This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 14
Capítulo 14




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Capítulo 14 - Nova vida jornalística...e algumas reflexões

 Por mais absurdo e surreal que possa parecer, nós, cinco zé-ninguéns da escola técnica Megatec, conseguimos sair de uma posição à margem da sociedade escolar para assumirmos o posto de editores do jornal da escola. Dizem que a união faz a força, mas conseguir tudo aquilo com apenas cinco pessoas em menos de duas semanas era algo, no mínimo, assustador. Mesmo assim, era o que aconteceu. Graças a insatisfação da opinião pública da escola com o jornal anterior (somado à falta de ética da professora Joseane em nossa aposta), agora assumimos o controle do jornal e subimos mais um degrau na traiçoeira escada da popularidade. Digo traiçoeira porque o que não falta nessa vida é gente querendo puxar o seu tapete. E isso incluia a professora Joseane, que, segundo nossas fontes, ainda fez muita coisa para tentar nos tirar da posse do jornal (mesmo com nossa mais que honesta vitória).

- Mas, diretor! - sim, ela foi conversar com o diretor - Como pode deixar cinco crianças e um professor recém-chegado assumirem o jornal da escola?

- Mas eles mostraram que são capazes - responde o diretor, enquanto assinava alguns papeis, mal olhando para os olhos da desesperada professora - O texto é até superior ao de alunos do Ensino Médio. Você como professora de línguas deve reconhecer isso

- É...isso eu até admito...ele escreve bem até demais, mas...não é essa a questão! Esses alunos são problemáticos! Como tiveram a ousadia de explorar a escola no meio da noite? Isso não é um mau exemplo?

- Mas eles não causaram prejuízo nenhum, causaram?

- Não, mas...

- Então não tem problema - o diretor continuava a assinar os papeis - Além disso, o guarda-noturno foi avisado de que eles estavam ali a trabalho, não foi?

- Que tipo de adulto em sã consciência permitiria isso? Quem são os pais desses garotos?

- Mas eles sairam de lá antes das nove da noite! Com essa juventude de hoje, até que é um horário bem razoável...e além disso..

- Além disso?

- A senhora também tinha um aluno sob a sua responsabilidade na escola e sem permissão de estar lá, não tinha?

A professora fica sem-graça, mas era verdade.

- B-Bem...eu o mandei lá justamente para impedir essa atitude tão irresponsável

- Não é o que o jornal dos meninos diz...muito menos as fotos que tiraram. Disfarçar de estagiário fantasma? Tudo bem as crianças se empolgarem com esse assunto, mas chegar a esse ponto...não faltou maturidade dos dois lados?

Realmente, Joseane não estava tendo muito sucesso naquela conversa.

- Devo admitir então que o senhor não fará nada com a situação do nosso jornal escolar?

- Bem, precisamos reconhecer que essa edição está bem mais interessante - comenta o diretor - Apesar de que minha filha gostou daquelas dicas de pintura de unha

- O senhor está cometendo um erro, diretor!

- Com os alunos gostando e lendo, é vantajoso para a escola. E se não teve nenhum prejuízo, não vejo porque mexer nisso. Pelo que contaram, a senhora cedeu a posse do jornal por um livre acordo. Recomendo que procure outra atividade para coordenar. Esse assunto está encerrado, mais alguma coisa?

- Não senhor - ela responde, admitindo a derrota.

- Então...tenha um bom dia

  E não é que o Jorjão tinha razão ao dizer que aquela escola só fazia alguma coisa se mexessem no bolso deles? Desde sempre, para mim, a escola era uma terra sem lei, mas ali exageraram a coisa. De qualquer forma, nossos primeiros dias trabalhando no jornal foram tranquilos. A matéria da nossa primeira edição foi sobre pessoas e diferenças entre elas. O que, para Wilson, era uma boa maneira de ensinar mais tolerância aos alunos daquela escola.

- O que acha? - ele me pergunta, após me mostrar o texto para ler

- É...parece mostrar bem que existem os mais diversos tipos de alunos

- E que todos possuem seu lugar ao Sol - ele termina - É isso! É a mídia é o principal meio para começarmos a mudar as injustiças entre alunos que rolam por aí!

- Você sabe ser bem sério quando precisa, não é? - comentei.

- Eu sou um cara sério, meu querido! - ele responde, se jogando no pequeno sofá da sala. Comentei como era a sala do jornal? Bem, Wilson fez questão de mudar algumas coisas. Alguns livros a mais, uns pôsteres aqui, outros ali, colocar um sofazinho para relaxar, enfim ocupar a sala com o máximo possível de conforto.

- Aí, sim! De uma sala dessas que a gente tava precisando! - diz Jorjão, entrando na sala, acompanhando de Karina. Os dois foram buscar alguma coisa para comer.

- Pois é...embora ainda tenhamos a chave da sala de limpeza. Ainda podemos ir para lá sempre que quisermos! - comenta Wilson, mostrando que ainda dava valor a conquistas anteriores.

- Acha que ainda precisaremos voltar para lá? - perguntei.

- É verdade...agora que somos do jornal vai ser mais complicado continuar na limpeza das salas...mas tenho certeza que nosso cargo será substituido logo, logo

"Ele realmente tem ideia de onde vive?", pensei, admirado com a ingenuidade dele. Enquanto isso, Karina estava do meu lado, comendo algo como uma tortuguita de chocolate. Aquela garota...era ainda mais estranha que o Wilson. Ela raramente falava ou sorria, apesar de ser bonitinha a seu modo. Embora fosse firme nas poucas vezes que falava, não parecia se comunicar muito. Eu me achava quieto, mas ela era bem mais. Será que ela tinha algum trauma e estava se fechando para o mundo?

- Não, não tenho nenhum trauma - ela comenta, sem olhar nos meus olhos. O que é isso, ela sabia o que eu estava pensando?

- Não, não sei o que está pensando, mas posso imaginar o que seja - ela responde. Isso era mais estranho ainda - Apenas gosto mais de observar do que de falar

- Acho...que te entendo...

- Aceita? - ela me oferece um pedaço da tortuguita, mas eu recuso.

- Não, não, obrigado. Já é tão pequenininha

- Ou será que é porque eu já comi a cabeça?

- Hã?

- A maioria das pessoas começa a comer a tortuguita pela cabeça, não é?

- Nunca parei pra pensar nisso - respondi

- Bem, outras começam pelo rabo ou pelas perninhas...normalmente, eu começo pela cabeça, imagino que seja o mais normal

- Você acha? - era incomum ouvir ela falar tanto.

- Não acha que é mais sádico começar a comer pelo rabo ou pelas pernas?

- Não sei...é só uma tortuguita de chocolate!

- Mas o jeito como você come pode revelar muito sobre você! Comendo a cabeça de uma vez evita maiores sofrimentos....se você fosse uma tortuguita não acharia menos doloroso que comecem sua cabeça logo do que ficarem te torturando?

Ela não falava muito, mas parecia tagarelar bastante naquele tipo de assunto. Continuava escutando, já que Wilson parecia ocupado procurando mais assuntos para o jornal na net e Jorjão, bem, ele não falava muito quando estava comendo.

- É...acho que preferia que começassem pela cabeça também

- Não é? É duro de imaginar que existam pessoas que comecem pelas perninhas, mas existem...assim como existem pessoas que colocam o feijão acima do arroz

- Mas o que isso tem demais? - perguntei.

- Pessoas que colocam o feijão em cima do arroz são tão estranhas quando pessoas que começam a comer a tortuguita pelas pernas - ela comenta, terminando de comer e sem colocar um único sorriso no rosto. Na verdade, ela não tinha muita moral para falar de pessoas estranhas. Wilson continuava a pesquisar no computador da sala, quando se lembra da outra integrante do nosso grupo.

- Cadê a Demi? - ele pergunta, sem tirar os olhos da tela.

- Ela tinha aula de teatro hoje, não? - respondi - Não deve voltar mais

- Ah, é. Esqueci. Bem, é que as fotos delas são boas. Ela pode ser a fotógrafa oficial do nosso jornal

Tinhamos um jornal completo. Wilson cuidava da edição e dos textos. Eu revisava os textos e ajudava nos serviços mais braçais (junto com Jorjão). Karina editava as imagens e Demi tirava fotos. Depois disso, tudo ia para o aval do nosso orientador, professor Denis, que aprovava e mandava imprimir. Tudo parecia estar indo super bem. Pelo menos era o que eu esperava. À noite, estava revisando os textos de Wilson em casa (não sei porque ele me pedia para fazer isso. O cara escrevia bem melhor do que eu)

- Cheguei - diz minha irmã, ao chegar do clube de esportes onde fazia estágio (credo) - E aí, maninho? Fazendo trabalho? Difícil te ver no computador com o processador de textos aberto ao invés de jogos online

- Não enche - respondi - Preciso revisar esse texto

- Ah, é...você está no jornal da escola, é verdade. Nem acredito que você esteja num clube de atividades. Agora sim, senti firmeza! Você também podia treinar algum esporte no tempo livre, né?

- Ah, tô fora...nem dá ideia

- Foi só uma sugestão! Mas fico feliz em ver que está fazendo amigos e aprontando junto com eles. Isso nunca acontecia na sua antiga escola, né?

Aquilo me fez pensar um pouco. É verdade. Apesar das loucuras, aqueles quatro tinham se tornado meus amigos.

- Bem, vou tomar banho. Até

"É", pensei, "Até que as coisas estão bem tranquilas. Acho que posso sobreviver nessa escola"

Não que sobreviver lá seria fácil, afinal, mesmo não estando sozinho, os problemas não tardariam a chegar. E, logo, logo, saberíamos disso.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curto e pacífico...mas espere os próximos. Hehe

Destaque para a conversa à la primeiro episódio de Lucky Star entre Karina e Daniel (será que fui um dos únicos que adorou essa parte?)

Enfim, continue nos acompanhando. Prometo que o próximo capítulo será um pouco maior. Até!