Capítulo 136 - Cabo de Guerra

  Recapitulando os últimos acontecimentos: estávamos em uma excursão escolar em um parque ecológico artístico, onde a botânica pode se tornar obra de arte (totalmente ao contrário dos seus livros de ciências). Por outro lado, embora uma excursão seja algo legal para fugirmos das aulas, esse passeio não está sendo um dos meus programas preferidos, principalmente por ter sido obrigado a arrancar ervas daninhas para conseguir uma pista de caça ao tesouro. E, como se não bastasse, Patrícia e Cássio roubaram nossa preciosa informação e tentaram chegar na próxima pista antes de nós. Wilson conseguiu alcançá-los, mas, mesmo assim, tinha um péssimo pressentimento a respeito do último desafio que a galera do Jonathan devia estar aprontando.

- Um último desafio, é? - falou Wilson - Que seja! Estamos prontos!

- Espero que sim - disse Jonathan - Deisy! Traga a corda, por favor!

- É pra já! - disse a garota, não sem antes estourar mais uma bola de chiclete. Corda? O que poderia ser?

- Uma corda? Vamos precisar de corda? - perguntou Cássio - Não me diga que é um desafio físico?

- Sim - respondeu Jonathan - Vocês terão que mostrar toda sua força e coragem agora!

- Mas que droga! - reclamou Cássio - Será que ninguém se importa com as habilidades intelectuais?

- E ninguém se importa com a minha beleza sendo chamuscada nessa correria toda? - reclamou Patrícia - Ainda vou ter que mexer com corda ou Deus-sabe-lá-o-quê? Ai, Cássio, querido, dê um jeito nisso!

- E-Eu? - gaguejou ele.

- Óbvio, né? Vai querer que eu, linda e maravilhosa, quebre outra unha nessa porcaria?

- Vocês não precisam se dar ao trabalho - interrompeu Wilson - Eu vou ganhar essa!

- Wilson, seu... - Cássio ia interromper, mas Jonathan soltou mais uma gargalhada.

- Hehe. Parece confiante - falou Jonathan - Mas duvido que apenas um de vocês, sozinho, vença esse desafio

- E qual é o desafio afinal de contas? - perguntei.

- Montanha! - chamou Jonathan. O grandalhão do grupo de grandões se aproximou. Ele parecia estar sedento por sangue. Não pude evitar de engolir seco.

- Se o Montanha está nessa...acho que vai ser algo complicado mesmo - comentou Karina - Ou alguém aqui garante derrotá-lo?

 Tanto eu quanto Demi e Emília balançamos a cabeça negativamente. É. Quem poderia vencer aquele cara em alguma atividade física? E eu já podia imaginar que tipo de desafio ele estava propondo.

- O desafio é muito simples - falou Jonathan - Só precisam derrotar Montanha em uma partida de cabo de guerra!

- Cabo...de guerra? - gaguejou Wilson.

- Sim. Imagino que todos estejam familiarizados com esse jogo. Cada equipe segura em uma ponta da corda e tentam derrubar a outra. Mais simples impossível.

 Impossível também seria derrubar o Montanha. E ser derrubado por ele também não parecia nada legal. Quem seria doido de aceitar um desafio desses?

- Isso não vai nos deter! - falou Wilson - Vamos encarar isso agora mesmo!

 E eu ainda pergunto?

- Muito bem - disse Jonathan - Você e quem mais?

- Heh! Não nos subestime! Eu tenho minha própria gangue! - falou Wilson, apontando para nós. Resumindo, não era grande coisa.

- Muito bem...mas fiquem sabendo que quem não vencer no cabo de guerra, vai perder o direito ao prêmio - falou Jonathan.

- Sim. Somos justos - complementou Beto.

 Muito justos. E agora? O que eles iriam fazer?

- Droga - reclamou Patrícia - Queria jogar na cara de todo mundo a vitória por aquele prêmio, mas vou me sujar toda se aceitar isso...aquelas inúteis das minhas amigas não estão mais aqui e o Cássio não tem a mínima chance.

- Ei, eu não disse que iria desistir - falou Cássio - Mas...vou precisar pensar num plano para derrubar aquele cara.

 O problema é que a visão de Montanha e toda aquela força não davam muito ânimo para os neurônios de Cássio.

- Tá com medo, né? - falou Patrícia.

- Cala a boca! Ainda estou pensando! - reclamou o rival de Wilson. E por falar em Wilson, ele já havia nos puxado para desafiar o Montanha.

- O Wilson e os NERDs vão mesmo desafiar o Montanha? - perguntou um cara da nossa sala.

- Tsc. Eles não tem a menor chance - falou outro - Só querem se exibir mesmo.

- Vai ser difícil - comentou Demi - Eu e a Karina valemos por menos de meio de vocês. 

- Não diga isso - falei - Você fala como se eu fosse forte.

- Mas perto da gente você é mais forte - disse Demi.

 Até fiquei lisonjeado com o comentário, mas logo ela perceberia que um frangote como eu não iria aguentar muito tempo. E Montanha parecia animado em derrubar a gente.

- Ah, isso vai ser bom! - disse ele - Estou louco para fazer vocês beijarem o chão!

- Não vamos desistir tão fácil! - falou Wilson.

- Vai, Danielzinho! Você consegue! - gritou Emília - Te dou um beijão se ganhar!

- Por favor, não me faça ficar com vontade de perder - resmunguei.

- Hmmm...Montanha vai puxar aquela corda com uma força F. Tudo que a gangue de Wilson precisa fazer é puxá-lo com uma força resultante maior que F. Será que eles conseguem?  - comentou Cássio.

- Você pode ter toda a física do mundo, querido. Mas se eles forem fracotes na prática, não vai funcionar - disse Patrícia com todo o descaso de sempre.

 E apesar da falta de confiança de todos, posso dizer com toda a convicção que...eles estavam certos. Foi só o jogo começar que vimos o quanto estávamos em dificuldade. Montanha era realmente muito forte.

- Hehe! Hehehehe! O que foi? Estão com problemas? - zombou Montanha.

- Não vamos desistir! - gritou Wilson - Vamos, galera. Força!

 Nós cinco puxávamos com tudo que tínhamos, mas parecia inútil. A Montanha não saía do lugar. Dizem que a fé move montanhas, mas para mover uma daquelas precisávamos de muito mais fé.

 - É...parece que vocês serão a primeira equipe a perder - falou Jonathan.

  Pois é. Não demorou muito. Apesar de nossa enorme força de vontade, acabamos caindo no chão. Montanha derrubou quatro de nós.

- Hehehe! Vocês não são de nada mesmo! - disse Montanha - Venci!

- Não tão rápido - disse Beto, que arbitrava a partida - Eles ainda tem um de pé.

 Era Jorjão. Por ser, digamos, um corpo de massa avantajada, Jorjão não foi derrubado tão facilmente quanto nós.

- O Jorjão ainda tá de pé! - exclamou Demi - Vai lá, garoto! Ganha essa pra gente! Força!

- O problema é fazer força - disse Jorjão, um tanto quanto envergonhado.

- Hã? Por quê? - estranhou Wilson.

- Bem...é que acabei comendo bastante no almoço e...vocês sabem, depois de alguns momentos, já começo a sentir alguns movimentos peristálticos e...

 Oh, sim, entendo bem aquele tipo de movimento. Então ele estava apenas segurando, sem fazer força nenhuma? Isso era incrível! Ou ele era pesado demais, ou era mais forte do que pensávamos.

- Tsc. Esse aí é mais pesado pra derrubar - reclamou Montanha - Mas nada que um pouco mais de esforço não resolva.

 E foi o que Montanha fez. Ele começou a puxar a corda com mais força. Agora Jorjão precisava aguentar.

- Vai, Jorjão! Puxa ele! - gritou Wilson.

- Mas se eu fizer isso... 

- Não importa! A gente aguenta! - disse Wilson.

- Hã? A gente aguenta? - perguntei - Tá brincando, né? Por via das dúvidas, é melhor evacuar a área!

- Ele tem razão - disse Dimas - Se esse cara estiver mesmo sentindo o que estou achando...

 E foi uma correria só. Todos fugiram alguns metros de distância, para tentar escapar da consequência do esforço de Jorjão. Ele acabou puxando, fazendo mais força e...bem, os próximos instantes foram um tanto quanto barulhentos (e não muito cheirosos).

- Oh, cara! - Montanha teve que tapar o nariz, mas essa foi sua falha. Com apenas uma mão, ele acabou sendo puxado por Jorjão, caindo e perdendo o desafio.

- Aeeeh! Vencemos! - gritou Wilson.

- Esperem, não venham. Ainda está perigoso aqui - disse Jorjão - Onde fica o banheiro?

 Jonathan (que acompanhava tudo de uma distância segura) apontou para a direção do toilet e nosso pesado (e vencedor) amigo se dirigiu para lá. Parece que havíamos vencido.

- Oh, droga, não esperava por isso - reclamou Montanha - Sem contar que ele era pesado pra caramba!

- Tudo bem...parece que vamos ter que ceder a localização do tesouro - falou Jonathan.

- É isso mesmo! - falou Wilson, correndo até Jonathan, tentando respirar o menos possível com o gás tóxico que ainda não havia abandonado totalmente a área (sério, acho que algumas flores do parque morrerão depois dessa) - Nossa equipe venceu!

- Você quis dizer o seu amigo fofinho, não é? - disse Deisy - Só podemos entregar a localização para ele.

- Mas nós somos uma equipe única! Não existe eu na NERD, apenas nós! - reclamou Wilson.

 Mesmo assim, eles insistiram em esperar Jorjão voltar para mostrar a localização do tesouro. Ele abriu o envelope e arregalou os olhos.

- Caraca! - disse ele - É lá mesmo?

- Lá onde? Deixa eu ver! - pediu Wilson, pegando o papel das mãos do amigo e vendo a localização do nosso prêmio - Ah, não! Fala sério!

- Sim..hehehe - riu Jonathan - Isso mesmo...o tesouro que vocês tanto querem...está localizado no meio do lago do parque!

 No meio do lago? Um monte de água cercada de terra? Como a gente ia se virar agora?