Capítulo 111 - O Terrível Devirot

  E nossa jornada pelo estranho mundo de Megatoria continuava. Se já faz muito tempo que você leu o último capítulo e não está a fim de voltar para lembrar o que aconteceu, não se preocupe, eu irei explicar (eu te entendo, leitor, afinal, eu também sou um preguiçoso). Cássio nos convenceu a jogar um RPG de tabuleiro onde ele seria o Mestre. Estávamos indo muito bem, conseguimos alcançar altos pontos de ataque e atravessar a Montanha Negra não seria problema na teoria. Mas na prática, havia muitas armadilhas e agora, mesmo com ataque alto, estávamos com problemas: por exemplo, nossa maga Karina estava sem pontos mágicos e um mago sem poder usar magia é como...como...como um videogame sem controle. Apesar dos pesares, Wilson estava confiante.

- Emocionante! Estamos chegando perto do último chefe - disse ele - Vamos arrebentar a cara dele!

- Bem...é o que parece - disse Cássio - Mas será que conseguirão derrotá-lo com tão poucos poderes mágicos? Lembrem-se que só seus pontos de ataque estão altos. Uma única magia poderosa e vocês irão água abaixo.

- Acho que...essa é uma ótima hora para decidirmos nossa estratégia - falou Karina - Eu posso não ter pontos mágicos, mas acho que não sou a única com habilidades especiais aqui. Não acha que deveríamos saber nossos poderes antes de enfrentarmos uma batalha tão difícil?

- Eu concordo - disse Demi - Aliás, deveríamos estar cientes disso desde o começo, não acha?

- Sério que eu não falei? - disse Cássio - Mas a culpa é de vocês por agirem precipitadamente sem consultar o mestre da mesa.

- Deixa disso e passa logo as habilidades - falei - Quero ver o que podemos fazer.

- Se vocês acham mesmo que isso vai salvar a pele de vocês - Cássio entregou o livro de regras para Karina que, após poucas folheadas, abre na página de habilidades. Pelo que parecia, não éramos tão fracos assim.

- Então o Wilson pode usar um ataque especial com a espada lendária capaz de causar até o tripo de dano de um ataque comum? - leu Karina - Bom saber...

- Opa. Falei que era uma boa pegar aquela espada - disse ele.

- Você nem sabia que tinha uma espada lendária! - retrucou Cássio.

- E aí está dizendo que eu tenho um ataque com flecha de luz com muita vantagem sobre trevas - disse Demi - Bom saber também.

- E eu posso usar uma técnica que aumenta ainda mais meu poder de ataque - comentou Jorjão - Aí sim.

- E eu tenho as habilidades de agilidade que eu já imaginava - falei, finalmente descobrindo que todas aquelas horas jogando RPG de video-game serviram para alguma coisa.

- Satisfeitos agora? - disse Cássio - Ou querem que eu saia para discutirem alguma estratégia?

- Seria bom ter um pouco de privacidade - falou Karina.

- Ora, sua. Tá legal, eu saio - disse ele - Mas só porque eu preciso ir ao banheiro.

 E foi o que Cássio fez (obviamente levando o livro de regras com ele). Agora era a oportunidade de discutir como iríamos agir, embora não tivéssemos nenhuma ideia dos poderes do mago das trevas. Mesmo assim, bolamos uma ideia de forma totalmente meia boca. Será que daria certo? Bem, só iríamos saber na prática. Poucos instantes depois, Cássio voltou e seu sorriso confiante era visível a quilômetros de distância.

- E então? Pensaram bastante? - perguntou ele.

- Você já voltou? - perguntou Demi.

- Não era nada demorado - disse ele - Mas também aproveitei para tomar um pouco de água e...ah, minha mãe também mandou trazer mais pãezinhos de queijo e refrigerante...não que vocês mereçam muito, mas...

- Aí, sim! Sua mãe é demais! - comemorou Jorjão, já tomando conta da bandeja de pães de queijo.

- Apesar de tudo, conseguimos pensar em alguma coisa - disse Karina - Podemos continuar.

- Bom, bom, estamos chegando ao clímax de nossa história. Vocês cinco chegaram diante do terrível mago Devirot, que planeja libertar o demônio Noswil e dominar toda a Megatoria controlando-o. Assim que chegam atrás dele, o feiticeiro percebe imediatamente a presença de vocês e gargalha diabolicamente. Agora, ele só precisa manter o fluxo de magia do ritual por mais alguns minutos para libertá-lo. Vocês chegaram bem na hora! Vocês tem algo a dizer?

- Sim, tenho - falou Jorjão - Essa fornada de pães de queijo tá ainda melhor que a anterior, heim?

 Cássio espalmou a própria testa.

- Mais alguém...de preferência com algo que tenha a ver com o jogo? - perguntou Cássio.

- Eu - disse Demi - Eu gostaria de fazer o mago Devirot refletir sobre o que está fazendo?

- Como é que é? - estranhou Cássio.

- Sim. Pense nos passarinhos, nas florestas, em todas as pessoas que irão sofrer em um mundo dominado pelo terrível monstro Noswil. Que graça teria dominar um mundo todo destruído? Pense no futuro e..

- Argumentação negada - disse Cássio - Estamos falando de um mago maligno. Ele é mal. Ele quer dominar no caos e na destruição. Você acha que vai conseguir emocioná-lo com essa conversinha mole?

- Mas...não dá nem pra rolar os dados para saber? - perguntou Demi.

- Ah, você quer rolar os dados? Então lá vai! Os pontos de perícia do terrível Devirot estão beeem concentrados no quesito crueldade. Será que ele vai cair na sua conversa? A chance é de uma em quatrocentos, de novo!

- Caramba, vocês adoram apostar no impossível, heim? - retruquei. Mesmo assim, Cássio jogou os dados. Claro que não deu certo.

- Viu só? Negado! - falou Cássio, com um sorriso bem confiante - O ritual maligno continua e o mago irá acabar com todos vocês aqui por tentarem se intrometer em seus negócios.

- Um vilão que é mal por ser mal...isso é tão clichê - reclamou Karina.

- Fale o que quiser, depois dele acabar com vocês o mundo de Megatoria será totalmente destruído! E mais importante do que isso, vocês irão admitir que não podem terminar uma história criada por mim!

- Bom, se você deixa a história impossível, é claro que não podemos terminar - argumentei.

- Se ela ficou impossível de terminar bem, foi porque nenhum de vocês pensou direito - disse Cássio - Minha história foi totalmente justa!

- Mais justo impossível - ironizei.

- Mesmo assim, vamos até o fim. Ganhando ou perdendo, admitimos que esse jogo foi bastante divertido - falou Wilson.

- Ganhando ou perdendo, é? Infelizmente, mesmo com tantos pontos de ataque altos e técnicas lendárias, eu duvido que algum de vocês realmente vença. Deviam ter seguido a história direitinho...ou pelo menos pensado melhor no que poderia acontecer.

- Isso ele tem razão - disse Karina - Fomos confiantes demais. É claro que poderiam existir armadilhas e situações em que eu seria obrigada a gastar meus pontos mágicos. Tsc.

- Sem contar que os pontos de defesa de vocês não estão muito altos - continuou o mestre - Meu mago pode acabar com vocês facilmente se atacar de uma vez só! 

- Então...seremos obrigados a lutar? - lamentou Demi.

- Claro que sim - retrucou Cássio - Achou mesmo que o terrível mago Devirot desistiria de seu plano supremo assim tão fácil? Ele está pronto para enfrentar todos vocês! 

- E ele nem tem um discurso coerente antes de começar a nos atacar - reclamou Karina - Esperava um mago que tivesse o mínimo de classe.

- Não adianta tentar enrolar - disse Cássio - Além disso, mesmo que eu falasse, você diria que é um discurso clichê.

- Sim, diria - respondeu Karina - Mas você deveria falar mesmo assim.

- Que seja...o discurso é: "Vocês chegaram tarde demais. Restam apenas alguns minutos antes que o ritual de libertação de Noswil termine. Não há mais o que fazer. Tudo que resta a heróis miseráveis como vocês é morrer aqui! Bwahahauahha!"

- Realmente...bem clichê - disse Wilson.

- Bem que eu imaginava - suspirou Karina.

- Podem dizer o que quiser - continuou Cássio - Mas isso não muda o fato de que estão perdidos.

- É...de certa forma ele tem razão - falou Daniel.

- Então...preparem-se para destruição total! - falou o mestre - Devirot desafia vocês! É hora de lançar os dados!

  Pois é. O que será de nós? Espero que nossa ideia funcione...mas agora não estou mais tão confiante quanto antes.