Capítulo 167 - Mais Mistérios

  Três dias se passaram desde os últimos incidentes no Megatec. Que incidentes? Bem, primeiro alguém colocou catchup no corrimão da escada principal da escola. Depois, do nada, alguns insetos do laboratório de biologia foram tirados dos frascos. Duas travessuras que não passariam em branco pelos olhos da diretora Silvia. Mas, por incrível que pareça, não havia nenhuma imagem nas câmeras do colégio. Era como se todas as evidências tivessem sido apagadas. Ou estávamos lidando com algum ser sobrenatural ou com um criminoso muito habilidoso. E claro que certas pessoas próximas estavam muito encafifadas com essa história (o que não me agradava muito).

- Você...parece bem pensativo - disse para Wilson, no intervalo entre uma aula e outra. Era estranho, ele não havia anotado muita coisa da aula (e ele sempre anota tudo) e ficava o tempo todo meio aéreo. E saber o que está passando na mente dele é importante, uma vez que quase sempre as ideias dele envolvem a minha pessoa.

- Aqueles casos...do catchup e do inseto. Ainda estou intrigado com essa história.

- A coordenação deve estar fazendo alguma coisa a respeito, não?

- Três dias se passaram...e ninguém deu notícia de nada - falou Wilson - Estranho..

- Talvez...seja porque nada disso diga respeito a nós alunos. É um problema da coordenação.

- Pode ser - concordou Wilson - Mas e se for algo que eles não consigam decifrar? Algo além da compreensão humana?

 E claro que se é incompreensível para a coordenação, não significa que seja incompreensível para a gente, pobres pirralhos que ainda nem saíram do Fundamental. De qualquer modo, já eram três dias sem notícias do caso e eu ainda era da opinião de que a coordenação preferiu manter o caso em segredo. Isso até o intervalo, momento em que Wilson ainda não conseguia tirar sua atenção dos mistérios.

- Tsc! Será que não é algum ser sobrenatural? Tipo, o Estagiário Fantasma - comentou ele.

- Wilson, pela milésima vez, o Estagiário Fantasma não existe! - retruquei.

- Não temos provas disso - respondeu ele - E como você explica as imagens terem sido apagadas? Heim?

- Talvez o cara que mexe com os vídeos tenha feito algo - suspeitei.

- Pode ser...se pelo menos a coordenação desse uma pista - reclamava Wilson, enquanto Jorjão apenas desembrulhava o sanduíche de bacon que trouxe de casa. No corredor, encontramos Karina e Demi, completando o time. 

- E aí, gente? - falou Demi - Alguma novidade?

- Quero..saber...o que descobriram sobre o caso do catchup e dos insetos! - reclamou Wilson - Isso tá muito estranho!

- Ah, é...aquilo - lembrou a garota - Mas já faz uns três dias que ninguém dá notícias disso, né?

- Pois é...será que descobriram alguma coisa? - Wilson continuava a se inquietar. Nisso, um garoto aleatório de alguma sala comentou algo que mudaria tudo. 

- Estranho, cara...o meu PSP voltou a aparecer na minha mochila - falou ele, carregando o game portátil nas mãos.

- Ué? Mas a professora não tinha confiscado ontem? - perguntou o colega dele.

- Sim. Isso mesmo. Ela disse que só iria devolver hoje, mas ele tá aqui. Com o jogo e tudo - falou o garoto, achando tudo muito estranho.

- Ei - Wilson o chamou - O que você disse?

- Hã?

- Repete o que você acabou de dizer...sobre seu PSP! - Wilson não estava com uma cara muito amigável diante de um garoto mais novo.

- E-Eu...só disse que meu PSP apareceu de repente...na minha mochila.

- Isso...é mais um caso estranho! - exclamou Wilson - Como isso pode ter acontecido? Você não viu se alguém entrou na sala e colocou o game lá? Quando você viu isso e...

- Não, não vi nada - disse o garoto - Até hoje de manhã, quando cheguei na escola, o game não estava na mochila...mas agora no intervalo, fui guardar meu caderno e vi o jogo lá. Esquisito.

- Você deixou sua mochila em algum canto nesse meio tempo? - perguntou Wilson.

- Bem...deixei ela de lado antes da aula começar para jogar bola no pátio - falou ele - Talvez alguém tenha colocado o aparelho lá nessa hora.

- E é o seu aparelho mesmo? - perguntou Demi.

- S-Sim. O jogo é o mesmo e até esse risquinho do lado está aqui. É mesmo o meu portátil.

- E a professora que confiscou não falou nada? - perguntei.

- Bem, terei a última aula com ela hoje. Talvez ela dê alguma explicação.

- Vamos te procurar - falou Wilson (pare de assustar o garoto) - Isso tá muito esquisito.

 E seguimos o intervalo depois disso, apenas para Wilson mergulhar no caso com mais intensidade.

- Primeiro, travessuras estranhas à noite...e agora, uma ação em plena luz do dia - disse Wilson, andando de um lado para o outro, enquanto meus olhos tentavam segui-lo sem muito descanso - É bem possível que seja alguém dessa escola.

- Não é possível. Será que ninguém viu nada? - indagou Demi.

- Ele pode ter sido bem discreto - falou Wilson - Mas isso é mais um item para a lista de coisas estranhas acontecendo no colégio.

- Ou isso...ou a própria professora devolveu o game para ele no pátio - falei.

- E por que ela faria isso sem avisá-lo? Não faz sentido!

- E que outra explicação você tem? - questionei.

- Não sei! É isso que quero descobrir! Vamos ver o que a professora do moleque vai dizer sobre isso...

 E o tempo passou. No final da aula, Wilson fez questão de procurar o pobre garoto para obter mais informações. Não demorou muito para encontrá-lo.

- Ah, aí está você! - disse Wilson, aproximando-se de maneira pouco discreta como sempre - E aí? O que sua professora falou?

- Err...então...aconteceu algo ainda mais estranho - disse ele.

- O quê? Fala, garoto! Desembucha! - Wilson não estava deixando a situação muito confortável.

- Bem...ela me devolveu um outro PSP - falou ele.

- O quê? - agora eu que fiquei encafifado.

- Isso mesmo...ela me chamou de canto na sala e entregou o jogo para mim...depois falou todo aquele discurso de professor, de que eu não devia jogar na aula e blá-blá-blá.

- Esqueça o blá-blá-blá...você comentou algo sobre o outro PSP? - indagou Wilson.

- Não. Eu fiquei tão espantado que nem consegui falar nada - disse ele - Agora estou com dois games.

- Alguém quis te premiar, é? - perguntou Demi.

- Seria legal...se o PSP que ela me entregou...não fosse falso - disse o garoto.

- Falso? - todos falamos em uníssono.

- É. Vejam só - ele tirou o aparelho da mochila e nos mostrou. Era uma réplica exata de um PSP, mas era falso. Não ligava, não tinha nada na tela e até o peso era diferente. Karina fez o reconhecimento imediatamente.

- Nunca vi uma réplica de games portáteis no mercado - disse ela - Parece ter sido feito especialmente para se fazer passar pelo seu aparelho.

- É verdade - reparou Jorjão - Até o cortezinho do lado tá ali.

- Que estranho - comentou Demi - Por que a professora entregaria uma cópia?

- Simples. Ela não sabia que é uma cópia - falou Wilson - Ou teria vindo pedir satisfações para ele.

- Bem estranho mesmo - comentei.

- Só podemos chegar a uma conclusão - disse Wilson, com a mão no queixo e ar pensativo -  A professora que confiscou seu PSP é suspeita! Ela também deve estar envolvida com os casos anteriores..

- Não diga bobagens! Por que uma professora faria isso? - perguntei.

- Criminosos possuem todo tipo de motivação, Daniel - falou ele.

- Bem, a professora Margarida não parece ser do tipo que faria algo desse jeito - falou o garoto.

- A professora Margarida? De português?  - disse Wilson - É...verdade...ela nunca faria algo assim. Pelo menos eu acho que não...quer dizer, como ela conseguiu uma cópia tão perfeita?

- Ela não teria motivações para fazer isso - falei - Por que ela se daria a esse trabalho?

- É mais simples supor que alguém trocou o PSP original pela réplica sem a professora perceber e devolveu o aparelho - comentou Karina - Mas o caso não deixa de ser estranho...

- E também suponho que seja o mesmo responsável pelo catchup na escada...e a retirada dos insetos...deve ser a mesma pessoa! - falou Wilson.

- Mas agora é um caso pontual - comentou Karina - Não foi feito um alvoroço com todo mundo, como no caso do catchup na escada.

- Quem será esse aprontador? - ponderou Wilson - E como ele age? Isso é muito estranho..

 E iria ficar mais estranho ainda. Eu mal sabia que aquele era apenas o início de uma grande encrenca...