, não - respondi - Também estou achando essa história muito mal-contada.

- Bom - continuou Demi - A forma que isso aconteceu foi bem estranha...

- É verdade, você tá na sala dela - lembrou Wilson - Afinal, como ela te convidou?

- Bem... - Demi começou a nos contar.

* Flashback da Demi *

- Demi, querida! Oi! Como vai? - chegou Patrícia, assim que Demi colocou sua mochila próximo ao seu lugar.

- Patrícia? - ela respondeu - Aconteceu alguma coisa?

- Se aconteceu alguma coisa? Talvez não agora, mas vai acontecer! Vai acontecer uma coisa muito grande! Very, very, very great!

 Demi pensou ter entrado na sala errada, em um universo alternativo diferente, mas Patrícia estava mesmo empolgada.

- E...o que vai acontecer? - perguntou nosso amiga, ainda temerosa da criatura que estava diante dela.

- Well...você é uma das convidadas da minha festa de aniversário que acontecerá no sábado que vem, na minha casa

- Na...sua casa?

- Isso mesmo! - a loirinha sorria -Espero contar com sua presença. Ou...você tem mais alguma coisa para fazer?

 Nisso, várias das amigas de Patrícia observavam a conversa, também esperando uma resposta de Demi. Meio constrangida ela só responde que iria pensar.

- Bom...não sei..

- Ah, claro. Será que você é uma celebridade tão importante que não pode sequer ir a uma confraternização com as amigas?

 Bem, Demi ultimamente se dedicava mais aos cursos do que a alguma carreira de modelo ou cantora (coisa que ela já fez, em épocas anteriores), mas a parte que ela não engoliu mesmo foi o final da frase.

- Amigas? Mas você sempre me detestou

- Isso é passado, querida. Éramos imaturas.

- Você me odiava até ontem, Patrícia.

- As pessoas podem mudar quando menos se espera! Vai! Vamos! Vai ser divertido! 

- Muito divertido! - complementou outra das amigas da Patrícia.

- Bom...

- Por que não traz aqueles seus amigos esqui...quer dizer, legais também. Tem mais quatro convites aqui.

- Hã? Tá dizendo que posso convidar o resto do pessoal?

- Claro. Quanto mais gente for, melhor vai ser. Faço questão que eles também participem da minha humilde festinha.

- Bom, vou falar com eles, mas não sei se eles vão.

- Faça isso. Quanto mais gente for, melhor! Conto com a sua presença, viu? - ela dá um abraço em Demi e volta para seu lugar, toda sorridente. Não é preciso ser um gênio para ver que tem coelho nesse mato, mas o que poderia ser? Fato: se uma patricinha convida um grupo de nerds para uma festa, sinal de que vem problema por aí.

* Fim do flashback *

- E foi isso - terminou Demi - Ela simplesmente nos intimou para participar da festa dela.

- Muito suspeito - comentou Karina, com um olhar pensativo - O que ela pode estar querendo de nós?

- Não sei e nem pretendo saber - respondi - Não vamos cair nessa, vamos?

 Mas Jorjão parecia não concordar muito comigo.

- Bolo...brigadeiros...refrigerante - ele balbuciava, viajando nos próprios pensamentos - Só de pensar..

- Jorjão! Resista! - tentei trazê-lo de volta a si - Estamos falando da garota mais esnobe e metida dessa escola. Se aceitarmos esse convite, estamos assinando nossa sentença de humilhação!

- É verdade...já é estranho ela ter me chamado, mais estranho ainda ter chamado vocês - disse Demi, também com um semblante preocupado.

- Mas a comida... - Jorjão ainda insistia no argumento do estômago.

- Qual sua opinião, Wilson? - perguntou Demi. E isso era o que eu temia: quando Wilson ficava calado por muito tempo, não era bom sinal. Principalmente para mim.

- Hmm... - ele segurava o queixo, pensativo - Pode ser alguma tramoia dela, sem dúvida, mas..

- Mas?

- Ir em uma festa da high society do colégio pode dar ótimas oportunidades para nosso grupo

- Que mané high society?! - retruquei - É só uma festa de aniversário, por mais podre de rica que a menina seja. E uma festa de aniversário onde provavelmente nós seremos os palhaços se formos!

- Pode ser que sim, pode ser que não - respondeu ele - Mas só vamos descobrir se aparecermos lá!

- Tá brincando, né? - reclamei, mesmo sabendo que seria inútil.

- Que horas começa a festa, Demi? - perguntou ele, já tomando a decisão por todos, como sempre.

- Às dez da manhã do próximo sábado, para ficarmos o dia inteiro - respondeu ela, lendo o convite - Pede que levemos roupa de banho..

- O QUÊ?! - dessa vez fui eu que gritei e levei olhares feios da bibliotecária.

- Mas é isso mesmo - disse Demi - Ela tem uma piscina.

 "Uma festa na piscina?", pensei, sentindo meu sangue gelar, "Isso não é um bom sinal, não mesmo"