-- Não saia de noite. Não é seguro

-- Sabe de alguma coisa?

-- Suspeito

-- Quem fez isso?

-- Não tenho certeza. Mas depois eu te explico a história. Antes de eu ser expulso eu vi algumas coisas

-- Quando vai me falar?

-- Quando eu tiver certeza do que vi.

-- Mas não viu antes de ter sido expulso?

-- Sim

-- Mas isso não faz mais ou menos um ano?

-- Sim. Mas vi novamente esses dias. 

-- Quando você saiu de noite pra fumar? 

-- Mas como você...?

-- Sei? Você está com cheiro de cigarro. E mesmo que tivesse passado pelo meio de uma multidão de fumantes, não ficaria com esse cheiro tão forte. 

-- Tudo bem você me pegou, eu fumo.

-- Não tenho problema com isso. Apenas... Tome cuidado quando decidir sair.

-- Eu vou.

             SaintChrist segurou firmemente a mão de Lee, que se encontrava em seu rosto e a afagou de leve, enquanto esta fazia um leve afago na bochecha deste. Aproximaram-se  um pouco mais e o garoto conseguiu tirar um curto selinho da ruiva/morena que mantinha-se confusa a respeito dos sentimentos que tinha pelo amigo. Aquilo estava se tornando mais uma amizade colorida do que qualquer outra coisa.

              Rainy estava descendo as escadarias do dormitório e acabou dando de cara com o irmão, que tinha o rosto contorcido em um misto de preocupação e irritação. E ela já sabia que tinha pelo menos uma pequena parcela de culpa nisso. O mais velho parou e a encarou no meio da escadaria e ela fez o mesmo, puxando-o para mais próximo do corrimão caso alguém surgisse e precisasse passar.

-- Posso saber o que estava fazendo no corredor do terceiro andar mais cedo? -- Gaspard perguntou autoritátio

-- Eu perguntaria a mesma coisa, mas já sei muito bem o que você estava fazendo

-- Tudo bem que eu estava com uma garota lá, mas e você? Estava com quem? Com o Kaulitz?

-- Gasp, você é meu irmão mais velho e eu te amo, mas tá na hora de você começar a entender que eu tenho direito de namorar. Tudo bem você querer me proteger e impedir que eu me magooe, mas sabe, eu não preciso mais disso. Eu gostaria que você simplesmente fizesse seu papel de irmão mais velho e não o papel do nosso pai. Tudo bem, não fazemos a mínima idéia de quem seja, mas você é meu irmão mais velho. Seria muito difícil ser apenas isso?

-- Olha Rain, eu não faço a mínima idéia de onde você tirou isso que eu quero bancar o papel do nosso pai, mas realmente, você é minha naniquinha, meu trabalho de irmão mais velho é impedir que qualquer idiota saia te comendo por ai.

-- Gas, eu puxei a inteligência da família, eu ainda sei perfeitamente quando alguém quer se aproveitar de mim, e realmente, eu gostaria muito de aprender por mim mesma. Sabe? Cair, quebrar a cara e levantar. Você é meu irmão, e eu acredito que como irmão, você tem que me ajudar a levantar quando eu não conseguir fazer isso sozinha, e não impedir que eu me arrisque a cair.

-- Posso tentar isso -- o mais velho disse tentando aceitar a idéia da irmã e ela o abraçou com força e depois de alguns segundos se separaram -- Mas o que você queria conversar comigo?

-- O Tom me pediu em namoro. Eu queria contar isso.

-- ELE O QUÊ?

-- Gasp...

-- Gasp nada, como assim?! Quando?! E eu juro que vou matar aquele desgraçado! Quer dizer que você não é mais virgem? Porque realmente se esse maldito...

-- Vamos por partes. Eu e ele não transamos. Nós só nos beijamos. E ele me pediu em namoro mais cedo. E eu aceitei. Ou seja, estou oficialmente namorando com ele. 

-- Aonde ele tá? -- Gaspard perguntou sério com a sobrancelha arqueada, sua pequena cicatriz na bochecha aparente e Rainy arregalou os olhos 

-- O que é que você vai fazer Gapard Berkly?

-- Quero conversar com ele

-- Só conversar?

-- Sim. Apenas conversar

-- Ele já deve estar descendo. E enquanto ele não desce, poderia me falar quem era a garota que estava com você? 

-- Janie Jodi.

-- A aspirante a diplomata da minha série?

-- Sim.

-- E desde quando vocês estão se pegando?

-- Desde a festa do Maxwell. A Naty me trouxe pra cá depois que eu já tinha ficado com a Janie.

-- Entendi. Mas e ai, tem algo sério entre vocês?

-- Não. Apenas ficamos casualmente. Digamos que eu curo a falta que eu sinto de uma outra pessoa com ela...

-- Quem é essa "outra garota"? 

-- Já está querendo saber muito não é?

-- Não! Sou sua irmã caçula! É perfeitamente normal  eu querer saber disso.

-- Não vou falar Rain. Não tenho certeza. E mesmo que tivesse, você seria uma das últimas pessoas a saber disso

-- Tudo bem. Mas eu vou descobrir. Apesar de eu já imaginar quem seja!

             Ficaram nessa discussão por mais vários minutos e no térreo, Natasha estava conversando com suas amigas, chegavam perto do local onde Eileen estava. E logo que a russa chegou, todos os olhares se tornaram à ela e Rainy finalmente percebeu que deveria ter algo errado e desceu, arrastando seu irmão junto.

-- Natasha Voltskietsky? -- uma garota que amparava Eileen perguntou preocupada -- Você é a Natasha Voltskietsky?

-- Sim, sou. Por que? -- Natasha perguntou confusa e logo lhe entregaram um pedaço de papel amarrotado -- O que é isso?

-- Estava dentro da blusa de Eileen. Está em alemão, mas mencionava seu nome. -- a garota que estava junto à Eileen explicou -- Se quiser nós chamamos alguém que entenda alemão...

-- Não, muito obrigada mas não há necessidade -- a morena declarou -- Entendo alemão.

             A garota desceu seus olhos até o bilhete e o desdobrou. Continuava completamente amarrotado, mas suficientemente legível.  Você será a próxima Voltskietsky. Aguarde sua hora., eram estes os dizeres em alemão que continham no bilhete. A garota murmurou um palavrão ininteligível para si mesma em murmúrio e tapou a boca com as mãos logo após soltar o bilhete no chão. A russa estava sem chão e os vários alunos estavam confusos com a exressão de pavor dela. Gaspard viu a reação da melhor amiga e logo correu para junto dela, segurando-a por trás enquanto ela murmurava coisas em russo que ninguém em volta entendia. Conduziu-a para fora enquanto Rainy, Tweed, Victoria e Connelly ficaram para acalmar a situação.

-- Calma Naty, calma -- ele murmurava, sentando-se no beiral da varanda e colocando-a sentada em seu colo -- Me diz, o que aconteceu...

-- Eu vou morrer Gaspard -- a garota resmungava em russo, fazendo com que o amigo não entendesse direito -- Eles me querem Gaspard

-- Quem te quer Naty? E por que está falando em russo? O que aconteceu?

-- Tem um bilhete Gaspard. Diz que serei a próxima. Se ele fez aquilo com a Eileen, o que ele fará comigo? 

-- Shh...Sh... Não se preocupe, não vou deixar te acontecer nada. Se acalma, nada vai acontecer com você enquanto eu estiver aqui. 

-- Gas, você não está entendo. Tem um louco solto nessa escola e você quer que eu me acalme. Se esse louco conseguiu fazer aquilo com aquela garota, o que você acha que ele faria comigo? Isso existindo trocentos seguranças aqui dentro. Não há como fugir. -- a garota levantou em tentativa de correr, mas cambaleou devido ao desespero e seu melhor amigo a puxou antes, colando seus corpos e os olhos negros, como a noite que os cobria, o encaravam -- Eu tenho que ir Gaspard. Não posso ficar aqui sabendo que seja lá quem for que tenha feito isso, vá se livrar de mim.

-- Espere até amanhã à tarde, por favor. -- os olhos castanhos suplicavam, ele não queria que sua melhor amiga fosse embora, que se ela fosse, ela nunca mais iria voltar -- Por mim...

-- Não posso Gas. Há muito mais em jogo do que o amor que tenho por você. 

-- Como assim?

-- Eu te amo Gas. Você é meu melhor amigo há oito anos e eu te amo. Mas não posso continuar com isso. Não posso continuar com esse amor por você e não posso continuar na escola, sabendo que tem algum louco atrás de mim...

-- Naty... -- o maior murmurou e aproximou o rosto lentamente da melhor amiga -- Eu te amo minha pequena matryoshka

              Depois disso, os dois se aproximaram o que sobrava  e cortaram a distância entre si, selando os lábios um do outro em um doce e longo beijo. Poderia dizer que foi ao estilo de filmes Hollywoodianos em que o casal protagonista troca um longo beijo apaixonado à luz das estrelas em uma noite de lua cheia, enquanto todos os outros presentes estavam distantes, mas não seria suficiente, seria pouco para descrever aquele momento. Eram oito anos de sentimento ali, oito anos de amor reprimido, confessados em um beijo, uma despedida, em que Gaspard deslizava seus longos dedos pela cintura da melhor amiga, em completo desejo e anseio por ela e Natasha corria seus dedos pelo cabelo do melhor amigo. Sentindo a textura dos fios finos e lisos que se prendiam em seus dedos.

             O ar acabou e se separaram, encarando-se levemente ofegantes com os lábios vermelhos e levemente inchados. Entrelaçaram os dedos e o garoto a levou para o dormitório que estava vazio. A colega de quarto da morena estava com o namorado por mais uma noite seguida, ou seja, eles estavam sozinhos. Abriram a porta em rompante e esbarravam em tudo enquanto se beijavam. Queriam um ao outro e queriam naquele momento. Queriam ter um ao outro naquela hora e seria daquele jeito, com vontade, com amor, luxúria e paixão, com a intensidade do fogo que queimava entre eles enquanto seus corpos estavam em sincronia.

             Foi tudo simplesmente perfeito.

              Pode-se apenas declarar que os oito anos de espera valeram completamente a pena...