Capítulo 107 - A Grande Montanha Negra

– Sim...algo muito, muito, muito terrível! Bwahauhauhaha! - Cássio ria diabolicamente, provavelmente sabendo o que estava preparado na Grande Montanha Negra, local da batalha final contra o mago das trevas (que conseguimos chegar sem passar por nenhuma batalha antes). É. Ele parecia bem empolgado.

– Queriiido...os pães de queijo estão prontos! - disse a mãe de Cássio, enquanto ele fazia seu discurso muito, muito, muito terrível.

– Mãe! Você estragou meu clima tenso de novo! - reclamou ele.

– Oh, desculpe - disse ela - Mas estão prontos. Quem vai querer?

– Opa. Manda pra cá - falou Jorjão - Era disso que eu tava sentindo falta! Hehehe!

– Pegue quantos quiser - disse ela, obviamente desconhecendo quem era o Jorjão. Bem, antes que a tigela chegasse as mãos dele, cada um tratou de pegar pelo menos um pãozinho de queijo ou iríamos passar a tarde com fome. E o que posso dizer? Ah, a mãe do Cássio faz pães de queijo maravilhosos. Pelo menos por eles, valeu a pena passar a tarde ali.

– Podemos continuar? - perguntou ele, depois do lanchinho ser servido.

– Vou trazer uma garrafa de refrigerante para vocês e alguns copos - disse a mãe de Cássio simpaticamente. Cássio pigarreia e volta a narrar o jogo.

– Muito bem - disse ele - Vocês estão na Grande Montanha Negra e o terrível mago das trevas Devirot está no topo realizando um ritual maligno há mais de duas semanas para despertar o terrível Noswil. Só existe um único caminho para chegar até lá, mas ele está sendo bloqueado pelo dragão de estimação de Devirot. O que vocês irão fazer?

– Eu tenho alguma magia de sono? - perguntou Karina.

– Magia de sono? Está pensando em fazer o dragão dormir? - perguntou Cássio.

– Sim. Basta fazermos ele dormir e nos teletransportarmos para trás dele. Simples assim - respondeu ela.

– Vocês não vão nem querer lutar? - questionou Cássio.

– Por que passar por lutas desnecessárias? - falou Wilson - Melhor guardarmos nossas forças contra o mago, não?

– Grrrr! - resmungou Cássio - Tá bom. Vamos ver se vocês conseguem.

E, graças às grandes habilidades de Karina (e por ter muitos pontos de perícia), ela conseguiu passar pelo dragão com sucesso.

– Pronto. Agora é só seguir até o final - disse Karina em voz baixa.

– É só o dragão que estava no caminho? - perguntou Demi - Assim fica fácil demais.

– Claro que não - disse Cássio - Coisas muito mais terríveis aguardam vocês ainda!

– Eu tenho uma pergunta - disse Wilson - Por que o mago está fazendo o ritual há mais de duas semanas?

– É um ritual demorado - falou Cássio - Além disso, não teria graça se ele fizesse imediatamente, não? A história precisa de algum desafio.

– Você não é muito bem em criar histórias, não é, Cássio? - observou Karina.

– Quieta! E vamos continuar a história...bem, vocês passaram pelo dragão, mas para chegar até o topo da montanha, terão que passar ela por dentro.

– Por dentro, é? Parece legal - disse Jorjão.

– Nem tanto. A caverna que vocês entrarão é extremamente escura e fria. Antes que vocês perguntem, sim, a Karina tem uma magia de luz, mas ela gasta 3 pontos mágicos por minuto.

– Três pontos mágicos por minuto? - questionou Karina.

– Sim. Terão que usá-la constantemente se quiserem passar pela escuridão da caverna - explicou Cássio - E mais: Karina não poderá usar outra magia enquanto estiver iluminando a caverna.

– Sério? - reclamou Wilson - Isso deixa as coisas mais difíceis...

– Relaxe - comentei - Estamos mais fortes, lembra?

– Tudo bem - comentei - Nós estamos bem mais fortes agora. Mesmo com a Karina ocupada, podemos dar conta dos desafios que estiverem lá.

– Será? Vamos ver...ah, sim, a escuridão afeta o sucesso nos dados também. A probabilidade de suas ações darem errado aumentam, mesmo com a magia de iluminação.

– Não me surpreende - falei - Mas mesmo assim, vamos entrar.

– Certo...então, vocês entram e...são atacados por vários morcegos! - disse nosso "mestre" Cássio.

– Ei, podemos reagir a isso, não podemos? - falei, embora imaginando um monte de morcegos voando em cima da gente.

– Infelizmente foi um ataque surpresa - disse Cássio - Como são muitos e rápidos, todos vocês perderam dois pontos de vida na bagunça.

– Tá...dois pontos não é nada para quem tem quase 70 - falou Wilson - Vambora, gente!

– Mas alguns passos depois - continuou Cássio - Mais um monte de morcegos te atacam de surpresa...tirando mais dois pontos de vida!

– Ei, isso tá mesmo no livro? - perguntou Demi.

– Bom, vocês podem ver com seus próprios olhos - falou Cássio, mostrando a página do seu caderno de mestre justamente na parte "caverna com muitos morcegos. Podem atacar os jogadores há qualquer hora e causam dois pontos de dano sem que eles possam ter a chance de se defender"

– Então não tem jeito - suspirou Wilson - Vou ter que ir na frente agitando minha espada lendária e espantando todos os morcegos que encontrar!

– Hã?! - agora Cássio pareceu surpreso - Eu não previ isso...acho que dá para entrar na categoria de habilidade especial.

Categoria de habilidade especial: sempre que um jogador sugerir uma ação não prevista pelo livro do mestre, os dados devem ser jogados para determinar o sucesso da habilidade ou não. Infelizmente para Cássio, Wilson estava com sorte naquele dia e conseguiu realizar a ação (para frustração e raiva de mestre Cássio).

– Ótimo. Quanto falta para chegarmos até à saída? - perguntou Demi.

– Bom, nesse passo...mais uns dez minutos de caminhada no tempo do jogo – respondeu Cássio, com um certo olhar de satisfação.

– Nesse ritmo vou acabar perdendo todos os meus pontos mágicos – disse Karina – Ainda temos um pouco de éter, não?

– Não muitos – respondi – Usamos quase tudo no esquema de aumentar nossos pontos de ataque.

– Meus pontos de ataque não são muito altos – disse Karina – Serei inútil se todos os meus pontos mágicos sumirem.

– Não seria melhor economizarem? - sugeriu Cássio - Podem precisar usar magias realmente importantes.

– Para alguma coisa nos atacar no escuro? - falou Wilson - Nem pensar! Vamos até o fim da caverna!

– Mas com nossos pontos de ataque podemos passar fácil por todos os obstáculos - tentei argumentar.

– Mesmo assim - disse Wilson - Vai que tem algum buraco no meio do caminho? Podemos estar andando calma e tranquilamente e...PUF! Caímos para a morte certa! Não, não, vamos andar de olhos bem abertos.

– Está bem...vocês que sabem - concordou o mestre, e pelo tom de voz pareceu que estávamos fazendo exatamente o que ele queria. E, de fato, fomos atacados por morcegos umas cinco vezes no meio do caminho, além do ataque de alguns monstros estranhos. Bem, como fizemos um esquema para termos ataque ultra poderosos (além de Wilson estar usando uma espada especial), as ameaças não foram tão graves. Mesmo assim, Karina estava com quase nenhum ponto mágico (ainda tinhamos um pouco de éter, mas não foi suficiente para atravessar a caverna inteira). O resultado é que saímos da caverna quase sem nenhum poder mágico.

– Tudo bem, ainda temos a espada lendária - falou Wilson - Não precisamos ter medo?

– Mesmo? - disse Cássio - Nem mesmo de...fantasmas?!

– Algo como...o Estagiário Fantasma? - perguntou Jorjão.

– Não me lembrem daquilo! - reclamei.

– Vocês não sabiam, mas a Grande Montanha Negra é o túmulo de vários guerreiros que perderam a vida tentando encontrar os tesouros guardados pelo terrível demônio Noswil e nenhum deles consegue descansar em paz. E...por acaso, o local onde vocês estão é o lar dessas almas penadas.

– Não tem problema! - disse Wilson - Tenho a minha espada lendária aqui comigo.

– Não tem problema, é? - questiono Cássio - E é justamente por você ser tão confiante que isso será sua ruína, meu caro rival!

– Hã? Como assim? - questionei.

– É verdade que os fantasmas não podem te atacar fisicamente, mas...eles podem possuir o seu corpo e controlar sua vontade.

Claro...malditos fantasmas. Sempre querendo incorporar em alguém. Por que nenhum fantasma cientista tem vontade de me incorporar durante as provas de matemática?

– O QUÊ?! - exclamei Wilson - Está dizendo que...

– Sim. Se algum de vocês tiver pouco poder mental, os fantasmas podem possuir seu corpo...e poder mental é calculado por pontos mágicos multiplicados por pontos de habilidade.

O problema é que Jorjão era o único com a quantidade de pontos de poder mental baixas o suficiente para se deixar dominar por um fantasma. Sim. Agora Cássio pode controlar o personagem de Jorjão.

– Ei, quer dizer que... - Jorjão parecia surpreso - Eu não posso me controlar mais?

– Não - respondeu Cássio - Terá que jogar um dado toda vez que executar alguma ação...se vencer, poderá executar uma ação, mas se eu vencer...eu, quer dizer, o fantasma executará a ação.

– Peraí...vai com calma - pediu Wilson, mas Cássio já começara a apelar. Logo na primeira tentativa, Cássio venceu nos dados e atacou Wilson. Seus pontos de defesa não eram tão altos assim e ele foi jogado para longe. Precisávamos fazer algo, urgente.

– Se o Jorjão não vencer nos dados, ele mesmo vai nos derrotar - disse Demi - Isso não vale!

– Ué? Vocês não eram os criativos? Deem um jeito de sair dessa! - falou Cássio confiante - Talvez, vejam, eu disse talvez, tenha uma saída. Hehehe!

Talvez...grande consolo. É...o problema vai ser achar que jeito é esse.