Capítulo 189 - A Noiva de Daniel

A primeira parte das minhas manhãs nunca são muito diferentes. Lá estava eu, deixado pela minha mãe a uns 10 metros da escola onde eu deveria cumprir minha missão diária de assistir seis aulas chatas. Só precisava caminhar uma leve distância. Não deveria correr nenhum risco, certo? Bem, é o que eu achava. Nunca se está totalmente seguro quando se tem uma certa pessoa na sua cola.

– Hihi - foi a risadinha que ouvi logo atrás de mim.

"Não, não. Ela não", foi o que pensei, sem sequer ter coragem de me virar e olhar para trás.

– Danzinho! - Emília me abraçou fortemente por trás, antes mesmo que eu me voltasse. Ela nem sequer conferiu se era eu mesmo! E se fosse outra pessoa? Bom, mas se tratando da Emília, ela deve me reconhecer até pelo perfume. Aliás, tenho usado uma colônia muito boa que ganhei da minha avó...apesar de duvidar que outra pessoa de 13 anos use algo do tipo. Mas estamos fugindo do assunto...voltemos ao meu problema.

– Ah, é você, Emília? - falei sem o menor entusiasmo.

– Você não respondeu minhas mensagens de novo...seu celular está com defeito?

– É. Pra você ver. Preciso trocar - disse, não querendo revelar que o número dela já estava bloqueado há um bom tempo.

– Bom, não tem problema. Logo, logo, nem vamos precisar trocar mensagens - disse ela.

– Hã? O que quer dizer?

– Daniel - agora ela assumiu um ar mais sério - Tenho algo para te entregar. Algo muito importante.

– Algo...importante? - o meu radar de perigo estava apitando no máximo. O que aquela doida estava pensando?

– Sim. Muito importante. Muito importante mesmo.

Meus instintos me diziam para sair correndo, comprar uma passagem sem volta para o Alasca e sumir do mapa. Mas como não tinha dinheiro para isso, só me restava ficar ali e arriscar meu pescoço...ou algo pior.

– Aqui - ela retirou do bolso uma caixinha vermelha. Ao abri-la mostrou algo que fez arrepiar até o primeiro pelo que eu achava que estava nascendo debaixo do meu braço (sim, estou na puberdade).

– O...que é isso? - balbuciei.

– Daniel! Quero que aceite essas alianças!

– Para quê?

– Para firmarmos um acordo.

– Está me pedindo em namoro? - falei em um tom altamente apavorado.

– Namoro? Não, não, claro que não. Você entendeu errado.

Ufa. Então talvez eu estivesse me preocupando à toa. Claro que não podia ser para firmar algo como um namoro.

– Isso se refere a casamento

– O QUÊ?! - gritei em um tom sem comparação em níveis de pavor com minha última frase.

– Claro! Já nos conhecemos há mais de um ano e nossa paixão está fervilhando! Está mais do que na hora de nos casarmos!

Incrível como a percepção das coisas daquela menina era tão...Megatecniana!

– Casamento? Mas nem terminamos o Ensino Fundamental! - reclamei.

– Não importa. Ficamos noivos agora e nos casamos quando já estivermos formados. Só precisamos de autorização dos nossos pais e fica tudo ok.

– E o que te garante que nossos pais vão concordar com isso?

– Oh, tem razão. Mas não se preocupe. Se eles não concordarem, a gente foge. Não é romântico? Um casal em fuga?

Eu é que queria fugir naquela hora. Mas o pior estava por vir.

– Olha, Emília, eu..

– Eu sei, eu sei. É tudo muito repentino. Mas você tem tempo de se preparar.

– Como assim?

– Li nas cartas que a melhor época para avançar nossa relação é no mês que vem. Você ainda tem uma semana para pensar em como me pedir em casamento.

– P-Peraí. Eu te pedir em casamento? Como assim?

– Sim. A sociedade é machista, mas ainda assim acho que é o mais romântico. É o garoto que deve pedir a garota em casamento.

– Mas você acabou de me pedir em casamento!

– Sim. Mas quero fazer tudo direitinho, viu? Quero que guarde essas alianças com você e peça a minha mão em casamento quando se sentir pronto.

– Espera, eu..

– Não se preocupe. É apenas um símbolo. Essas alianças são de bijuteria. Não tinha dinheiro para comprar verdadeiras. Mas é claro que um dia compraremos as alianças de verdade!

– Você não tá me deixando falar e...

– Eu sei. A emoção te deixou sem palavras, não é? Mas não se preocupe..nosso destino já está traçado! Aguardo ansiosamente o seu pedido! Até mais.

– Espera aí..

– Não. Se eu ficar mair perto, posso não me conter. Preciso guardar meu entusiasmo até o dia do pedido. Até mais, Danzinho! Uhuhuhuhuhu!

E eu fiquei ali. Com cara de tacho e segurando uma caixinha com duas alianças douradas de bijuteria. Dessa vez, a Emília passou dos limites. Eu preciso ser claro com ela. Preciso dizer que ela não faz o meu tipo. Preciso falar algo que já devia ter dito há mais de um ano. Aliás, por que não falei isso ainda? Ah, sim, eu sou um banana, é verdade. Agora as coisas chegaram a um ponto crítico. O que vou fazer?

– Acho que...estou perdido! - lamentei.

Como vou sair dessa?