Capítulo 105 - Magias e Espadas

- Magias...e espadas? - balbuciou Demi - Parece perigoso...espadas não cortam?

  É, ela não tinha muita familiaridade com esse tipo de figura de linguagem, mas Cássio parecia estar bem disposto a explicar o que deveria ser feito. 

- Heh! Não precisa se preocupar...a única coisa que sairá ferida daqui será seu orgulho - disse Cássio - Porque depois que eu humilhá-los completamente nesse jogo, vocês reconhecerão a minha genialidade! Bwhahauhahauha!

- Cássiooo! - chamou uma voz musicalmente - Seus amiguinhos já chegaram?

 E uma mulher relativamente alta, de óculos, cabelos negros presos, vestido laranja, avental florido e um sorriso no rosto entrou na sala.

- Mãe! - reclamou Cássio - Você estragou o clima da minha fala!

- Oh ,desculpe - disse ela, sem perder o sorriso no rosto - Nossa, quanta gente! Isso é raro...o Cássio nunca trouxe ninguém em casa.

- Err...essa é a minha mãe - disse Cássio, apresentando-a - Pelo menos do Wilson a senhora deve se lembrar, não é?

- Ah, sim, foi o rapaz que disse que seu teorema já existia - falou ela - Como tem passado?

- Muito bem, dona mãe do Cássio. E a senhora? Continua linda como sempre!

- E você educado como sempre. Hihih - sorriu ele.

 Wilson era o típico galanteador dos pais dos amigos (para não dizer puxa-saco mesmo). De qualquer forma, parecia ser uma mulher gentil, ao contrário do filho, né?

- Eu vou preparar alguns pães de queijo - disse ela - Eu trago para vocês assim que estiverem prontos.

- Opa! Pão de queijo? - disse Jorjão - Já gostei de ter vindo aqui!

- Bom saber que estão com apetite - sorriu a mãe de Cássio - Fiquem à vontade.

 Assim que ela saiu, Cássio retomou a sua fala.

- Ca-ham - pigarreou ele - Como eu estava dizendo...Magias e Espadas é o jogo perfeito para testar a superioridade de um deus diante de mortais como vocês. Huahuahauha!

- Você está falando, falando, mas até agora não falou que diabo de jogo é esse - reclamei - Dá pra ser mais direto?

- Sentem-se - disse ele, mostrando uma mesa com um enorme tabuleiro com cenários medievais feitos à mão (até que estavam bem feitos) - Eu mesmo preparei o cenário do nosso jogo.

- Uau! Você que fez tudo isso sozinho? - disse Demi - Ficou demais!

- Eu sei...também sou bom com atividades manuais - disse Cássio, esbanjando humildade por todos os lados como você já deve ter notado - Então...sentem-se, que explicarei as regras do jogo agora mesmo.

 Fizemos o que ele pediu, embora eu já estivesse achando que era um programa de índio antes mesmo do jogo ter começado. Mas vamos lá. Melhor não contrariar. Além disso, Wilson parecia empolgado e embora estivéssemos no território do Cássio, pelo menos ali não nos envolveríamos em confusão. Era só jogar, e, de preferência, perder para deixar o Cássio feliz e finalmente nos deixar em paz. O problema é que Wilson também não era do tipo que aceitava perder e imagino que estava levando a história a sério no mesmo nível do Cássio.

- Heh! Para ter tido todo esse trabalho deve ser um jogo interessante mesmo, hã? - disse nosso querido líder - Mas nós somos uma equipe, vai ser difícil você nos vencer sozinho.

- Aí é que você se engana, meu caro - disse Cássio - Porque Magias e Espadas é o MEU mundo! Onde a minha palavra é a lei!

- Você vai explicar o que é esse jogo ainda hoje? - perguntei - A gente quer chegar em casa antes da novela das nove, ouviu?

- Tá bem..sem mais delongas...vamos apresentar os básicos de "Magias e Espadas"! - disse ele, colocando um caderno universitário enorme em cima da mesa - Esse é o resumo do livro de regras do jogo.

- Livro? Mas isso é um caderno - reparou Demi.

- Sim. Afinal, fui eu mesmo que escrevi - disse ele - Mas não se preocupem, explicarei de um jeito que até vocês conseguirão entender.

  Não ligo muito para arrogância, mas acho que ele teria mais amigos se tratasse as pessoas um pouquinho melhor. Seja como for, assim que vi o tamanho do caderno já tive a premonição de que ouviria uma longa e chata explicação.

- Basicamente...em "Magias e Espadas" cada um de vocês assumirá o papel de um herói que juntos formarão a Ordem dos Guerreiros da Justiça, os cinco escolhidos por uma antiga profecia para...

- Para destruir um demônio que quer destruir o mundo - completou Karina - É isso?

- Hã? Como você adivinhou?

- Seu jogo é um RPG, Role Playing Game, ou Jogo de Interpretação de Papeis. Pela ambientação medieval e pela simples introdução da sua narrativa, o estilo de enredo clichê é altamente previsível e literariamente pobre. Já que teve tanto trabalho para criar um jogo, poderia ter se esforçado em um enredo melhor.

- Grrrrr!!! Por acaso você já jogou RPG? - retrucou Cássio.

- Não - respondeu Karina - Mas já estudei sobre o assunto.

- Se nunca jogou, então fique quietinha e deixe eu terminar de explicar as regras, ok?

 Mas para terminar de explicar as regras ele teve que contar uma enfadonha história de como éramos guerreiros escolhidos e de como o demônio Noswil foi trancafiado em uma prisão mágica e liberto por um mago das trevas que agora queria usar seu poder para conquistar o mundo. Mas clichê impossível. Ainda assim, Cássio parecia empolgado ao contar a história.

- Logo se vê que foi você quem criou esse jogo - disse Karina - Noswil, o nome do demônio, é uma anagrama de Wilson. Em outras palavras, você projetou seu desejo de rivalidade em uma figura negativa...seu quadro psicológico não é dos melhores.

- Nossa, é verdade. Noswil..Wilson - disse Wilson, que estava longe de se sentir ofendido - Que da hora!

- E daí?! - reclamou Cássio - Ainda que a história seja clichê e o demônio reflita minha raiva do Wilson, ainda é um jogo...e agora vou dizer as regras.

- Como se joga uma história? - perguntou Demi - É tipo brincar de faz-de-conta?

- Mais ou menos - respondeu Karina - Nos RPGs, cada um assume o papel de um personagem e executa ações baseadas em regras pré-estabelecidas pelo mestre do jogo e nos resultados dos dados. Envolve além de criatividade, um pouco de sorte.

- E o mestre do jogo é o Cássio, suponho? - perguntei.

- É claro. Só eu conheço todas as regras do caderno - respondeu ele.

- Bem, eu... - Karina iria dizer alguma coisa, mas Cássio logo a interrompeu.

- Não vou deixar você ler meu caderno! - retrucou ele - Eu já escolhi ser o mestre! Vocês vão ser os heróis e já tá decidido!

- Tá bom, mas só porque a casa é sua - disse Wilson.

- Obrigado pela consideração - disse Cássio - Então...vejamos...vocês podem assumir o papel de cinco heróis: Cavaleiro, Ladrão, Arqueiro Élfo, Mago e Gladiador.

- E desde quando Ladrão é herói? - perguntou Demi.

- Deve ser um tipo de anti-herói...mas normalmente é o cara rápido que consegue pegar os tesouros - falei - Taí. Gostei. Acho que vou ser o Ladrão. 

- Sim, isso mesmo - falou Cássio - O Ladrão é capaz de arrombar portas, roubar sem ninguém perceber e ter mais chances de se esquivar do que outros personagens. Então...Daniel já é o Ladrão.

- Eu vou ser o Gladiador então - disse Jorjão - Parece ser o cara forte, não é?

- É. É o cara que ganha bônus nos ataques físicos - explicou Cássio - E você, Wilson? Quem você vai ser?

- Serei o Cavaleiro, é claro - disse ele - É o líder do grupo, não é?

- Imaginei que fosse escolher este - falou Cássio - Não que o grupo tenha o líder, mas é o personagem que melhor se dá com espadas. Sobraram as meninas.

- Hmmm...- ponderou Demi - Sempre quis ser uma feiticeira, mas...elfos não tem aquelas orelhinhas pontudas fofas?

- Uma Arqueira Elfa pode atacar a distância e usar algumas magias de cura - explicou Cássio.

- E tem orelhas pontudas fofas? 

- Sim. Tem orelhas pontudas fofas - disse Cássio, já sem muita paciência - E você, chatinha? Só sobrou o papel de Maga.

- Então eu pego esse papel - disse Karina - Era o que eu estava de olho mesmo.

- Ótimo. Então podemos começar nossa jornada - falou Cássio - A história começa quando vocês cinco    recebem a missão do reino de Megatoria e..

- Megatoria? - perguntei.

- É um nome fictício - explicou Cássio - Você não ouviu a história? Vocês heróis se encontraram no reino de Megatoria, onde toda a jornada começa!

- É...acho que viajei um pouquinho durante a história - falei. Sim, de fato estava desatento, mas mesmo que eu tivesse ouvido com atenção teria muita preguiça de narrá-la toda aqui.

- Voltando à história...vocês precisam chegar á grande montanha negra, onde o mago das trevas Devirot pretende despertar o terrível demônio Noswil! O que irão fazer primeiro?

 Karina levantou a mão.

- Sim? 

- Eu tenho algum tipo de magia de teletransporte? - perguntou ela.

- -S-Sim - disse Cássio - Pretende se teletransportar?

- Sim. Quero me teletransportar para a Grande Montanha Negra

- O quê?! Mas se forem para lá sem nenhum tipo de preparo irão morrer! - retrucou Cássio - Vocês nem sabem o que vão encontrar lá!

- Ele tem razão, Karina - disse Demi - Eu não entendo muito de RPG, mas esse deve ser o lugar do chefe final, não?

- Não se preocupe - disse Karina - Ei, Cássio.

- Sim?

- Existe algum tipo de magia que aumente o poder de ataque dos personagens?

- Bem..sim, mas..

- Então eu uso esse poder.

- Mas essa magia lhe custará 10 pontos mágicos que você só pode recuperar se dormir na hospedaria. Mas uma noite na hospedaria lhe custará 100 gorudis.

- Gorudis? - perguntou Demi.

- Deve ser a moeda do jogo - disse Wilson - É...acho que vamos ter que seguir o jogo pelo modo normal mesmo.

- Esperem aí - falei - Quero tentar uma coisa.

 Sim, eu tinha uma ideia...mas se vai dar certo ou não, já é outra coisa. Talvez esse jogo não seja tão chato assim quanto eu pensei. Hehehe (ah, como é bom terminar um capítulo confiante de alguma coisa).