Jared parou o carro no acostamento, a coisa não estava muito longe, estava tomando forma enquanto nos aproximávamos. Descemos do carro, eu fui à frente, se fosse uma emboscada, eu preferia que fosse comigo. Aproximei-me e quando estava a um metro, percebi que era uma mulher, ela estava acabada, no momento lembrei-me de eu e Mel no deserto, será que estávamos assim? Pior? Eu não sei, e também não queria me lembrar. Meu instinto protetor fez com que eu me aproximasse, encostei um dedo em suas costas, mas hesitei quando ela se mexeu, Ian estava logo atrás de mim, me protegendo. Ela começou a se debater quando me olhou, eu logo percebi que era uma humana.

- Não me mate! Por favor! – Ela devia estar gritando, mas só saia alguns grunhidos baixos. Eu me afastei, não queria deixar a pobre moça mais assustada. Ian estava com um cantil de água e deu-lhe para beber, enquanto Jared verificava seus olhos, que eram verdes, só verdes.

- Ela é humana. – Melanie disse impressionada.

- Será que é do Nate? – Jared perguntou.

- Eu acho que não, eles não são daqui, nem vieram para cá. – respondi.

Ian estava quieto, mas então falou com a moça.

- Calma, somos humanos também. – Disse enquanto mostrava seus olhos. – Qual o seu nome?

- Ela... Ela! – Ela disse apontando para mim. Uma dor atingiu meu peito e percebi que não era bem vinda ali, me afastei um pouco mais, mas Melanie afagou meu ombro e ficou ao meu lado.

- Ela é nossa amiga, não vai te machucar. – Disse Jared compreensivo.

- Meu nome é Fátima. – Ela disse e abaixou a cabeça. Ela era loira, aparentava ter uns vinte e cinco anos, era bonita.

- Meu nome é Ian, e esses são Jared, Melanie e Peg. – Ele disse apontando para nós, ela se retraiu ao meu nome.

- De onde você veio? – Perguntou Melanie.

- Eu não sei o que aconteceu não me lembro.

Decidimos colocar ela dentro do furgão, estávamos muito expostos ali, Ian estava dando água para ela, e ela bebia freneticamente, pena não termos muito a oferecer, acho que ela gostaria de se alimentar agora.

Descobrimos que ela vive no Canadá, com mais uma célula rebelde, não citou nenhum nome conhecido e todas as células conhecidas não ficavam longe.

- Você conhece mais grupos de sobreviventes? – Perguntei com um pouco de esperança.

- Sim... – Ela ainda estava com medo de mim, respondeu olhando para o chão. – conheço duas no meu país, mas sei sobre a existência de muitas outras.

- Isso é ótimo. – Jared, novamente animado, tinha um sorriso no rosto.

- Como você veio parar aqui?

- Estávamos em uma viajem, eu e mais dois amigos, para conhecer um tal de Max, ele tem tecnologia  e nós conseguimos falar com ele. Pretendíamos formar uma aliança por aqui.

- Sabemos sobre esse Max, ele tem 18 com ele, nós somos em 37.

- Nossa! Nós somos cinco, nos sentimos tão desprotegidos... E agora eu não sei o que aconteceu com Lucas e Paul... – Sua voz sumiu, ela estava bastante triste, minha garganta ficou inchada só de imaginar um grupo tão pequeno tendo que se separar.

- E os outros dois?

- Ficaram com Joseph, um velho maluco que tem a maior célula da região, seu esconderijo é bom e ele ficou com os menores.

- Quantos humanos? – Ian perguntou, ele estava com o braço no ombro dela, senti um pouco de ciúmes.

- Com Joseph vinte e dois, e com Ely doze, temos projetos de nos juntar. Fiquei sabendo que existem mais na América do Sul, acho que ainda temos alguma esperança...

 Ficamos conversando um bom tempo, Ian continuava a se maravilhar com as histórias de Fátima, eu também estava feliz de saber que não éramos os únicos resistentes, e seria bom contar com mais pessoas. A única coisa que me deixou desconfortável foi o Ian encostando-se a ela, desde quando eu era assim? Tão egoísta... Ele estava somente acalmando a humana indefesa, isso não é uma atitude anormal com as almas, mas para os humanos...

Ela nos acompanhou na incursão, era difícil acreditar em tantas noticias boas num período tão curto de tempo, até imagino Jamie quando descobrir, até posso ver seus olhos brilhando de esperança, a única coisa que eu queria era que ele fosse feliz e eu morreria por ele, queria que ele vivesse em um mundo melhor.

A incursão foi rápida, embora os suprimentos estivessem minguando rápido demais, não precisaríamos nos preocupar com isso umas boas semanas. Os três dias passaram rápido, Fátima estava mais solta agora, com menos medo de mim, e estava começando a se lembrar.

Ela estava procurando Max, mas quando chegaram deram de cara com dois Buscadores, eles estavam em maioria, mas não possuíam armas e tiveram que fugir, não duraram muito tempo pois o pneu furou e eles seguiram a fuga a pé, ela só se lembra de ter caído e depois, acordado conosco.