Capítulo 139 - Opções por todos os lados

  Estávamos no pátio do colégio andando por uma feira de profissões. Finalmente, um programa normal após tantas maluquices que passei naquela escola (não, aquela excursão não foi um programa normal). Pelo menos até o momento tudo estava indo bem...e espero que continue assim. Então, aproveitando a calmaria, hora de conferirmos alguns estandes...mesmo que ainda tenha um bom tempo até a nossa formatura.

- Vamos ver logo a área de ciências exatas - falou Wilson, apontando para a região A2 do mapa que pegamos na entrada - Espero que eles tenham trazido caras bons!

- Bom, essa carreira eu já tenho certeza absoluta que não vou seguir - comentei.

- Somos dois, Daniel - concordou Demi.

- Acho que vale a pena dar uma olhada - disse Karina - Pelo menos a parte de ciências da computação me interessa.

- Não íamos ver o teste vocacional primeiro? - perguntei.

- Podemos ver isso depois! - disse Wilson - Vamos ver os estandes antes!

- Tá beleza, vamos lá! - disse Wilson, apontando para a área A2 e totalmente alheio a todos os olhares dos visitantes. Não demorou muito para alcançarmos a região do pátio que, por sinal, estava bem cheia.

- Nossa, quanta gente - comentou Demi - Toda essa galera quer mesmo seguir exatas?

- Tem uma aglomeração bem maior ali - apontou Karina.

- Nossa, será que estão distribuindo suco? - perguntou Jorjão.

- Vamos lá ver - disse Wilson. Após nos apertarmos um pouco, conseguimos ver o motivo da união de tanta gente. Um aparelho estranho, quando acoplado com o braço, permitia que a pessoa controlasse um robô.

- Uau! É um robô de verdade! - exclamou Demi.

- Mais ou menos - responde uma pessoa conhecida bem ao nosso lado.

- Ah, professora Simone! Há quanto tempo! - cumprimentou Wilson.

- Olá. Faz tempo mesmo, não é?

 Bastante. Na verdade, acho que ela não aparecia desde quando tentamos ganhar mérito no Grupo de Ciências e isso foi...foi...na primeira temporada (!). Professora Simone era a responsável por aquele Grupo e, provavelmente, estava organizando a área de ciências exatas.

- Esse estande de engenharia mecatrônica está fazendo bastante sucesso - disse a professora, bem contente - O pessoal tá adorando esse robô com sensor de movimento.

- Isso lembra o robô que calculava que eu fiz uma vez - falou Wilson.

- Ah, mas a função de reconhecimento de voz dele não era das melhores, não é? - falei, lembrando da história que ele havia contado.

- Ainda assim era melhor do que o robô que o Cássio fez para o projeto e...

 Mas quando se fala no diabo...

- Hahuhauhahaha! Então vocês acham um robô com sensor de movimento algo incrível? - disse o próprio Cássio, chegando em cena e, obviamente, chamando a atenção para ele.

- Ah, não, ele de novo? - reclamou Demi.

- Algum problema, Cássio? - perguntou a professora Simone.

- Como membro do grupo de ciências e auxiliar dos estandes de engenharia, não podia deixar de dar minha contribuição para instigar o amor dos alunos pela ciência.

- Todo mundo que quer seguir carreira científica é igual esse cara? - perguntou um dos visitantes. Já Cássio, apenas ignorou o aviso e retirou o lençol que cobria alguma coisa atrás dele.

- Senhoras e senhores! Eu vos apresento...o Robot Calculator 2011! - exclamou Cássio, apresentando um robô muito familiar.

- Não é aquele robô que só reconhece a sua voz? (*) - perguntei.

- Isso é passado! - ralhou ele - A versão 2011 está muitíssimo melhorada! Gostaria de testar?

- Ah, eu quero testar - falou Demi.

- Muito bem - disse Cássio - Pergunte qualquer coisa..soma, multiplicação, seno, cosseno, tangente..

- Tá legal...err...logaritmo de cosseno de zero - disse Demi.

- Hã? Ei, espere.. - mas o apelo de Cássio não adiantou muito. O robô tentou processar, mas acabou dizendo a frase "Problema de compreensão" várias vezes.

- Ele não conseguiu responder isso? - ironizou Wilson.

- É...parece que ele não reconhece funções compostas - disse Demi.

- Droga! Sabia que tinha esquecido alguma coisa - reclamou Cássio - Ele precisa reconhecer mais de uma função..

- Tudo bem, na faculdade lidamos com esse tipo de problema o tempo todo - falou o aluno de engenharia que estava apresentando o robô realmente sério.

- Que mico, heim? - reclamou um dos visitantes.

- Esses alunos que se acham o máximo - reclamou outro.

- Ei, como é que você pensou numa função composta? - reclamou Cássio - Isso nem é matéria do fundamental! Aliás, nem logaritmo é!

- Estudei um pouco mais de matemática...tive um bom professor - disse Demi, piscando para Wilson.

- É isso aí, Demi! Somos mesmo uma equipe! - comemorou Wilson, cumprimentando Demi alegremente.

- Você e sua mania de equipe, Wilson - falou Cássio, enquanto guardava seu robô falho mais uma vez (o jeito era esperar a versão 2012). 

- Esquece isso...vamos conferir o resto da feira - disse Wilson, mas as investidas amigáveis de nosso líder nunca agradavam Cássio.

- Não, obrigado. Eu já decidi que vou ser engenheiro da computação...com alguns cursos de especialização em física de partículas e ciências moleculares. Não preciso de uma feira de profissões. Vou para casa melhorar o Robot Calculator!

 E ele saiu de cena na mesma hora.

- Ele não muda mesmo, heim? - comentou Demi - E o que ele tinha que exibir um robô aqui na feira?

- É o Cássio - falou Wilson - Não precisamos levá-lo tão a sério. E aí? Vamos ver outros estandes?

 Não ser levado muito a sério...o Cássio não seria daquele jeito se o próprio Wilson não o levasse a sério! Mas tudo bem, queria ver uma coisa que não envolvesse mais do que as quatro operações básicas.

- Quer ver o de ciência da computação, Karina? - perguntou Demi.

- Eu já vi - disse ela - Estava visitando o estande enquanto vocês ficavam prestando atenção no Cássio.

 Ela era mesmo esperta por prestar atenção em coisas relevante. Mas para onde iríamos agora?

- Eu voto em procurarmos algo na área de Gastronomia - falou Jorjão.

- Será que veio alguém assim no colégio? - perguntou Demi, enquanto caminhávamos pela feira.

- Talvez tenha alguma coisa na área de artes - falou ele - Afinal, gastronomia é arte, não acham?

- Hahaha - riu Demi - É...é verdade. Também quero ver as carreiras artísticas.

 E lá fomos nós. A área de artística tinha a supervisão da professora Vitória. E é desnecessário dizer que ela estava bem aérea em todo aquele meio.

- Professora? - disse Demi, chegando de mansinho.

- Ah! Ah...Demi...é você? - perguntou ela - Desculpe..eu estava aqui..olhando para todas essas artes juntas e...Deus do céu! Olha aquela animação do estande de artes visuais? Aquela escultura da turma de artes plásticas! Aaaah!

 Ela estava quase desmaiando. É..a nossa professora sempre entra em êxtase com qualquer manifestação artística.

- Err...professora? - perguntou Jorjão - Estávamos procurando a parte de gastronomia.

- Gastro...nomia? - perguntou ela - Oh..desculpe...não achamos nenhum profissional nessa área.

- O quê!? Que chato! - reclamou Jorjão - Só porque eu queria saber se eles podem tirar uma casquinha dos pratos que cozinham ou não..

- Espere, espere, não fique triste - disse a professora - Err...o estande de artes plásticas tem alguns trabalhos com comida.

- Sério?! - falou Jorjão.

 Mas quando chegamos no estande, era apenas um quadro que imitava outras formas usando frutas.

- Que graça tem um quadro de frutas? Nem são frutas de verdade! - reclamou Jorjão, deixando os profissionais do estande um tanto constrangidos. Eu não entendo nada de arte, então, pra mim...eram só frutas pintadas numa tela.

- É o mais próximo de comida que temos - falou a professora.

- Deixa pra lá - falou nosso gordinho amigo - Vou pesquisar a profissão por conta própria.

- Relaxa, Jorjão. Ainda tem muito tempo até terminarmos o colégio - falou Wilson.

- Tem alguma coisa na área de música? - perguntou Demi.

- Oh, sim, sim, temos um músico aqui - falou a professora Vitória.

 E encontramos um tocador de violão dedilhando algumas cordas.

- E aí, galera? - falou ele, com uma voz bastante tranquila.

- E aí? - cumprimentou Demi - O que você toca?

- Ah, dá pra arrancar um Chico Buarque...um... 

- Música da primeira fase do Sonic 2? - perguntou Wilson.

 Noção..por que tê-la? Não que eu também não curta a música da primeira fase do Sonic 2, mas era óbvio que não era o estilo do cara.

- Vou ficar devendo essa, cara, mas... - ele era mais paciente do que eu pensava - ...posso tirar uma Garota de Ipanema aqui..

 E ele começou a tocar. A apresentação foi interessante, mas Karina tinha um comentário.

- Posso apenas fazer uma observação - disse ela.

- S-Sim? - gaguejou o cara.

- A última nota ficaria melhor se fosse assim.. - ela pegou o violão dele e reproduziu o último compasso da música perfeitamente, para espanto geral de todos.

- V-Você quer ser música? - perguntou ele.

- Na verdade quero seguir carreira em computação - disse ela - Mas aprendi um pouco de teoria musical quando era pequena. 

- E o irmão dela também toca muito - disse Wilson.

- Incrível! - o músico havia arregalado os olhos e perdido a postura calma. É. Mais de um ano no Megatec e você se acostuma com coisas incomuns.

 Ficamos mais um pouco andando pela área de artes e Demi parecia ter gostado de tudo.

- Estava em dúvida se queria fazer artes cênicas ou dança...mas ver os estandes deles me fez ficar com ainda mais dúvida - disse Demi - Demais!

- Que bom que gostou - comentei.

- Só faltou você, Daniel - reparou Wilson - Que estande você quer ver?

- Eu ainda não sei o que quero ser - admiti.

- Então...é melhor tentarmos o teste vocacional! - disse ele - Amigos! Vamos nessa!

 Tá...vamos nessa...o que será que meu teste vocacional vai dar?

(*) = ver capítulo 33