A Protagonista Feminina escrita por Star


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos ao penúltimo capítulo, e com vocês, o dramalhão mexicano!



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Seria um alívio dizer que todo o planeta congelou naquele momento, mas não foi o que aconteceu.

Os três passaram embaraçosos segundos se encarando, até que Hikaru conseguiu puxar fôlego do que parecia ser um buraco enorme que sugara completamente seus pulmões junto do resto de seu interior, e perguntou:

Que merda está acontecendo aqui?

Yuno, a garota por quem tanto esperara, levantou-se apressada recolhendo suas roupas do chão e veio correndo em sua direção. Não estava indo para ele, estava fugindo. Hikaru era apenas um obstáculo entre a vergonha e a porta de saída.

– Bastante constrangedor, não? Haha, mas não é como se tivesse algo que você ainda não tivesse visto.

Kaoru não parecia constrangido ao todo. Estava rindo. Hikaru mal conseguia respirar, e ele estava rindo. O que há de errado com ele? Não consegue ver a merda da situação?

Hikaru começou a tremer, queria chorar lágrimas quentes de raiva. Estava frustrado, não conseguia entender o que infernos estava se passando por ali, mas nenhuma explicação poderia conduzir a uma resposta boa.

Houve um apagão, um blackout em sua mente, e quando voltou a si percebeu que estava em cima do irmão, e apesar de ter o rosto escondido nas sombras pode ver nele hematomas se sobressaindo ao redor de um dos olhos e sangue escorrendo pelo nariz; o mesmo sangue que manchava uma de suas mãos agora. Ele tinha lágrimas de dor no canto dos olhos e estava falando algo, mas Hikaru não conseguia o ouvir. A única coisa que ouvia era o som de seu próprio choro, e sua voz ríspida e magoada rangida por entre dentes.

– Por que com ela, Kaoru? Poderia ter feito com todas, com qualquer uma... Por que logo ela?

Estava perdendo a força nos braços, e só então percebeu que estava agarrado à blusa do irmão, de tal forma que o erguia do chão. O deixou cair e se arrastou para longe dele, sentando-se com as costas apoiadas no espelho do guarda-roupa.

– Eu sinto muito, Hikaru. Ela... ela me disse que você sabia – Kaoru falou, jogado no chão, com a voz fraca.- Se soubesse que não era verdade eu... Eu sabia que não devia ter acreditado! – Fez um esforço para se sentar, e esfregava a mão pelo rosto, tentando limpar as lágrimas e o sangue. - Juro que não quis te magoar de forma alguma! Eu sou seu irmão, nunca iria machucar você!

– O que aconteceu? – Perguntou, com a voz dura, sem conseguir encarar o rosto de seu gêmeo.

– Ela apareceu pouco depois de você ter saído. Disse que... disse que me amava, e que você sabia de tudo. – Precisava fazer um esforço visível para falar, e tentava arrastar-se até o pé da cama, para poder sentar-se encostado nele. - Ela descobriu que você estava se passando por mim na primeira vez que se viram e também que não tínhamos lido a carta porque no conteúdo ela pedia à você ajuda para se aproximar de mim. Disse que no dia que você a seguiu e passaram a tarde juntos, ela lhe explicou isso, e você prometeu que iria ajudá-la como forma de se desculpar pelas brincadeiras tão violentas... - Podia ver que cada uma de suas palavras atingia o irmão como uma flecha em chamas, mas teve de continuar. - Eu sabia, eu sabia que isso tudo estava muito suspeito mas... Desculpe, não sei o que deu em mim. Ela falou tantas coisas... Disse que não se importou com as brincadeiras, porque sabia que no fundo era um modo meio torto que me faria--...

“...Passar a noite inventando armadilhas, mas indiretamente pensar em mim”.

Hikaru fechou os olhos, sentindo as lembranças agora tão dolorosas daquele dia lhe voltarem em mente.

– Disse que havia se identificado com essa solidão disfarçada, e que ficou feliz por-

“...encontrar alguém que se desencaixasse tanto, mesmo sendo popular por aqui.”

Hikaru podia ver a imagem da garota perfeitamente, usando apenas roupas íntimas, coberta por gosma verde-escura, e dizendo as mesmas malditas palavras.

Bateu a cabeça contra o guarda-roupa, sentia-se exausto. A uma pouca distância, seu irmão também não parecia nenhum pouco melhor.

– Ela disse que havia se apaixonado por meu jeito compreensivo e protetor, pelo modo como costumo agir. Ela disse que me amava, e eu acreditei. Sinto muito, sinto muito, sei que esse foi um erro terrível. Era tudo tão duvidoso, mas a forma como ela me olhava enquanto falava... Os seus olhos tão melancólicos e humildes quando disse que estava tudo bem caso não a retribuísse, estava feliz somente por ter criado coragem para falar...

Kaoru esfregou as mãos pelos braços nus, brotavam lágrimas em seus olhos novamente, e ele desviou o olhar para o chão; não conseguia mais encarar o irmão.

– Juro que não queria te machucar, Hikaru.

Hikaru sentiu vontade de abraçar o irmão, mas não conseguiria. Não tinha muita certeza se sequer conseguiria se levantar agora.

Sentia-se arrasado. Como pudera se deixar cair em uma armadilha tão óbvia? E como pudera se deixar importar tanto com aquilo, a ponto de bater em seu próprio irmão? Já havia bastante tempo que aprendera que não podia acreditar em mais ninguém. O que infernos deu em sua cabeça nesses últimos dias?

– Está tudo bem, Kaoru. – Falou na voz mais afetuosa que conseguiu, não queria vê-lo chorar, não por sua culpa. Esfregou a mão pelo rosto, tentando livrar-se de qualquer mágoa que ainda estivesse por ali, e continuou. - Nós não deveríamos ter acreditado. Não vamos deixar acontecer de novo, e vai ficar tudo bem. Somos fortes, não somos?

Kaoru tentou sorrir, mas acabou fazendo uma careta de dor, e levou as mãos ao nariz ensangüentado.

– Sinto muito pelo que fiz no seu nariz. Está doendo?

– Não, está tudo bem. Vou fazer um curativo. – Levantou-se sem muita dificuldade, ainda com uma mão tentando parar o sangramento, e andou até quase a porta até perceber que iria deixar o irmão sozinho e com coração partido jogado dentro de um quarto escuro. – Hikaru, você-

– Pode deixar, preciso passar um tempo sozinho – falou, como se já soubesse a pergunta.

Kaoru assentiu quase imperceptivelmente, e saiu do quarto.

Assim que o irmão sumiu, Hikaru deixou-se desmoronar. O que realmente estivera pensando, esse tempo todo? Não é possível, não conseguia acreditar. Ela mentira, era uma farsa. Nada dos últimos dias realmente existiu. A Yuno que ele pensava amar, ela também nunca existiu. Meu Deus, como pudera ser tão imbecil e vulnerável? E por que se sentia tão péssimo, por que continuava a chorar?

Conteve as lágrimas assim que sentiu alguém se aproximar do quarto, mas seus sentidos estavam atrasados e quando olhou, ela já estava parada na porta. Usava uma blusa larga com mangas compridas cor-de-rosa, e shorts jeans. Passava uma mão sobre a outra, receosa Hikaru não teve forças o suficiente para olhar diretamente seu rosto.

– Esqueci meu sutiã. – Ela falou, como se fosse uma desculpa por estar ali, ou como se quisesse verificar se caso se aproximasse Hikaru não iria começar a latir e atacá-la.

Ele baixou o olhar, vê-la agora lhe causava uma dor terrível. Poderia socá-la, da mesma forma como fizera com seu irmão. Poderia chamá-la de vagabunda, e tinha quase certeza de que dessa vez conseguiria faze-la chorar. Mas não queria fazer nada disso. Não tinha coragem. Era quase como se seus sentimentos estivessem em estado vegetativo.

Yuno foi apressada até a cama desarrumada e apanhou o sutiã branco de rendas que estava pendurado beirando ao chão. Voltou à porta com a mesma rapidez, mas acabou por tropeçar com algo no caminho. O embrulho vermelho, que antes era um presente reluzente e agora não passava de uma mancha feia no chão. Tinha caído das mãos de Hikaru logo quando ele entrou, e nem mesmo havia percebido isso.

Por quê?

A pergunta seca e frustrada pareceu ganhar eco dentro do quarto silencioso. Hikaru mal a sentiu saindo, foi como se um pedaço de sua alma escapasse pela garganta. Desejou com todas as suas forças que não fosse ouvido, que Yuno continuasse a ir embora para sumir de vez de sua vida, e por alguns segundos chegou a pensar que fora atendido. Mas ela continuava no quarto, imóvel. Virou-se para ele, e mesmo sem vê-la sentia que estava sendo analisado. Ela o encarava como se admirasse o ser humano deplorável que conseguira criar. Era como se fosse o general de tropas que observava com desprezo e superioridade a massa de judeus fuzilados.

– Alguém tinha que fazer isso. Mais cedo ou mais tarde.

E saiu do quarto.

No início as coisas não fizeram muito sentido, mas Hikaru acabou chegando a uma conclusão não muito satisfatória. Era isso, então? Uma vingança, em nome de todas as garotas que já choraram por culpa dele? Perguntou-se se haviam outras pessoas envolvidas, se quando fosse para escola depois do final de semana haveria uma passeata clamando pelo nome verdadeiro de Yuno, carregando-a nos ombros enquanto a nomeavam como “a garota que conseguiu tocar o coração de um Hitachiin”. Tocar, não. Despedaçar. A garota que conseguiu alcançá-lo com as mãos, para depois arrancá-lo e destruir. Se isso realmente acontecesse, Hikaru poderia tomar a frente e contar a verdade. Foi seduzido por uma garota que não é nada mais do que uma maldita vadia mentirosa. Poderia estampar isso nos jornais da escola, da cidade, em out-doors, e até mesmo incluir algumas frases sobre isso no discurso das aeromoças para os passageiros que estão chegando ao Japão. A tornaria uma figura mais detestável que os Estados Unidos depois do incidente com Hiroshima e Nagasaki. Acabaria com a sua vida.

Poderia fazer isso, é claro que poderia. Se quisesse. Mas não queria.

A única coisa que tinha vontade de fazer era encolher-se ali onde estava, e apenas continuar existindo. Era um estado vegetativo opcional. Não conseguia entender porquê, mas era a única coisa que tinha disposição para fazer.

Talvez estivesse sendo dramático, e essa fosse uma atitude típica de protagonistas femininas magoadas, mas foda-se.

Hikaru já não se importava mais se fosse considerado a donzela da história.


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Notas finais do capítulo

Ahá, quem esperava que a Yuno fizesse uma coisas dessas, ham? Ham? Ham?Ficou bem menor do que eu esperava, hm. Mas se prolongasse mais iria acabar muito cansativo. E se fosse juntar com o final, iria demorar muito pra sair. Ok, sinto como se estivesse me desculpando por algo.Dessa vez não vou prolongar muito isso daqui. Muito obrigada a todos meus leitores maravilindos, suas fofuras suculentas do meu coração. qE semana que vem, o final. Com participações especiais! Conseguem adivinhar de quem? Ok, nem era pra ter dito isso, já foi um spoiler, mas sou ansiosa demais~~ Ohohooho!



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