I - Como Speed Racer

O ônibus escolar era só gritaria. A menina Hyuuga já estava de saco cheio, e desejava profundamente que naquele momento tivesse tampões de ouvido.

Preferia quando não precisava do ônibus escolar. Era certo que sua casa era longe da escola, afinal, ela vivia no subúrbio, mas... Ela precisava se sacrificar por isso. Seu pai sacrificava seu dinheiro por ela. Então ela tinha que a todo custo sacrificar-se por ele.

A menina virou-se para um ponto de onde um grito ensurdecedor tinha saído, e sorriu. Sakura estava agitada. Tinha dito-lhe que naquela manhã tinha visto um lindo garoto do lado de sua casa. Descobriu que era seu novo vizinho, e que estudaria na mesma escola que as duas. Hinata sorriu para a amiga, encorajando-a. Isso não interessava muito a Hyuuga, mas se fazia bem a Sakura... Então lhe fazia bem também.

Hinata não era de muitos amigos. Sempre tímida, tinha conquistado a amizade apenas de Sakura, com quem estudava desde criança, e Tenten, “amiga” de seu querido primo Neji. Havia também Ino, mais a menina preferia considerar a loira apenas colega, afinal... Ino já tinha a humilhado quando era criança, há um certo tempo atrás.

"Eu devia esquecer isso", pensou a Hyuuga enquanto olhava a loira no ônibus. Pois como dizia seu pai: “Águas passadas não movem moinho”.

Mas algum fator a prendia aquela história, que todos com certeza já tinham esquecido. Hinata não sabia se era pelo fato de não gostar muito de Ino mesmo antes disso, ou se era porque tinha a ver com Naruto-kun...

Uzumaki Naruto. Sua maldição. O loiro que era desejado e odiado. Ele dizia-se forte e invencível, mas Hinata o via como uma pessoa pura por debaixo daquela armadura. Ele lembrava a ela um anjo... Com seus cabelos loiros e os olhos azuis profundos... Apenas aquele sorriso safado o impedia de ser um.

"Hinata, pare". Pensou ela. "Pare de pensar no Uzumaki".

-          Ei, Hina-Chan! – cutucou Sakura, e a Hyuuga pulou de susto – porque está tão caladona, em? No que está pensando, em Hina-Chan? Haha.

Sakura lançou um olhar malicioso para a Hyuuga, e a mesma encolheu. Não gostava daquela atmosfera... Perversa. Davam-lhe arrepios.

Ao Sakura perceber uma Hinata camarão, suspirou.

-          Gomen, Hina-Chan. Estava só brincando.

Hinata assentiu, ainda que estivesse encolhida. Sabia que a amiga não tinha feito nada por mal. Era apenas... Seu jeito de ser.

O ônibus escolar parou. Hinata levantou-se, e pegou sua mochila. Sakura ia montada de cavalinho em Naruto, e deixou-a para trás. Ela sorriu. Não via problemas nisso.

Ino passou por ela, e deu-lhe uma ombrada. Sorriu cinicamente e deu-lhe um “Desculpe” sem nenhuma intenção verdadeira de se desculpar. A Hyuuga ignorou. Desceu do ônibus, e deu de cara com Neji. O primo morava em sua casa, mas estava brigado com o pai de Hinata. Então estava passando uma temporada na casa de Tenten... Como os dois ainda não tinham se beijado, para Hinata era um mistério. Ela sabia tudo, pois Tenten sempre vinha informa-la sobre os acontecimentos.

-          Neji-kun – disse Hinata, sorrindo – olá.

-          Hinata... – o primo, sempre sério, não mudou de expressão – como está?

-          Bem – ela sorriu novamente – e você, Neji-kun?

-         Estou bem. A mãe de TenTen é... Legal - ela viu o primo corar um pouco. - Afinal, não dava para mim ficar na casa de Lee. Bem... Acho que você sabe porque – ele riu, meio sem graça – mas... Eu gostaria de conversar com Hiashi-sama.

-          Tem algo a tratar? – perguntou a Hyuuga.

-          Gostaria que admitisse uma vez na vida que a culpa é sua – respondeu Neji, suspirando – seja como for, tenho de ir. Minha aula e da de TenTen está começando. Adeus!

O menino Hyuuga saiu correndo, e Hinata ainda viu seus longos cabelos castanhos esvoaçando no vento.

A menina foi em direção a sua sala. Ao entrar, viu que alguns outros alunos que vinham de carro já estavam lá. Afinal, o ônibus só era disponível para quem não tinha transporte.

Viu seu amigo Kiba, e foi na direção do mesmo. Ele estava concentrado no dever de matemática, e quase dava para ver as engrenagens dentro de sua cabeça funcionando. Hinata riu baixinho. O amigo nunca fora dedicado aos estudos, e ela adorava vê-lo assim. Mas ao rir, Kiba percebeu e subiu o olhar para encontrar o dela.

-          Olá, Kiba-kun – ela disse, corada – desculpe atrapalhar.

-          Hina-Chan... – ele sorriu, coçando o cabelo, nervoso – que susto que me deu.

     -    Estudando? – perguntou ela.

-          Na verdade, fazendo o dever que eu não fiz – ele sorriu, constrangido – sei que devia ter feito, mas... Ah, preguiça é foda.

A Hyuuga soltou uma risada abafada.

Ouviu um baque mais à frente. Olhou para frente, e viu seu Sensei, Asuma, soltando todos os inúmeros livros na mesa. Correu para seu assento, assim como os outros alunos. A menina viu Sakura chegar montada em Naruto, e pedir desculpas ao professor pelo atraso. Os murmúrios começaram pela sala. Estaria Sakura namorando Naruto? Hinata levou a mão ao peito. Não podia gostar de Naruto-kun enquanto sua amiga estivesse gostando dele também.

Asuma deu um trago no cigarro. Bufou.

-          Bom dia, alunos. Espero que tenham acordado bem.

-          Porque, Sensei? – perguntou um anônimo.

-          Bom... – Asuma pigarreou – temos um novato hoje. E eu espero que sejam educados. Como ainda não chegou... – Asuma olhou para a porta – aproveitei o tempo para avisar. Sei que não são nada anjos.

Todos assentiram, e logo os gritos de euforia começaram. As meninas estavam agitadas. Provavelmente perguntando-se se o novato era bonito ou não.

Sakura olhou para a Hyuuga, ansiosa. Será que seria o seu vizinho o novato? Hinata deu de ombros para amiga. Quem sabe fosse?

Asuma começou a aula. Era matemática. Hinata olhou para Kiba, esperançosa. Queria que o amigo entendesse a matéria. Não era difícil. Era só estudar. Apenas estudar.

Ouviu um baque ensurdecedor. A menina voltou seu olhar rapidamente para a frente,  e viu um menino parado em frente a sala, ofegante. Tinha os cabelos negros, e os olhos ônix demonstravam frieza. Era estranhamente charmoso, e Hinata, ao se pegar pensando assim, balançou a cabeça em sinal de negação. O que estava pensando? Ela viu o menino erguer- se, e olhar para Asuma.

-          Gomen pelo atrasado, Sensei.

Apesar de ter pedido desculpa, Hinata não viu nenhum sentimento na palavra “desculpa”. Na verdade, não viu sentimento em sua frase inteira.

Asuma assentiu. Mandou que sentasse ao lado “daquela menina ali”. Hinata olhou para trás, procurando a tal menina. Mas ao ver o menino sentando-se ao seu lado, estremeceu. Não poderia olhar mais para o lado, se não encontraria os frios olhos ônix a encarando.

A Hyuuga viu Sakura sorrir para ela. Hinata fez leitura labial do que a menina dizia: Sinto inveja de você. Estremeceu. Se pudesse, trocava de lugar com a rosada na hora.

-          Esse é Uchiha Sasuke – Asuma apontou para o mesmo, que não mudou sua expressão –Sasuke vem de Osaka, então espero que o ajudem a se enturmar.E respirar. Ouviram bem, meninas?

Risinhos foram abafados. Ino Yamanaka deu um berro dizendo “Sim Professor!” Que fez todos na sala rirem, menos a Hyuuga e o tal Uchiha.

-          Vocês são a sala mais difícil – Asuma bufou – sempre foram.

-          Que isso – Ino riu, enquanto prendia o cabelo em um rabo de cavalo olhando diretamente para o Uchiha, tentando seduzi-lo – Somos anjos.

-          Temos dois anjos aqui – ele apontou primeiramente para Shikamaru, que apenas continuou ignorando-o – Na verdade, podemos chamar esse de geniozinho. Não de anjo. E aquela ali – Asuma apontou para Hinata, que timidamente tentou esconder o rosto – aquela ali é anja.

-          Ah – Ino terminou de prender a cabeleira, e bufou – Puxando o saco da Hinatinha, Asuma Sensei? Qual é. Só porque ela deu um jeito no Naruto quando ele tava se fudendo?

-          Correção: Ele ainda está se fudendo – Kiba disse.

Risos ecoaram, e Hinata sentiu o nó de seu estômago se apertar. Tudo o que ela queria no momento era vomitar.

-          Bom... – começou Ino – mais o Naruto ficou bonzinho por um tempo. Vamos, diga Hyuuga: O que você fez para deixa-lo mansinho?

A Hyuuga já estava vermelha o máximo que podia estar. Queria vomitar. Queria bater em Ino. Dizer tudo o que não foi dito, e depois enterra-la viva. Era isso que queria fazer.

Assustada com seu pensamento sádico, Hinata afundou-se ainda mais na carteira. Ela só tinha ajudado Naruto-kun com os estudos uma vez. Era apenas isso.

Mas Ino não parecia achar. Nem o resto da sala inteira.

O assunto continuou. Asuma bufou, e sentou-se em sua mesa. Ele não teria paciência para acabar com o assunto, ah não. Quando terminassem com essa criancice ele dava um ponto final.

Mas Ino não pareceu querer acabar com a criancice.

-          Eu ouvi dizer... – começou ela, levantando-se e indo em direção a Hinata – que Naruto lhe pagou um bucado para você fazer ele... Bem, sentir prazer.

-          Ino, já chega – alertou Sakura.

-          É m-m-mentira – gaguejou a Hyuuga, sem sucesso.

-          É mesmo? – perguntou Ino, contornando-a. A sala inteira já estava com sua atenção totalmente voltada para a Hyuuga, que se sentia desconfortável demais ali. – Então porque está vermelha e gaguejando?

-          Ino, chega – dessa vez foi Naruto. Ele levantou-se e pegou o braço da loira com força, enquanto ela reclamava, e levou-a a seu lugar. – Aliás, a Hinata sempre gagueja e fica vermelha. É da natureza dela.

-           

Mais risos foram abafados.

Hinata sentia-se  pior do que a bosta do cavalo do bandido. Alías, já era natural que Ino sempre tivesse alfinetando-a, mas nunca tinha chegado a esse ponto desde aquele acontecimento. E ela com toda a certeza tinha passado dos limites.

-          Obrigada, Uzumaki – disse Asuma, levantando-se e indo em direção a mesa de Ino. Parou na frente da mesma, sorriu cinicamente – Yamanaka. Já sabe.

Ino pregou um “merda” baixinho, e levantou-se. Pegou a bolsa e foi embora, esnobando a cabeleira loira na cara de quem passasse.

O resto da aula pareceu normal, pelo menos ao ponto de vista de Hinata. Ela ainda tentava se recuperar da humilhação de Ino, então quando Sakura veio chamar-lhe para almoçarem juntas, ela negou. Tinha de pensar. Tinha de ajeitar as coisas consigo mesma.

Foi em direção ao banheiro. Ao chegar lá, entrou no cubículo de onde ficava a privada, e sentou-se. Abriu seu almoço lá, e o comeu. Talvez fosse melhor assim, do que ficar interferindo a vida de Sakura. Afinal... Sakura era amiga de Ino, também. Não só dela.

Ao som do sinal, saiu do banheiro e dirigiu-se para a próxima aula. Queria perguntar a Sakura se o tal Sasuke Uchiha era o tal “vizinho bonito”, mas resolveu esperar. Quando estivessem sozinhas, perguntaria.

Tiveram aulas normais pelo resto do dia. Ino não mencionou o assunto novamente, talvez por ter recebido uma advertência na diretoria, ou talvez porque decidiu ser legal com a colega de turma.

A primeira opção era a mais sensata para a Hyuuga.

Saiu da escola cansada. Tivera as matérias mais difíceis, e que tinha mais dificuldade. Mais com certeza se estudasse mais, ela poderia entender facilmente.

Viu o Uchiha andando a sua frente. Teve vontade de correr atrás do mesmo, pará-lo, e perguntar se era vizinho de Sakura. Mas, obviamente, a coragem não lhe veio. Apenas o observou de longe, e vendo quando o mesmo virou a esquina, foi atrás dele. Sabia que sua casa ia pelo caminho oposto, mas agora tinham mexido em sua curiosidade.

Vagarosamente, o seguiu. Tentou ser discreta, como se estivesse indo para sua própria casa. Sabia que o mesmo não era vizinho de Sakura – afinal,  ele passou direto pela casa da mesma, e continuou andando. Mas agora iria até o fim.

Andaram mais um pouco. Logo, só os dois se encontravam na rua. A Hyuuga tremeu. Estava escurecendo, e com certeza, ela estava com medo.

Parou quando o Uchiha parou. Viu o mesmo se virar para trás, e seu sangue congelou. Ela não conseguia se mexer. Será que tinha percebido? Percebido que ela o tinha seguido o caminho inteiro? Provavelmente sim. Pois sua expressão de medo lhe entregava facilmente.

Ele parou em sua frente. Bufou, e perguntou:

-          Porque está me seguindo? Estou agüentando você desde a casa da sua amiguinha, que por acaso, não sou vizinho. Está feliz?

Hinata não se mexeu. Estava paralisada, com o rosto quente e se suas pernas permitissem, já teria saído correndo. Como ele sabia? De todas as suas dúvidas? Por acaso lia mentes?

-          E-eu... – tentou começar ela.

Ele ficou esperando. Como viu que a Hyuuga não iria dizer mais nada, bufou novamente e virou-se.

-          Vá para a casa. Está tarde. Daqui a pouco aparecem bandidos, que podem abusar de você. E eu não vou impedi-los.

Ela queria dizer que, apesar de tudo, já estava acostumada com os bandidos perto de sua casa, que não lhe faziam mal algum. Mas ao pensar nisso, um tremor percorreu-lhe o corpo. Bandidos iriam... Abusar dela? E porque ela estava ali? Por uma curiosidade tão besta?

A resposta era sim.

Sendo assim, ela virou-se e saiu correndo, imaginando ser o Speed Racer. - Talvez lhe ajudasse um pouco, tanto na corrida, quanto em ter coragem para correr.