A Protagonista Feminina escrita por Star


Capítulo 4
Capítulo 4




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A multidão de estudantes desocupados que acompanhavam a atração fedorenta a poucos metros de distância já estava chegando perto das salas do terceiro ano quando Hikaru conseguiu alcançar a protagonista feminina. Ao invés de parar, discutir, gritar, dar uns tapas na infeliz pra ver se ela finalmente o chamaria de babaca como merecia, segurou-a pelo braço, sentindo a coisa nojenta espalhar-se pela sua mão, e a puxou. Puxou, e continuou correndo, fazendo-a correr junto consigo. Sem olhar para trás para ver se não havia a pegado de mal jeito e a garota estaria correndo de costas correndo o risco de levar um tropeço e ser arrastada, ou para ver a multidão que ficou para trás, soltando monossílabas surpresas e frases que provavelmente comporiam a manchete do dia seguinte. Subiu escadas, atravessou pátios, ignorou o chamado de professores assustados com a cena. E a garota em seu encalço não falava nada, mas não é como se ele esperasse algo do tipo. Parou quando sentiu que já estava longe o suficiente de qualquer um, perto da ala das salas que ficavam desativadas àquela hora do dia, e soltou a protagonista feminina. Estava um pouco sem fôlego, e perdeu alguns segundos tomando ar, desejando que as palavras que precisava dizer não sumissem em meio às suas inspirações frenéticas.

– O que... infernos... há de errado... com você? – Falou de vez, sem conseguir esperar que a respiração se normalizasse.

A garota ergueu as sobrancelhas, como quem diria “você tem certeza de que a errada sou eu?”. Bem, talvez sobrancelhas erguidas não queiram dizer isso, mas... Era o que parecia, não discutam.

– Por que nunca reage à nada que eu faço? Por que sempre ignora, não importa o quão cruel eu seja? Como um ser humano pode agir assim feito você? – As palavras saíam quase gritadas, estava finalmente pondo pra fora todos os pensamentos que ficavam lhe enchendo a mente, toda a frustração e aborrecimento. Hitachiins não nasceram para serem ignorados, não senhor!

– Eu sei... – a garota começou, mas fez uma pausa enquanto removia a sujeira que lhe caia nos olhos. – Eu sei que queria me maltratar. Eu sei que queria me humilhar. E só estava agindo de acordo com o que você queria.

– Por que? Meu Deus, você não tem escrúpulos?

– Porque eu gosto de você. Porque não me importo com o que qualquer um pensa, não me importa que pareça uma idiota ou que saia andando de roupa íntima pela escola, a única coisa que me importa e que estou fazendo algo que você quer. Algo que fez você... Passar a noite inventando armadilhas, mas indiretamente pensar em mim.

Passou novamente o braço pela testa, e olhou para as mãos cobertas com aquilo que agora parecia começar a coçar, em seguida olhou novamente para o ruivo.

– A única coisa que não sei como fui me apaixonar por um babaca como você.

– Você está apaixonada por mim?

Hikaru piscou algumas vezes, aquilo não fazia sentido. É claro, ela havia lhe mandado uma carta... que ele não havia lido. Mas milhares de outras garotas já haviam feito isso antes. A situação já acontecera vezes o suficiente para perder a conta, mas nenhuma delas havia agido daquela forma. Nenhuma delas gostava dele o suficiente para desconsiderar a possibilidade de sair com Kaoru. Ou para tomar um balde na cara e não precisar de um psicólogo com uma caixa de lenços e dois litros de morfina sabor chocolate para a fazer parar de chorar.

– Dããããã, você tem o pensamento meio lerdo, não tem? Mas não precisa se preocupar, estou trabalhando nisso. Com certeza essa meleca vai ajudar na minha desihipnose amorosa – falou, enquanto passava as mãos pelos braços nus tentando remover o máximo possível e criando uma pocinha de gosma no chão.

– Mas... por que exatamente você gosta de mim?

Ele não estava remoendo nada para aumentar a estima, isso deve ser levado em consideração. Mas a resposta seria algo muito importante. Um marco em sua vida. O que poderia existir nele e não em Kaoru que seria o suficiente para despertar o interesse uma pessoa? Qual era a diferença que ela encontrara nos dois?

– Eu sei lá. Fui com a sua cara – respondeu, dando denombros. Provavelmente deve ter sentido o ar de decepção emanado pelo ruivo, porque tentou melhorar sua resposta. – Desde o primeiro dia em que te vi você pareceu ser tão solitário quanto eu. Fiquei feliz por encontrar alguém que se desencaixasse tanto, mesmo sendo popular por aqui.

– E por que eu, e não Kaoru? Sentimos praticamente a mesma coisa.

– Fiz uni-duni-tê entre os dois. Não, brincadeira. Kaoru é mais calmo, compreensível, muito melhor que você, é claro. Você é impaciente, cabeça quente, fica com raiva fácil. Mas o que posso dizer? Levei dois baldes na cara por algo do qual estou tentando desistir. Sou uma garota complicada.

A protagonista feminina terminou de tentar pentear e remover parte da sujeira do cabelo com os dedos, e o prendeu em um coque desajeitado, deixando em evidência a pele nua de seu colo e os seios – ou a ausência deles. Hikaru desviou o olhar, tentando não parecer constrangido.

– Não deveria estar envergonhada por estar de sutiã na frente de um garoto?

– Talvez. Mas não entendo de relações sociais o suficiente para conseguir sentir vergonha sobre isso. E juro que eu não iria reclamar se você tivesse trago minhas roupas.

– Não iria adiantar muita coisa, considerando o jeito que você está.

– Tem razão, pra que lado fica o vestiário feminino?

Hikaru indicou com a cabeça um dos caminhos do corredor por onde a protagonista feminina começou a seguir, até virar-se para trás e perceber que o ruivo não estava a acompanhando.

– O quê? Você não vem?

– Não achei que precisava de companhia – falou, enquanto a alcançava para os dois seguirem juntos pelo corredor.

– Posso parecer meio perturbada das idéias mas ainda sou uma garota e sou medrosa o suficiente para querer companhia ao invés de ir sozinha em um vestiário vazio e escuro em uma parte afastada da escola aonde poderia muito bem estar escondido um maníaco do parque esperando a oportunidade para esfolar garotas colegiais.

– E além de tudo você também é paranóica.

– Só nas quartas-feiras.

xXx

O vestiário estava mesmo escuro e com um ar sombrio, mas não era grandes coisas. Bastaria ligar o interruptor que as atmosfera de terror evaporasse, mas como os dois não queriam chamar atenção, deixaram tudo desligado. A protagonista feminina foi direto para a parte dos chuveiros que era separado do resto do lugar por uma parede, enquanto Hikaru ficou para trás, dando uma boa olhada ao redor, como faria qualquer garoto ao entrar em um cômodo restritamente feminino. Não havia nada muito diferente do vestiário masculino ao lado, e provavelmente era um ambiente mais interessante no fim das aulas de educação física, quando estava cheio de garotas suadas e seminuas.

Ele ouviu o barulho do chuveiro sendo ligado, jogando sua torrente de água que ele pôde deduzir ser quente pelo vapor que estava escapando para aquela área. Tentou não imaginar a água percorrendo o corpo pequeno da protagonista, e nem mesmo cogitar a idéia de dar uma olhada, mesmo sendo uma oportunidade única e extremamente fácil. Bastava andar mais um pouco e esticar o pescoço para o lado direito. Ela provavelmente nunca perceberia.

O ruivo balançou a cabeça, tentando se livrar dos pensamentos mundanos, e quase como se tivesse os captado com um radar, a protagonista feminina gritou, para que sua voz se sobressaísse ao barulho da água corrente.

– Hikaru, você pode me emprestar a sua camisa?

Ele hesitou, mas lembrou-se de que ela não tinha nada mais para vestir. Realmente deveria ter apanhado o seu uniforme antes de sair correndo da sala.

– Claro.

Tirou o uniforme de mangas compridas, arrepiando-se ao sentir na pele o vapor quente que o chuveiro criava. O braço molhado da garota apareceu na parede, acenando, e o ruivo entregou para ela sua camisa.

– Obrigada.

Não dava para saber direito devido o barulho da água, mas aquele agradecimento lhe pareceu ter um quê de timidez. Seria engraçado vê-la corar novamente. Da mesma forma naquele dia em que a conhecera. Antes de ele estragar toda a reputação que um dia ela poderia ter na escola.

Hikaru andou de um lado para o outro, esperando, até cansar de ficar em pé. Deitou-se em um dos bancos na outra extremidade do vestiário, com metade das costas apoiadas na parede em uma posição que não fazia nada bem à sua coluna. Esperou por dez minutos, vinte minutos, talvez mais de meia hora. O lugar já estava quase todo coberto pelo vapor, e isso sim lhe atribuía uma atmosfera aterrorizante. Ela parecia estar se vingando dele com tanta demora.

– Realmente precisa de tanto tempo assim para tomar um banho? – Falou, esperando que fosse ouvido.

– Já tentou arrancar gosma de todas as partes do seu corpo? Não é nada fácil.

– Podemos pelos menos conversar pra fazer o tempo passar mais rápido?

– Claro, mas não discuto política até o terceiro encontro.

– Você não se importa mesmo com o que as pessoas pensam de você ou só diz isso pra bancar a legal?

– Nunca fui de me importar com quem eu não gosto, muito menos com quem não conheço. Pensem o que quiserem de mim, o importante é que eu saiba o que estou fazendo, e porque estou fazendo.

– Parece muito segura consigo mesma.

– É só fachada para contrariar ruivos ricos e orgulhosos.

Hikaru fechou a cara, mesmo que ela não pudesse lhe ver, mas deixou passar.

– Eu ainda não sei o seu nome.

– Pode me chamar de Yuno.

– Yuno? É... bonito.

– Eu sei, foi por isso que o escolhi. É nome de uma personagem yandere e stalker de Mirai Nikki. Um anime ótimo. Recomendo.

– Você escolheu seu próprio nome?

– Claro. Não acha que todos deveríamos pode fazer isso, ao invés de já nascer sendo dominado por regras?

– E quanto ao seu verdadeiro nome?

– O que?

O barulho do chuveiro parou, como que para ouvi-lo melhor.

– Seu verdadeiro nome.

– Se até agora você não sabe uma coisa tão simples como essa, é porque não é importante.

Hikaru achou que talvez fosse pela ausência do barulho da água, mas a voz dela parecia mais próxima. De qualquer forma, parou de encarar o teto com ar de tédio e olhou para frente, encontrando a garota parada de frente ao seu banco, tentando pentear com os dedos os cabelos negros molhados, exatamente na hora em que ela perguntou.

– Como fiquei?

A protagonista feminina que se recusava a dizer o nome ergueu os braços e deu uma volta. Provavelmente não deveria ter feito isso, já que era pequena mas não o suficiente para que o uniforme lhe chegasse nem na metade da coxa, e de braços levantados só fazia o subir mais. Fora isso, as mangas e a gola da camisa estavam largos, mostrando que ela realmente era mais magra que ele.

– Não é muito discreto, mas dá pro gasto.

Antes que o ruivo pudesse se ajeitar no banco, ela estava em cima dele. Sentara-se em uma parte dele em que certamente não deveria sentar, com os dois pés ao redor quase tocando o chão. Seu cabelo deixava pingos de água caírem pela barriga do ruivo, e escorrerem até o banco de metal.

– “Dá pro gasto”? Você sabe mesmo como agradar alguém.

Ela inclinou-se para frente, o cabelo molhado agora encostava-se no peito nu dele, criando uma sensação de arrepio e cócegas. Os rostos dos dois estavam próximos, os olhos dele alternavam a visão entre os enormes orbes cor de chocolate e a sua boca entreaberta. Era a primeira vez que podia realmente ver os olhos da garota, já que ela tinha colocado sua franja enorme para trás. Com algum esforço feito pelo seu orgulho, conseguiu falar.

– Eu não vou beijar você, ainda está com cheiro de óleo de peixe.

– Não quero isso. Estou tentando desgostar de você, lembra?

Os olhos dela não examinavam um ponto em especial, apenas rodavam pelo seu rosto, como se estivesse reproduzindo cada feição sua mentalmente para nunca mais correr o risco de esquecer.

– Não parece estar realmente tentando.

– Não questione os meus métodos.

Uma das mãos dela pousou sobre o seu peito para se equilibrar, e a outra tocou delicadamente em sua bochecha com a ponta dos dedos. Fez círculos na maçã do rosto, subiu pelas têmporas até chegar à testa e afastar os fios de cabelo ruivo que estavam ali.

– Deveria cortar a franja, deixar um corte mais arrepiado. Iria acentuar seus olhos, são muito bonitos - ela disse e Hikaru se perguntou quanta credibilidade poderia ter alguém que praticamente usava uma cortina feita de cabelo na frente do rost.

Uma sombra melancólica se instalou nos olhos castanhos que o examinavam, e Hikaru sentiu a mão que estava em seu peito se fechando.

– Você nunca vai gostar de mim, vai?

Ele não poderia responder isso com certeza. Nunca havia gostado de ninguém para saber como funcionava esse sistema. Ninguém exceto seu irmão, Kaoru. Mas já haviam nascido juntos, entendiam um ao outro, era uma relação muito mais fácil.

Hikaru percebeu que ela estava se levantando, conformada com a ausência de uma resposta, e quando deu por si, estava segurando a sua mão e puxando-a de volta para ele, terminando com a distância entre os lábios dos dois. Deitou-se novamente, segurando-a em cima do seu corpo. Permaneceram algum tempo presos em um beijo caloroso, até que ele conseguiu espaço para falar.

– Está realmente tentando me esquecer?

– Vou odiá-lo amanhã, prometo.


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Notas finais do capítulo

yandere: personagens meigos e bonzinhos que possuem uma segunda personalidade sádicastalker: perseguidorQual será o real nome da protagonista? Como ficará a relação dela com Hikaru de agora em diante? O gêmeo irá abrir mão de seu orgulho e das opiniões alheias para ficar com essa criatura esquisita e com cheiro de peixe? E Kaoru, está realmente de acordo com toda essa história? Não percam os próximos capítulos de... A Protagonista Feminina, tcharararan! ~~°o°/~~ Aos que quiserem saber, a capa da fic é do mangá Ane Doki, muuuuuuito bom por sinal.