Capítulo 43 - Problema de última hora...(é claro que isso iria acontecer)

 Como ainda nos restava duas longas horas até a fantástica apresentação que nos traria a glória eterna ou a vergonha eterna (sendo a segunda opção muito mais provável), aproveitamos para passar o tempo pelas barraquinhas da festa. Festa junina de escola...aquilo de sempre e que eu já devo ter comentado no capítulo anterior: crianças vestidas à caráter, professores organizadores da quadrilha delas, também vestidos à caráter, barraca de comida, barraquinhas de jogos, coisas feitas de milho, esse tipo de coisa. Pode ser um lugar divertido, ou não. Depende muito do seu ponto de vista. Como eu sou uma pessoa racional, estava pouco me lixando para a tradição, desde que enchesse a barriga e ganhasse algum prêmio legal, tanto faz se fosse festa junina ou não.

- Ora, ora, ora - ouvimos uma voz, enquanto andávamos em grupo em meio a toda aquele monte de alunos. O dono da voz era ninguém menos que o eterno rival de Wilson, conhecido como Cássio.

- Ah, Cássio! Como vai? Faz tempo que não passamos no grupo de ciências! - cumprimenta Wilson

- Eu sei...mas tudo bem, ainda não criei algo bom o suficiente para derrotá-lo. Mas prometo que vou fazer isso logo!

- Sei - responde o despreocupado Wilson, mais atento à barraca onde estava Cassio - O que você tá fazendo nessa barraca?

- Heheuheh! Achei que nunca iam perguntar! Quis dar um ar mais interessante a algo tão antiquado quanto uma festa junina

- Ah, é? Estou vendo - responde Wilson ao ver a barraca. Claro, como sou idiota. Nem descrevi a cena. Cássio estava atrás de uma barraca de festa junina aparentemente normal com um mural cheio de prendas comuns nesse tipo de festa. Balinhas, bonecos velhos, brinquedinhos de loja de um real...mas o que destacava era o tipo de evento. Aquilo ali não era um...video-game. Aliás, um video-game bem conhecido

- Isso aqui, meus caros, é a barraca de festa junina do futuro!

- Isso não é um Nintendo Wii? - questionei, ao ver o console ali, ligado a uma enorme tela com um tipo de jogo que eu não conhecia.

- Exatamente. Aproveitei a tecnologia do console para criar minha própria homebrew de festa junina

- Uau! Ele é bom mesmo, heim? - comenta Demi - O que é uma homebrew? - ela me pergunta baixinho, de canto.

- Ah..é um tipo de software não oficial...mas acho que ele fez isso por hobby mesmo - respondi

- Sério? Ele consegue programar até isso? Que demais! - ela se impressiona.

"Para alguém que cogita fazer uma máquina do tempo isso é moleza", pensei.

- Homebrew de festa junina? Uau! Isso com certeza ganharia do nosso óculos educativo! - fala Wilson

 "Fala sério! Quem teria uma ideia tão bizarra?", pensei. Não sei o porque de ter pensado aquilo. Considerando que estávamos na Megatec, tudo ali tendia a ser bizarro mesmo.

- Heh! Professores não reconhecem a beleza de jogos, mas você parece entender, Wilson...vejo isso no seus olhos

- Bem, modéstia à parte - ele olhava as mãos, meio disfarçando - Tenho uma certa habilidade com jogos

- Ótimo! Eu te desafio agora mesmo, Wilson! Não precisa nem pagar o tíquete! Iremos nos degladiar numa competição de jogos clássicos de festa junina!

- Jogos clássicos? - repete Demi. Eu já sentia uma gota escorrendo na minha cabeça.

- Primeiro a pescaria, depois o jogo de argolas, o tiro na boca do palhaço, a jogo de derrubar garrafas e o autorama. Cinco jogos de festa junina. Quem vencer, leva o prêmio máximo

- Prêmio máximo? - pergunta Demi. Cassio aponta para um tipo de capa de CD, no topo da escala de prendas.

- Sim. É um antigo CD do Metallica

- E por que um CD desses seria o prêmio máximo? - perguntei

- É a melhor coisa que tem por aqui - foi a resposta

- Acho que já tenho um desses - fala Wilson - Mas não costumo recusar um desafio. Vocês também vão entrar?

- Valeu. Mas não sou muito bom com esse tipo de console - respondi

- Imaginei...você é melhor com Playstation, não é? - fala Karina

- Bem...é o console que tenho e..

- Você tem cara de sonysta - ela conclui

- Do que eles estão falando? - Demi pergunta para Jorjão.

- Basicamente - ele comia outra espiga de milho - As pessoas gostam de comparar times de futebol, mas nós preferimos comparar empresas de games. É mais divertido

- Imagino

- Acho melhor darmos uma volta...parece que isso vai demorar - comentei

- Nem tanto, mas se quiserem ir, podem ir - diz Wilson, enquanto se aquecia para jogar

- A gente se encontra daqui a pouco...ainda tem um bom tempo até a apresentação - completa Demi

- Beleza

- Concentre-se, Wilson! Vou acabar com você agora! - Cassio parecia mesmo determinado. Deixamos os dois lá e continuamos dando uma volta.

- Talvez a gente devesse procurar alguns jogos menos...hã...eletrônicos - sugere Demi

- Talvez - diz Karina - Uma festa junina é boa para participar de atividades não muito usuais em eventos com muita gente

- Que tipo de atividade usual você encontra em eventos? - indaga Demi

- Estava pensando em estandes de quadrinhos com descontos, salas de exibição de episódios, exposição de fanzines

- Isso não é um evento de anime ou de quadrinhos? Isso aqui é uma festa junina! Está dizendo que eventos desse tipo são mais usuais que festas juninas? - interrompo

- Claro. Você só pode ter uma festa junina em junho. Eventos assim tem todo ano - ela fala, sem mudar a expressão.

- Uma vez uma tia minha foi numa festa junina em julho...se bem que chamavam de festa julina - comenta Jorjão

- Viu? Você só pode ter uma festa junina em junho...se fizer em outro mês, deixa de ser junina

- Mas ainda tem as mesmas coisas de uma festa junina. Bandeirinhas, roupa caipira - Demi argumentava inocentemente.

- Mas não vai ser uma festa junina...se não é junho, simplesmente não pode ser uma festa junina

- Melhor a gente ir andando ou vamos ficar aqui o dia inteiro discutindo isso - sugeri. Nisso, Demi é abordada por uma mocinha vestida à caráter. Parecia ser do Ensino Médio.

- Com licença, você é Demi Gomez? - ela pergunta

- S-Sim - ela responde

- Correio elegante - a mocinha entrega uns vinte bilhetinhos para ela. Apesar de andar com a gente, ela continuava bem popular.

- Uau. São muitos, né? - ela comenta

- Ainda não se compara com o Beto da minha sala. Ele recebeu uns quarenta

- Ah, aquele Beto dos Tubarões Vermelhos - lembra Karina

- Se receber mais, eu mando pra você. Até

- Obrigada - Demi agradece - Nossa...depois eu vejo isso, mas deve ser tudo bobagem

- Pelo menos você recebe correio elegante - comentei, sem muita pretensão.

- É, Daniel, parece que você, claramente, pertence à comunidade "Eu nunca recebi Correio Elegante" - diz Karina

- Tá, tá. Nunca recebi

- Tadinho - Demi sorri, pegando na minha mão - Eu te escrevo alguma coisa depois, tá bom?

Senti meu rosto ficar mais quente, sei lá. Aquele gesto foi meio repentino. Receber um bilhete dela, mesmo que fosse de amizade seria ótimo. Demi...era tão bonitinha.

- Algum problema, Daniel? - estranha Demi, ao me ver tão calado de repente.

- N-Não. Imagina.

- Então, vamos continuar?

- Claro - respondi, com um sorriso meio bobo.

Andamos por mais algum tempo. No meio do caminho encontramos com alguém que não gostaríamos muito de encontrar, mas fazer o quê? Ela estava no nosso caminho

- Ah! Vocês! Ensaiaram a pecinha direitinho? - era Patrícia, devidamente vestida com roupa country.

- Patrícia! - fala Demi - Então você vai mesmo participar com o seu grupo?

- É claro. Eu tenho o direito, não?

- E desde quando você sabe cantar?

- Desde que meu pai pagou ótimas aulas particulares para mim! - ela responde - Ou você acha que é a única que pode cantar, queridinha?

Demi fica quieta, mas Patrícia continua

- E...modéstia à parte...devo dizer que a minha apresentação está uma ma-ra-vi-lha...vocês vão ter que se esforçar muito para chegar aos nossos pés.

- Será que a maioria das pessoas dessa escola gosta de música country? - perguntei, mais para mim mesmo do que para fora.

- Não sei. Mas a minha performance de "Achy Break Heart" com certeza vai arrancar aplausos de todo mundo!

- "Achy Break Heart"? - perguntei

- É uma canção country famosa de Billy Ray Cyrus - explica Karina - Conhece, não?

- Já não gostei. Sem contar que nunca fui muito com a cara da filha dele... - murmura Demi

- Acho que não manjo muito disso - comentei

- Jeito de cowboy, corpo de mulher...lembra dessa? - fala Karina, libertando uma péssima lembrança da minha cabeça.

- Urrghh! Obrigado pela lembrança

- Não foi minha intenção - ela se desculpa, mesmo que não conseguisse fazer uma expressão de piedade.

- Seja como for - fala Patrícia, já saindo de cena - Estejam preparados!

- Grrr....aquelazinha! - Demi parecia furiosa - Gente! Vamos fazer a melhor apresentação que pudermos! Não podemos perder para uma performance country!

- Bom..parece que já entrou alguém no palco - fala Jorjão

Ele se referia ao outro grupo que estava participando dos shows da festa. Era o grupo de metaleiros que roubaram nosso lugar no intervalo..

- E agora - diz a professora Vitória, a apresentadora do show no palco - A banda "Metal Genius"!

Todos aplaudem os caras

- E aí, galera?! - grita Abelardo, o vocalista - Hoje vamos cantar nossa nova música...feita com exclusividade para essa festa junina!

E é aí que eles começam a cantar...cai, cai, balão?

- O que é aquilo? - estranheie

- "Cai, cai balão" versão metal - fala Karina - Criativo, né? Provavelmente foi o que a diretoria aprovou

- Que porcaria é essa? - eu nem podia acreditar. Bizarrices à parte, parece que eles não fizeram muito sucesso, só de olhar a cara da plateia

- E aí, galera? Novidades? - chega Wilson, carregando o CD com toda a calma do mundo.

- Wilson? Vai dizer que ganhou o CD? - perguntei

- Claro. Tá aqui. Foi uma partida difícil e...

- Mesmo? - pergunta Jorjão

- Err...na verdade, não. Venci todas as partidas..Cassio ficou deprimido e mal consegue falar

- Ele vai se recuperar assim que pensar em outra coisa para te desafiar - comenta Karina - Depois desses caras é a apresentação da Patrícia e depois..

- Depois é a gente! - fala Demi - Melhor a gente já ir se preparando

Subimos para a sala de artes. Demi tinha recebido a chave para buscar as fantasias assim que fosse a hora, mas é aí que ela se depara com um grave problema. O rosto da garota começa a ficar branco

- Nossa, Demi. O que foi? - perguntei

- Minha fantasia de gata...não estou achando!

Como assim?