This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 154
Capítulo 154




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/95454/chapter/154

Capítulo 154 - Preparativos Iniciais

Nosso roteiro já estava encaminhado. Nada que não pudesse ser criado por qualquer pessoa desocupada, mas a intenção era mesmo essa: um monstro feito de cabelo e devorador de café assola uma pacata cidade. Entre os personagens principais temos um jovem empreendedor de uma cafeteria, uma jovem estudante de química e um viajante do tempo, além do monstro, é claro. Karina conseguiu criar um roteiro completamente banal, mas, pelo menos na cabeça de Wilson, perfeitamente reprodutível nas telas com nossos poucos recursos.

Mas independente da qualidade técnica do filme, minha intenção era outra: era minha chance de conseguir um beijo (ainda que técnico) da Demi, que certamente seria a tal jovem estudante de química. Por via das dúvidas, era melhor perguntar.

- Err...Wilson - chamei ele - Você já tem ideia de quem fará que papel?

- Eu quero ser o monstro! - falou Jorjão - É o que tem as falas mais fáceis!

- Você queria ser o monstro, Daniel? - perguntou ele.

- Não, não - respondi - Estava pensando em outra coisa...err...Demi, quem você quer ser?

- Ah, eu posso fazer qualquer papel - disse ela - Posso até ser a viajante do tempo.

- Beleza! Demi é a viajante do tempo! - falou Wilson.

- Hã? Ei, espera aí! - retruquei - Não acha que a Demi, como mais experiente no papel de atriz, não merece o papel principal?

- Não me importo - disse Demi humildemente.

- Não seja modesta, Demi - falei de forma confiante - Se tem alguém aqui capaz de fazer o papel da mocinha, é você!

- Imagina...não sou tudo isso - disse ela - Mas é o diretor que decide.

- O Daniel tem razão - disse Wilson prontamente - Ter uma atriz experiente como a Demi contará pontos a nosso favor.

Agora era questão de pegar o papel principal.

- E quem vai ser o dono da cafeteria? - perguntou Wilson.

A menos que Karina quisesse assumir o papel (mas a expressão indiferente dela denunciava que pouco importava o papel que pegasse), a única alternativa seria eu, certo?

- Hmm...eu poderia pegar esse papel, embora dirigir e atuar num papel principal seja complicado - falou Wilson.

- Wilson - chamei.

- Sim, Daniel? Tem alguma sugestão? - perguntou.

- Bem....eu....eu posso pegar o papel principal! - falei.

Foi o suficiente para todos os olhares da turma se voltarem para mim.

- Sério, Daniel? - perguntou Demi - É que...você parecia ser do tipo que queria pegar um papel menor...algo como figurante.

- Não tem problema - falei - Eu...assumo o compromisso de atuar no papel principal.

- Sério mesmo, Daniel?! - gritou Wilson com emoção - Isso seria fantástico! Demétria Gomez, a diva de nosso colégio e Daniel Luz, o garoto do sorvete. Duas grandes celebridades atuando juntas em um filme! Será a propaganda perfeita.

- Sendo assim, eu assumo o papel da viajante do tempo - falou Karina - Restam apenas os figurantes.

- Bom, se tivermos figurantes que não atuem na mesma cena dos protagonistas, qualquer um de nós pode fazer esse papel - disse Wilson - Lembre-se: queremos um filme de custo mínimo. O ideal seria fazer tudo só com nós cinco. Isso pode até virar uma nova tendência no cinema: produções com baixíssimo custo e poucos atores. E claro que nós seremos os pioneiros!

Pensando alto como sempre. De qualquer maneira, meu papel como protagonista estava garantido. Tudo bem, eu iria pagar um mico fenomenal, mas era um preço a ser pago para ter a chance da minha vida. Quando isso iria acontecer de novo? Um beijo no final...é tudo que eu precisava para finalmente uma ideia maluca do Wilson ter valido a pena. Ou pelo menos quase isso. Afinal de contas, eu devia ter imaginado que estamos falando de uma ideia maluca do Wilson.

- E aí? O que acharam? - perguntou Wilson, na hora do intervalo do dia seguinte, quando trouxe o script com todas as falas e cenas prontas (ele deve ter ficado a noite toda fazendo aquilo...mas para alguém com tempo livre como Wilson, isso não era muito problema).

- Err... - balbuciei - Não acha que está faltando alguma coisa nessa cena final?

- O quê? O que mais estaria faltando? - perguntou ele.

- Bem, sei lá...você sabe...os dois mocinhos conseguem vencer no final - falei, sendo o mais discreto possível para Demi não pensar que eu tinha segundas intenções - O que poderia acontecer com eles?

- Ora, Daniel. Isso está bem claro na cena final. Todos comemoram com uma rodada de café grátis e a câmera aproxima para um fio de cabelo da peruca cafeinada que fica se mexendo. Isso dá um ar de...não acabou...ou...será que vai ter uma continuação?

- E vai ter uma continuação? - perguntou Jorjão.

- Não, não, nosso filme deve ser único - falou Wilson - Mas esse clima de mistério fará a audiência pensar que o diretor pode muito bem criar uma. Mas eu nunca farei isso. Continuações sempre estragam os filmes.

Como se nosso filme já não tivesse nascido estragado.

- Então você quer dar brecha para pensarem numa continuação, sem nunca pretender fazer uma? - perguntou Demi.

- Exatamente - falou ele, olhando para cima com um ar sonhador - Essa pode ser minha marca registrada...assim como o clima obscuro de um Tim Burton ou as cenas violentas de um Tarantino!

E é claro que ele já estava se colocando no mesmo patamar de Burton e Tarantino. Mas isso não me importava! O que eu queria saber é porque não tinha uma cena de beijo...como Karina imaginou que teria. Olhei com cara de choro para ela, que apenas deu de ombros.

- Eu...estava imaginando uma cena um pouco diferente... - pensei alto.

- Estava pensando em quê, Daniel? - perguntou Demi - A gente pode sugerir para o Wilson!

- Hã? Ah, não, não, nada. Estava pensando em cortar logo depois da cena final, mas agora, pensando melhor, esse close no fio de cabelo da peruca se mexendo ficou legal...não é nada - falei de modo apressado e com uma cara provavelmente vermelha. Infelizmente, ainda não tinha confiança o bastante para falar o que estava sentindo...não ainda.

- Pelas suas contas, quanto tempo durará esse filme? - perguntou Karina.

- Creio que uns cinquenta minutos. Não será uma produção de longa-metragem. Os filmes atuais costumam ser muito longos...a menos que a história seja muito boa, as pessoas dormem no meio. Prefiro apostar em um roteiro conciso...lembrem-se que nossa história é propositadamente trash. Não precisamos ficar enrolando muito para avançar no enredo.

- Concordo - disse Karina - Só precisamos deixar claro quem é quem, afinal, o espectador precisa pelo menos se localizar na história.

- Ah, isso vai ser fácil. Eu pensei em tudo isso, relaxe - disse Wilson - E eu também já falei com meu tio que trabalha com perucas. Ele topou emprestar algumas para gravarmos o filme em troca do nome da loja dele aparecer nos créditos.

Sinceramente, tenho uma pontinha de inveja da família do Wilson. Um tio que aceita doar sua própria mercadoria para um filme amador desses devia ser gente boa pra caramba.

- E onde vamos gravar? - perguntou Demi.

- Ah, sim, podemos criar os cenários com material de baixo custo - falou Wilson - Aliás, quanto mais reciclável melhor. Mostrará que nosso trabalho se preocupa com o meio-ambiente.

- Está levando até isso em conta? - perguntei.

- Claro - falou Wilson - Além disso, pode ser um ponto positivo para ganharmos o apoio necessário.

- Apoio de quem? - perguntou Demi.

- Do colégio! - falou Wilson - Vamos agora mesmo falar com a professora Vitória e inscrever nosso trabalho para o festival cultural da escola!

Só tinha um probleminha: o festival cultural aconteceria em pouquíssimas semanas. Sinto que terei dias difíceis...ai, ai, onde será que isso tudo vai parar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!