Tweed estava sentada em um muro alto, uma das divisórias de área da escola, este dava acesso à um labirinto de cercas-vivas, e hoje, ela estava lá observando o pôr-do-sol, que ocorria do outro lado do enorme lago que havia ali. Eles não podiam passar do lago, essa era a regra. Ouviu passos e logo viu quem se aproximava, era Andy. Ele não a vira, mas antes que isto ocorresse, a garota desceu do muro e ele viu o vulto de cabelos negros correndo para dentro do labirinto. Aumentou a velocidade dos passos e logo chegou ao labirinto.

             Estava escurecendo, hora de voltar, e os olhos azuis se guiavam pelo vulto de cabelos negros que corria metros à sua frente. Logo ela parou de correr e ele parou pouco mais próximo dela, como se fosse protegê-la. Ouviram passos e logo ele foi para o lado da garota. As orbes negras de Kimberly encarando perplexa o rosto de expressão rígida. Respirava pesadamente e logo ela o puxou para atravessar a cerca-viva, que apesar de ter alguns espinhos na parte mais baixa do tronco, era melhor do que ficar lá e descobrir o que os espreitava.

              Aquele cenário de início de noite era a coisa mais linda do mundo, o céu mesclava os tons de negro e rosa-alaranjado e então pontos brilhantes surgiam em um degradê sincronizado. Os dois adolescente se esconderam atrás de uma cerca viva, coberta de ramificações e ficaram a observar o vulto que se movia e Andy engoliu em seco ao ver um par de olhos mais claros que seus própios, lampejarem, com um brilho quase diabólico. A garota engoliu em seco ao ver uma gota de suor reluzente correr insistente pelo rosto de Andy e a expressão rígida do mesmo. Havia algum perigo em espreita...

             Passaram mais um tempo que se assemelhava à mais ou menos meia hora, e pararam de ouvir os passos, o lampejo diabólico dos olhos claros havia sumido junto ao tal par de olhos, fosse o que estivesse lá.

             Passaram mais alguns instantes ali, em silêncio, na torcida de que não houvesse mais ninguém rondando por aquele labirinto além dos dois. Se bem que Tweed preferiria que nem Andy estivesse lá, mas isto não vem ao caso nesse momento. O garoto saiu primeiro de trás da cerca-viva e segurou a mão da garota, na esperança de ajudá-la à sair. Saíram e logo o moreno segurou a (ex)namorada pelos braços, fazendo-a o encarar.

-- Me larga Biersack! Não temos nada que conversar! -- Tweed dizia em um tom levemente alto, exaltando-se -- Me deixa ir embora

-- Não! -- o moreno rebateu firme, olhando-a fixamente nos olhos -- Preciso que você ao menos me ouça.

-- O que é que eu tenho que ouvir? O que é que você tem pra me falar? Que não tem nada a ver com a Scout? Que não sabia que ela iria sair da Califórnia pra te buscar? Bem, desculpa dizer, mas eu gostaria de ouvir algo novo 

-- Não quero saber o que você gostaria de escutar! Eu preciso que você me ouça -- a garota fitou aqueles intensos olhos azuis e involuntariamente assentiu para que ele prosseguisse -- Olha, eu sei muito bem que você não quer nem olhar na minha cara à essa altura do campeonato Kim. Sei que deveria deixar a uma semana que a Morgan disse que levaria pra você voltar a falar comigo, correr calmamente, mas eu não consigo. Eu digo em todas as letras isso: EU. NÃO. CONSIGO. FICAR. TANTO. TEMPO. LONGE. DE. VOCÊ. É estranho dizer isso, mas você se tornou um vício meu. Kimberly Dwaight Tweed eu te amo mais do que eu já amei qualquer outra garota na minha vida e a história da Scout é totalmente diferente. Eu era um garoto quando conheci ela, achava legal ficar com ela porque na época eu a achava gostosa. E eu REALMENTE não sabia que ela viria pra cá. Mas independentemente do que aconteça, eu só quero deixar bem claro, o mais claro que eu conseguir, que eu te amo mais do que eu já amei qualquer pessoa nesse mundo. 

-- E quer o que? -- Tweed já estava fraquejando, seus olhos se arrastavam preguiçosamente dos olhos azuis intensos e reluzentes até os lábios carnudos e corados do garoto

-- Que você possa esquecer tudo isso e que nós possamos voltar a ficarmos juntos. -- ele a encara a uma distância muito pequena já que seus braços estavam contra a parede e ela estava entre ele e a parede

-- E então o que acha?

-- Não consigo mais Andy... -- o rosto do garoto desanimou e ele começou a soltar os braços da parede, mas ela logo o segurou

-- Eu não consigo mais ficar longe de você Andy. Você é meu vício...

             Tweed poderia jurar que nunca vira Andy com um sorriso tão largo e contagiante no rosto quanto estava vendo naquele momento. Cortaram a distância que havia entre si em um abraço e logo os lábios de ambos estavam colados em um beijo intenso e ardente. Em qualquer outra situação e qualquer outro momento a morena impediria que ele a beijasse, ainda mais daquele jeito, a prendendo contra o muro e suas mãos brincando pelo corpo da garota, subindo e descendo pelas coxas e pela cintura da garota, mas aquele momento era especial, era mais do que apenas um momento, era o momento. Separaram-se uma vez pelo ar que se fez necessário e voltaram a se beijar, invertendo as posições, deixando o mais alto entre a parede e ela. Andy puxou a morena para si, quase como se fosse possível unir os dois corpos daquele modo, e ergueu a garota do chão, segurando-a pelo quadril enquanto Tweed enlaçava as pernas em seu corpo para melhor sustento.

             A garota sentiu seu Blackberry vibrar no bolso traseiro de sua calça e logo Dear Agony do Breaking Benjamin começou a tocar, cortando o clima, fazendo com que Andy a colocasse de volta ao chão, e fez com que ela atendesse. Claramente, ambos irritados se questionando o porquê alguém ligaria em um momento daqueles, mas era Connelly, ou seja, era importante.

-- Ai que bom que você atendeu Tweed! Você não vai acreditar o que aconteceu aqui! Ta todo mundo desesperado procurando por você e o Andy!

-- Nossa! O que aconteceu Conn?

-- Vem pra cá que é mais facíl eu mostrar do que explicar, e se estiver com o Andy, traga ele junto! É importante!

-- Tudo bem, já estamos indo!

              As duas desligaram o celular e o casal trocou um último selinho mais longo antes de se separarem e começarem a correr na direção do dormitório feminino, que era onde praticamente todos os alunos estavam reunidos. Andy ainda temia o fato de os dois serem as únicas almas vivas que rondavam aquele lugar além daquela figura assustadora de olhos azuis mais alta que o próprio Biersack. Sabia pelo olhar que aquela figura demonstrava perigo e isso era problema, agora que finalmente estava junto de sua pequena, não podia deixar que acontecesse nada de ruim com ela, porque se acontecesse, seria o fim pra ele. Respirou fundo, tentando afastar a lembrança e logo avistaram as luzes do dormitório e Kimberly parou, pedindo para Andy esperar um instante.

-- O que foi Kimmy?

-- Não deixe que saibam do que ocorreu no labirinto. Não deixe que saibam que havia algo se movendo no labirinto. Seja lá o que for, se for falar algo, espere uma deixa.

-- Kim, aparentemente tem um louco dentro da escola e você quer que eu fique de boca fechada?!

-- Sim! Andy, entenda. Já tem essa história da Sociedade dos Poetas em jogo, não quero complicar mais ainda as coisas

-- Mas Kim eu...

             Antes que Andy pudesse terminar sua frase, Morgan apareceu correndo com Victoria e gritando o nome dos dois, que logo foram para dentro, em meio às explicações confusas e simultâneas das duas garotas. Tweed pediu para que elas esperassem e logo viu o porquê de Connelly ter ligado tão desesperada para ela. Uma aluna do primeiro ano, Eileen Ambers, estava jogada no chão da entrada, toda suja, desamparada e seu shorts estava rasgado. Andy viu a cena e apertou levemente os braços de Kim pelo nervoso que sentira na hora. Tweed olhou para o namorado, assustada, aquela noite estava rendendo muitos momentos tensos para Andy...

             Lee estava mais para trás, um tanto escondida dos outros alunos de sua série, apenas observando assustada a garota assustada quando sentiu um par de braços envolver-lhe protetoramente. Era ele. Suspirou pesadamente e nada disse, apenas o ouviu...