Capítulo 201 - Quem precisa de dinheiro? Nós precisamos!

Faz tempo que não entramos numa encrenca direto em outra, né? Pois era justamente essa a situação. Tudo bem, conseguimos participar do fracassado projeto de passar um dia na sala do jardim de infância. O problema é que fizemos tanta bagunça que quase todos os uniformes das crianças sofreram um bocado. Resultado: aceitamos ajudar a pagar uniformes novos (não poderia ser só a conta da lavanderia? Bom, talvez saísse mais caro...). E agora estávamos com um problema compartilhado por praticamente todo ser humano que vive sobre a face da Terra: conseguir dinheiro. Claro que nossos pais ficaram sabendo, mas ficaram feliz quando Wilson disse que eles daria um jeito de pagar com a responsabilidade de alguma forma segura. Nada como ter alguém que passe uma imagem de responsabilidade, não é? Claro que não foi muito legal ouvir de minha mãe que eu deveria ser responsável como o Wilson...afinal de contas, se ela conhecesse aquele cara teria mais cuidado em usar a palavra responsável (responsável onde? Aquele cara poderia destruir a Terra inventando alguma máquina maluca!)

– Tá legal - disse Wilson, destampando o pincel atômico para escrever no quadro branco em mais uma de nossas reuniões na nossa base sótão na casa dele (já que nossa ideia de casa da árvore não deu muito certo) - Precisamos de ideias para conseguir dinheiro.

– Podíamos vender café de novo - disse Jorjão - Só precisamos pedir a sala de limpeza emprestada de novo.

Se faz muito tempo que você leu os primeiros capítulos dessa história, ele estava lembrando nossa primeira maluquice como gangue formada. Mas pelo menos foi assim que conhecemos a Demi.

– Mas aquele ponto é péssimo - disse Demi - Se vamos vender algo, precisamos de uma localização adequada.

– Tem razão - falei - Falando em vender...por que simplesmente não vemos o que temos de antigo e vendemos? O Livre Mercado está ai pra isso!

– Vender na internet? - repetiu Wilson - Isso poderia resolver nosso problema, mas...não teríamos outra vantagem além disso.

– Como é que é? - estranhei.

– Não vamos só conseguir dinheiro! Vamos iniciar algo que a gente consiga levar adiante! Sim! Vamos explorar o lado empreendedor da NERD!

Claro. Como eu poderia esquecer o lado megalomaníaco do Wilson? Claro que ele não iria simplesmente resolver o problema vendendo um dos vários computadores dele (que, por sinal, já renderiam uma graninha). Precisava ser um negócio. Precisava ser algo além do problema. Ele, de fato, era um cara de visão. Na verdade, começo até a achar que ele planejou isso tudo desde o momento de aceitar entrar na sala do jardim de infância. Tudo para encontrar uma desculpa de montarmos nosso próprio negócio. Mas o que uma turma de cinco pirralhos como a gente poderia fazer?

– Aulas particulares? - sugeriu Karina - Muitas pessoas precisam de ajuda em matérias...

– Err...não sei se poderia ajudar nisso.. - disse Demi - Minhas notas não são lá grande coisa.

– E será que você consegue explicar bem, Wilson? - perguntei.

– Bom, claro que tudo depende do esforço do aluno - comentou ele.

Diga isso para as pobres crianças que foram obrigados a ouvi-lo ensinar teoria da relatividade há pouco tempo atrás.

– Mesmo assim vou anotar a ideia de Karina - disse ele - O problema é que precisaríamos de um retorno mais rápido. Não estamos em época de provas e duvido que a procura fosse alta.

– Que tal alguma coisa ligada a internet? - sugeriu Demi - Talvez produção de conteúdo em redes sociais e de compartilhamento..

– Mas aí o retorno também não seria muito rápido - falou Wilson - E pouca gente ganha dinheiro com a internet.

Podemos dizer isso com toda a certeza. Nossas tirinhas mensais de Criselda, a Galinha Guerreira, não rendiam mais que meia dúzia de visitas por mês (sim, quando pensávamos em alguma coisa engraçada, logo Wilson adaptava para uma tirinha dela. E sim, ele não tinha desistido totalmente da personagem, lembrando-se dela sempre que vê uma tirinha ruim em um jornal e percebe o quanto conseguiria fazer algo melhor). Trabalhar com Internet é uma loteria, seja com vídeos, seja escrevendo histórias esperando que alguém comente.

– O que daria um retorno financeiro rápido? - refletiu Demi.

– Já sei! Por que você não faz algum show, Demi? Você é uma ótima dançarina e cantora! - sugeriu Wilson.

– Espera aí! Tá querendo explorar a Demi? Precisamos de dinheiro, mas todos estamos juntos nessa! Todo mundo vai ter que ajudar! Não é você quem diz que não existe "eu" na NERD?

– Tem razão, Daniel - suspirou Wilson - Desculpe, não quis explorá-la.

– Imagina...mas acho que não faria tanto sucesso assim...estou bem fora de forma ultimamente. Precisaria compor novas músicas.

Na verdade só falei aquilo porque não queria mais marmanjos babando em cima dela. Demorou para deixarem a coitadinha em paz...e ainda mais agora que a Emília não estava mais no meu pé (ah, como eu amo lembrar disso), precisava mantê-la segura o máximo que pudesse.

– E você, Jorjão? Por que está tão calado? - perguntou Wilson.

– Comida - disse ele, sem esconder sua expressão de fome - Estava pensando em comida.

– Você sempre pensa em comida, mas minha mãe ainda vai demorar um pouco para trazer os lanches - disse Wilson.

– Não, não. Estava falando de comida como ideia - disse ele - Por que não insistimos na venda de comida, mas em uma localização melhor, como disse a Demi?

– Talvez, fora da escola - falei - É...comida sempre dá dinheiro.

– Sim. E dinheiro rápido. Desde que seja bem feita - falou Demi - Mas...o que exatamente nós poderíamos vender?

– Algo fácil de preparar - disse Wilson - E que seja gostoso..

– Estamos chegando perto do fim do ano(*) - disse Karina - A tendência é aumentar o calor, então poderíamos vender bebidas.

– Sim! Sucos! Isso mesmo! Boa, Karina - disse ele - Minha mãe tem o melhor suco de acerola da região e..

– Ei, não podemos pedir ajuda para a sua mãe - lembrou Demi - Não disse que queria arcar com toda a responsabilidade?

– Oh, é verdade. Bom, nesse caso, nós, da NERD, faremos nossos próprios sucos! - disse Wilson, entusiasmado - Sim! Será nosso ingresso para o ramo das bebidas naturais. Vamos entrar no competitivo mercado de barraquinhas de suco!

Considerando que nossa escola já teve até modelo de detenção e que já tentamos fazer uma casa da árvore, só faltava mesmo montar barraquinha de suco na calçada para tornar nossa história cada vez mais parecida com um filme infantil de Sessão da Tarde. Tá. Que seja. Vamos ver onde esse negócio vai nos levar...hora de mais confusão!

(*) = Lembrando que essa temporada se passa na segunda metade do semestre, continuação direta da temporada anterior (não teve férias para eles)